REFLEXÕES SOBRE “ESTAR NA FRENTE”

O comentário do Edmar Bull na matéria do Panrotas de ontem, sobre o primeiro piloto do NDC no Brasil, suscitou-me a reflexão sobre o que ele realmente quis dizer com a frase “Temos que estar na frente”.

Muita gente acredita que o mais importante num ambiente concorrencial é “sair na frente”, ou seja, antecipar-se, fazer o primeiro movimento, até mesmo correndo o risco de queimar a largada.

Mas bastam alguns segundos de reflexão para deduzirmos que, na verdade, o que realmente importa é “chegar na frente”, pois nada garante que “sair na frente” garantirá a chegada em primeiro lugar… Ou não?

Este é outro engano, já que uma análise mais acurada não deixa margem para incertezas, pois “chegar na frente” pode ser importante uma vez ou outra, para viabilizar o real objetivo que deve ser “estar na frente” sempre que possível.

Afinal, para cada etapa percorrida, chegando ou não em primeiro lugar, outra etapa inicia-se imediatamente, e depois outra e mais outra, sucessiva e ininterruptamente.

Diferentemente de uma corrida do atletismo ou de Fórmula 1, por exemplo, no caso do ambiente corporativo a percepção de quem sempre está na frente caberá a quem mais vezes ocupar a primeira colocação durante todas as etapas, independentemente de “sair na frente” ou de “chegar na frente”.

Afinal, a medalha deste torneio infinito pode ser medida pelo reconhecimento do mercado consumidor, a tal percepção subjetiva da imagem.

E isso não tem preço.

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COM FOTOS: TURISMO X ECOMMERCE

Tenho 54 anos de idade, mas não me considero um “tiranossauro do turismo” (talvez, no máximo, um velociraptor)…

Ao ler a boa notícia de que a ABAV Expo 2015 contará com mais 2 salas para painéis e debates na Vila do Saber, deparei-me com uma frase do presidente Antonio Azevedo, que iniciava assim: “Dentre os temas já definidos, vamos falar de e-commerce, ambiente mobile…” que lembrou-me a experiência recente que tive ao visitar o Forum E-Commerce Brasil 2015, evento realizado dias 28 e 29/07/15 no Transamerica Expo Center, São Paulo.

Embora eu não tenha (nunca tive e espero nunca ter) qualquer tipo de preconceito, em especial quanto à idade, não pude deixar de observar a idade média dos profissionais presentes a esta, que já é a segunda maior feira e congresso especializado em ecommerce do mundo.

Visitei o evento como convidado da Sieve, empresa de inteligência em precificação, recém adquirida pelo grupo B2W, e fui motivado especialmente em conhecer uma proposta diferente de um grande evento de negócios, composto por exposição e congresso.

O primeiro choque foi exatamente o que abre este post: andando pelos corredores da feira, raramente encontrei um “dinossauro do ecommerce” (embora existam, apesar dos somente 15 anos desta indústria), mas sim uma turma imensa de jovens profissionais, na faixa dos 30 anos de idade, todos fazendo o que se costuma fazer em feiras corporativas: visitando os estandes, encontrando pessoas, conhecendo soluções, mas principalmente, negociando e contratando serviços.

Desde os organizadores do evento até os executivos das empresas expositoras, além dos visitantes congressistas e palestrantes, quase a totalidade é composta por essa garotada que trabalha para conquistar o mundo do varejo com armas diferentes das utilizadas por shopping centers, mega-stores e supermercados, modelos de negócio de varejo que dominam esta área há mais de 50 anos…

Mas identifiquei algumas outras diferenças em relação aos eventos de viagens e turismo:

– Estandes padronizados com tamanho, forma e decoração iguais, abertos e livres. Ao questionar os organizadores, ouvi que “evitam ostentação e marketing e estimulam visitação e negócios”.

Estandes padronizados sem ostentação = foco nos negócios
Estandes iguais, padronizados, sem ostentação: “Foco nos negócios”
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– Corredores dimensionados para facilitar o fluxo, com sinalização simples, lógica e eficiente, permitindo boa visibilidade entre os estandes e facilitando o deslocamento.

Corredores nem estreitos nem largos bem sinalizados: "Objetividade a serviço dos negócios"
Corredores sinalizados e bem dimensionados: “Objetividade a serviço dos negócios”
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– Sem venda de alimentação, que é oferecida grátis em pequenos buffets self-service (mini-massas, sanduíches prontos, snacks etc.), um conceito PRO (prático, rápido e objetivo), aprovado pelos expositores e congressistas com quem abordei este assunto: “não há tempo a perder numa feira de negócios”.

Serviço de buffet incluído no preço do ingresso: "Não há tempo a perder"
Serviço de buffet incluído no preço do ingresso: “Não há tempo a perder”
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– Congresso com salas no meio da feira para pequenos workshops e um grande auditório, onde palestrantes debatem durante os 2 dias inteiros do evento, que contaram com a ótima moderação do jornalista Ricardo Boechat nos principais painéis.

