Os EUA não são o centro do mundo: NBTA será GBTA !

Pelo 6º ano consecutivo, estamos participando do congresso da NBTA, seguramente o maior e mais importante evento de corporate travel no mundo que, apesar de organizado por uma associação americana (a National Business Travel Association), atrai profissionais da indústria de viagens corporativas do mundo inteiro.

Com 65 representantes de agências de viagens, hotéis, cias. aéreas, empresas de tecnologia, imprensa, entre outros, a delegação brasileira organizada pela ABGEV (a nossa Associação Brasileira dos Gestores de Eventos e Viagens Corporativas) figura sempre entre as maiores delegações estrangeiras (geralmente apenas as delegações canadense e inglesa são maiores em quantidade de pessoas).

Durante esses 6 anos (San Diego, Chicago, Boston, Los Angeles, San Diego e Houston), Solange Vabo e eu buscamos na NBTA novidades e tendências em tecnologia que pudessem ser aplicadas, adaptadas ou melhoradas para o mercado brasileiro, diferente do americano em inúmeros aspectos.

Este ano, nos deparamos com uma constatação surpreendente, verbalizada pelo menos 3 vezes durante o primeiro dia do evento: os EUA já admitem não serem o centro do universo…

Para entender o contexto desta percepção sobre a mudança de abordagem do americano a respeito da economia mundial, vamos começar do início:

No painel Going global with limited resources, a Blackrock, multinacional com presença em dezenas de países, demonstrou que as empresas estão preocupadas com sua autonomia em relação à fonte dos dados de viagens, em especial quando implementam um projeto global de gestão de viagens corporativas, sendo mandatório que não dependam dos dados da agência de gestão de viagens corporativas (ou TMC), nem dos dados do cartão de crédito e nem mesmo dos dados dos GDS’s. Dispor de seu próprio sistema de gestão de dados de viagens é estratégico para a companhia.

Neste mesmo painel, a Convergys, outra multinacional presente em diversos países, focou nas dificuldades de relacionamento de seus colaboradores em cada país, em suas relações com seus fornecedores locais, e por isso, procura respeitar as especificidades de cada região.

Por fim, a Booz & Co, corporação entre as mais tradicionais empresas de consultoria do mundo, optou por apresentar uma visão estratégica sobre os objetivos de um projeto de globalização da área de viagens, comparando o ganho de oportunidade que se pode obter com a gestão global, versus uma abordagem mais estratégica, que considera a gestão local das viagens em cada região ou país.

Neste contexto, foi proferida pela primeira vez a frase: “Do not think USA is the centre of the world, because it is not”.

O mais surpreendente foi a Condoleezza Rice, a ex-secretária de estado norteamericana, que apresentou, durante o almoço, um discurso de quem tem projetos políticos concretos para o futuro e, neste ambiente, esforçou-se para elevar o moral da tropa ao dizer que, embora os EUA não sejam o centro do universo, não há por que acreditar que a China vá efetivamente conquistar a liderança global, como profetizam 10 em 10 economistas, americanos ou não.

Apesar do inevitável tom de patriotismo exacerbado, resumido na frase “we are leaders in democracy, generosity and compassion (!?)”, Dr. Rice, como chamada pelo patrocinador da palestra, não conseguiu esconder uma certa preocupação com o crescimento da China e de outras economias emergentes.

Por último, o anúncio da estratégia de globalização da NBTA, que deixará de ser uma entidade americana para se tornar efetivamente internacional, com representações nos diversos países e regiões em que o tema business travel tenha alguma relevância na economia.

Esta imprevista guinada estratégica da NBTA também foi motivada pela percepção de que cada país tem sua realidade, cada mercado tem seu tamanho e a retirada do N (national) da sigla NBTA, será fundamental para a compreensão de que a futura GBTA (Global Business Travel Association) não será uma entidade dos EUA, mas uma instituição global, focada mais em um importante segmento da economia do que num determinado país.

Aparentemente, os americanos estão começando a perceber que o mundo existe além do hemisfério norte, o que é muito bom para todos, inclusive para os EUA…

.

