PERDEMOS A NOÇÃO DO DINHEIRO

Essa frase, dita por um executivo do mercado financeiro após uma reunião de trabalho, foi o mote para analisarmos juntos alguns comportamentos recentes da sociedade brasileira, em relação à percepção de valor da moeda e, consequentemente, do preço de mercadorias e serviços no Brasil.

Sempre tivemos variados sintomas de desinteresse pela poupança pessoal, mas ultimamente nosso desapego pelo valor do dinheiro tem sido escandaloso e cito alguns fatos:

Fato 1: O brasileiro não gosta de moeda.
Porta-moedas e cofrinho não emplacam no Brasil. Será ainda fruto da hiperinflação no passado recente?

Fato 2: O brasileiro não faz questão de centavos de troco.
“Aceita uma balinha?” ou “Posso ficar devendo 10 centavos?” são frases corriqueiras ditas por operadores de caixas de lojas, normalmente aceitas pelo consumidor brasileiro.

Fato 3: O brasileiro não se abaixa para pegar R$ 0,50 no chão.
“Não vale a pena o esforço” ou “Deve ser pegadinha e não quero pagar mico” são justificativas para deixar o dinheiro no chão.

Ao mesmo tempo em que esses sintomas se intensificam, a crescente mobilidade social tende a resgatar todo um passivo de consumo que faz com que as pessoas valorizem o ato de viajar, mas para fazer compras…

E, no final de uma viagem, já planejam a próxima…, para continuar fazendo compras…

Aqueles que ainda não ascenderam a esta categoria de consumidor (o turista de compras), acabam resolvendo por aqui mesmo sua sede de consumo, muitas vezes realimentando a roda da supervalorização dos bens e serviços, em detrimento do valor do dinheiro.

– As classes C e D compram roupas de grife parceladas em 12 vezes, com juros, desde que acreditem que possam pagar a prestação.

– As classes C e D compram imóveis parcelados em 30 anos, com juros, correção monetária, taxas de contrato, de seguro, de administração e de financiamento, desde que acreditem que possam pagar a mensalidade.

– As classes C e D fazem a festa das instituições financeiras, pois tomam empréstimos, compram a prazo e contratam serviços financeiros de todo tipo.

Isto ocorre porque as classes C e D buscam o status social que as classes A e B já possuem, mas estas não sustentam o crescimento econômico, pois:

1 – Não têm escala suficiente para sustentar uma expansão econômica por anos seguidos.

2 – Compram produtos de maior valor agregado, no exterior, muito mais baratos.

3 – Lidam com dinheiro há mais tempo, com mais informação e, por isso, tem melhor noção de valor.

Um tênis Nike, Reebok, Puma ou Adidas custa entre USD 30 e 90 nos EUA e entre USD 100 e 300 no Brasil, onde só compra quem ainda não pode viajar para comprar lá fora.

Uma diária de hotel mediano (3 estrelas) custa entre USD 60 e USD 180 nos EUA e entre USD 200 e 400 em São Paulo, onde paga-se por absoluta falta de opção.

Um carro de luxo custa USD 40 a 60 mil nos EUA e USD 100 a 200 mil no Brasil, onde paga quem pode, lamentando não poder pagar o preço cobrado no exterior.

O metro quadrado num condomínio de luxo em frente à praia, em Miami, custa a metade do metro quadrado de um apartamento na 2a. quadra da praia da Barra da Tijuca.

Apesar de que mais da metade de alguns novos lançamentos imobiliários de luxo em Miami estarem sendo adquiridos por brasileiros, é aqui no Brasil que a demanda está aquecida, apesar dos altíssimos preços, fora da realidade do mercado imobiliário.

O fato é que o altíssimo custo de vida das grandes cidades brasileiras, provocado por este descompasso entre excesso de moeda e escassez de bens e serviços, já começa a impactar o planejamento estratégico das empresas para os próximos anos, pois o empresariado já começa a desconfiar de que este ritmo de crescimento econômico não se sustente, por falta de estrutura econômica e de infraestrutura básica, itens que não se resolvem em menos de 5 anos.

Enquanto isso, o povo brasileiro segue comprando iPhone de USD 299 por R$ 1.500, pagando R$ 80 por uma pizza (+ R$ 10 de entrega) ou ainda comprando jeans por R$ 180 ou camisa polo por R$ 150, achando esses preços bem razoáveis.

