9 Insights sobre o Orçamento de Viagens Corporativas 2023

As viagens corporativas nacionais retornaram em torno de 60% do seu potencial total pré pandemia, e a expectativa é grande para que o segmento retorne com mais força em 2023. Hoteleiros, Locadoras de Carros, TMCs e fizeram e refizeram seus orçamentos em 2022 tentando se adequar ao volume incerto do segmento. Por tudo isso, ouvir as preocupações, dicas e perspectivas dos gestores de viagens é sempre tão importante,

Foi um prazer participar do último Roundtable Executivo Corporate do ano de 2022 realizado pela HSMAI (Hospitality Sales & Marketing Association International). O encontro, exclusivo para convidados, aconteceu no Hotel InterContinental SP, e teve como tema o ‘Orçamento de Viagens 2023’. Na ocasião, Júlia Brito, Head de Viagens da Cargill e board member do Comitê Corporativo da associação, liderou o grupo e mediou o debate.

Várias análises foram debatidas e geraram insights importantes, que podem auxiliar gestores de viagens com seus orçamentos para 2023, além de darem dicas incríveis para os fornecedores da nossa indústria. Alguns drives foram desmistificados para a composição de custos, e dicas práticas para aumento de savings foram compartilhadas.

Entre os convidados, estavam executivos da Avipam, Marriott, Itaú, Fibra Energia, Syngenta, IHG, Will Bank e outros.

Em geral, os gestores concluíram que, mesmo aqueles que não são responsáveis pelos seus orçamentos, podem prover informações e dados para que os departamentos o estruturem de forma assertiva.

Inputs sobre o atual Ambiente de Negócios:

  • Desafio de previsão – O orçamento de 2023 será desafiador e ainda se mantém incerto, principalmente pela oscilação de preços do aéreo.
  • Antecipação de compra – Muitas empresas estão antecipando seus BIDs, não só em função da Copa, mas até já emitindo passagens e reservando hotéis para garantir savings.
  • Histórico de 2019 – Spend (gastos) de 2022 em T&E (Travel & Entertainment) são válidos como histórico, mas não retrata mais uma realidade de mercado. Mesmo mantendo o volume, o orçamento estourou em função dos preços. Em geral, 2022 foi um ano de muita cautela ao olharmos para o mercado corporativo.
  • Retorno do Segmento Corporativo – O segmento de viagens corporativas estava previsto para um retorno em 2024, mas já estava presente a partir de Outubro de 2022. Entretanto, suas características estavam diferentes, e a personalização nos acordos nunca foram tão importantes.
  • Contexto do Aéreo – Aumento da demanda + demanda reprimida + redução das rotas + inflação + Câmbio + preços do combustível altos:
    • Resultado:  ALTA nos preços das passagens.
    • Expectativa: Espera-se que, com o aumento da malha, retome o equilíbrio da oferta e demanda. Com isso, a tendência é que os preços retomem patamares normais novamente.
  • Contexto Terrestre (Locação de Carros e Hotéis) – escassez de profissionais + escassez de recursos (crise automotiva) + inflação + câmbio:
    • Resultado:
      • Locação de Veículos – Alta de preços em mais de 50%
      • Hotelaria – Declínio de serviço
  • Tarifas Dinâmicas em hotéis dificultam previsão: ainda existe resistência em relação aos processos precificação flexível, pois tecnologia hoteleira e meios de pagamento não estão preparados para a complexidade nesse tipo de gestão de preços. Contratar uma auditoria para entender a diferença de tarifas dinâmicas x fixas para justificar se é viável não faz sentido. É um problema a mais para o gestor. Está claro para o mercado que essa prática fará sentido para alguns tipos de clientes/contratos e outros não.

