POST PARA PLANEJAR 2013

Fim de ano é época de Planejamento Estratégico, que inclui revisitar o do ano que termina versus o que foi efetivamente realizado, pois não dá pra planejar 2013 sem avaliar os erros e os acertos de 2012.

Toda vez que iniciamos este trabalho, tanto no Reserve, quanto na Solid, eu me coloco intimamente na singular posição de quem está planejando um novo negócio.

Não que isso vá ser o motor do PE, mas será, na minha cabeça, o motivador para eu sempre questionar tudo o que fizemos no ano que termina, inclusive os acertos, bem como imaginar coisas “fora da caixa” para o ano que inicia, incluindo ações de risco.

Penso que esta forma de lidar com o PE é particularmente eficaz durante a fase de “brainstorming”, quando todos podem e devem colocar para fora suas percepções sobre o que fizemos e suas ideias sobre o que devemos fazer e qual caminho seguir.

Sempre que penso sobre isso e busco algo na literatura de gestão corporativa (ok, ok, também busco no Google, claro), sempre me deparo com metodologias simplistas, que buscam resumir em algumas poucas palavras, sempre iniciadas com a mesma letra, o caminho para uma determinada solução.

Assim ocorre com os 5S da Qualidade (os S são do japonês):
1 – Seiri (utilização)
2 – Seiton (ordenação)
3 – Seiso (limpeza)
4 – Seiketsu (higiene)
5 – Shitsuke (autodisciplina)

A mesma fórmula de resumir um assunto complexo, com palavras iniciadas com a mesma letra, é aplicada aos 5P do Marketing, que inicialmente eram 4 e muitos defendem 7 ou 8 conceitos com P (os P vêm do inglês e podem ser traduzidos para o português mantendo-se a letra inicial):
1 – Product (produto)
2 – Price (preço)
3 – Place (praça, ok um pouco forçado, mas é aceito, defendido e utilizado)
4 – Promotion (promoção)
5 – People (pessoas)

A mesmíssima metodologia também foi, mais recentemente (2003) utilizada para sintetizar conceitos nos 5P da Estratégia (os P também são do inglês e são traduzidos para o português, mantendo-se o P, com uma forçada de barra um pouco maior):
1 – Plan (plano)
2 – Ploy (pretexto, não é exatamente isto, mas tem sido mal traduzido assim)
3 – Pattern (padrão)
4 – Position (posição)
5 – Perspective (perspectiva)

Como são metodologias largamente utilizadas nas universidades e no mundo corporativo, assim como igualmente questionadas em ambos os ambientes, em vez de reagir a elas, decidi seguir no jogo e escrevi meu próprio corolário (ooops, essa é das antigas…) sobre a criação de um novo negócio, um empreendimento, desde a identificação da oportunidade (Problema), a organização da ideia (Projeto), a elaboração do business plan (Planejamento), o esforço de marketing e venda (Persuasão) até o empenho na manutenção do negócio (Perpetuidade).

Ok, também forcei alguns Ps, mas se acadêmicos, pesquisadores e gurus de gestão o fazem, não serei eu a fazer diferente.

Portanto, paciência, pautei e prometo publicar uma penca de Ps nos próximos posts, partindo de: OS 40 “P” DO EMPREENDEDOR…

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AGÊNCIA DE VIAGENS: INTERMEDIADORA DE PROCESSOS?

Este foi o tema proposto pelo Jeferson Munhoz, diretor de vendas da Rede Bourbon e pelo Leandro Begoti, gerente de vendas corporativas, para eu palestrar em um dos painéis da Convenção Anual de Vendas da rede hoteleira.

O painel ocorreu ontem, 3a. feira de manhã, no magnífico centro de convenções do Bourbon Cataratas Convention & Spa Resort, em Foz do Iguaçú, e contou com outros 4 palestrantes, a Solange Vabo, do Reserve, o Claiton Armelin, da Flytour, a Nilda Kostas, da Incentivare e o Eduardo Komensoro, da Farmoquímica.

