Não concordo, mas os sociólogos, de uma forma geral, opinam que vem do tropicalismo, que bebeu na fonte do movimento de 68, da filosofia hippie, mesclado com a leniência da mistura de portugueses e africanos ou sei lá de onde veio.
O fato é que nós brasileiros temos mesmo esta dificuldade em seguir regras, normas, procedimentos, regulamentos, leis…
E ainda levantamos o nobre argumento do livre arbítrio, segundo o qual temos todos nós, o direito analienável, inquestionável e irrecorrível, de fazer aquilo que nos vem à cabeça e, caso haja alguma proibição àquilo que desejamos fazer, muito seguramente esta proibição precisa ser revista, urgente de preferência.
E daí o brasileiro segue furando sinal de trânsito (pra quê ficar parado se não está passando nenhum carro nem pedestre?), dando gorjeta pro guarda (alivia aí, chefia!), fazendo corpo mole no trabalho (se meu salário é igual no fim do mês, vou ralar pra quê?), desviando 10% (ou mais, bem mais) para as “causas” do partido político, dirigindo pelo acostamento (só eu estou com pressa), chegando atrasado ao trabalho (esse negócio de horário de trabalho está ultrapassado), furando fila (não notei que tinha fila…!), estacionando em vaga de idoso (é rapidinho!), parando na faixa de pedestre (fechou em cima), fechando o cruzamento no sinal fechado (já vai andar…), criticando quem faz tudo isso (apesar de também fazer), bebendo só um choppinho antes de dirigir (vejo a blitz da “Lei Seca” pelo Twitter), atrasando a consulta do paciente (o médico não pode esperar, mas o cliente pode?!), desrespeitando o conjunto da sociedade (portanto a si próprio), se isso significar a conquista de alguma vantagem pessoal.
Dizem que o brasileiro não tem auto-estima, quando na verdade sua auto-estima é tão alta, tão exacerbada, um amor próprio que beira o egoísmo, ao ponto de privilegiar a si mesmo sobre todas as outras pessoas, sobre o conjunto da sociedade.
Daí a questão de que as normas, regras, leis etc, em especial as proibições, não pegam no Brasil, quer dizer, “não pegam pra mim, mas deveriam pegar pros outros…”, exatamente como parece agir a maior parte da sociedade brasileira.
Como mudar isso? Não tenho a fórmula, mas sempre que penso nisso (e esta não é a primeira vez que escrevo sobre o tema), lembro daquela história do garoto que, diante da areia de uma praia repleta de milhares de estrelas do mar, torrando ao sol após terem sido deixadas pela ressaca da noite anterior, começou a recolher e lançar, uma a uma, de volta ao mar.
Ao ser perguntado se aquela ação individual de salvar as estrelas do mar, uma a uma, faria alguma diferença, diante de milhares que ele não conseguiria salvar, simplesmente respondeu, após lançar mais uma estrela de volta ao mar:
– “Para esta estrela, fez diferença…”
E prosseguiu devolvendo as estrelas ao mar, em seu esforço pessoal para salvá-las, focando simplesmente em fazer o que estava ao seu alcance.
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