Entre os muitos insights que surgiram durante o encontro, seguem 9 que se destacaram:

  1. Revise o orçamento 2023 trimestralmente – Em função da incerteza de preços dos fornecedores, principalmente aéreo, importante haver uma revisão do orçamento de viagens, eventos, etc de forma mais periódica e dinâmica. O controle do orçamento precisa estar ‘na ponta do lápis’.
  2. Auxilie áreas na gestão dos seus orçamentos de viagens – Muitas empresas tem seus budgets de viagens descentralizados. Mesmo assim, é importante que o gestor garanta que elas consigam manter seus budgets sob controle.
  3. Equilibre / Realoque custos – Entender onde economizar e onde será importante investir mais fará toda a diferença.
  4. Passagens aéreas e hotéis – Antes da pandemia, algumas empresas faziam treinamentos e reuniões regionais na proporção de 70% presencial e 30% online, quase todo mês. Hoje, a situação se inverteu. Vale negociar internamente reuniões trimestrais e 70% online, por exemplo.
  5. Locação de carros – durante a pandemia, a locação de carros foi a preferência dos viajantes, e muito do share desse tipo de deslocamento se manteve em 2022.
  • Negocie com foco. É preciso buscar assertividade nos processos e negociar o que realmente vai fazer diferença no dia a dia. Foco é importante. Negocie com os parceiros realmente relevantes.
  • Parta do OBZ (Orçamento Base Zero) – Além da dificuldade de utilização dos números de 2019 e 2022, não é possível tomar como base apenas os índices econômicos. Energia, mão de obra, situação dos fornecedores e muitos outras variáveis precisam ser consideradas na hora do orçamento para 2023.
  • Considere ‘todos’ os custos do online – A tecnologia está mais cara em geral. Além disso, é preciso levar em consideração itens como um chroma key, empresa especialistas em gamification, engajamento das pessoas. Se, por acaso, entregarmos algo em casa, existe todo o custo / tempo de recursos humanos para checar endereços, logística de entrega, etc. Tudo isso custa…e caro!
  • Negocie ancilliares (benefícios extras) com as aéreas – Se está cada vez mais difícil conseguir desconto na tarifa, é preciso conhecer os ancillaries (serviços agregados) para ampliar a negociação.
    • Upgrades no Frequent Miles Program
    • Marcação gratuita de assento
    • Possibilidade de levar bagagem sem custo extra
    • Alterar data sem multa.
How to Be a Corporate Travel Planning Expert | SnackNation

Ainda existe uma certeza complexidade na gestão desses benefícios em função de compliances, e é preciso levar a discussão internamente para melhores acordos.

  • Use o índice ATM (Average Ticket Mile) para previsão de custo no aéreo – Ao invés do índice ATP (Average Ticket Price), use ACM (Average Ticket Mile). O combustível de aviação é calculado por milha. Cias áereas estão estudando quais destinos para eles são melhores, então, é um novo jeito de saber se o preço continuará o mesmo ou não. Assim, se considera a rota (observação de comportamento) e não o spend.
    • Também faça pesquisa nas OTAs, por exemplo, e use o histórico (quando houver) para entender o que esperar para frente.
  • Eduque seus viajantes sobre como funcionam as tarifas dos hotéis – a questão das tarifas dinâmicas x fixas está presente e seguirá assim. Enquanto não houver uma mensuração clara de savings entre um e outro, e tecnologia que descomplique a gestão no dia a dia de acordos híbridos, a negociação ‘ferrenha’ entre gestores e hotéis seguirá.

Nesse meio tempo, se seus viajantes ainda comparam suas tarifas o tempo todo com as OTAs, já pensou em abrir o processo (‘comprar onde quiser – fora do diretório da empresa)? Pois empresas que fizeram isso por curto período, não tiveram muita adesão dos seus usuários. Saindo das tarifas negociadas, perdem o suporte da agência, e todo viajante quer se sentir cuidado. Assim, os usuários entenderam que as agências são parceiras e um suporte importantíssimo para a gestão de viagens na empresa.

