PÉROLAS TUÍTADAS NO FINZINHO DE 2014

Gosto de observar e registrar frases repetidas pelas pessoas com as quais convivo, trabalho ou converso, mesmo que eventualmente.

Estas expressões fazem parte das crenças e valores de quem as profere, principalmente aquelas que são rotineira e frequentemente repetidas, às vezes sem que o narrador se dê conta ou que o interlocutor perceba.

São conceitos, dicas, teorias, princípios, enunciados, reflexões, corolários, teoremas, desafios, constatações, dogmas, ditados, provocações, certezas, dúvidas, respostas, sugestões, propostas, inconfidências, experiências e pensamentos de muitas pessoas, cujos significados são muito caros a cada uma delas.

Mesmo sabendo que algumas expressões não são inéditas, ou que o autor possa não perceber sua “autoria”, cito abaixo algumas que tuítei no finalzinho do ano, sem qualquer compromisso com a ordenação e, em alguns poucos casos, com o nome do autor protegido…

“Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.”
Princípio de Chronos

“A repetição é a mãe da retenção.”
Corolário de Quintanilha

“Desenvolvedor gênio faz código. Eu quero ver fazer dinheiro…”
Desafio de Sidney

“Pensar grande e não conseguir é melhor do que pensar pequeno e conseguir.”
Reflexão de Vabo Jr.

“Acreditamos em gestão das equipes, controle dos processos, responsabilidade e cumprimento das metas, todos os dias.”
Solange Vabo

“Ótimo lugar para trabalhar é onde você se orgulha do que faz, gosta das pessoas e confia na liderança.”
Great Place to Work

“Smartphone é igual a dinheiro, de vez em quando você tem que perguntar quem é mesmo o dono de quem.”
Constatação de Frejat

“Quanto mais importante uma lição, maior a chance dela ser esquecida.”
Dogma de Sifu

“Melhor pingar do que secar.”
Dica de Pinto

“O fluxo de desenvolvimento é um processo contínuo de descobertas.”
Ditado de Quintanilha

Mês que vem, tem mais…

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O PIB QUE CRESCE NO BRASIL

Neste final de 2014, apresento um texto interessante sobre um dos maiores fenômenos brasileiros que, apesar do que se pensa, cresce cada vez mais, a cada ano que passa: o PIB…

Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras.

O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar.

O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe.

E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.

O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.

Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso”. O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho – preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.

O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.

E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.

Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo – enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.

Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres – não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos – e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você.

Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.

Texto escrito pelo jornalista e publicitário Adriano Silva, autor do site Manual de Ingenuidades e do livro O Executivo Sincero.

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FILHOS DO TURISMO (FELIZ NATAL !!)

[Este texto é uma homenagem de Natal àqueles que já fazem o turismo brasileiro acontecer hoje e que estarão entre os líderes deste mercado amanhã].

Apesar do recente anúncio da aquisição parcial da Rextur Advance pela CVC (e de outras promessas de aquisições), estou me referindo aqui ao processo sucessório bem mais comum e bastante recorrente em nosso mercado de viagens e turismo.

Empresas familiares seguem este caminho em qualquer lugar do mundo e em todos os segmentos econômicos, mas não tão intensamente quanto no turismo brasileiro, onde 19 em 20 empresas encontram na sucessão familiar o melhor caminho para a perpetuidade do negócio.

Para quem está neste negócio há 2 décadas e o acompanha há mais de 3, testemunhei a entrada, o crescimento e a evolução de muitos dos filhos do turismo brasileiro, sejam de agências de viagens corporativas ou de lazer, operadoras, consolidadoras, hotelaria e até cias. aéreas, entre outros negócios vinculados.

Sabrina, Edmar, Rubens, Carlos, Natalia, Regis, Nicole, Renata, Eduardo, Fernando, Carolina, Bruno, Henry, Christiano, Fábio, Eloi, Marjorie, Marianna, Rodrigo, Rafael, Juarez, Flavio, Andrea, Aldo, Ricardo, Roberto e Danielle (entre muitos outros) são alguns exemplos (não há espaço para citar todos) de uma nova geração que já se estabeleceu, mostrou serviço e competência, e provou que segura o rojão das organizações construídas por seus pais.

E já há uma nova tribo chegando, uma turma novinha em folha, na faixa dos vinte e poucos anos, entronizada há bem pouco tempo (alguns há meses) nas empresas de seus pais, que também aos poucos vão aprendendo, fazendo, movimentando, questionando, agitando, conquistando seu espaço e o respeito dos colegas, dos fornecedores, dos clientes e do mercado.

São os novíssimos entrantes nesta festa que é o mercado de viagens e turismo nacional, onde acordos comerciais entre empresas são fechados baseados nos relacionamentos pessoais, algumas vezes forjados à sombra do legado de seus fundadores, mas principalmente na experiência individual, no trato do negócio e na prática diária das operações pelo próprio sucessor.

Apesar desta capacitação prática, desta virtual formação empírica, deste verdadeiro “on the job training” exigirem alguns bons anos de maturação, esta estratégia sucessória tem se mostrado vitoriosa, se observarmos a performance desses novos executivos na última década.

Afinal, para este processo, tempo não parece ser um problema.

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