TRANSPARÊNCIA TEM QUE SER TOTAL

Airfare transparency ou Allfares transparency?

Tenho acompanhado com atenção o movimento pela transparência nas tarifas aéreas, estimulado pelos GDS’s com apoio de diversas agências de viagens americanas e, mais recentemente, de algumas agências latinoamericanas e de outras regiões.

“Transparência” é um daqueles conceitos politicamente corretos que agregam indiscutível valor a uma ideia, gerando o mesmo efeito de “responsabilidade social”, “sustentabilidade” (mais recentemente) e “ética” (desde sempre).

Por sua importância e aceitação unânime, estes termos acabam emprestando legitimidade a qualquer conjunto de propostas, mas ao mesmo tempo, distrai nossa atenção do tema principal, que é o objetivo original da ideia.

Antes de prosseguir, declaro que sou incondicionalmente a favor da transparência das tarifas aéreas. Mas também declaro que sou totalmente favorável à outras transparências:
– das classes tarifárias
– dos acordos corporativos
– das tarifas hoteleiras
– da relação comercial GDS/agência
– da relação comercial cliente/agência
– da relação comercial cia. aérea/consolidadores
– do uso da tarifa de operadora em pacotes turísticos
– da remuneração do agente pela cobrança da taxa de embarque
– da remuneração ética (ou RAV ou fee) do agente de viagens

O fato é que, sob o manto da coalização batizada “Open Allies for Airfare Transparency” e baseado no inquestionável argumento da “transparência de tarifas aéreas”, segundo seu próprio site, encontra-se destacado entre os objetivos do movimento, aquele que parece-me a real motivação dos que o idealizaram: “Opor forte resistência à criação, pelas cias. aéreas, de sistemas proprietários de conexão direta que contornem os canais de distribuição existentes”…! (tradução de trecho do site www.airfaretransparency.com)

Ora…, transparência de tarifa aérea não é exclusividade e nunca foi garantia dos “canais de distribuição existentes”… Da mesma forma que os sistemas proprietários de conexão direta podem e devem ser totalmente transparentes, inclusive quanto à adequada precificação dos serviços acessórios.

A adequada exposição da tarifa aérea e taxas por serviços acessórios é uma questão de regulamentação, não de tecnologia.

Devo lembrar que a diversificação dos canais de distribuição é um movimento tão inexorável quanto espontâneo (e, neste caso, sem maestro) do mercado consumidor mundial, provocado pelo acesso universal às novas tecnologias gerado pela internet. Este novo ambiente tecnológico catalisou a geração de diversos novos atores, de variados portes, os quais, por terem levado os grandes e tradicionais distribuidores de reservas a sairem de sua zona de conforto, acabaram por estimular a concorrência, a inovação, a eficácia operacional e a redução de custos.

Por mais que eu perceba que as cias. aéreas buscam formas alternativas de distribuir o seu produto e que os agentes de viagens se sintam ameaçados por isso (e estou entre eles), não consigo encontrar uma justificativa razoável, lastreada no bom senso, para negar às cias. aéreas o direito de ter o controle estratégico sobre a distribuição de seu próprio produto.

Desconfio que o embate desta coalização resume-se a mais um “round” da luta Cias. Aéreas x GDS, na qual agentes de viagens, clientes e sistemas que usam conexão direta são, por enquanto, meros espectadores. Dependendo da “performance” dos lutadores (mesmo quando jogam para a plateia), acabamos por torcer por um ou outro, sem nos dar conta dos interesses comerciais de ambas as partes, legítimos a bem da verdade, que são os reais motivadores do movimento.

Como afirmei no Blog Distribuindo Viagens, no post DIRECT CONNECT É ESTRATÉGIA, NÃO SÓ PREÇO, com o advento da internet, o “hub” do GDS deixou de ser a única forma de se distribuir reservas aéreas, de forma pulverizada, por um custo viável. Muitas cias. aéreas passaram a investir em novas tecnologias de distribuição por variados motivos, alguns bem mais estratégicos do que preço: as cias. aéreas desejam reaver o controle do inventário e da oferta de seus serviços.

E elas podem e devem usar seus canais próprios de reservas com a mais absoluta transparência, não somente com relação a tarifas, mas também a disponibilidade e cobrança dos serviços acessórios. Está aí a TAM que mantém ativo, funcional e atualizado, o seu canal próprio de reservas, apesar de seu retorno ao GDS por demanda da expansão global de suas operações. Também a GOL, Azul, Avianca, Trip, Webjet etc etc, mantém seus sistemas próprios de distribuição.

Um canal não inviabiliza o outro e a tendência natural é a multiplicação de meios e sistemas de distribuição, gerando um resultado positivo para o mercado: prevalecerão aqueles que agregarem valor ao cliente.

Artigo publicado na Edição Especial do Fórum Panrotas 2011.