Aproveite para explicar aos viajantes que não é uma questão de preço entre a tarifa acordada e as OTAs, mas é uma tarifa ‘diferente’. São outras condições, benefícios são outros, independente do preço.

Dicas Bônus para Fornecedores:

  1. Hotelaria – foquem na reestruturação da sua prestação de serviços e incremento da diária média.
  2. TMCs – unam mais tecnologia com a humanização dos processos. O que fará a diferença daqui para frente será a elevação do atendimento personalizado.
  3. Empresas de Tecnologias – simplifiquem processos e aproximem todos os players/negócios.
  4. Locadoras de Carros – passem mais informações como as lojas que não fazem cotação simples, por exemplo. Algumas são exclusivas para Uber, e os viajantes corporativos precisam otimizar seu tempo nesse processo.

Que 2023 chegue repleto de boas notícias e um orçamento assertivo para você!

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O ‘novo normal’ dos processos de seleção. Qual sua posição?

Faz tempo que não temos um assunto polêmico por aqui, então vamos a ele:

Faço parte de alguns grupos de hoteleiros tanto no Brasil quanto no exterior, além de realizar muitos processos de hunting, especialmente para executivos. Recentemente, tenho notado em vários desses grupos muitos potenciais empregadores reclamando do 'famoso' apagão de mão de obra (nem se fala mais em apagão de talentos), e do quanto o processo seletivo tem mudado. 
O debate é bom, as visões são diferentes, e vai muito além de um simples choque de gerações. 
Segue abaixo um breve compilado que reuni nas últimas semanas. Ao final, deixe sua experiência em processos seletivos e sua opinião sobre o tema.
Como alguns candidatos se apresentam nas entrevistas (segundo GGs de hotéis):
• Com bonés virados para trás.
• Sem pesquisar a empresa.
• 'O candidato escondeu o baseado do lado de fora do escritório administrativo antes de entrar no prédio. Tudo gravado pela segurança do prédio.'
• Com 30 ou mais minutos de atraso.
• Com seus animais de estimação.
• Com celulares ligados. 'Uma candidata se recusou a desligar o telefone porque estava esperando uma mensagem do namorado'.
• Usando um top de biquíni (em hotel de praia)
• Esperando que o almoço seja servido.
• Atender o telefone no meio da entrevista, e falar com o recrutador de outra empresa.
• Aceitar o trabalho, e simplesmente não comparecer no primeiro dia, pois não gostou da cidade
• Com currículos com muitos erros de digitação e/ou...emojis.
• Com seu pai. Ps.: o candidato não tinha problemas de saúde que exigisse acompanhante.

Argumentos de quem entende e apoia o 'Novo Normal' do processo de Seleção:
* A forma como gerenciamos e contratamos/mantemos uma equipe precisa mudar. Vivemos com gerações entrando no mercado de trabalho recebendo troféus de participação. É claro que o candidato acha que não há problema em ser recompensado por apenas aparecer. Isto é o que eles estão acostumados a toda a sua vida. Isso não os torna errados. Eles simplesmente, às vezes, não sabem melhor. 
* Eu entrevistaria uma pessoa atrasada, com boné virado ou biquini. Eu entendo essa coisa chamada 'vida' que todos estamos passando.
* Nós precisamos ensinar tudo. Se o candidato tem uma boa personalidade, jogue todo eu julgamento fora e transforme-os rapidamente em um 'ser corporativo'.
* Estamos no século XXI, parem de julgar pela aparência!

