PRIVATIZAR PARA SALVAR

Não vejo outra solução para a Petrobrás.

Quem confiará que, após saneada (embora não estejamos assistindo qualquer ação concreta neste sentido), a Petrobrás retomará o rumo da eficácia operacional, da produção crescente e da lucratividade, se continuar nas mãos do governo?

No final do ano passado, muita gente pensou em investir em ações da Petrobrás “para aproveitar a baixa”…

Quem entrou nessa, perdeu duplamente, pois, como se sabe, as ações continuaram ladeira abaixo, bem assim as perspectivas de uma companhia petrolífera, que despencou da posição de 8a. para 180a. maior empresa em todo o mundo, queda ocorrida em menos de um ano, devido à gestão fraudulenta, corrupção de todo tipo e desmandos cometidos nos últimos 10 anos.

Francamente, não dá mais pra seguir levando nas costas o peso de empresas públicas (ou sob controle estatal) que deveriam ser privadas.

Nada de neologismos como “alienar ativos” ou “capitalizar a companhia”, o que a Petrobrás precisa é ser privatizada e, para um processo comp este, serão necessários, seguramente, uns 2 a 3 anos, se não mais…

O fato é que está passando da hora de começar.

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NEM TUDO CAI NO ATUAL DESGOVERNO

Ante um cenário de quedas acentuadas (do PIB, do superavit primário das contas públicas e da arrecadação tributária), algum desavisado poderá acreditar que trata-se de um momento pontual, apenas um soluço dos indicadores econômicos brasileiros ou “uma onda que vai passar”.

Ao observarmos mais de perto, verificamos que nem tudo caiu, alguns indicadores estão efetivamente subindo:

Inflação está subindo
– Já é a maior desde 2003

Dólar está disparando
– R$ 3,00 é a maior cotação nos últimos 10 anos

Importações estão aumentando
– Deficit de USD 4,95 Bi na balança comercial

Desemprego está crescendo
– 81.000 vagas desapareceram somente no mês de janeiro

Parece bem ruim, não é?

Mas o governo federal parece estar trabalhando arduamente para piorar o quadro econômico ainda mais e, por isso, estabeleceu medidas sucessivas de arrocho econômico e aperto fiscal, tendo aumentado só neste início de ano:

– o imposto sobre a folha salarial

– o preço da energia elétrica

– o preço dos combustíveis

Até agora não vi qualquer ajuste do governo nas contas públicas, apenas aumento de tributos…

Como para toda ação há uma reação (igual ou aparentemente maior) em sentido contrário, já caíram:

– a confiança do consumidor, do eleitor e do empresariado

– a confiança dos investidores e da comunidade internacional

– os investimentos das empresas brasileiras e das multinacionais

– os investimentos do próprio governo no PAC e em programas sociais

Como nada está tão ruim que não possa piorar, aguardemos o que ainda vem por aí em 2015, que está só começando.

Obs.: Sou um otimista incorrigível, mas diante do atual cenário, não me peçam para enfiar a cabeça num buraco e fingir que está tudo bem…

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A PRESIDENTE E A CULTURA DO MALANDRO

Após a recente demonstração solene de nossa mandatária, a respeito de sua consternação e indignação pela morte de um traficante internacional (a despeito das 50 mil pessoas assassinadas no Brasil a cada ano), emendei conversa com amigos sobre a índole do povo brasileiro, em especial sobre a correlação entre esta índole e o estágio de desenvolvimento do nosso país, quando ouvi a seguinte frase:

– Enquanto privilegiarmos o privado sobre o público, enquanto acharmos que nosso direito individual está acima do coletivo, nós continuaremos sendo um “país em desenvolvimento.”

Ao ouvir isso, uma frase tão simples e direta, foi inevitável lembrar-me do Mensalão, que parecia ser o maior caso de corrupção da política brasileira, um recorde logo superado, com larga margem, pela operação Lava-Jato, um roubo institucionalizado aos cofres públicos, cujos capítulos diários, que assemelham-se à mais inverossímel das novelas ou mini-séries, comprovam o quão asqueroso é o relacionamento do governo com a iniciativa privada (privada neste caso com duplo sentido).