Fico imaginando no que isso vai dar…

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Luís Vabo

Entusiasta da inovação, do empreendedorismo e da alta performance, adepto da vida saudável, dos amigos e da família, obstinado, voluntário, esportista e apaixonado. Sócio-CEO Reserve Systems 📊 Sócio-fundador Solid Gestão 📈 Sócio-CFO MyView Drones 🚁 Sócio Link School of Business 🎓 Conselheiro Abracorp ✈️

12 thoughts on “PERDEMOS A NOÇÃO DO DINHEIRO

  1. Concordo plenamente. Os anuncios das Casas Bahia (e de todos os outros) anunciando TVs em 18 vezes sem juros deveriam ser banidos por serem propaganda enganosa.
    Acho que a situacao dos carros e diferente… primeiro os carros sao mais taxados aqui pra proteger a industria nacional… mas o motivo principal de os precos de carros serem tao mais caros aqui e simplesmente pois o brasileiro paga e aceita… se o brasileiro comecar a comprar mais os carros chineses, trocar menos de carro, ou comprar usados, os precos vao comecar a baixar.
    Os imoveis da barra da tijuca e das areas caras de sao paulo acho que estao com precos corretos. Lembra que a economia brasileira e a 8a do mundo, e essas duas cidades controlam mais de 60% do PIB nacional. E no Rio de Janeiro nao tem muita opcao de se morar bem e com seguranca.
    Em relacao a comprar parcelado, creio que essa cultura do brasileiro de comprar uma coxinha em 18 vezes vem dos tempos de hiperinflacao. E se os grandes do mercado ainda vendem tudo em 18 vezes, o resto do mercado tem que seguir os grandes. Mas ja esta na hora de mudar.
    Todos sabemos que um pacote de viagem vendido em mais de 6 vezes tem de 6 a 8% do valor que vai pra operadora de cartao por antecipacao de credito. Ja imaginou todos os brasileiros economizando 8% em todos os pacotes de viagem, simplesmente pelo fato de pagar a vista? Imagina o que isso faria com precos de livros, TVs e ate mesmo carros? Acho que isso influenciaria inclusive pra baixar as taxas SELIC.
    Ah… e o pessoal nao paga 180 reais em um jeans… paga 680! e pra completar a Zara fabrica a 7 reais comt rabalho escravo na zona norte de Sao Paulo!!

    1. RZ,

      Vc foi fundo nesse jeans a R$ 680,00 !

      Acho R$ 180,00 um absurdo para um jeans, mesmo com o “ad valorem” de uma grife (para quem dá valor a isso)…

      Também acho R$ 2 milhões muito dinheiro para um apto de 3 quartos próxima à praia da Barra.

      Enfim, estou achando tudo muito caro…

      []’s

      Luís Vabo

      1. puxa… de repente na minha mensagem deu a impressao que eu estou achando as coisas baratas no Brasil… mas e exatamente o oposto. Por sorte eu consigo viajar bastante pra fora do Brasil a trabalho, e so compro eletronicos e roupas fora do Brasil. Aqui eu so compro meias e camisetas! E realmente o comentario do Rui ai embaixo e verdade… o maior problema e a quantidade de imposto que pagamos pra nao recebermos nada de saude, educacao e seguranca!

  2. Luis,

    Perfeito seu comentário. Nada como um giro pela Europa para verificarmos como o Brasil é caro. Não é caro apenas nos preços dos serviços e produtos, mas também pelo fato de que pagamos uma carga de impostos equivalente à dos países mais desenvolvidos, sem no entanto recebermos em troca serviços públicos minimamente civilizados. Ou seja pagamos duas vezes. O custo desse descompasso é altíssimo, estamos criando um monstro e ainda tendo que lidar com uma parte da sociedade que acha isso muito normal e pensa que o Brasil vai tão bem que será uma potência em poucos anos. Nunca é demais lembrar que economia forte não significa desenvolvimento. Só há um país mais perigoso para seus habitantes do que um país ignorante: é um país ignorante e arrogante! Alguém conhece algum por aí?

    Abraço daqui do velho (e barato) mundo!

  3. e como atuamos no turismo, e este veiculo é ligado ao turismo, ao inves das Casas Bahia, citemos a famigerada CVC, com seus 10x “sem juros”….

  4. Quem atua no back office operacional, sabe que nao existe SEM juros. Quem nao dá o desconto está absorvendo um ganho extra, pois já embutiu o custo financeiro. Os fornecedores primarios (aereas e hotelaria) nao vendem parcelado para operadoras e sim um neto operacional, que ou é avista ou é prazo 13FD. A pergunta é: quando será regulamentado o modo correto de anunciar: que é especificar e diferenciar de forma transparente os valores avista e parcelado?

  5. Olá Luis … essa “noção” sempre nos faltou na verdade. Acho muito triste ver essa realidade onde só se perde a “noção” do dinheiro quando é para adquirir, porque para remunerar, ninguém perdeu a “noção”, ou melhor, a mão de obra trabalhadora, porque jogadores de futebol e políticos também souberam perder a “noção” dos valores de seus ganhos. De fato esse assunto seria para diversos posts, e mais, deveria ser matéria obrigatória em todas as séries da educação, mas pra que né ? A falta de noção está com a força dos tissunamis, nas áreas financeiras, da educação, social, etc. E como vc questiona, aonde isso vai parar ? Aonde não sei, mas que o o povo não vai gostar desse lugar, isso já dá pra imaginar. Abraço

    1. Fábio,

      Seu comentário me lembrou aquela máxima que diz que “só é louco quem rasga dinheiro”…

      A falta de noção do dinheiro seria então uma falta “seletiva” de noção de valor, que se manifesta conforme a ocasião.

      []’s

      Luís Vabo

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