O PRESIDENTE FOI MAL ORIENTADO

Verdade seja dita: o ministro Marcelo Álvaro Antonio tem se empenhado em destravar importantes gargalos ao desenvolvimento do mercado de viagens e turismo brasileiro.

A liberação do visto para americanos, australianos, japoneses e canadenses e a participação de até 100% de capital estrangeiro nas cias. aéreas nacionais são alguns destes acertos, além da aprovação da Lei Geral do Turismo, engavetada há anos sabe-se lá em qual gaveta…

Na ânsia de promover ações assertivas em diversas áreas nestes primeiros 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro foi levado ao erro de acreditar que o governo economizará através da compra direta de passagens aéreas pelos órgãos públicos do governo federal.

Esta iniciativa, originada no governo Dilma, provou-se um verdadeiro fracasso devido ao descontrole sobre as tarifas aéreas, quando reservadas e emitidas sem a devida consultoria de uma agência de viagens corporativas (ou TMC).

Sobre este assunto, postei aqui no Blog em 19/07/2016, sobre a desastrosa iniciativa do PT de criar a central de compras de passagens aéreas, incluindo denúncia contra equipe do MPOG Paulo Bernardes, no texto COMPRA DIRETA DE BILHETES AÉREOS PELO GOVERNO FRACASSA

Neste texto, provo matematicamente que o preço médio dos bilhetes aéreos emitidos pela tal central de compras do MPOG foi mais caro do que o preço médio dos bilhetes aéreos emitidos pelas agências de viagens corporativas no ano anterior, apesar da divulgação equivocada do MPOG na época.

Acrescente-se a isto os óbvios custos extras proporcionados pela equipe contratada (ou desviada de função) da central de compras, além do custo da tecnologia (online booking tool) contratada para este projeto e de sua integração ao SCDP (sistema de concessão de diárias e passagens do MPOG).

Governo do PT estatizou a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG
Governo do PT tentou estatizar a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG e o governo atual caiu neste engodo

Coincidência ou não, a área responsável pelo desenvolvimento deste projeto de estatização no governo do PT, foi a Assessoria Especial para Modernização da Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, cujo titular à época era Valter Correia da Silva, que comandou a “modernização” da gestão do MPOG, de nov/2012 a fev/2015, quando saiu para assumir a Secretaria Municipal de Gestão do prefeito Fernando Haddad.

Em 2016, Valter Correia da Silva, ex-assessor do ministro Paulo Bernardo e ex-secretário do prefeito Haddad, foi preso na Operação Custo Brasil, que apura desvios de mais de R$ 100 milhões em propinas, entre 2010 e 2015, de contratos no Ministério do Planejamento, relacionados a serviços do sistema de empréstimos consignados aos servidores federais.

Como afirmei, o mais provável é que tenha sido “mera coincidência” o fato de que a iniciativa de “modernização” (que culminou com a estatização do agenciamento de viagens e resultou em preço médio de passagem mais caro), tenha sido implementada pelo mesmo assessor especial e pelo mesmo ministro que estão presos por outro projeto de “modernização” de gestão, o dos empréstimos consignados, este também alardeado como uma iniciativa de grande alcance social, com um sistema de controle que traria “muitas vantagens” para a administração pública…

Por tudo isso, reafirmo que o presidente Bolsonaro não foi tecnicamente informado por quem entende do assunto, sobre as desvantagens da compra direta pelos órgãos públicos, da mesma forma que tal iniciativa não encontra sucesso entre as empresas privadas que a implementam.

Não foi à toa que as principais associações de agências de viagens, direta e injustamente impactadas pela medida, reagiram através de correspondência diretamente à Presidência da República, casos da ABAV-DF em 28/03/19, da ABAV Nacional em 29/03/19 e da ABRACORP em 29/03/19 e ABRACORP novamente em 01/04/19.

O jornalista Claudio Humberto também opinou a respeito, em sua coluna no Diario do Poder, atribuindo a lobistas a informação equivocada consumida pelo presidente.

Ok, o governo mudou e o Brasil mudou, mas alguém precisa mostrar ao presidente que a compra direta, através da estatização da atividade de agenciamento de viagens, gera prejuízos aos cofres públicos e não combina com um governo liberal.