ANTONIO AZEVEDO, LEONEL ROSSI E GISELE LIMA

Surpreendi-me com o convite, não tanto pelo inusitado pois conheço o espírito aberto do Antonio Azevedo, mas pela sua iniciativa de “ouvir pessoalmente as críticas e sugestões” sobre a ABAV Expo.

Inicialmente uma conversa a dois na sede da ABAV em São Paulo, transformou-se em reunião com a participação do Leonel Rossi, seguida de almoço com a Gisele Lima, no Círculo Italiano.

Mais ABAV, impossível…

Entendi que os textos que postei no Blog Distribuindo Viagens surtiram efeito, ou seja, chamaram a atenção da liderança da nossa associação, em especial de seu presidente, que demonstrou sensibilidade ao debater, junto com o diretor de relações internacionais e a organizadora do evento, cada uma das críticas que fiz e das sugestões que tenho a dar.

E foram 3 horas de conversa, aberta, franca, propositiva, visando somar para a próxima edição em 2015, sempre buscando os variados pontos de vista de quem faz a feira: agentes de viagens, operadoras, consolidadores, cias. aéreas, redes hoteleiras, locadoras e outros fornecedores, destinos, expositores em geral, palestrantes, visitantes, compradores, vendedores, etc. etc.

Conversa na ABAV
Leonel Rossi, Gisele Lima e Antonio Azevedo: abertura e interesse em ouvir críticas e debater sugestões para ABAV Expo 2015

Os temas varreram o Anhembi, a estrutura, montagem de estandes, largura dos corredores, iluminação, sinalização, painéis, programação, divulgação, tecnologia para mega eventos, mudanças de comportamento, expectativas, Abracorp, Braztoa, convention bureaus, imprensa, ministério e secretarias de turismo, “hosted e non-hosted buyers”, rodada de negócios, disciplina de horários, festas, relacionamento…

Nada (ou quase nada) escapou do “brainstorm”, um bate-papo livre, leve e solto, de 4 profissionais com algumas visões convergentes e outras divergentes, mas no fundo interessadas na mesma coisa: uma ABAV Expo cada vez melhor.

O resultado desta conversa poderá (ou não) ser visto na ABAV Expo 2015, uma feira que seguramente vem diferente, outra vez, como deve ser, a cada ano, de novo e de novo.

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QUEM VAI ENCARAR?

Fim de ano desafiador para os negócios e prenúncio de 2015 recessivo são o resumo da maioria das análises econômicas sobre o Brasil e a América Latina.

Parece que o vento mudou mesmo: enquanto os EUA e a União Europeia fizeram o dever de casa e afugentam aos poucos (com muito planejamento e esforço) as dificuldades geradas pela crise econômica da década passada, o Brasil e “países amigos” atolam no baixo crescimento econômico e na corrupção desavergonhada, piorando ano a ano os índices de educação, saúde, segurança e trabalho…

Não dá para esperar melhor resultado se, para cada um dos temas acima, o país carece, mais do que ajustes no rumo, de “reforma” completa.

Sim, todos sabemos que para o Brasil voltar a crescer, há que se fazer a reforma tributária e desburocratizar o sistema econômico, para ampliar o ambiente de negócios, estimular o investimento privado e fomentar o empreendedorismo.

Mas continuamos preferindo o arrocho tributário como receita para fazer investimentos sociais e, de quebra, empregar mais pessoas num serviço público de baixa qualidade…

Sim, também sabemos que o combate a corrupção depende fundamentalmente de uma reforma política que impeça ou dificulte o conflitante “fazer política para si” e puna exemplarmente corruptos e corruptores.

Mas preferimos acreditar que os políticos farão mesmo alguma mudança contra seus próprios interesses…

Sim, estamos cansados de saber que para a educação ser a base do país que queremos para nossos filhos e netos, há que ser feita uma reforma educacional, que a leve para o centro das prioridades nacionais, acima e a frente de todas as outras.

Mas nossa prioridade continua sendo entregar o peixe pronto para comer, quando deveríamos ensinar e estimular os pescadores a pescar…

Sim, sempre soubemos que a privatização da saúde geraria os conflitos éticos e morais que assistimos no dia-a-dia de profissionais de saúde e empresas de assistência médica, tema que demanda uma reforma na saúde.

Mas é mais cômodo não mexer com os interesses da rede de saúde privada, montada ao longo dos últimos 30 anos…

Sim, mesmo sabendo do sucesso da recente reforma na segurança do Rio de Janeiro, também suspeitávamos que não bastaria ocupar morros e favelas, pois a carência da população é muito maior do que somente proteção policial.

Mas optamos por manter o “apartheid” econômico, agora disfarçado de libertação e inclusão social…

Sim, apesar de sabermos que a criação de novos postos de trabalho pode ser estimulada por programas de incentivo do governo, a manutenção permanente de empregos (e de empregabilidade) dependem de reforma trabalhista que desonere a relação trabalhador/empresa da atual regulação, que tem servido para remunerar sindicatos e pressionar os salários para baixo.

Mas decidimos manter a mesmíssima legislação trabalhista paternalista, criada na primeira metade do século passado, sob o argumento de não mexer em direitos adquiridos, mesmo que isso implique em menos oportunidades de trabalho, tributação da atividade laboral e menor autonomia do profissional sobre sua própria carreira…

Sabemos de tudo isso, mas ninguém parece disposto a colocar os sinos nos pescoços dos gatos.

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O BAIXO DESEMPENHO DO SERVIÇO PÚBLICO

Nunca esqueço um diálogo que tive com um servidor do congresso nacional sobre o baixo desempenho do serviço público e, diante de minha pergunta sobre tantas regalias, ausências ao trabalho e altas remunerações com recursos públicos, sua resposta foi:

– “Tem que ser assim mesmo, afinal, o dinheiro público é nosso. Nós somos o público…”

Esses mais de 30 anos de carreira, sendo 10 anos em empresa estatal, me forjaram alguns conceitos (e seguramente também alguns preconceitos) sobre eficácia, desempenho e resultado do trabalho, seja de um indivíduo ou de um grupo de pessoas.

Aprendi que trabalhar com baixa eficiência e pouco, ou nenhum, comprometimento é comum aos funcionários públicos, porque eles não têm pelo menos 3 características comuns aos profissionais de empresas privadas:

1 – Compromisso com o que fazem.
Motivo: não dependem de seu desempenho ou de apresentar resultados para manter seus empregos e ascender na carreira.

2 – Ambição profissional.
Motivo: sua ascensão na carreira independe do quanto desejam e trabalham para chegar a alguma posição na hierarquia do serviço público.

3 – Preocupação com o emprego.
Motivo: dispoem de uma inexplicável estabilidade de emprego (herança dos difíceis tempos de ditadura), que explica seu baixo desempenho, baixo comprometimento e baixos resultados.

Após passar num concurso público, acreditam genuinamente que são especiais, acima da média da população, quase ungidos por Deus e, portanto, têm direito às regalias (alto salário, baixa disponibilidade, pouco resultado) e mordomias patrocinadas pelos seus clientes, a população brasileira.

Uma fórmula como esta não poderia mesmo resultar em coisa boa…

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