Argumentos de quem acha esse 'Novo Normal' absurdo e não aceita comportamentos assim:
* Não recompense o mau comportamento. Minha linha de frente é ocupada por nove pessoas que agem profissionalmente. Eles ganham porque entregam serviços.  Faça-os trabalhar para isso. Você vê o que aconteceu por causa da geração de troféus de participação. Eu não os mimo, e ainda tenho candidatos toda semana. Se queremos uma força de trabalho melhor, temos que criar uma força de trabalho melhor. Eles vão descobrir quando estiverem desempregados por muito tempo. 
* Quem acha essa atitudes normais e justifica dizendo que existem recrutadores e empresas ruins também, admite um comportamento ruim, com outro comportamento ruim. Seja Profissional! Amadureça!  
* Profissionais que demonstrem desleixo consigo mesmo, falta de compromisso, insegurança (não nervosismo comum das entrevistas) e mentira, não terão espaço no meu hotel. Ponto!
* Eu pago em dia, ofereço benefícios não obrigatórios por lei como seguro saúde, e mantenho um ambiente profissional e de respeito. Pago a média do setor, e se a empresa dá prejuízo, mantenho os salários em dia.  Portanto, comprometimento é o mínimo que exijo.
* Por que devemos diminuir os padrões que foram estabelecidos? Eles não são capazes? Talvez seja hora de reforçar o que é certo.

Entrevista no Domingo, A Saga:
Abaixo, descrevo a 'saga' de um empreendedor conhecido meu. Embora Domingo não seja um 'tabu' na nossa indústria, vai ilustrar bem as 2 visões sobre processos seletivos que estamos falando:

'Abri alguns horários no Domingo para entrevistas. Vagas em home office, e salário acima do mercado. Eles não precisam trabalhar aos domingos, mas só queria entender a real vontade dos 4 candidatos. Nenhum apareceu, e só um ligou para avisar que não vinha. Eu mesmo preferiria estar no shopping, um restaurante, ou mesmo entrar nas redes sociais e ver tudo funcionando direitinho. Adivinha? Tem gente trabalhando por trás para que nada dê errado durante meu período de lazer, inclusive equipes 24 horas. 

A história é longa, e após um looongo debate do Linkedin com mais de 1.200 comentários, houve uma divisão nas opiniões. Veja algumas:

De um lado, muita gente falando que isso é exploração, maldade:
* Isso mostra seu desrespeito com a classe trabalhadora.
* Se a entrevista é no domingo, imagina o resto. Justo em tempo de humanização das empresas...aff!
* É a era de prezar pela qualidade de vida, então não foi a melhor estratégia.
* Oferecer salário acima do mercado não é nada mais do que a sua obrigação. Bom saber que as pessoas recusaram.
* Estamos lutando por 4 dias úteis para melhorar a produtividade e reter talentos. Você esta quebrando convenções sociais/religiosas/legais, pois domingo o trabalhador precisa se dedicar a si mesmo, sua família, saúde mental, etc. 

Do outro, pessoas apoiando e entendendo a atitude: 
* Onde está a maldade? Se estamos comprometidos com algo, tudo bem abrir mão de algumas coisas para conseguir outras. Faz parte da vida!
* Fui contratada em um processo seletivo que aconteceu no sábado. Para quem quer trabalhar, o dia não importa, mas a entrega.
* Abri um processo para 23 vagas em plena Terça de Carnaval. A mobilização foi um sucesso! 35 pessoas foram e preenchemos todas as vagas. Todos que foram realmente queriam trabalhar. 
* Trabalho, assim como tudo que queremos fazer bem na vida, é dedicação.
* Combinado não sai caro.  Se confirmaram a presença, no mínimo, deveriam cumprir o acordo. Nem isso...

Final da história:
...o empresário foi uma das pessoas mais xingadas em um só post dos últimos tempos, e também recebeu mais de 300 CVs de pessoas dizendo que estão disponíveis para entrevista quando ele quiser. 
Atualização.: Uma semana após o post, ele já preencheu todas as vagas, ninguém está trabalhando aos Domingos, e todos ganhando realmente acima do mercado.

E você, qual sua opinião sobre o assunto? Lembrando que, entre as respostas, houveram comentários de pessoas de todas as idades, posições, níveis sociais e educacionais, tanto pró quanto contra o novo processo seletivo que está acontecendo. É mesmo uma questão comportamental, de visão de mundo.
Agora é com você. Vale o papo!

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