DIRETO DE HARVARD – AULA 01: INFLUÊNCIA DE TRUMP NOS EUA E NO MUNDO

Inicio hoje uma curta série de textos sobre a experiência que estamos vivendo em Boston, na Harvard Business School, onde Vabo Junior está concluindo o terceiro período do OPM – Owners and Presidents Management, iniciado em março de 2015.

Como o nome já indica, o OPM é um curso indicado exclusivamente para sócios e/ou presidentes de empresas, com diversos outros critérios de seleção, além do domínio fluente do inglês (idioma utilizado nas aulas), currículo acadêmico acima da média, título de mestrado ou doutorado, experiência comprovada na gestão e liderança de grandes equipes, recomendações de professores, mestres e ex-alunos do OPM, além do alto investimento do programa.

O curso é composto por 3 módulos anuais, com 3 a 4 semanas cada, todos com dedicação exclusiva, 24 horas por dia, com o aluno hospedado dentro da universidade de Harvard, dormindo, acordando, almoçando e respirando conhecimento.

Estamos, Solange e eu, participando do programa de graduação de Vabo Junior, que inclui, entre outras solenidades, participarmos de algumas aulas com a turma OPM49 Unit III e outras aulas exclusivas para os familiares dos alunos, uma oportunidade para pais, cônjuges, filhos, irmãos etc conhecerem por dentro, como é ser aluno de Harvard e como são os gênios que ministram aulas por aqui.

Solange e eu estamos participando de aulas da Harvard Business School, na turma de Vabo Junior, a Owners and Presidents Management 49 Unit III

Os programas do HBS OPM atraem os melhores cérebros do mercado corporativo de todas as partes do mundo, líderes de importantes empresas que desejam capacitar-se no mais alto limiar do conhecimento humano.

Eu tive a nítida impressão de que o mundo inteiro estava na sala de aula.

Em nosso primeiro dia de aula, conhecemos gente de 17 países, como Alemanha, Índia, Mexico, Nigeria, China, Venezuela, Argentina, França, Inglaterra, Bolivia, Egito, Kuwait, Espanha, Brasil e EUA, entre muitos outros.

“Trump governs by signals and those issued until now are clearly in the direction of protectionism.”

Nossa primeira aula foi com o professor Forest Reinhardt, Ph.D. in Business Economics, especialista em Business, Government and the International Economy, co-titular da cadeira de Global Energy e Global Market da Harvard Business School.

Durante esta aula, na segunda-feira 27/03/17, iniciada pontualmente às 11:00h e encerrada pontualmente às 12:30h, debatemos (os professores de Harvard não ensinam, eles promovem o debate) a repercussão do governo Trump no ambiente de negócios dos EUA e sua influência no mundo.

O compromisso de Trump com o eleitor americano foi analisado e debatido durante a aula

Eu esperava um acalorado debate político, mas foi intrigante ouvir um mexicano opinar sobre a construção do “muro de Trump”, não do ponto de vista do ultraje à liberdade, mas sob a ótica do risco para a estratégia econômica do próprio governo americano, muito dependente da força de trabalho do imigrante para sustentar seu modelo de crescimento econômico.

Mais instigante ainda foi ouvir de um estudante alemão (lembrando que estudante aqui são empresários com idade média entre 30 e 60 anos) que o tal muro está sendo supervalorizado pela imprensa, pois a Alemanha já teve muro, a Argentina quer construir um muro com a Bolivia, a China já teve uma muralha em tempos imemoriais, e não será o “muro de Trump” que fará qualquer diferença no relacionamento comercial EUA x Mexico.

Entre os diversos pontos de vista colocados pelos alunos, muito bem moderados pelo mestre que conduzia a aula, o que mais chamou minha atenção foi a forma profissional, pouco ou nada afetada, como todos conduziam aquela conversa, sem paixão (pelo menos aparente), com foco no cenário econômico da região e do mundo, com profundo conhecimento de detalhes sobre o tema apresentado.

O personagem criado por Trump foi destrinchado e desmistificado em Harvard.

Donald Trump, o grande homem de negócios, o líder empresarial, o negociador vencedor, não resistiu a uma aula na HBS, onde desmistificou-se uma certeza:

– “Trump é reconhecidamente um excelente negociador”, disse um aluno da turma.