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Luís Vabo

Entusiasta da inovação, do empreendedorismo e da alta performance, adepto da vida saudável, dos amigos e da família, obstinado, voluntário, esportista e apaixonado. Sócio-CEO Reserve Systems 📊 Sócio-fundador Solid Gestão 📈 Sócio-CFO MyView Drones 🚁 Sócio Link School of Business 🎓 Conselheiro Abracorp ✈️

7 thoughts on “TRANSPARÊNCIA TEM QUE SER TOTAL

  1. Mestre Vabo,

    O mesmo acontece (ou deveria acontecer) com a Hotelaria,locação de automóveis, ground transportation…

    Infelizmente o baixo investimento destes segmentos em tecnologia criaram um cenário de dependência de canais de distribuição terceiros.

    Se todos pegarem o modelo da hotelaria econômica (Accor, Hilton, IHG)poderemos ver que o investimento justifica o alto retorno de vendas em canais diretos.

    Este cenário é o melhor possível para que as redes e os independentes comecem a se tornar os que mandam em seus PMSs e assim tomar conta do seu inventário.

    Chears!

    1. Pois é isso, Syllos,

      Penso que, do ponto de vista das agências de viagens, que são os vendedores na ponta, e do consumidor, que são os mandantes do mercado, será preferível dispor de “n” canais de distribuição, gerando concorrência (palavra que nem todos gostam) e, portanto, estimulando a eficácia e a redução de custos.

      []’s

      Luís Vabo

  2. Luis

    Em um e-mail trocado com o Prof. Respicio semana passada, conversamos sobre o tema.

    Existe uma falta de compreensão do assunto, assim como o emprego da palavra Transparência no nosso contexto.

    O CLIENTE FOI BENEFICIADO COM O FIM DA LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS. AFINAL É O CLIENTE QUE VIAJA, COMPRA DOS FORNECEDORES E / OU VIA INTERMEDIARIOS.

    A antiga limitação e o mal uso pelo trade ( entendam aéreas e agências ) fez com que o governo literalmente mudasse a postura, pois as reclamações do Trade eram enormes, ou seja, brigando entre eles ( a agência X usa tarifa da agência Y ) e o CLIENTE na ultima ponta, fora do FOCO.

    Esta Transparência discutida é só mais uma entre as tantas transparências que você citou e outras que poderiam ser citadas, você ainda foi brando.

    Cada canal de distribuição tem suas vantagens e desvantagens com a tal falta de transparência.

    O Corporativo não compra no site ou liga na central porque seu executivo precisa da consultoria, de resposta rápida e ágil. Existe identidade entre cliente e agência, mesmo até com um Self Booking por trás.

    O Consolidador contribuiu para pulverizar os lugares para as companias aéreas. Se alguem precisa lotar um vôo, chame um consolidador.

    DIRECT CONNECT, SELF BOOKING, GDS, WEBSITES são todas ESTRATÉGIAS.

    Ao invés do trade ficar murmurando, vamos pensar nas próprias estratégias?

    Falta inteligência de preços nas agências, não existe trabalho de estatística de variação de preços, análise de regras ( em acordo ou não com CDC ).

    Do outro lado, as aéreas fazem a lição de casa, seus números estão sempre conduzindo o trabalho e suas estratégias.

    1. Este é o ponto, Tiago,

      “Pensar nas próprias estratégias” para um segmento que passou uma ou duas gerações à reboque das estratégias das cias. aéreas e GDSs, é algo que levará tempo e exigirá capacitação do agente e nova postura dos líderes de entidades.

      Desafio para a próxima geração de empresários do turismo, que estão surgindo por todos os lados, herdeiros, empreendedores ou aventureiros, todos estão antenados com a nova realidade.

      É questão de tempo e o tempo dirá quem prevalecerá nesse novo ambiente em que o cliente da agência é o passageiro e não mais a cia. aérea.

      []’s

      Luís Vabo

  3. Luís e Gustavo,
    Compartilho da preocupação sobre a transparência nas tarifas aéreas e os canais de distribuição adequados.

    Como agente de viagens, penso que todos fornecedores, sejam eles cias. aéreas, hotéis, locadores de automóveis, etc, têm todo direito de definir suas políticas internas da maneira que melhor lhes convir.

    Mas é fundamental coerência em suas ações estratégicas. Me refiro ao tratamento diferenciado dado às vendas para órgãos públicos, principalmente da União, onde se mantém um modelo de comissionamento distinto para cada Estado da Federação, e se permite que licitações públicas sejam cada vez mais infestadas por oportunistas que oferecem 15% de desconto nas tarifas aéreas, sem que ninguém explique como é possível esta prática negocial. Seria esta uma das consequências da ausência de transparência ?

    Abraços,

    1. Amigo Walter,

      Sim, penso que descontos como este seu exemplo, superiores à remuneração do agente (neste caso a comissão que ainda prevalece para atendimento a órgãos de governo) só é possível se a agência que o concede, dispõe de remuneração extra (nada transparente) ou se opera no vermelho, financiando o órgão público…

      Tendo a achar bem mais provável a primeira opção.

      []’s

      Luís Vabo

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