AINDA DÁ TEMPO?

Até que não fomos tão mal.

Se analisarmos o resultado da participação brasileira em termos de quantidade total de medalhas, as 17 medalhas em Londres 2012 foram nosso melhor resultado (contra 15 em Pequim 2008 e em Atlanta 1996) em todas as edições dos Jogos Olímpicos até hoje, e isso é bom.

Embora a classificação dos países participantes dos Jogos Olímpicos seja definida pelo COI em termos da quantidade de medalhas de ouro, quesito que nos deixou na 22a. posição em Londres, penso que uma quantidade maior de todas as medalhas exprime melhor o estágio de evolução de uma nação em relação à prática esportiva…

Por mais conflitante que possa parecer, acho que medalhas de bronze e de prata expressam o resultado do esforço de uma geração de atletas em busca do ouro.

Mas o que podemos esperar do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?

Na verdade, para se obter um bom resultado (entre os 10 primeiros por exemplo), o planejamento necessário requer muito mais tempo do que 4 anos, muito mais investimentos do que a atual verba destinada a esportes e uma maior consciência social sobre a importância do esporte olímpico.

Sendo realista, penso que estes itens juntos, infelizmente, não nos permitem esta esperança (estar entre os Top 10) para 2016.

Os resultados de ouro do Brasil em Londres 2012 indicam o quanto é importante o esporte de base, em que jovens atletas, algumas vezes desconhecidos, arrancam na garra (talento e esforço) um resultado muitas vezes tão desejado quanto surpreendente, enquanto nossos atletas de ponta, que representam nossas maiores expectativas de ouro olímpico, nem sempre correspondem.

Ainda há tempo de conquistar um melhor resultado no Rio 2016, mesmo que não seja para estar entre os 10 maiores ganhadores de ouro, que seja para fazer bonito na quantidade total de medalhas, o que já valerá muito a pena.

Ou passaremos para a história como a mais bela cidade sede dos Jogos, além de comprovar ao mundo que somos capazes de organizar megaeventos esportivos, nada mais.

Talvez sejam esses os dois reais objetivos do Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016…

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PERFEIÇÃO

Não é porque o super-cavalo de Rodrigo Pessoa refugou em Sydney 2000, ou porque Daiane dos Santos pisou fora do tablado em Atenas 2004, ou mesmo porque Diego Hypólito caiu sentado em Pequim 2008…

Mas essas Olimpíadas de Londres 2012 estão superando nossa capacidade de frustração com o insucesso daqueles que consideramos nossas poucas chances de medalha de ouro.

Francamente, eu não consigo imaginar o que faz uma atleta campeã mundial, como Fabiana Murer, brigar com o vento, ou um campeão olímpico e mundial, como Cesar Cielo, não brigar dentro d’água…

Não vou discorrer aqui sobre Marta (5 vezes melhor do mundo pela FIFA), por se tratar de um esporte coletivo, ou sobre Diego Hypólito, que desta vez caiu de cara no chão, sob a desculpa de que “amarelou”…

Mas o estreante Arthur Zanetti só “amarelou” no casaco que usou, ao receber a inédita medalha de ouro do Brasil, na ginástica artística.

Assim como Sarah Menezes, do judô, também de 22 anos, Zanetti representa o esforço individual e solitário de um indivíduo, em prol do que é objetivo de Estado para muitas nações.

Mesmo após seu desempenho espetacular nas argolas, que beirou a perfeição para mim, que sou leigo, mas também para os juízes, que lhe deram nota altíssima, houve quem dissesse que sua saída das argolas podia ter sido melhor…

Lembrou-me o torcedor brasileiro que, crítico como ninguém, gritou durante a cerimônia de entrega do troféu da Fifa na Copa 2002: “Segura essa droga de taça direito, Cafú !!!”

Como sabemos, somos 200 milhões de técnicos de judô e de ginástica artística…

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MUITO CACIQUE PRA POUCO ÍNDIO

A Net-Rio é uma das operadoras de TV digital no Rio de Janeiro.

Campeã de qualidade de imagem e com boa programação, é também imbatível no quesito alto preço e péssimo serviço: call center lento, equipe de atendimento despreparada para lidar com o cliente, equipe de serviço técnico com muitos monitores, supervisores e gerentes, mas com poucos técnicos.

Técnicos são aqueles que botam a mão na massa, fazem instalações, passam cabos e fazem o trabalho pesado, para depois virem os configuradores de rede, que são especialistas em apertar botões, mas que não pegam numa chave de fenda…

Percebo essa síndrome em muitas empresas: muitos gerentes, coordenadores, supervisores, líderes de equipe, chefes…, todos estudiosos, formados, preparados para novos desafios, mas comandando pequena equipe de gerenciados, coordenados ou supervisionados.

É um dos efeitos colaterais do crescimento econômico e social, que os países desenvolvidos convivem desde sempre: a falta de mão-de-obra para fazer, operar, realizar uma tarefa considerada “simples”, mas que, na maioria das vezes, é o cerne do trabalho.

Todos desejam ser gestores, aliás, atualmente, todos desejam ser empreendedores (e proliferam escolas e cursos em universidades para ensinar a ser empreendedor).

Um ambiente propício à ascensão profissional é importante sinal de evolução da sociedade, mas deve ocorrer em todas as classes econômicas, de modo a oferecer oportunidades para todos e popular a cadeia produtiva com os recursos necessários a fazer a roda girar.

Afinal, nem só de líderes vivem as empresas, a economia e a sociedade.

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