– “Sim, sem dúvida, mas de real state (imóveis)”, afirmou o mestre, e acrescentou: há enorme diferença entre ser o melhor investidor de imóveis de NYC e ser o presidente dos USA. Um investidor pode dizer uma coisa a um interlocutor e outra coisa a outro interlocutor, mas o presidente americano, que jamais pode mentir, é monitorado em “real time” e tudo o que diz tem repercussão imediata na vida de muitos milhões de pessoas. Só o tempo nos dirá o que realmente se passa na cabeça dele e se conseguirá realizar o que promete”, completou o professor.

Mestre e aluno debatem abertamente seus pontos de vista, divergentes ou convergentes, valorizando a aula

A conclusão do debate foi a percepção de que a era Trump promoverá uma reflexão profunda, entre os próprios americanos, sobre que tipo de país eles desejam: 1) humanista e aberto ao mundo (para onde estava caminhando na era Obama) ou 2) protecionista e focado no seu umbigo (para onde parece caminhar neste início de era Trump).

Importante observar que não houve qualquer manifestação com preferência política durante a aula, nem contra nem a favor, incluindo os estudantes americanos, russos e chineses, estavam todos concentrados no aspecto econômico das diretrizes do novo governo, e sua influência sobre as políticas da região.

Estudar, analisar e expor um assunto não tem nada a ver com manifestar uma opinião.

É o que tenho dito (com certa frequência mais recentemente): o fato de abordar e debater o assunto com visões variadas, não significa necessariamente que a HBS e seus mestres concordem ou discordem, apoiem ou conflitem ou manifestem uma opinião a respeito.

O grande barato da Harvard Business School, em especial deste programa OPM, é o fato de não haver nunca uma única verdade absoluta, já que tudo pode mudar conforme o cenário e as pessoas que o estão analisando, entre outras variáveis.

Quando os temas são relevantes e complexos, o importante é aprofundar no assunto, refletir bastante e analisar todas as variáveis, antes de estabelecer uma opinião ou tomar uma decisão.

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Obs.: No próximo post, abordaremos Direto de Harvard – Aula 02: Neurociência como Ferramenta de Liderança, segundo a especialista Christine Comaford, neurocientista, ex-engenheira da Microsoft e da Apple, autora do best-seller Smart Tribes, professora convidada da Harvard Business School.

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LEONARDO RAMOS: NÃO FOI ISSO QUE EU ESCREVI…

O Panrotas usualmente publica uma nota sobre determinados posts da Blogosfera e isso geralmente estimula os leitores a ler e analisar o texto do Blog.

Fico feliz quando esta divulgação é precedida de uma análise e compreensão do texto, que leve o jornalista a interpretar o que publiquei e, com suas próprias palavras, detalhar alguns trechos do post, de forma a motivar o leitor a buscar o conteúdo apresentado.

Infelizmente não foi o que aconteceu com o post SOBRE TECNOLOGIA, PÉGASUS E UNICÓRNIOS em que expus um fato a respeito do Uber e do Airbnb e o jornalista interpretou como uma opinião a respeito de barreiras de entrada à inovações tecnológicas…?!?!

A colega blogueira Mariana Aldrigui e o Adriano Pereira, leitor frequente do Blog B2Tech, comentaram meu post e questionaram o que seriam as barreiras de entrada que cito no texto e então expliquei:

“Quando me refiro à “sem barreira de entrada”, quero dizer que, apesar de disruptivos, os modelos de negócio de Uber e Airbnb podem ser facilmente copiados (e já o são) por diversos outros players.

Obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

Basta ler o título da matéria do Portal Panrotas: Modelos disruptivos precisam de barreiras de entrada

Ou a legenda da foto que ilustra o artigo: “Para Luís Vabo, modelos disruptivos estão sendo copiados e melhorados de maneira excessiva, e barreiras são necessárias”

Aliás, por mais que eu leia e releia, não consigo encontrar onde este trecho está escrito no post, para que o mesmo tenha sido atribuído a mim, afinal ele representa o extremo oposto do que acredito e sempre defendi.

Esclareci ainda por solicitação da Mariana:

“Barreiras de entrada são, por exemplo, os códigos-fonte proprietários (não abertos) de softwares bem sucedidos, que dificultam que um determinado sistema seja imediatamente copiado. Exemplo: Windows, MS Office, iOS, Corel Draw, SAP, Oracle e muitos outros. São sistemas que podem ser copiados em suas funcionaliddaes, mas jamais serão exatamente reproduzidos, a não ser que seja retirada esta barreira, ou seja, seus códigos-fonte sejam abertos.