– Meu avô costumava dizer que “quando falta vergonha na cara a um povo, passa a faltar tudo”…

E é vergonha mesmo o que tem faltado, a todos nós, que temos tomado conhecimento, todos os dias, de relatos sobre propinas frequentes e regulares, sobre corrupção em todas as esferas, sobre empresários que compram deputados, senadores, ministros e juízes, governantes que vêm a público defender corruptos, ex-presidente que estimula conflitos na sociedade e exorta ao confronto e à luta de classes, partido que se julga acima do próprio país.

Todos esses fatos ocorrem à luz do dia, abertamente, desavergonhadamente e são divulgados na imprensa e nas redes sociais sem o menor pudor, sem qualquer preocupação ou cerimônia.

Nós, o povo, assistimos a tudo isso passivamente, involuindo da surpresa inicial e incredulidade, ao deboche e desinteresse, num processo gradual de perda da capacidade de indignação.

Tudo é nojento, repugnante mesmo, mas as frases que mais ouvimos é “isso faz parte do jogo político”, já que “o brasileiro é desonesto mesmo” e, do jeito que está “só tende a piorar, vamos nos acostumando” ou ainda, “espera abrir a caixa preta do BNDES…!”

Muitos esperam que um milagre mude este estado de coisas, algo do tipo “quanto pior ficar, mais próximo estaremos de uma solução”, um raciocínio torto muito similar à tática de “se chegar ao fundo do poço, não descerá mais”, ou, pior ainda, à velha estratégia da “terra arrasada”.

A questão é que pode sobrar pouca coisa daquilo que foi construído, a duras penas, pela geração de brasileiros nascida nos anos 60 e 70 (sim, esta mesma que cresceu na ditadura, levou o país à democracia e hoje lidera o trabalho e a produção do país), mas que não foi capaz de construir uma classe política decente, refém que somos de uma cultura nacional com valores equivocados.

Sou cético quanto a uma reversão no médio prazo.

A cultura de uma sociedade é construída ao longo de muito tempo e depende de educação (no mínimo 3 gerações para mudar, a partir de um planejamento educacional que sequer começou), e de exemplos, principalmente de quem exerce algum tipo de liderança (empresários, artistas, atletas, políticos, etc.), que infelizmente é justamente de onde têm vindo as piores atitudes e comportamentos no Brasil.

Ou seja, aqui no nosso país, o exemplo só piora a situação.

O brasileiro valoriza (e almeja ser) o esperto, o que leva vantagem, o que chega na frente (mesmo que dirigindo acima do limite de velocidade, pelo acostamento, furando sinal), o que passa a perna no outro, o mais malandro, o que vence na vida sem trabalhar, o funcionário público que entra pela janela, o empregado que lesa o patrão, o patrão que explora o trabalhador, o jogador de futebol que ficou milionário sem precisar estudar, que dá um passo para fora da área após cometer falta dentro da área, o político que “rouba mas faz”, o operário que virou presidente, o filho de presidente que ficou bilionário, o empresário que, somente com planos, PPTs e muita lábia, captou bilhões de USD de incautos investidores internacionais para aplicar no emergente mercado de petróleo brasileiro (o investimento virou pó, mas o brasileiro acha bonito dizer que a fortuna dele está salva em algum paraíso fiscal, pois “ele é que foi esperto”).

É a disseminada cultura do brasileiro malandro se dando bem em cima do gringo otário.

É incrível, mas tem muita gente que ainda acredita nessa fábula, mesmo conhecendo os índices de desenvolvimento das sociedades construídas pelos otários, bem melhores do que qualquer indicador social do país dos espertos.

Daí porque serão necessárias algumas gerações para reverter este quadro, pois trata-se de mudar a cultura de um povo !

Mas temos que começar um dia, só não consigo enxergar que esse chance de recomeço ocorra antes de 2019…

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