Grupo grande de amigos aluga um casarão de veraneio para passar o reveillon no litoral: adultos, jovens, idosos e crianças, clima familiar, sol brilhando, mar convidativo, cerveja gelada, muita animação e aquela expectativa para a virada do ano.
Exatamente na noite do dia 31, bem no início da confraternização, cai uma das fases do circuito elétrico da casa e, imediatamente, ativam-se algumas luzes de emergência, embora algumas poucas luminárias ainda permaneçam acesas, sinal claro de que nem tudo está perdido, mas o ar condicionado deixa de funcionar…
Calor de 38 graus à noite, os convidados se entreolham e alguém sugere abrir portas e janelas “para aproveitar a brisa do mar”, àquela altura mais parecida com um “bafo do oceano”.
Apesar do calor, há luz parcial, geladeira e freezer funcionam, alguns ventiladores de teto ainda giram, o champagne está no gelo e a chopeira vive…, o reveillon ainda promete e segue normalmente.
Após a contagem regressiva da virada do ano (aquela mistura de música, fogos de artifício, dança, bebidas, comida, roupas brancas e pratas, moças animadas e rapazes tentando acompanhar, rezas e orações, agradecimentos e promessas, juras de amor e resoluções de ano novo, abraços, beijos e brindes), todos retornam à realidade de seus quartos, ainda não refrigerados devido ao inadequado dimensionamento da demanda elétrica pela concessionária da região, motivo evidente do semi-apagão no balneário.
A concessionária não confirma, mas obviamente nega-se a investir na infraestrutura para dimensioná-la aos picos de demanda de cidades praianas próximas a grandes cidades, como ocorre no reveillon e carnaval, que exigem cargas muitas vezes acima do consumo médio do restante do ano.
No dia seguinte, alguns apressam-se em arrumar as malas, outros decidem aguardar um pouco mais, mas todos reclamam da natural dificuldade de dormir num ambiente não refrigerado, em pleno verão tropical.
Foi aí então que o ditado “tudo que está ruim ainda pode piorar” mostrou a sua força e alguém anunciou, após a volta da praia: “Xiii, a água acabou…”
O pânico geral é seguido de medidas de contingência intuitivas e desordenadas, pois enquanto os homens correm para enfrentar filas gigantes para comprar água mineral, as mulheres terminam de arrumar as malas e decretam: “Sem água não dá pra ficar”.
O vizinho, morador antigo da região, informa por cima do muro, com um semblante que mistura enfado e experiência: “Todo reveillon é assim (suspira longamente…), mas fiquem tranquilos que a água volta hoje à noite”.
Paciência, todos resolvem aguardar, “no máximo!”, até o dia seguinte (02/01/14) de manhã, afinal, a casa está alugada de domingo a domingo e vale a pena arriscar.
“Manhêêêêêêêê, tem águaaaaaaaaaaa !!!” esgoelou a criança às 7:00h da manhã de 5a. feira, despertando todos na casa e até o vizinho que, contido, sorriu intimamente.
Alegria geral, sentimento de alívio, o ano finalmente pode começar, com o abastecimento regularizado de energia e de água e, melhor, ainda faltam 4 dias pra aproveitar.
O episódio lembra aquela história de quando colocam o bode na sala: com a energia e a água de volta, o sentimento de felicidade geral é de que “tiraram o bode da sala”.
Um dos rapazes, um tanto eufórico com a melhora nas condições gerais do ambiente, chega a comentar: “Até que não foi tão crítico, o povo reclama demais, o governo está investindo em infraestrutura, estaremos bem até domingo”.
Até que, por volta das 11:30h, Marianna, adolescente que desenvolveu uma curiosa habilidade de fazer tudo (acordava, escovava os dentes, tomava café, ia à praia, voltava, tomava banho, almoçava, voltava à praia, fingia que assistia TV, simulava que conversava com todos, parecia interagir, jantava, escovava os dentes, deitava e dormia) sempre conectada e digitando no Facebook via iPhone, deu um grito desesperado: “Aaaaiiii, meo Deos, o Wi-Fi caiu…!!!”
O desalento abateu-se sobre todos, sem exceção, até que Jorginho, garoto inteligente e prático em suas atitudes, antecipou, com uma palavra, a expectativa de todos: “Partiu…!”
Debandada geral, as malas que estavam quase prontas foram jogadas nos carros, todos despediram-se rapidamente, niguém parou pra perguntar ao vizinho se a internet voltaria, e efetivamente partiram, rumo ao gigantesco engarrafamento da volta pra casa.
Ficar sem energia elétrica por algumas horas, sem água por 1 dia inteiro ou suportar 8 horas de trânsito, num trajeto que usualmente leva menos de 2 horas, é considerado muito desconfortável, mas perfeitamente suportável.
Ficar sem acesso à web por alguns minutos, nem pensar, é inadmissível…!!!
Obs.: Esta história verdadeira aconteceu semana passada e me foi contada por um amigo. Poderia ter acontecido no Guarujá, em Cabo Frio, Ilhabela, Angra dos Reis ou ainda em qualquer balneário do país que receberá a Copa da Fifa daqui a 5 meses…
.
Published by