Também têm barreiras de entrada as tecnologias muito distribuídas e muito consolidadas nas mãos de poucos players, que se transformam em “hubs” para os usuários que desejam utilizá-las. Exemplos clássicos são o Google, o Facebook e o Youtube e, em nosso mercado de turismo, os GDSs.

São barreiras de entrada para negócios tradicionais, como pequeno ou grande comércio, aquelas vinculadas a “branding”, onde uma franquia bem sucedida pode criar uma dificuldade extra para quem deseja competir naquele mercado. Exemplos são O Boticário, Natura e, em nosso mercado, a CVC e a Flytour, como apresentado no Forum Panrotas 2017.”

O fato é que defendo a livre iniciativa e a livre concorrência, ampla, geral e irrestrita, como já divulguei diversas vezes por aqui, mas isso não me impede de comentar um fato, sendo certo que este comentário não significa necessariamente que eu esteja defendendo este ponto de vista.

Se um blogueiro ou um articulista escreve sobre o funcionamento dos cassinos em Las Vegas, por exemplo, não significa necessariamente que esteja defendendo a liberação do jogo no Brasil.

Caso você queira opinar sobre o assunto, por favor leia aqui meu post no Blog e leia aqui o artigo que “interpreta” este mesmo texto.

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SOBRE TECNOLOGIA, PÉGASUS E UNICÓRNIOS

Ouvi muita coisa durante os dois dias do Forum Panrotas, muitas interessantes, algumas nem tanto, mas sempre consigo pinçar frases que me levam à reflexão, mesmo quando ditas um tanto fora de contexto…

Ouvi uma frase, em especial, que chamou minha atenção por ter sido dita a respeito de Uber e Airbnb:

“Estamos há muito tempo neste mercado, já vimos muitos outros unicórnios antes…”

Esta declaração gerou imediata surpresa na plateia, por ter sido feita, no palco do evento, por Ricardo Carreón, novo VP para America Latina do Sabre, uma tradicional gigante de tecnologia do mercado de aviação, viagens e turismo.

Como assim chamar o Uber e o Airbnb de unicórnios?? Os dois “queridos da hora” dos consumidores não podem ser desrespeitados desta forma, afinal unicórnio é um ser mitológico, que efetivamente não existe, nem nunca existiu…

Pois acredito ser exatamente esta a conotação que Carreón emprestou ao Uber e Airbnb, empresas que atingiram taxas de crescimento estratosféricas sem investir em nenhum ativo, mas causando a disrupção de 2 modelos de negócios, o taxi e o hotel, ambos tradicionais e velhos de guerra.

Os modelos de negócio de Uber a Airbnb não têm qualquer barreira de entrada.

Isso significa que, uma vez ocorrida a disrupção do processo, o novo entrante passa a coexistir com o anterior e deixa de ser novo, realimentando o ciclo de inovação.

Dezenas, centenas ou milhares de outras startups estão, neste exato instante, trabalhando para reproduzir o sucesso destes “first movers”, agregando um ou outro diferencial ou simplesmente copiando-os descaradamente.

O principal ativo destas empresas são o fato de terem sido os primeiros com escala global e isso vale muito, mas tão logo os novos entrantes comecem a competir nos mercados locais, o oceano deixará de ser azul.

Daí vem a alcunha “unicórnios”: empresas tão virtuosas que parecem seres mitológicos.

Foram unicórnios as empresas de compra coletiva (uma panaceia que fez a mídia acreditar que o comércio estava sendo refundado…), também foram unicórnios os portais de ambiente virtual como Second Life e outros (muitos juravam que era melhor viver aquela realidade virtual do que a medíocre vidinha real), da mesma forma foram unicórnios os catálogos digitais como Cadê? e outros (pareciam a porta de entrada da internet, até chegar o Google), e foi um recentíssimo unicórnio o joguinho Pokemon, que virou febre mundial, a ponto de acreditarem que ajudaria o desenvolvimento do turismo…

Ou seja, se não houver razoável barreira de entrada, não bastará a uma solução inovadora agregar valor ao cliente, pois a ideia será imediatamente copiada e melhorada, arrefecendo o vertiginoso crescimento da aderência da solução.

No longo prazo, acho melhor apostar em pégasus (não tem chifre, mas voa…) do que em unicórnios.

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