Published by

Luís Vabo

Entusiasta da inovação, do empreendedorismo e da alta performance, adepto da vida saudável, dos amigos e da família, obstinado, voluntário, esportista e apaixonado. Sócio-CEO Reserve Systems 📊 Sócio-fundador Solid Gestão 📈 Sócio-CFO MyView Drones 🚁 Sócio Link School of Business 🎓 Conselheiro Abracorp ✈️

9 thoughts on “Os EUA não são o centro do mundo: NBTA será GBTA !

  1. Excelente resumo do modelo que deve vingar no setor de Viagens corporativas com a evolução do cenario politico/economico mundial. Apesar deste ano eu nao estar presente no NBTA, a opinião dos participantes no blog panrotas dá um bom conforto de informação. Seria importante saber como vai ser a participação do mercado brasileiro, atraves da ABGEV, neste novo cenário do GBTA. Alguem se habilita?

  2. Fernando,

    Há dois anos quando estive no NBTA em Los Angeles, alguns painelistas já estavam vislumbrando que os mercados “fora Estados Unidos ” tem a sua realidade e não há como desprezá-los, querendo impor modelos americanos para a gestão de viagens corporativas.

    O mercado Latino vem crescendo e aparecendo, buscando por aqui novidades mais coerentes com a nossa realidade e aplicar a gestão de viagens.

    A crise econômica a qual passou ou ainda passa o mercado Americano, foi a grande sacudida para eles entenderem que : “Do not think USA is the centre of the world, because it is not”.

    O Brasil e outros mercados sobreviveram e passaram pela crise com trabalho, gestão e pés no chão.

    A crise da bolsa dos anos 30 ficou na lembrança, onde o centro do Universo era o Tio SAM.

    Desejo que o GBTA, perceba os grandes mercados em expansão e respeite os modelos existentes , para que a democracia e a troca experiências faça dos próximo encontros, uma grande troca de informações, conhecimentos e não a imposição de um mercado, respeitado, mas não o único.

    Abs e até a volta.

  3. Pois é, Acácia,

    Antes tarde do que nunca.

    Não podemos perder de vista a força da economia norteamericana, mas é estimulante perceber uma postura comercial mais interessada na América Latina, em especial no Brasil.

    []’s

    Luís Vabo

  4. Luiz.
    Concordo com o Walter. Excelentes o resumo e a análise que você fez daquilo que já assistiu no evento !
    Para mim, que não puder estar aí presente, é uma forma de participar.
    Muito obrigada por compartilhar conosco essas informações.
    abraços e boa continuação.
    Deborah

  5. A ascensão das economias emergentes aliada ao declínio da superpotência americana, pode gerar a diminuição do etnocentrismo peculiar de países líderes em influência política, social e cultural. Daí decorre o “click”: não somos mais o centro do universo.

    Isso é um bom sinal para o planeta globalizado, principalmente para os que procuram obter seu espaço. Cabe ao Brasil e aos brasileiros (empresários, governo, empreendedores, trabalhadores…) fazer o dever de casa para não desperdiçar esta chance histórica.

    Regards,
    VJ

  6. “Do not think USA is the centre of the world, because it is not”… Essa frase, provavelmente dirigida em sua essência apenas aos compatriotas norte-americanos, tem mensagens importantes aos outros também.

    A importância dos Estados Unidos da America no mundo moderno é indiscutível, o uso da lingua inglesa como elemento agregador também e apesar de não concordar com a visão (etílica, provavelmente) da Dr. Rice, não gostaria de trocar os USA por outro semelhante (por preguiça) ou por outro pior (por motivos óbvios). Prefiro que troquemos o “N” pelo “G”, de global, que diz muito mais.

    O mundo é um globo e ninguém está no centro. Ou, se extrapolarmos, qualquer ponto está equidistante do centro (tá, sei que o mundo não é realmente redondo e sim achatado nas pontas, mas me ajudem nesta licença poética).

    Luis, já conheço de perto a Convergys, logo não estranhei as frases dela, mas por favor traga mais exemplos que estes tres, para que a gente saiba quais grandes empresas devemos prestar atenção (as pequenas e médias nós já sabemos, a gente se olha no espelho, certo?)

    Abraços,

    Tadeu

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *