UM MERCADO QUE NÃO EXISTE MAIS

Há um mês, publiquei um post com o título “QUERIDA OLGA” OU “BRAVO, MAKTOUR?”, onde comentei os textos de meus amigos blogueiros Artur e Sidney, campeões de audiência nos Blogs Panrotas, sobre a quebra da Design e a atitude da Maktour, respectivamente.

Entre os vários bons comentários que recebi sobre este texto, um chamou-me a atenção pela eloquência e lucidez, postado pelo leitor Bruno Talevi, que prometi repostar o tema, comentando e agregando ao texto do Bruno.

E aqui vai:

Bruno Talevi: Bom Dia Luís.

Acompanho seus artigos com frequência e mesmo sendo todos muito ricos em conteúdo este em especial me motivou a comentar….

Quando você diz: “A baixa compreensão dos empresários tradicionais sobre a web como ambiente de negócios (e-commerce) e suas consequências, apesar da internet estar aí há 20 anos.” – ao meu ver você acerta o coração da questão com uma precisão ímpar.

Sem pretenções de subestimar a ninguém, mas pelo simples fato de existir esta “baixa compreensão” me preocupa que os leitores de seu artigo não se dêem conta do real significado desta frase…

Luís Vabo: Escrevo este blog aqui no Panrotas há mais de 5 anos, tempo em que tive a sorte de atrair um contingente de leitores bem antenados.

Por isso, acredito que uma parte dos leitores dão conta do significado desta frase, concordando ou não com ela. Uma outra parte acredita que esta frase é exagerada ou que não faz sentido. E tem ainda os que efetivamente não se deram conta do que se trata e acham que fazer e-commerce é manter um site da internet…

Bruno Talevi: Digo isto porque vejo muitos empresários investirem em e-commerce e darem o assunto por resolvido. Ao meu ver o cenário exige que se enxergue muito além…

Me diga sua opinião Luís, veja se concorda… A internet mudou completamente o comportamento do consumidor, em resumo eu diria que ela transformou por inteiro cada etapa em seu processo de pesquisa e compras!

Luís Vabo: O que ocorreu é que a internet é um novo ambiente de negócios completamente diferente da realidade pré-existente, o que acabou por gerar uma mudança mais disruptiva do que os shopping centers representaram para o comércio de rua a partir dos anos 80.

A internet destruiu paradigmas e criou outros, ainda difíceis de entender para quem empreendeu há mais de 20 anos...
A internet destruiu paradigmas e criou outros, ainda difíceis de entender para quem empreendeu há mais de 20 anos…

Todos os atuais empresários com mais de 35 anos de idade (onde me incluo) tiveram sua formação profissional baseada num ambiente de negócios que simplesmente desapareceu, costumo dizer que são empreendedores de um mercado que não existe mais.

Aqueles que não perceberam as mudanças, ou não tiveram oportunidade de acompanhar e evoluir com este novo mercado consumidor, ou ainda estavam muito ocupados tentando manter suas posições conquistada no cenário anterior, são os que estão sofrendo mais, com repercussões que variam de encolhimento do negócio até encerramento das atividades.

O empresário de viagens e turismo está ocupado demais para dedicar tempo às novas tecnologias
O empresário de viagens e turismo está ocupado demais para dedicar tempo às novas tecnologias

Bruno Talevi: Aos empresários do setor eu daria uma sugestão: Faça uma lista de cada etapa de cada processo adotado por cada área em sua empresa. Vendas, suporte, SAC, marketing, operações… Uma vez finalizada a lista analise ítem a ítem…

Luís Vabo: O procedimento de mapeamento de processos sempre foi importante, seja para treinar e retreinar as equipes, documentar/reter conhecimento e manter a qualidade de cada etapa das atividades.

Mas como mapear processos que necessariamente mudam (ou devem mudar) frequentemente, na velocidade do pensamento?

Bruno Talevi: Se qualquer um destes ítens ainda hoje praticados estiverem em uso a mais de 3 anos consideres substitui-los porque eles foram criados para os consumidores “de ontem” e são grandes as chances de não gerarem mais resultados positivos!

Empresas feitas para consumidores de ontem não atenderão as expectativas dos consumidores de hoje!

Luís Vabo: Sou um pouco mais radical em relação a isso, acho que não dá mais para separar os consumidores em ontem e hoje, pois as mudanças são muito rápidas.

A rigor, o consumidor de hoje é a verdadeira “metamorfose ambulante”, seu interesse muda todo dia, sua forma de comprar é diferente a cada momento, seus meios para informar-se sobre um produto ou serviço são virtualmente infinitos, não há mais qualquer fronteira para seu poder de consumir.

Bruno Talevi: O ideal é fazer este exercício a cada um, dois anos… As mudanças jamais aconteceram com tanta velocidade…

Luís Vabo: Recomendo implantar um ambiente de requestionamento permanente da forma de fazer, um espírito de mudar e fazer diferente sempre, conectado com o que o cliente deseja consumir, da forma que ele deseja comprar. Focar obstinadamente nisso.

Seu negócio, assim como a sua vida, será impactado pelas suas escolhas
Seu negócio, assim como a sua vida, será impactado pelas suas escolhas

Bruno Talevi: O problema talvez vá além de compreender os impactos da internet, talvez o problema enraizado mesmo seja a incapacidade ou falta de vontade em evoluir…

Dói, dá trabalho mas é preciso !

Luís Vabo: É preciso, é fundamental, não há alternativa. É evoluir ou morrer.

