SOBRE LISTAS, BOATOS, FRAUDES E VESTAIS

Caraca, são muitas notícias negativas para um único semestre !

Além dos casos conhecidos, há muitas outras empresas em dificuldades, muita gente séria vendendo o almoço pra pagar o jantar, muitos experientes profissionais fora do mercado, muita gente falando besteira e, pior, muita gente acreditando.

Propostas de listas negras, seja de maus pagadores, de maus profissionais ou de maus prestadores de serviço, tudo isso cheira a arrogância de quem pousa de vestal, mas não aceita assumir o risco do negócio e/ou não aplica processos eficazes de análise de crédito, e julga-se acima do bem e do mal.

Poderão estar numa lista amanhã…

Falar mal do outro, em especial de um concorrente, é estratégia velha e corroída, mas ainda utilizada por quem não tem outra melhor, pois nada mais inadministrável do que uma bola de neve, o estouro da boiada, o linchamento sem julgamento.

Mentir, um dos 7 pecados capitais (talvez o pecado mais frequente), apesar de situar-se no limiar da fraude, torna-se arma corriqueira num mercado que, nas vacas gordas, não consegue diferenciar “markup” de “makeup”, não deixa de cobrar DU junto com “transaction fee”, continua aplicando “full fare”, mesmo com disponibilidade da promocional.

Imagine então o que este mesmo mercado é capaz de fazer durante as vacas magras…

Tudo pela sobrevivência, este argumento que tudo permite em seu nome, afinal se o negócio não sobreviver, de que terá valido a pena?

Não, não pretendo aqui dar sermão, pois ninguém é santo, na verdade somos todos empresários e estamos em busca da mesma coisa: resultados.

Mas há que se perguntar: a que preço?

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APRENDENDO COM QUEM ESTÁ FORA DA CRISE

Costuma ser saudável para os negócios, buscar referências em outros mercados sobre como as empresas estão se saindo com a evolução do comportamento do consumidor.

Faço isso com certa regularidade, acompanhando o mercado de serviços financeiros, a indústria de automóveis, o varejão dos supermercados e, principalmente, o e-commerce de produtos e serviços, este que é o único segmento que vem crescendo continuamente em todo o mundo, desde sua criação, há cerca de 15 anos.

E é com ele que temos o que aprender, é com o e-commerce de produtos e serviços que o mercado de viagens e turismo tem muito o que aprender.

O e-commerce brasileiro é uma indústria recente, praticamente um adolescente, que se insinua sobre o mercado tradicional com a mesma voluptuosidade com que a Amazon.com planeja superar a Walmart, maior rede de venda de varejo do mundo ocidental, até 2022.

Por isso, reproduzo aqui texto sobre o IRCE, o maior evento de e-commerce do mundo, de onde Vabo Júnior acaba de retornar, após concluir a primeira fase do OPM da Harvard Business School (cujo terceiro texto, com o resumão desta odisseia, será postado aqui na próxima semana):

Por Luís Vabo Júnior:

IRCE 2015 e o domínio do marketplace da Amazon

O IRCE – Internet Retailer Conference e Exhbition – já virou tradição! Acontece todo ano em junho, sempre em Chicago, e é considerado o maior evento de e-commerce do planeta, reunindo o que há de melhor do mundo online em termos de novidades, produtos, serviços, palestras, exibidores e participantes.

O Brasil foi a maior delegação internacional e contou com a excelente palestra da Wine.com.br, que mostrou que o foco em pessoas é a raiz do crescimento exponencial da sua loja virtual.

Chamou a atenção também a palestra do presidente da Target.com, que falou como transformou a empresa na líder mundial em crescimento online e mobile, superando (e muito!) os seus concorrentes. A base do sucesso foi a estratégia de personalização.
Já o vice-presidente da Forrester Research agradou muito a plateia, porque mostrou diversos exemplos de como a Internet das Coisas (Internet of Things) chegou para ficar! Mais do que novos devices ou sensores, vai ganhar o jogo quem apostar na experiência do cliente como estratégia principal e utilizar os dispositivos (como câmeras, microfones, telas, aparelhos etc.) como um meio e não o fim.

O IRCE 2015 dedicou um dia inteiro para o workshop “Amazon & Me” em que foram atualizados os principais números da líder do e-commerce americano e debatidos os principais conceitos e estratégias do ecossistema Amazon. Seguem abaixo os principais destaques:

Estratégia da Amazon

A estratégia da Amazon foi escrita em um guardanapo pelo Jeff Bezos:

Estratégia da Amazon
Diagrama original da estratégia da Amazon

O Círculo Virtuoso do Crescimento da Amazon: quanto mais produtos, mais experiência para o consumidor, mais tráfego, mais sellers, mais crescimento, menos custo, mais preço baixo e por aí vai. Para implementar o Círculo Virtuoso, os quatro elementos-chave são: Marketplace, Prime, Fullfilment e AWS (mais detalhes no decorrer do texto abaixo).

