A BOLHA DA COPA E A INFLUÊNCIA POLÍTICA…

Vejo as dificuldades da indústria automobilística brasileira, com excesso de produção e de estoque em relação ao poder aquisitivo da população e penso: lá vem ameaças de demissão (e demissões sem ameaças) para fazer o governo ceder em incentivos fiscais.

Entendo incentivos fiscais para um segmento econômico dominado pela iniciativa privada, como uma transferência de renda do cidadão brasileiro para multinacionais poderosas.

Sei bem da importância da manutenção de empregos em um setor intensivo em mão-de-obra, mas acho que este argumento não convence mais, principalmente pela influência política dos sindicatos dos metalúrgicos no partido político que está no poder há 12 anos…

Se considerarmos geração de empregos, a construção civil ainda é o maior empregador e também está na iminência de uma crise, mais próxima do estouro da chamada “Bolha da Copa”, que também pode vitimar a hotelaria e outros segmentos que apostaram fichas demais no torneio de futebol da Fifa.

A questão é que o estímulo a qualquer um desses dois setores tenderá, no final das contas, a agravar a qualidade de vida nas grandes cidades:

– Mais e mais carros na mesma insuficiente quantidade de ruas, garagens e estacionamentos,

– Mais e mais prédios na mesma insuficiente infraestrutura de água, energia, telecomunicações, saúde, escolas, segurança etc etc.

É o forno ou a frigideira…

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TOLERÂNCIA ZERO…

Neste feriadão da Páscoa, estava conversando com amigos sobre alguns comportamentos sociais na atualidade e, em especial, sobre o quanto as decisões das pessoas, de uma forma geral e sobre qualquer assunto do cotidiano, passaram a ter um carater de curtíssima duração.

Seja no que diz respeito a relacionamentos amorosos, onde sinais de contrariedade de um lado encontram o parceiro desinteressado do outro – “tchau, a fila anda…” – ou nas amizades, em que as auto-denominadas BFF – “best friends forever” – deixam de sê-lo com a mesma velocidade com que se tornaram – “cada uma que toque a sua vida”.

Outro terreno fértil para esta análise é a escolha da profissão, usualmente uma decisão que poderá impactar toda ou boa parte da vida, mas que precisa ser tomada muito cedo, numa fase precoce em que o jovem não consegue decidir sequer com quem sairá no próximo sábado.

Como o caso de um jovem, filho de amigos, que “optou” por fazer direito, provavelmente influenciado pelos pais, ambos advogados, mas que percebeu, logo nos primeiros meses, que os tribunais “não eram a sua praia” e, por isso, trancou a faculdade de direito e iniciou o curso de economia, mas logo no segundo semestre trocou outra vez para administração…

“Por que insistir e não ser feliz?”, é um argumento corriqueiro em todas essas situações. “Melhor trocar logo do que sofrer mais tarde”, diz-se da namorada, do marido, da amiga ou mesmo da carreira profissional.

Mais recentemente, devido também à maior oferta de empregos no Brasil, este comportamento “desapegado” passou a ser assimilado pelos profissionais em relação às empresas em que atuam.

“Eu estou nesta empresa” é uma frase comum, que denota a transitoriedade do “estar”, já que ninguém mais é da empresa.

“Fico por aqui enquanto não me encherem o saco”, expressão típica do profissional que não tem o tal apego pela carreira que abraçou e, pior, deseja ser adulado, de preferência sem ser “desagradado”…

No excesso de oferta, tudo é efêmero, pois ali na esquina já tem outro disponîvel, seja amigo, namorado, emprego, esposa, curso, oportunidade, político, negócio…

A questão é que até o excesso de oferta é efêmero…

Mas enquanto isso, não há mais a visão de conquistar um relacionamento de longo prazo, de alimentar uma amizade verdadeira, de identificar a real vocação para uma profissão ou de planejar e construir uma carreira consistente.

Ninguém mais tem paciência com o outro, com o amigo, com o parente, com o colega, com a empresa, com o vizinho, com a escola, com o caminho, com o futuro, com a vida, com a história.

Se não for pra resolver agora, esquece, não há tempo a perder.

Aliás, fui…

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AÉCIO NEVES: ESTRATÉGIA ERRADA…

Após a participação do Aécio Neves, como candidato à Presidência da República pelo PSDB, durante o Fórum Panrotas no início do mês, comentei aqui no Blog Distribuindo Viagens, entre outras observações, que ele deveria referir-se menos à Minas Gerais, por estar dirigindo seu discurso, e no final das contas, o seu objetivo político, para eleitores de todo o Brasil.

Houve quem entendesse meu comentário como algo provinciano, regionalista até, mas também houve quem compreendesse que apenas destaquei o que considerei um erro estratégico: falar para uma plateia predominantemente paulista, enaltecendo sua gestão em um estado, embora gigante em importância e representatividade na federação, bastante distante da realidade do eleitor urbano de São Paulo.

O fato é que definitivamente eu não sou, mas o eleitor brasileiro, como de resto o cidadão brasileiro, é mesmo regionalista (até bairrista) e, por isso, parece-me estratégia míope iniciar uma campanha nacional, insistindo em apresentar um “benchmarking” de um único estado, como se as soluções encontradas e aplicadas por lá pudessem ser reproduzidas de forma amplificada para todo o país.

Por isso, estranhei mais ainda quando, nas semanas seguintes ao Fórum, percebi que aquele “discurso de raiz” não foi um desvio de retórica do candidato naquele momento, mas uma bem pontuada tecla a ser batida a cada aparição na TV, como temos visto quase diariamente no horário nobre.

Toda vez que o escuto, fico imaginando de onde o marqueteiro de plantão tirou a brilhante ideia de citar Minas Gerais como laboratório político do Brasil, em especial se considerarmos que o candidato já tem hegemonia em seu estado.

Mesmo reconhecendo os avanços de Minas nas áreas de educação, saúde, combate à corrupção, entre outras, a questão aqui é convencer a sociedade de que o senhor Aécio Neves (não o ex-governador ou o atual senador) terá as melhores condições de estabelecer um ambiente político capaz de aprovar os projetos e levar adiante suas ideias e de seu partido, para todo o país (ou 26 estados completamente diferentes).

Para ter chance real no pleito deste ano, penso que está mais do que na hora do Aécio Neves mostrar que possui envergadura nacional.

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