as ”Travel Techs” e a síndrome das bolhas seriais

Há algum tempo venho observando um fenômeno nas startups que se multiplicam como gremlins no ecossistema de negócios brasileiro, repetindo o mesmo fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo: o empacotamento de ideias existentes, rebatizadas como inovação.

Uma startup indiana de hotéis apresentou-se como inovadora por ter criado “uma série de conceitos operacionais de hotelaria para certificar uma propriedade hoteleira com a sua bandeira”. Algo que as tradicionais marcas e bandeiras hoteleiras fazem há algumas décadas foi, e ainda é, apresentado como uma novidade absoluta, e o mais incrível é que muitas (milhares) pessoas (e de investidores) compraram esta ideia “inovadora”.

Mais recentemente, algumas startups brasileiras, inspiradas no modelo da TripActions, resolveram batizar o seu negócio de agenciamento de viagens, nada inovador, com um novo e sugestivo nome, como se fosse um novo segmento econômico.

Atuando no mercado de gestão de viagens corporativas, essas empresas, novas e inexperientes, mas altamente motivadas em concorrer num mercado que desconhecem, prometem os serviços prestados pelas TMCs, juntando conceitos como o das OTAs (tudo 100% online), dos OBTs (foco no corporativo, controle de política de viagens, fluxo de autorização, relatórios BI etc) e alguns recursos de expense management, prometendo tecnologia, agilidade e preço, mesmo não tendo crédito junto às cias. aéreas, não tendo time compatível com atendimento ágil e oferecendo preços iguais ou maiores do que os praticados pelas TMCs que operam grandes volumes.

O fato é que essas startups empacotaram alguns recursos dos sistemas que foram criados, desenvolvidos e implementados nos últimos 20 anos e se auto-batizaram “Travel Tech”, buscando conforto e segurança no plágio da expressão “Fintech”, aplicada a empreendimentos vitoriosos como a XP, o Nubank e a Stone.

Conversando com meu guru Vabo Júnior – @Vabo23 – sobre este fenômeno de juntar algumas ideias testadas e bem sucedidas, empacotá-las e rebatizá-las como um novo conceito, com uma terminologia “cool”, um termo que signifique quase uma marca, VJ foi taxativo: “trata-se da busca do visionary capital”.

As pessoas, incluindo os investidores, acreditam numa narrativa bem estruturada, numa história coerente e que faça sentido. Por isso, buscar conceitos testados, experimentados e bem sucedidos, empacotá-los e emoldurar tudo isso com um bom story-telling é a fórmula de bolo para tentar gerar o que chamamos visionary capital, que é o maior valor de uma startup, o maior capital do seu fundador.

A questão é quando a narrativa é pretensiosa (às vezes arrogante) e o conjunto de ideias empacotadas não agrega nenhum valor novo e não se diferencia em nada daquilo que já é oferecido por dezenas de experientes TMCs que já atuam no mercado com conhecimento (que demanda expertise), tecnologia (que exige atualização permanente) e reputação (que requer tempo, trajetória e integridade).

Não se iluda, Travel Techs são todas as TMCs que atuam no mercado brasileiro, em especial as associadas à Abracorp, que, desde o início do milênio, investem permanentemente em tecnologia e capacitação de seus times, enquanto constroem sólidas carreiras de consultoria corporativa.

As TMCs associadas Abracorp são intensivas em tecnologia, mas vão muito além disso. Pense nisso ao decidir em quem confiar seu orçamento de viagens e despesas corporativas.

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CORAGEM PARA SE JOGAR EM 2021…

Cenário nebuloso, informações desencontradas, cidadão inseguro, consumidor impactado, economia travada, governo batendo cabeça, população no limite…

Este é o cenário econômico em que atuam os empreendedores brasileiros neste início de 2021.

Não há planejamento estratégico que consiga minimamente antever cenários possíveis em um momento em que a pandemia mundial está quase completando 1 ano.

Uma pergunta (incômoda, desconfortável, desagradável até) é fundamental para estabelecermos condições mínimas para um planejamento estratégico que seja assertivo e direto ao ponto:

  • A vacinação em massa trará o resultado que todos esperamos?

