Conversando com um casal de amigos muito queridos, sobre o quanto a amizade influencia a forma como nos comportamos quando estamos juntos, alguns conceitos interessantes afloraram.
Observamos que a sociedade mistifica a amizade verdadeira, como sendo um sentimento às vezes mais importante do que o respeito à própria individualidade, embora isso não sobreviva a uma análise realista, com alguma dose de bom senso e noção de civilidade:
Amigos dizem o que pensam !
Nem sempre, pois o verdadeiro amigo equilibra-se entre ser autêntico, mas não ao ponto de magoar o outro, e sempre busca uma verdade libertadora, não inquisidora.
Amigos sempre concordam.
Não necessariamente, mas quem é amigo mesmo não deixa a divergência de opinião sobrepor-se ao relacionamento, mas, ao contrário, aproveita para estimular a troca de conceitos.
Amigos toleram tudo.
Também não, pois para tudo há limite, até para a amizade sincera, mas a verdade é que entre amigos os limites de tolerância são muito mais elásticos, o que nos ajuda a aceitar as diferenças.
Amigos amigos, negócios à parte.
Se isso fosse verdade, não existiria outra expressão, mais forte do que esta: “Eles fizeram um verdadeiro negócio entre amigos”.
Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito.
Sim, como todo sentimento por outra pessoa, a amizade é baseada em relações afetivas e, do jeito que as redes sociais banalizaram o termo “amigo”, é melhor guardar os verdadeiros no coração e não na web.
Amigos não tem defeito…
Negativo, amigos têm defeitos e, algumas vezes, têm muitos defeitos, sempre amenizados pelas virtudes, e este equilíbrio é o próprio sentido da amizade em si.
Aliás, a este respeito, sempre lembro-me de um comentário da Irene Ravache, durante o Fórum Alatur 2011, quando participou de painel ao lado de Marilia Pera:
“No início da nossa vida adulta, escolhemos nossos amigos pelas suas virtudes. Alguns anos mais tarde, admiramos nossos amigos apesar de seus defeitos. Quando atingimos a maturidade plena, amamos nossos amigos justamente pelos seus defeitos.”
Amizade é isso…
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Parabéns.
Desconstruiu uma a uma aquelas frases feitas que geralmente chegam sobrepostas à imagens de gatinhos via e-mail. powerpoint e, mais recentemente, Facebook.
Parece mais honesto da forma como você colocou.
Pois é, Adriano,
A maturidade nos retira um pouco da ingenuidade necessária para ver o mundo com esta pueril poesia…
[]’s
Luís Vabo
O que eu sei, é que a medida que os anos passam e que descobrimos o sentido real da palavra ” AMIGO “, simultaneamente tomamos consciência que, se tivermos 5 ” AMIGOS ” somos felizes. A vida passa, e podemos
contá-los nos dedos de uma das mãos. Feliz é quem é diferente disso.
Eu diria que infeliz é quem acha que tem 573 amigos porque aperta “Aceito” no Facebook…
[]’s
Luís Vabo
Luis,
Amigos verdadeiros são poucos, e, mais das vezes, são aqueles angariados nos primeiros anos de vida. (Não que eu não acredite em amizades sinceras feitas na idade adulta, longe de mim pensar isso!). Mas tenho uma teoria: as amizades construídas até, digamos, os 15 anos, são mais duradouras e sinceras por terem sido estabelecidas com base em sentimentos mais despojados, mais nobres, mais puros. É que até mesmo a amizade sincera pode estar sujeita a certo grau (pequeno, mas existente) de “contaminação” por questões típicas da vida adulta. Ao contrário, aquela feita até os 15 anos provavelmente não foi contaminada por disputas por namorada, por tipo de carro, por emprego, por dinheiro, etc. Nessa idade não damos (pelo menos no meu tempo não dávamos) nenhum valor a essas coisas materiais, por isso o sentimento crescia e aflorava baseado unicamente no que nos unia, e não no que nos distinguia. Só assim posso explicar que boa parte dos meus amigos verdadeiros são os de infância, alguns que não vejo há décadas, mas que tendo firmado nossos pactos em tenra idade e livres dessas interferências mundanas resistem ao tempo e à distância. Pelo menos foi a explicação mais plausível que encontrei para que esse sentimento perdurasse apesar de tudo e de todos. No mais concordo com você quando desconstrói todos os chavões associados à pretensa verdadeira amizade. Eu mesmo tenho mais de 1.300 CONTATOS no Facebook. Jamais me ocorreu dizer que tenho mais de um milhar de amigos, longe disso! Esses, os verdadeiros, por sua raridade, conto-os nos dedos das mãos e guardo a sete chaves, pois sei que sempre que precisar, estando eles ao alcance de um clique, de um telefonema ou até de um pensamento, estarão sempre disponíveis e não hesitarão em me ajudar com seu apoio desinteressado e sua opinião (+-) sincera.
Um abraço.
É verdade, Rui,
Também guardo amigos de infância até hoje, mas conquistamos novos amigos mais recentemente (há 10 ou 20 anos apenas) e todos tem muito em comum com nossos valores, embora com estilos, gostos e opiniões nem sempre coincidentes.
[]’s
Luís Vabo
Caro Vabo
boa tarde, nesta vespera de feriado
Suas dissertações sobre “amigos” é a mais completa que esteja disponivel em dicionários, pois abrange todas as nuances do que realmente essa palavra significa no seu conteúdo, infelizmente ao longo do tempo e com as mudanças bruscas em nossas vidas ela já não tem o mesmo valor de antigamente (é uma pena).
Eu fico com o item “Amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito”, eu completaria ainda mais os seus itens, Os verdadeiros amigos NÃO COBRAM NADA mas gostam de ser lembrados, Amigo é aquele que é sincero e honesto, Amigo é aquele que respeita o proximo, Amigo é aquele que está presente quando todos o abandonam, Amigo é aquele que nos oferece o ombro quando precisamos, AMIGO é aquele que estende a mão quando voce precisa. AMIGO é aquele que de vez em quando pega o telefone simplesmente para dizer OI…tudo bem com voce?
Voce menciona que AMIGOS podemos contar nos dedos, bem então estou em pessima situação pois me encontro maneta.
Forte abraço para voce e Solange,
Rocco,
Seus complementos ao texto são perfeitos.
E acrescento que, mais do que lembrar, o amigo não esquece (e são coisas diferentes), não mistura assuntos (separa), não condiciona (se entrega), não desconfia (acredita), não desconsidera (respeita).
[]’s
Luís Vabo
Cada um só mostra o que é, só dá o que tem, só faz o que pode…
Luis gostei do texto que voce fala do amigo .
Sobre a maturidade :
P.S: espero que na “maturidade plena” possamos nos amar pelas nossas qualidades e pela nossa prática cada vez mais fiel e nossa moral diante de nós mesmos e diante da Vida.