Crescimento da Amazon

A previsão é que em 2015 a Amazon terá feito 200 bilhões de dólares de GMV (gross merchandise volume: faturamento total movimentado), sendo 40% como varejista e 60% pelo marketplace. A previsão é que suba para 90% Marketplace em até 5 anos.

O crescimento da Amazon começou a ser exponencial a partir de 2006, ano de lançamento do marketplace. Esse gráfico mostra o descolamento do GMV Amazon vs Walmart, numa comparação dos primeiros anos das empresas. Os analistas preveem que em 2022 a Amazon supere o Walmart em receita bruta total.

Crescimento da Amazon
Quando a Amazon vai superar o Walmart

Amazon Prime

A Amazon possui 300 milhões de consumidores. 10% já estão no programa Amazon Prime, que também cresce exponencialmente devido aos serviços ofertados. Você paga 99 dólares por ano e tem acesso a:

– milhões de produtos com entrega grátis em até dois dias
– centenas de milhares de produtos com entrega grátis no mesmo dia, incluindo Amazon Fresh, produtos de grocery (supermercado)
– Amazon Studios: estúdio próprio que a Amazon está desenvolvendo neste momento mais de 3.000 projetos de video como filmes e séries
– Amazon Prime Instant Video: para concorrer com a Netflix, possui mais de 17.000 filmes e séries
– Amazon Prime Music: para concorrer com Spotify, possui mais de 1 milhão de músicas para ouvir via streaming
– Amazon Prime Photos: armazenamento ilimitado de fotos
– Acesso a mais de 500.000 ebooks gratuitos

Esses consumidores Prime possuem o comportamento de pesquisar produtos diretamente na Amazon, sem sequer passar pelo Google.

Sortimento

A Amazon já possui mais de 320 milhões de produtos à disposição do consumidor, tendo dobrado nos últimos 2 anos. 80% desses produtos estão disponíveis no Marketplace. A tendência é que no médio prazo a Amazon fique com apenas 3% dos produtos como varejista. Estes produtos serão os top sellers e/ou lançamentos para que ela possa controlar o preço e disponibilidade. Todos os demais serão comercializados pelos sellers no Marketplace.

Amazon Advertising

A plataforma de publicidade da Amazon já está faturando 1 bilhão de dólares e vem forte para concorrer com o Google. Já começam a se formar especialistas em search, paid search e SEO na Amazon!

Amazon Advertising

Amazon Web Services (AWS)

A AWS já está faturando 8 bilhões de dólares e a Amazon tem gastado cada vez menos em marketing quando comparado com os gastos em tecnologia. Fica claro que a AWS e a Advertising (que possuem altas margens) estão subsidiando o retail e é possível que num futuro próximo, a curva de rentabilidade se inverta e a Amazon tenha tido um crescimento astronômico e ido finalmente para o azul…

FBA (Fullfilment by Amazon)

A unidade de operação e logística da Amazon, que inclui os Fullfilment Centers e Centros de Distribuição já responde por 18 bilhões de dólares de faturamento da gigante. Já são 150 unidades em 11 países. Há indícios de que Austrália e México serão os próximos. Nos últimos 4 anos, o custo de frete está estável entre 4 e 5%. Este ponto é fundamental para o Círculo Virtuoso porque se você é seller do Marketplace e utiliza o FBA, você tem prioridade nas buscas do Prime pelo consumidor, podendo inclusive ganhar o Buy Box. A conclusão é que o domínio do local e do last mile é outro aspecto fundamental para o sucesso da estratégia da Amazon.

Novos produtos

Além do Fresh, Studios, Music, Photos e Instant Videos já citados acima, fiquem atentos ao Amazon Dash, Amazon Echo, Prime Now, Home Services, Amazon Destinations e o impressionante Amazon Trunk Delivery, que é a próxima inovação. Numa parceria com a DHL e a Audi, a Amazon começará a entregar diretamente na mala do seu carro estacionado.

E falando em DHL, eles já lançaram o piloto do Drone com entregas na Alemanha:

Drones para as entregas ou para detonar a concorrência?

Há boatos que a Amazon também começará a entrega com seus próprios drones em 2017, na Índia. Serão drones de baixa altitude, baixa velocidade e controlados por monitoramento terrestre. O futuro já chegou.

