No último domingo, 4 de dezembro, eu e meu filho Fabrício fomos à Comic Con – um dos maiores eventos “geek” do planeta e que se realizou em São Paulo. O ingresso para este evento não era dos mais baratos e a condição para se comprar meia-entrada era doar um livro. Obviamente foi a opção que escolhemos. Ao chegar para evento, descobrimos que a doação dos livros era feita na entrada da feira e não havia ninguém monitorando o público. Você simplesmente chegava e depositava o seu livro no local indicado sem nenhum tipo de fiscalização. Na mesma hora comentei com ele:
- “Se quiséssemos comprar o ingresso pela metade do preço e entrar sem fazer a doação ninguém nos impediria”.
E eis que Fabrício, na altura de seus 14 anos me respondeu:
- “Mas somos pessoas honestas pai, nós temos que doar”.
Isto é caráter e honestidade, coisas que não se compram na esquina. Prova disso são os nossos deputados, representantes eleitos do povo brasileiro, que na última semana, na calada da noite, em uma sessão que se realizou de madrugada, derrubaram o pacote que combatia a corrupção no país. E pior, fizeram isso enquanto toda a população se comovia com a tragédia aérea da Chapecoense.
Que pessoas são essas que, no momento em que os brasileiros choram por seus mortos, se reúnem na calada da noite, como uma quadrilha, para legislar em causa própria? É isto que chamamos de democracia? São estas pessoas que representam o estado democrático?
Infelizmente a resposta é “sim”. E infelizmente atitudes como esta não são novidades. Há 45 anos, quando lançou seu samba “Vai Passar”, Chico Buarque já cantava: “…dormia nossa Pátria tão distraída, sem perceber que era subtraída, em tenebrosas transações”.
Troque “transações” por “votações” e você tem o espelho do nosso atual Congresso Nacional.
Por isso, aproveitando o raciocínio puro e simples do meu filho, se doar um livro é um sinal de honestidade e caráter, jamais convide um deputado para qualquer evento de doação.
Obrigada. Não se pode calar um absurdo desses!
Na BGS – em setembro – foi parecido: se doava 1kg de alimentos pela meia entrada, também sem fiscalização. Boa, Fabrício!!!