Todos especialistas, apresentaram com brilhantismo temas relacionados à sua experiência profissional.

No final, houve um debate aberto com participação das cerca de 90 pessoas da equipe de vendas e marketing da Bourbon, uma plateia antenada, curiosa e motivada, reforçada pela participação ativa do Alceu Vezozzo Filho, vice-presidente da Bourbon.

Solange já havia palestrado neste evento anual em 2007, quando alertou para a importância da distribuição online da hotelaria, abordou a tendência inexorável do self-booking, insistiu no foco que deveria ser dado ao correto carregamento de tarifas corporativas e, principalmente, mostrou que a fragmentação de conteúdo levaria os hotéis, e demais fornecedores, à necessidade de estarem em todos os canais.

“O cenário mudou, outra vez”, começou Solange, agora em 2012, uma vez mais antecipando tendências a partir de sua experiência, observações e pesquisas. “Hoje são tantos canais que passou a ser fundamental selecionar os preferenciais para o seu negócio”, afirmou.

“O custo de gerenciamento de múltiplos canais deve ser levado em conta, além do potencial de negócios e do revenue de cada um deles”, completou.

Com relação ao tema que defendi, não foi difícil demonstrar a importância das agências como vendedoras dos serviços de viagem, em especial da hospedagem, abordagem que tenho defendido com frequência aqui neste blog e em artigos eventuais, sempre que oportuno.

A relação do fornecedor do serviço de viagem, seja cia. aérea, hotel, locadora ou qualquer outro, com as agências de viagens, sempre foi uma relação de amor e ódio, onde o fornecedor, ao mesmo tempo que reconhece a importância do agente na cadeia de distribuição (e por isso o ama), também questiona o custo de sua participação no processo (e por isso o odeia).

Este fato não é isolado e repete-se em vários outros segmentos econômicos, como na relação das seguradoras com as corretoras de seguros ou das construtoras com as imobiliárias, por exemplo.

São os corretores de seguro, os corretores de imóveis e os agentes de viagens que dão capilaridade à distribuição destes negócios, seja da forma tradicional, seja utilizando a internet como ferramenta para alavancar vendas.

E as seguradoras, construturas, cias. aéreas e hotéis bem sucedidos também já perceberam que não lidam com “intermediários”, mas com parceiros de vendas, cujo custo deve ser estabelecido pelo mercado, assim como ocorre com o preço do serviço que oferecem ao consumidor.

A internet mudou o ambiente de negócios e, para reinventar-se como profissional, basta aceitar isto e mover-se para este ambiente. Os agentes de viagens já assimilaram isso e sairão ainda mais fortalecidos desta fase de transição dos negócios tradicionais para o e-commerce.

A próxima geração perguntará: como podia existir banco, imobiliária e agência de viagens antes da internet?

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AINDA SOBRE O FUTURO

[…continuação do post anterior]

Para entender melhor este post, recomendo ler o post anterior

4 – A ruptura demográfica

Basta observar os dados de crescimento populacional, no período de somente 300 anos, para perceber o risco de ruptura parametral iminente:
1800 = 1,0 bi
1850 = 1,2 bi
1900 = 1,6 bi
1950 = 2,5 bi
2000 = 6,1 bi
2050 = 9,1 bi
2100 = 10,0 bi

Entretanto, a questão aqui não é o crescimento em si da população mundial, taxa que vem reduzindo gradativamente neste século e tende a estabilizar em algum momento da segunda metade.

Tampouco é problema de espaço, pois os seres humanos ocupam, atualmente, menos de 5% do espaço geográfico habitável do planeta e, apenas como hipótese mensurável, se todas as atuais 7 bilhões de pessoas do planeta residissem nos EUA, a densidade demográfica do país seria ainda inferior a atual ocupação média de uma cidade como Paris, por exemplo.