Precificação dinâmica no marketplace

Neste texto aqui, eu conto o que aprendi quando visitei a sede global da Amazon e conversei com o vice-presidente de pricing. Eu acompanho os eventos americanos de e-commerce desde 2011 e nunca vi tanta palestra abordando o tema de precificação dinâmica! Foram mais de 5 palestras nas quais diversos varejistas relatam suas experiências e atestam a importância de se utilizar plataformas de inteligência de preços e sortimento, em especial no Marketplace, pois ajudam a ganhar o Buy Box.

Precificação dinâmica também no e-commerce

Como ganhar o Buy Box?

Não priorize apenas o preço baixo! Procure focar na parte da experiência do cliente que você tem controle: entrega, devolução e atendimento.

A Amazon monitora automaticamente toda a comunicação dos sellers com os consumidores via robô e casos especiais que fujam das políticas caem para seres humanos verificarem e autuarem os infratores, portanto a chave é construir sua reputação como seller.
A reputação é construída a partir dos seguintes indicadores: produtos com defeito, taxa de cancelamento, entrega com atraso, violação de políticas, entregas no prazo, prazo de resposta no contato do cliente, taxas de performance que a Amazon atribui e o principal que é o customer rating! A Amazon estabelece metas claras para todos.

Conclusão

A conclusão é que a Amazon está cada vez mais relevante no mercado americano, nitidamente migrando de varejista B2C para uma empresa de tecnologia B2B prestadora de serviços, a partir das sinergias do círculo virtuoso do modelo de Marketplace, Prime, Fullfilment e AWS, com alta taxa de crescimento dos varejistas (sellers) e de recorrência dos consumidores.

O marketplace já é a plataforma dominante do e-commerce americano e tudo indica que ocorrerá o mesmo no Brasil, com um crescimento acelerado de todos os players, já que é um modelo ganha-ganha para os envolvidos: marketplace, sellers e consumidores.

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Sobre o autor: Luís Vabo Jr é CEO da Sieve, empresa de inteligência de preços de e-commerce para lojas virtuais e fabricantes. Vencedor do Prêmio E-Commerce Brasil 2013 na categoria Inovação, é Empreendedor Endeavor e Professor de Empreendedorismo da PUC-Rio. Mestre em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ, com extensão na EMLyon na França e Engenheiro de Produção pela PUC-Rio. Também é filho de Solange e Luís Vabo, autor deste Blog 🙂

Este artigo foi originalmente publicado no portal E-Commerce Brasil

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A DCC E O IMPACTO NA DISTRIBUIÇÃO

É isto mesmo, mais uma sigla criativa na sopa de letrinhas das cias. aéreas: DCC ou “Distribution Cost Charge”

Mas, neste caso, esta Taxa de Distribuição representa a cobrança de forma destacada, pelas cias. aéreas, de uma das despesas que compõem a matriz do custo comercial do transporte aéreo.

A título hipotético, apenas como comparação ou analogia, imagine que as cias. aéreas resolvessem, de uma hora para a outra, cobrar uma “Airport Cost Charge”, uma “Fuel Cost Charge”, uma “Maintenance Cost Charge”, ou ainda uma “Pilot’s Salary Rate”, apenas para referenciar alguns dos principais custos da aviação comercial.

Alguém poderá contrapor argumentando que a DCC será cobrada somente quando houver o custo de distribuição dos GDS’s e não será cobrada nas demais formas de reserva e emissão do bilhete aéreo e que isto a diferencia das demais taxas fictícias que citei acima.

O fato é que, assim como os custos de distribuição variam conforme o canal (e isso não é de hoje), também os custos de aeroporto, combustível, manutenção e salários, estão sujeitos a algumas variáveis e, por isso, poderiam ser cobrados através de taxa destacada do preço do bilhete aéreo…, ou não?

Parece-me, portanto, mais um capítulo na eterna relação de amor e ódio entre as cias. aéreas e os GDS’s, como tantas que testemunhamos ao longo dos últimos 10 anos, uma disputa pelo controle estratégico da distribuição de transporte aéreo, entre o prestador do serviço e seu maior distribuidor, neste caso, uma luta entre criador e criatura, como já citei por aqui antes.

A despeito de confirmar ou não esta minha percepção sobre a DCC, reside em uma outra sigla a mais efetiva iniciativa das cias. aéreas em retomar o controle estratégico da distribuição, ao promover a padronização e o equilíbrio de recursos tecnológicos entre todos players envolvidos no negócio distribuição.

Mas esta iniciativa não é tão simples como aplicar a cobrança de uma nova taxa, e sua efetividade somente será confirmada com o tempo, este que é o senhor da razão…

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