Conversando com um amigo neste fim de semana, abordamos o tema fé e religião, assunto sobre o qual nenhum dos dois conhece profundamente e, portanto, nenhum compromisso com a precisão.
De qualquer forma, o ceticismo desse meu amigo e seu ateísmo assumido versus a minha limitada religiosidade gerou algumas pérolas, dele em especial.
Por ter visitado recentemente a cidade mineira de Ouro Preto, repleta de igrejas católicas, ele reafirmou sua visão de que a instituição igreja (qualquer igreja) é, na verdade, uma grande corporação capitalista.
Pela sua imensa quantidade de clientes, demanda profissionais de negócios, de marketing, gestão de pessoas etc, que se portam como verdadeiros estrategistas, por terem que entregar um serviço cujo valor depende fundamentalmente de quem recebe: “tem que ter fé”…
Apenas como curiosidade, comentou ainda que as igrejas de Ouro Preto, quase todas, apresentam duas torres e defendeu uma teoria de boteco (nada demais, já que estávamos em um): como a igreja católica apostólica romana cobrava (ou cobra) tributos de seus templos, em todo o mundo, somente após ele ter sido completamente construído, muitas igrejas brasileiras possuem somente uma torre, como forma de caracterizar que “ainda não ficou totalmente pronta” e, desta forma, postergar o cumprimento desta remessa de dividendos à matriz em Roma.
Já as igrejas da cidade mineira, por serem quase todas de 2a. ou 3a. ordem (na escala eclesiástica da época), pagavam tributos somente à Coroa Portuguesa, que os cobrava numa alíquota bem menor que a igreja romana e, por isso, os párocos concluíam a obra e, consequentemente, erguiam as duas torres.
“É o típico caso de evasão fiscal”, alegou ele, acrescentando que “para evitar pagar imposto, as igrejas de primeira ordem se mantinham em obras por séculos, num típico comportamento que perdura no empresariado brasileiro até hoje…”
E veio aquele papo de que “a religião foi criada pelo homem devido à sua incapacidade de aceitar que, ao morrer, tudo acaba” e que “o ser humano é apenas mais um na imensa biodiversidade do planeta” e ainda que “pelo desejo de acreditar em sua superioridade sobre as outras espécies, chegou ao atual estado de agressão à natureza” etc, etc, etc…
Diante de tantas certezas absolutas, perguntei: “E a fé das pessoas? Onde fica a fé?” E meu agnóstico amigo respondeu: “Deve estar na cabeça das pessoas”… Diante de sua única resposta não conclusiva, percebi que estava aí o motivo de tamanha incredulidade.
Por eu acreditar que, independentemente da religião professada ou mesmo da falta dela, a verdadeira fé, por ser emoção, paixão, crença, esperança, está no coração das pessoas, resolvi encerrar o papo-cabeça, pedi a saideira e mudei de assunto.
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É Luis,
Debater com um ateu sobre religião é um desafio muito grande, estes sempre tem resposta pra tudo, porque com certeza ele deve ter buscado de forma insaciável e em vão informações que comprovem a existecia ou não de Deus, quando na verdade esta resposta está tão somente dentro dele.
Quanto a idoneidade das instituiçõe religiosas o problema é que a missão e a visão destas vão diretamente contra alguns desvios de caráter que são praticamente inevitáveis ao ser homano. Quando uma empresa vai na contra-mão de seus valores nem ao menos nos damos conta, mas quando a igreja o faz faltam os dedos nas mãos para apontar-mos os detratores da doutrina e suas falhas.
Felizmente ou infelizmente eu sou um praticamente incondicional da empatia, procuro me colocar no lugar de análise e assim vejo que também seria passível de erros e disfunções administrativas.
A Igreja e a fé são muito grandes para serem julgados por ações e procedimentos ímprobos isolados, a contribuição que estas instituições deram ao bem da humanidade são como gotas no oceano, impossíveis de contar e suas falhas são como manchas de óleo, vez por outra aparecem fruto do lado “Yin” do Homem, mas que com a ação natural vão aos poucos suplimando na direção do equilíbrio natural.
Obrigado por responder meu ultimo comentário, perdão pelas delongas nos comentários, mas é um bom tema que realmente da muito o que falar.
Pois é, Miguel,
Mas é interessante debater temas com pessoas que pensam de forma diferente e apresentam argumentos interessantes, mesmo que desprovidos de muito sentido…
Sem contar que este amigo é um ótimo papo, ótima cultura geral, com um pensamento muito objetivo e racional.
Bom para conflitar opiniões.
[]’s
Luís Vabo
O interessante nos detratores da religião é que, por inteligentes e cultos que sejam, não hesitam em misturar fatos com teses e fantasias e propagar tudo como se fora verdade. Ainda bem que o autor fala em descompromisso com a precisão. Mas o problema dos artigos descompromissados – nos jornais, na internet, ou em comentários de rádio e tv – é que logo logo ganham, pela repetição, aura de verdade científica…
Jesus,
Penso que pontos de vista ou crenças diferentes não são motivo para nos preocuparmos com sua eventual repetição, pois a verdade sempre prevalecerá.
Caso demore a prevalecer, talvez seja porque aquilo que é verdade para alguns, não é tão verdadeiro para outros.
O importante é o debate, pois é a oportunidade de convencimento de um ao outro, em busca da verdade de cada um.
[]’s
Luís Vabo
Prezado Vabo,
Em 1987 fiz um curso básico de marketing na ESPM e lembro-me perfeitamente que o trabalho de avaliação final foi um tema único: “A Igreja Católica vista como uma empresa”. Os trabalhos apresentados foram sensacionais, considerando a multiplicidade de argumentações. Destacou-se uma colocação quase que unânime dentre os trabalhos apresentados e que vem a ser quase que exatamente a sua última frase no 4o. parágrafo de seu post: o maior inibidor de negócios é a falta de fé. Muito parecido com o lado de cá… Abraços.
Rubens,
Pois foi esse o tema de nossa conversa, naturalmente bem mais despretensiosa do que o trabalho da ESPM.
[]’s
Luís Vabo
[…] SOBRE IGREJA, RELIGIÃO E FÉ […]
Luíz,
Ontem conversando tbm com um amigo, ele me deu outra explicação para somente uma torre em igrejas. Segundo ele, numa divisão social entre brancos e negros, os brancos ficavam do lado em que havia a torre, sinal de q depois de mortos iriam p o céu, já os negros ficavam do lado em q não havia torre, significando que após a morte não ganhariam o céu. Será q isso é apenas lenda?
Boa tarde, Souza,
Fico feliz que um post de janeiro ainda suscite um comentário como o seu.
Penso que a discriminação a que você se refere, típica da época por razões históricas sobejamente conhecidas, tenha ocorrido por consequência da existência de somente uma das torres…
A causa, muito provavelmente, foi de origem econômica (de interesse econômico).
[]’s
Luís Vabo