A ruptura demográfica poderá ocorrer a partir do desequilíbrio entre os países com altas taxas de crescimento populacional, em geral os mais pobres, em contraponto com os países com baixa taxa de crescimento, em geral os mais ricos.

O crescimento de populações carentes, associado ao envelhecimento de populações ricas, num ambiente de ruptura econômica e de ruptura social, tem potencial para gerar estagnação econômica nas nações desenvolvidas e aprofundamento da miséria em nações subdesenvolvidas, ambos fatores com forte característica de ruptura parametral.

5 – A ruptura de valores

Discorrer sobre ruptura de valores carece uma introdução cuidadosa, face à sua complexidade e, ao mesmo tempo, profunda gravidade frente a todas as demais.

Estamos desenvolvendo uma civilização planetária, cuja característica universal é o descrédito das religiões organizadas, com consequente desconexão entre postura religiosa e postura ética.

Esta erosão de valores éticos tradicionais gera um espírito consumista, que prioriza o imediatismo e o desejo de maximizar oportunidades, apesar de insuficiente para suportar a vida de modo civilizado para todo o conjunto da sociedade.

Por isso, penso que existe alto risco de ruptura parametral gravíssima, que geraria uma, de duas alternativas possíveis, ou um novo humanismo social ou um neobarbarismo tecnológico, com clara tendência para o segundo, a perdurar nas próximas décadas.

6 – A ruptura de poder

Abordarei este conceito através de uma breve linha do tempo:

Em 1900, a Europa liderava o hemisfério norte.
Em 1920, a Europa estava destruída pela 1a. Guerra Mundial.

Em 1940, a Alemanha conquistara a França e dominava quase toda a Europa.
Em 1960, a Alemanha estava destruída, após derrotada na 2a. Guerra Mundial.

Em 1980, um muro separava Berlim e dividia o mundo entre 2 correntes ideológicas.
Em 2000, a Alemanha estava reunificada e os socialistas flertavam com o capitalismo.

Em 2020, mais de 70% da economia mundial depende do Brasil, Rússia, Índia e China.
Em 2040, a China assume a liderança econômica mundial e o Brasil está entre os top 5.

Com raras exceções, cada mudança de século coincide com profundas alterações no planeta, em especial na hegemonia que determinada nação exerce sobre o mundo.

O início do século XXI não é diferente e testemunhamos, hoje, a alternância de poder entre os EUA e a China, processo que pode levar de 20 a 50 anos (após identificado com relevância pela primeira vez) e que poderá provocar uma ruptura parametral grave, face à nova dinâmica no fluxo de produção, de capital e de conhecimento, em última análise, uma nova dinâmica de poder.

O fato é que tudo o que aconteceu nos últimos 10 anos do século 20, e nos primeiros 10 anos do século 21, definirão como serão os restantes 90 anos que nos separam de 2100.

A ideia é praticarmos a análise dos dados presentes sob uma perspectiva histórica, como quem não está apenas participando deste momento porque está vivo hoje, mas sim como um observador futuro que olha para o hoje como passado, mesmo consciente de que:

“A longo prazo estaremos todos mortos.”
John Maynard Keynes

Obs.: Em futuros posts apresentarei as macro tendências mundiais para 2020, 2030 e 2050, períodos que são objeto de minhas pesquisas e projeções, sempre sob um ponto de vista muito particular e que, apesar de considerarem as 6 rupturas parametrais que apresentei neste post e no anterior, podem ser impactados por sua oportunidade, profundidade e até por sua não ocorrência.

[continua em próximos posts…]

Referências e fontes de pesquisa:
. Helio Jaguaribe: Brasil e Mundo na Virada do Século (Iuperj, 1996)
. Jim O’Neill: Entrevista à BBC Brasil (Goldman Sachs, 1999)
. Sam Martin: Envisioning Your Future in 2020 (Design Mind, 2010)
. World Future Society: Envisioning Life in the Year 2100 (The 22nd Century at First Light, 2012)

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