Loberías del Sur, Patagonia Aysén

Percorrer as principais atrações da mítica Carretera Austral, que liga Puerto Montt a Villa O’Higgins em mais de 1200 km no Chile, não é uma viagem das mais simples. Mas pode ficar bem mais agradável montando uma base confortável no hotel Loberías del Sur na Patagônia Aysén.

A estrada na Patagônia Norte chilena (também conhecida como Patagônia Aysén) é difícil, com vários trechos de cascalho e muitas, muitas curvas – e os deslocamentos são invariavelmente longos, requerendo bastante logística e atenção constante de quem estiver dirigindo.

Fiz minha primeira viagem para lá há oito anos e caí de amores pela beleza ainda selvagem da região; mas confesso que trouxe memórias bastante duras do excesso de perrengues na hotelaria e na estrada.

Acabo de voltar de mais uma viagem para lá, mas agora com uma experiência completamente diferente. Desta vez, fui convidada a me hospedar no hotel Loberías del Sur, na pequena Puerto Chacabuco, bem diante dos famosos fiordes de Aysén.

LEIA MAIS detalhes sobre o hotel Loberías del Sur aqui.

O quarto padrão do Loberías. Foto: Mari Campos

Não se trata de um hotel de luxo – longe disso. Mas o Loberías tem instalações bem confortáveis, quartos bastante grandes e cheios de luz natural, cantinhos aconchegantes nas áreas públicas e um serviço bastante simpático e prestativo em todos os setores, da recepção ao restaurante.

A grande sacada do hotel foi ter criado programas de 3 a 7 noites mais ou menos no estilo de outros hotéis chilenos de exploração que fazem muito sucesso entre brasileiros, como os das redes Tierra e explora. Nos programas, transfers de e para aeroporto, passeios, deslocamentos e todas as refeições já estão todos incluídos – só fica faltando mesmo o bar aberto, já que as bebidas alcoólicas ficam de fora. É possível reservar apenas alojamento e café da manhã e comprar passeios avulsos, mas a melhor alternativa, sem dúvidas, é investir no programa completo. 

VEJA AQUI Como conhecer as famosas Catedrais de Mármore do Chile

Detalhe do lobby do Loberías del Sur. Foto: Mari Campos

Desta vez, graças ao programa, não precisei me preocupar nem por um momento com estrada, mapas, rotas ou onde parar para dormir ou fazer refeições. Todos os passeios do Loberías del Sur, na Patagônia Aysén, saem de manhã e voltam para dormir no próprio hotel – com exceção do passeio às famosas Capelas de Mármore que, por serem tão distantes, conta com pernoite em um lodge mais próximo da atração, mas também já incluído no custo do programa.

Os motoristas e guias foram ótimos durante toda a semana, mesmo nos deslocamentos mais longos (vale dizer que tudo ali é sempre longe), e nossa única preocupação a cada passeio era ter memória suficiente na câmera e no celular para as infindáveis fotos que tirávamos. 

No programa, todas as entradas, taxas e refeições já estão incluídas, seja no dia do catamarã que leva à incrível geleira San Rafael com tudo incluído ou na trilha do Parque Aikén del Sur, que termina com um incrível cordeiro patagônico assado em um típico “quincho” de frente para montanhas e lago. E em uma região em que boa parte das operadoras de telefonia falham, o hotel conta com bom serviço de wifi gratuito (e sauna, salão de jogos e um pequeno fitness center também).

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A “Catedral de Mármore”, atração mais famosa de Aysén. Foto: Mari Campos

As melhorias poderiam vir apenas nos jantares do hotel: contam com um imenso buffet de saladas (incluindo deliciosos ceviches) e diferentes opções e pratos quentes e sobremesas; mas ainda há pouca variação no cardápio de um dia para o outro.

Mas achei louvável o Loberías del Sur ter criado, enfim, uma maneira prática e prazeirosa de percorrer a incrível Carretera Austral chilena sem stress ou perrengues, e com total segurança. E mais: perfeitamente factível mesmo para famílias com crianças. 

Dá pra ler mais sobre o Loberías del Sur e as melhores atrações das minhas viagens pela Patagônia Aysén aqui. Ou clique aqui para saber como conhecer de pertinho as famosas Catedrais ou Capelas de Mármore da região.

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O complicado conceito de Glamping

Glamping na Eyre Peninsula australiana. Foto: Mari Campos

Já sabemos que tudo no universo das viagens hoje em dia tem a ver com “experiências” e é claro que natureza e, sobretudo, ecossistemas diferentes dos quais estamos habituados representam parcela importante destes desejos viajantes. Diversas propriedades em distintos locais do globo souberam unir com maestria a ideia de aventura e extremo contato com a natureza sem abrir mão do conforto, do bom serviço e da boa mesa, como as redes Explora e Tierra Hotels na América do Sul e inúmeros lodges de safári sul africanos (como Tintswalo, Thornybush e tantos outros).

Não faz tanto tempo assim que o conceito de “glamping” tomou conta de parte do mercado de viagens internacional. No princípio, eram poucas empresas investindo nesta ideia de “glamour camping” mas, com o advento das redes sociais, instagrammers, bloggers e youtubers, não demorou muito para a ideia, tão visualmente sedutora, se espalhar por destinos nos cinco continentes.  A proposta de se hospedar em meio à natureza exuberante com a conveniência dos serviços de hotelaria foi desde o início sedutora para boa parte dos viajantes – uma oportunidade de unir o melhor dos mundos em uma viagem cheia de experiências e imersão.

Na onda do glamping, o conceito original das tendas começou com unidades ampliadas, com banheiros privativos, refrigeração ou calefação do ambiente e amenidades de qualidade, e evoluiu para yurts completíssimos que não devem em nada a um bom quarto de hotel, como nos ótimos Eco Camp e Patagonia Camp, no Chile, por exemplo.

O conforto no contato muito próximo com a natureza sempre norteou tais experiências – ao menos em princípio. O ótimo Jawaii Leopard Camp, por exemplo, foi erguido em uma área super remota e selvagem das Aravelli Hills, na Índia. Suas refinadas e completíssimas tendas foram instaladas com todo o conforto em uma região habitada pelos curiosos homens da tribo Rabat e rodeada por uma impressionante população selvagem de leopardos – daquelas experiências intensas das quais jamais me esquecerei.

O peculiar e o inesperado sempre foram bem-vindos neste setor e hoje não são poucas as propriedades em diferentes continentes oferecendo até ofurôs sob as estrelas do lado de fora das tendas. E sustentabilidade é, é claro, essencial para qualquer propriedade do gênero ser bem sucedida no mercado. Mas, assim como o conceito de hotel boutique, parece que cada proprietário entende a ideia de glamping como bem quer.  Tive experiências bastante frustrantes em locais como o Elephant Hills, no sul da Tailândia, de tendas abafadíssimas, serviço pífio, e um menu buffet sofrível que se repetiu, idêntico, pelos dois almoços e dois jantares que fiz ali.

Neste abril, em uma viagem pelo outback da Península Eyre, na Austrália, me hospedei em uma propriedade nas Gawler Ranges que se define em seu website como “glamping experience” e diz que tem “5 star tents”. Cobra 660 dólares por pessoa POR DIA de hospedagem (e não por noite!), não tem sequer ventiladores nas tendas quentíssimas (peguei 41 graus durante o dia, mesmo durante o outono), não oferece nenhum tipo de serviço de limpeza/camareiras (nem troca de toalhas) nem investe em uma gastronomia minimamente caprichada (os jantares até eram ok, mas nos dois almoços que fiz lá, um tinha restos do jantar anterior mal ajeitados em potes plásticos e o outro era um sanduíche de salada na baguete, embalado em papel filme).

Transfers, passeios e refeições estão incluídos, assim como vinhos australianos no jantar. O local utiliza somente água da chuva para chuveiros e descargas e mantém o consumo de energia elétrica ao mínimo possível. A paisagem do outback australiano durante o dia, a vida selvagem nos arredores das tendas e o céu extremamente estrelado no meio do nada compensam, por exemplo, o incômodo irritante das moscas o dia todo; é um fenômeno natural, não há tanto  que possa ser feito. Mas o acampamento cobrar um valor como esse pelo tipo de produto que oferece me parece mesmo injusticável.

É claro que entende-se que propriedades pequenas, remotas e que investem em sustentabilidade têm geralmente custos mais altos que um grande hotel em um centro urbano pela própria logística necessária para abastecê-la – sem nem entrar em outros méritos. E sabemos que até mesmo o conceito de “estrelas” na hotelaria ainda é super discutível, então é mesmo utopia querer algum tipo de “standardização” para propriedades que se definiam como hotéis boutique, eco-lodges ou glamping. Mas uma propriedade que cobre o mesmo valor que um hotel de exploração de primeira linha(como os já citados Explora e Tierra, por exemplo) não oferecer sequer ventiladores para amenizar o calor surreal das tendas ou serviço de camareiras se atrever a cobrar preço de hotel de luxo realmente é algo que ainda me choca.

 

 

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