Workshops no meio da feira = capacitação entre os estandes
Workshops no meio da feira entre os estandes: “Capacitação integrada aos negócios”
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– Sala de imprensa, estações de rádio e TV aberta operando dentro da feira. Sim, a jovem indústria do ecommerce já atrai a grande mídia, com cobertura permanente durante todo o evento.

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O objetivo aqui é tão somente provocar nossa reflexão quanto aos nossos atuais modelos de negócio e de eventos.

Penso que ambos precisam de mudanças, não necessariamente para o modelo do ecommerce, mas precisamos repensar a nossa indústria de viagens e turismo, para atender ao novo consumidor, justamente esta turma de jovens que deseja comprar viagem e turismo onde, quando e da forma mais econômica e conveniente possível.

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NOVO ANTIGO DESAFIO (DESDE 2004)

Como divulgado, o NDC (New Distribution Capability) é o programa lançado pelo IATA para o desenvolvimento e adoção, pelo mercado de distribuição de reservas aéreas, de um novo padrão de transmissão de dados (NDC Standard), com objetivo das companhias aéreas apresentarem ao mercado uma nova variedade de ofertas de tarifas e de serviços (tipos de tarifas aéreas, produtos e serviços auxiliares e/ou uma combinação de ambos).

O NDC também pode incluir informações mais completas sobre os produtos e suas características fornecendo conteúdo rico (rich content), como descrições detalhadas, imagens em boa resolução, vídeos etc.

O que o NDC oferece não é totalmente novo. É muito parecido com a forma com que os GDSs se conectam a cias. aéreas “low cost” e como algumas companhias aéreas já distribuem seus produtos por canais diretos (direct connect), mais conhecido no Brasil como conexão XML, utilizada por sistemas de self-booking, integradores, de gestão de viagens corporativas, de consolidadores e de operadoras turísticas.

Como o desenvolvimento deste novo padrão NDC é aberto e conta com o apoio de algumas das principais empresas de tecnologia de todo o mundo, seu conceito está caminhando para padronizar e igualar as oportunidades de distribuição do inventário de todas as cias. aéreas por todos os players, indistintamente.

Com o NDC, os sistemas de reservas das cias. aéreas, os GDS, os sistemas integradores de conteúdo, os self-booking tools, todos os sistemas que fazem parte da teia de distribuição de reservas aéreas, deverão ter os mesmos recursos, oportunidades e oferta de conteúdo.

Por isso, acredito que serão muitas as vantagens, tanto para as cias. aéreas, para os fornecedores de tecnologia de distribuição, para as agências de viagens, mas principalmente para os clientes, sejam corporativos ou de turismo, uma vez que o NDC permitirá que os diversos serviços e preços, de diferentes cias. aéreas, possam ser comparados numa mesma plataforma, gerando mais agilidade e maior transparência ao processo de compra, facilitando muito a decisão do cliente.

E quando me refiro a igualdade, não é propriamente do modelo de distribuição, mas a padronização das oportunidades de distribuição do inventário de todas as cias. aéreas.

Pode parecer pura semântica, mas não é.

O modelo de distribuição de serviços de viagem, sejam serviços de transporte aéreo, serviços de hospedagem ou qualquer outro, não é estabelecido pelas cias. aéreas ou hotéis, mas pelo conjunto de atores do mercado (fornecedores, distribuidores e consumidores).

Igualar as oportunidades de distribuição fortalecerá ainda mais a distribuição multicanal, uma vez que dotará todos os sistemas das mesmas capacidades e padrões tecnológicos, permitindo que cada um estabeleça seus diferenciais baseado somente em qualidade e preço.

Obviamente que isso nada tem a ver com as políticas comerciais de cada cia. aérea, ou seja, o NDC não tem o propósito de padronizar a estratégia de distribuição das cias. aéreas, nem mesmo de qualquer empresa desta imensa teia de distribuição, mas de padronizar os recursos tecnológicos dos diversos sistemas distribuidores.

O Reserve foi convidado pelo IATA para integrar o grupo de empresas de tecnologia que estão influenciando este novo padrão, justamente pelo fato de termos sido pioneiros em desenvolver um sistema que transforma inúmeros diferentes “hostings”, de diferentes formatos, em um único padrão (atualmente, o nosso padrão Reserve).

Conceitualmente, o atual desafio tecnológico do NDC é justamente aquilo que nos impulsionou, que foi nossa mola mestra, em 2004.

Levamos nossa tecnologia “Made in Brazil” ao IATA para mostrar como fazemos, há mais de 10 anos, para organizar e padronizar informações fragmentadas de centenas de cias. aéreas, distribuídas por Navitaire, TTI Cions, MySky, Farelogix, Sabre, Amadeus, Travelport etc. e mostrá-las numa mesma interface padronizada, independentemente da origem e do formato dos dados, para o consumo de 2 milhões de usuários ativos, colaboradores de quase 20 mil empresas, por sua vez clientes de 100 agências de viagens corporativas.

Breve, teremos novas notícias sobre esta inovação global que influenciará todo o mercado mundial de distribuição de reservas e serviços das cias. aéreas.

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