Após esta pergunta respondida, as atenções voltam-se para outras 5 dúvidas, todas especificamente sobre prazos:

  1. Quando a sociedade estará imunizada?
  2. Quando as restrições ao convívio social serão flexibilizadas?
  3. Quando a população voltará a se sentir segura?
  4. Quanto tempo a economia brasileira suporta?
  5. Quanto tempo o mercado de viagens e turismo ainda resiste?

Enquanto essas perguntas não são respondidas (e somente o tempo poderá incumbir-se de respondê-las), seguimos literalmente tateando no escuro, buscando referências naquilo que acreditamos e desejamos, mesmo que distantes da realidade ácida do nosso dia-a-dia atual.

Isso tudo me lembra aquela máxima de Reid Hoffman que afirma que “empreender é se jogar de um precipício e construir um avião durante a queda”.

O mercado mundial de viagens e turismo está hoje, literalmente, construindo aviões durante a queda.

Embora ninguém duvide de que vai sobreviver…

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ESQUEÇA A RETOMADA, O MOMENTO É DE RECONSTRUÇÃO…

Analise os dois significados abaixo e reflita sobre qual deles se adequa melhor ao cenário econômico atual:

1) Retomada: reconquista, recuperação, ação ou efeito de voltar a possuir alguma coisa.

2) Reconstrução: construir de novo, reedificar, formar novamente, renovar, voltar à constituição original, refundar.

Logo no seu início (abril/maio de 2020), a crise econômica global gerada pela pandemia do coronavírus suscitou reflexões e analogias com os impactos gerados pela grande depressão americana no início da década de 30 (consequência do crash de 1929) e também com o estado de terra arrasada em que se transformou a Europa ao final da segunda guerra mundial, já no final da década de 40.

Ambos os cenários foram marcados por dois planos econômicos icônicos, tão ou mais conhecidos do que as crises que o provocaram, um para a reconstrução da economia americana, o New Deal, e o outro para reconstrução da economia europeia, o Plano Marshall. Como se sabe, os dois planos foram criados, implementados e custeados majoritariamente pelos EUA, mas envolveram dezenas de outros países.

Em ambos, a pegada foi de reconstrução, não de retomada.

E o motivo é simples: não se retoma o que não existe mais. Sobre o que deixou de existir, reconstrói-se...

E este parece ser exatamente o caso atual, em especial para os segmentos econômicos mais afetados pela pandemia, entre eles, o segmento de gestão de viagens corporativas, atividade refém do transporte e da convivência de pessoas.

Há quem acredite e promova um novo plano econômico global para reconstrução da economia mundial

E a reconstrução de qualquer coisa depende fundamentalmente de aceitar-se que não existe mais a coisa anterior, destruída que foi pela tempestade perfeita, a crise de demanda e de oferta que se abateu sobre estes segmentos (sem clientes e sem produtos) durante e, muito provavelmente, após esta pandemia.

Estamos quase encerrando este fatídico ano e seguimos sonhando com a retomada de algo que não existe mais: as viagens corporativas como eram até 2020.

Fala-se em reedição do efeito Kodak (ou efeito Xerox), mas eu acredito que esta analogia não se aplica, pois as viagens corporativas não serão totalmente substituídas como o foram a fotografia analógica e o sistema reprográfico.

Mas está claro que as motivações para uma viagem corporativa mudaram e mudaram muito, o que tende a impactar o volume de negócios, gerando uma concorrência (ainda mais) predatória entre os players desta cadeia produtiva.

A pandemia mudou hábitos, comportamentos e atitudes, impactando de forma definitiva alguns segmentos econômicos

Para os heróicos sobreviventes desta difícil travessia, tão turbulenta quanto desafiadora, restará encarar um oceano vermelho, repleto de tubarões e com bem menos peixes disponíveis.

Estou seguro que a indústria de gestão de viagens corporativas será reconstruída em cima de novas bases e de novos conceitos:

1) Incorporando novos produtos e serviços do interesse do cliente corporativo, e/ou

2) Valorizando aqueles serviços que sempre foram prestados, mas que não eram cobrados por estarem embutidos nas transações de intermediação, até então mandatórias da atividade: bilhete aéreo e hospedagem, principalmente.

É hora de usar e abusar da tecnologia e valorizar o uso inteligente da informação, a consultoria produtiva e a gestão efetiva de recursos, aquela que agrega valor como resultado financeiro para o cliente, seja com eficácia nos processos, redução de tempo e/ou economia de dinheiro.

No final das contas, é isso que sempre fez e continuará fazendo a diferença.

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