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PEQUENAS AGÊNCIAS É QUE SÃO O MOTOR DO MERCADO

Não, este post não é patrocinado pelo SEBRAE, tampouco pela revista PEGN.

Mas ele surge num momento em que a crise econômica se agrava (quando os avestruzes tiram a cabeça do buraco), médias empresas enfrentam problemas devido à dificuldade de crescer para perpetuar-se, grandes empresas buscam fusões e/ou aquisições para continuarem a mesma luta de sempre por maior participação num bolo que só faz diminuir, e as pequenas…, bem, as pequenas são o verdadeiro motor da economia mundial.

“O blogueiro ficou maluco”, alguém dirá, ou “Vabo está fazendo lobby outra vez”, pensarão meus leitores mais bondosos…

Dados recente do Sebrae indicam que, do total das empresas existentes no Brasil, 99% são de pequenas empresas (micro e pequeno portes), que respondem por mais da metade de todos os empregos formais da economia brasileira e por mais de 40% da folha salarial formalmente paga.

E o potencial de crescimento desta parcela de empreendedores é enorme, pois correspondem atualmente a 27% do PIB brasileiro, enquanto na Europa as pequenas empresas produzem, em média, o dobro deste índice (na Alemanha e Itália acima de 60% do PIB é gerado por pequenas empresas).

Apesar do cenário adverso este ano, as pequenas empresas brasileiras empregaram mais 1,7%, de janeiro a setembro de 2015, na contra-mão das médias e grandes empresas que, salvo raras exceções, estão desmobilizando estruturas, investimentos e pessoal.

Digo tudo isso, porque nosso mercado de viagens e turismo não é diferente.

São as pequenas agências que movem a economia de serviços de viagens e turismo, distribuindo ao passageiro final, de forma capilar, os serviços dos fornecedores (cias. aéreas, hotéis etc.), que os distribuem através dos grandes operadores, consolidadores e brokers de todo o tipo.

A questão aqui é (ainda) não dispormos de números precisos para comprovar esta afirmativa com dados estatísticos consubstanciados e isentos.

Digo “ainda” porque esta é uma das prioridades da gestão Edmar Bull à frente da Nova ABAV: tornar a ABAV referência do mercado de viagens e turismo no Brasil, fornecendo dados estatísticos reais consolidados diretamente da fonte produtiva, suas mais de 3.000 associadas, após cruzamento e conciliação com os números das principais associações do mercado de viagens brasileiro.

Um projeto gigante, do tamanho da força das pequenas agências e que, tal como elas, exigia uma liderança que encarasse o desafio, à frente de um grupo que ignorasse os avisos de que “esta é uma tarefa impossível”, que simplesmente chegasse e fizesse acontecer.

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DISSIDÊNCIA

Li a notícia na quinta-feira passada, logo após ser publicada, e aguardei até esta segunda-feira para ver se meu querido amigo e blogueiro Cássio Oliveira, postaria algo sobre o assunto no Blog Consolidando.

Por considerar o fato relevante dentro do mercado da consolidação, o qual é parte importante da distribuição de serviços de viagens e turismo no Brasil, é que comento abaixo aqui no Blog Distribuindo Viagens.

Tenho escrito com certa frequência a respeito da associatividade, do que move as pessoas e as empresas a se associarem, formando blocos de atuação em prol de mesmos objetivos ou inspirados num mesmo sonho.

Não posso deixar de registrar a minha surpresa e, de certa forma, estranheza, com a saída da Esferatur da recém-criada AirTkt, a associação de consolidadores fundada há menos de um ano.

A surpresa refere-se a já haver uma dissidência, em especial do peso de uma Esferatur, no curto período de vida da entidade, e a estranheza tem a ver com o fato de que a Esferatur foi justamente uma das 5 fundadoras da AirTkt.

“O que leva um craque a abandonar um time de craques?”

Ouvi esta pergunta de um agente de viagens em São Paulo, onde estive sábado para a eleição do novo comando da ABAV Nacional.

Na minha trajetória no mercado de viagens e turismo, tive a oportunidade de co-fundar 2 associações, ABRACORP e ALAGEV, ambas advindas de outras associações existentes, FAVECC + TMC e ABGEV, respectivamente, e sei bem o que significa (e o trabalho que dá) fundar uma associação.

Não, o maior trabalho não é elaborar, negociar, votar, aprovar e dar legalidade ao novo estatuto ou regimento. O trabalho mais importante precede a elaboração do estatuto, precede a própria constituição e divulgação da entidade, o trabalho fundamental é identificar o propósito do grupo, aglutinar os objetivos da associação, alinhar os valores inegociáveis da entidade e conciliar as diferentes visões e formas de persegui-los.

Não faço juizo de valor a respeito dos motivos da saída da Esferatur da AirTkt (até porque não tenho informações sobre o assunto), mas a impressão que tive como observador, pelo teor do comunicado dos amigos Beto Santos e Carlos Vazquez, divulgado no finzinho na quinta-feira passada (“quando a linha de ação e pensamento passam a não se alinhar…”) é que pode ter faltado esta sequência lógica na formação da nova associação: alinhamento de propósitos (motivação), elaboração do estatuto (regulação), registro da entidade (legalização), anúncio ao mercado (divulgação).

Como conheço os idealizadores e fundadores da AirTkt, bem como seu diretor executivo, com sua longa experiência e atenção aos detalhes, não creio que tenha sido esta troca da ordem dos fatores que tenha alterado o produto.

E talvez nunca venhamos a saber…

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