O circo do último imperador da França

Nas duas últimas semanas não pude escrever com a frequência desejada, mais umas das inúmeras férias escolares veio mudar a rotina habitual. No Brasil dois longos períodos de férias e os feriados compõem a vida estudantil e parental. Aqui a cada dois meses os estudantes são premiados com pelo menos quinze dias de pausa. Dividida em três zonas diferentes toda a França estudantil para de maneira intercalada. Um quebra cabeça que resulta em muito drible e vai e vem com filhos entre a casa dos avós, entre a casa dos amigos, a televisão, o Ipad e os eventuais passeios em família. Pouco importa o esforço e resultado, para muitos pais que continuaram trabalhando como eu, um sentimento de culpa eminente plaina no ar nestes dias.

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Nesta dupla jornada, enquanto trabalho eu me digo que deveria estar vendo meu filho crescer e quando estou com ele, quantas vezes não penso no trabalho, nas obrigações profissionais e financeiras? Sentimento de culpa! Embora tenha certeza de não ser a única nesta situação, por um momento me sinto perdida. Preciso falar com meu terapeuta! Ops, eu não tenho terapeuta. O que fazer para se livrar do sentimento de culpa? Você faz o que? Dá desculpas ou pede desculpas?

Encontro consolo pesquisando e descobrindo o que fazer com uma criança de dez anos nesta cidade, me dizendo que do ponto de vista profissional as dicas servirão as famílias que vêm a Paris e pessoalmente todo ser humano tem direito e dever de se ocupar de seus filhos. Que mensagem passaríamos para a geração futura se colocássemos dinheiro antes do amor?

Talvez se eu vivesse em Orlando fosse mais fácil, um parque ou uma novidade para cada dia. “Eita” lugar para ter novidades! E atenção, em menos de vinte anos a novidade poderá virar obsoleta e construírem no mesmo lugar algo duplamente impressionante.

Já em Paris, foi o cinema Rex, que data de 1937 e sua sala de cinema e espetáculos que me salvou por algumas vezes nestes quinze dias de férias escolares urbanas. Patrimônio Nacional, o cinema Rex é o palco das estréias e tapete vermelho obrigatório para artistas americanos em visita a Paris, desde Cary Grant e Greta Garbo, até Bruce Willis ou Angelina Jolie. Além dos melhores filmes da cidade, a sala principal com seus 2700 lugares, oferece a decoração de origem repleta de esculturas e cenários característicos das grandes produções cinematográficas do inicio do século XX. A atração permanente Estrelas do Rex faz uma síntese da cinematografia e da história da sala com apoio de divertidos efeitos tecnológicos. Infelizmente a narração unicamente em francês faz com que a experiência se restrinja aos turistas francófonos.

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Porém, de longe, a melhor das atividades foi à ida ao tradicional Circo de Inverno, ver o espetáculo da família Bouglione. Construído por Napoleão III em 1852 com mais de 5000 lugares para acolher as artes equestres e espetáculos diversos, o prédio é um verdadeiro coliseu do século dezenove. Atualmente com 1600 lugares a fim de condizer com as normas de segurança contemporâneas, o Circo ainda impressiona por sua beleza, conforto e visibilidade perfeita. Em 1934 a família Bouglione comprou o edifício, diz a história pagando com peças de ouro e desde então vem gerenciando o lugar com os melhores espetáculos circenses do mundo. Foi, por exemplo, no circo Bouglione que em 1859 Jules Léotard inventou o número de Trapézio Voador. Aliás, que coincidência, no espetáculo Gigante, em cartaz  até dia 1° de março, o quadro de trapézio era realizado pela espetacular família brasileira Mendoza.

Elefantes, cachorros, orquestra, mágica, um grande palhaço, trajes maravilhosos, não faltou nada!

Uma fórmula vitoriosa que atravessou os tempos. Assim é Paris.

PIcadeiro e artistas Paris Visibilidade perfeita Trapezio PIcadeiro 2 Entrada Logo e Cavalo Bouglione Exterior Entrada artistas Entrada 2 Elefantes

No mais, caro leitor, desculpe pelo atraso do post, espero que a dica compense!

Pois no inverno que vêm (entre novembro e março), como há mais de 150 anos, o circo de Napoleão III estará de volta!

fotos: Alessandra Brantes

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Silvia Helena

Após breves passagens pela Faculdade Metodista de São Bernardo e Belas Artes de São Paulo, aos 18 anos fui estudar no Canadá, onde vivi durante 23 anos. Lá me formei em História da Arte pela Universidade de Montréal, estudei turismo no Collège Lasalle de Montréal e no Institut de Tourisme et Hôtellerie du Québec. Comecei minha carreira na área trabalhando em Cuba. Durante os anos vividos no Canadá, entre outras coisas, fui guia de circuitos pela costa leste e abri minha primeira agência de receptivo para brasileiros. Há 18 anos um vento forte bateu nas velas da minha vida me conduzindo até França. Atualmente escrevo de Paris, onde vivo e trabalho dirigindo a empresa de receptivo, LA BELLE VIE.

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