Estou parado no trânsito paulista da Barra da Tijuca e observo a movimentação dos vendedores de sinal (farol em SP).
Devem existir poucos lugares onde a arte de vender é colocada tão à prova, quanto o “ambiente de negócios” dos vendedores de sinal, tantas e tamanha as dificuldades para converter uma venda.
O sujeito está debaixo do sol (às vezes da chuva), oferecendo sabe-se-lá-o-quê para potenciais compradores que ele mal enxerga, porque estão:
– dentro do carro fechado com janelas fechadas e vidros escuros.
– distraídos, olhando para a frente, para o painel ou para baixo (futucando o celular).
– desinteressados em ouvir o argumento de venda do produto.
– ansiosos ou angustiados demais para decidir uma compra em 30 segundos.
Além disso, há um obstáculo quase intransponível entre o vendedor e o comprador: não é o vidro da janela do carro em si (este pode ser abaixado), mas é justamente o receio em abaixar o vidro.
Ou seja, o vendedor mal enxerga o comprador, não consegue ser ouvido, tem que sorrir, apregoar a mercadoria, manter um olho no cliente (que abriu uma brecha da janela), outro olho no sinal (que já vai abrir), um terceiro olho nas motos (que avançam entre os carros), um quarto olho no rapa (que pode por tudo a perder) e, caso consiga fechar a venda, tem que entregar o produto, receber o pagamento e devolver o troco em menos de 20 segundos…
Quando não consegue fazer tudo isso no tempo certo, recebe um sonoro buzinaço, que transforma o efêmero sucesso de uma venda convertida, em mais uma irritação de um dia naturalmente difícil.
Eu sempre observei os profissionais de vendas como virtuosos na arte da argumentação.
Ok, os advogados também são especialistas em argumentar, contra-argumentar, convencer, provar e comprovar, mas você compraria um produto de um advogado?
O argumento de venda é aquele pedaço de informação que é entregue ao cliente, embalado no que eu chamo de “encanto da verdade”.
Sim, porque nada pior do que um vendedor que não acredita no produto que vende e, por isso, interpreta na frente do comprador (como se este não fosse perceber o factóide).
Vender exige talento e vender bem exige verdade.
Vender muito bem exige talento e verdade.
Quando o vendedor é talentoso, ele pode vender muito, mas ele só vende bem quando é verdadeiro e, para isso, ele tem que genuinamente acreditar na qualidade daquilo que está vendendo (ou seja, o produto tem que ser bom de verdade).
Vendedor com brilho nos olhos é aquele que é tão seguro da excelência do seu produto, que a sua capacidade de argumentação torna-se imbatível, justamente porque o seu produto é mesmo o melhor e ele, mais do que ninguém, sabe disso, se orgulha disso e vende isso.
Pra fechar o post eu pergunto: quantos profissionais de vendas você conhece com essas características?
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