COMPRA DIRETA DE BILHETES AÉREOS PELO GOVERNO FRACASSA

Ainda na linha do “Eu queria tanto ser agente de viagens”, o governo do PT também inventou de montar sua própria agência de viagens federal em 2014, para a gestão de viagens corporativas dos servidores públicos.

Os primeiros dados, relativos a 2015, demonstraram claramente que não está funcionando a mirabolante estratégia do governo do PT de excluir as agências de viagens corporativas da gestão das viagens dos servidores federais, um projeto arquitetado ainda na época do ex-ministro Paulo Bernardo, aquele que foi preso e agora responde em prisão domiciliar como principal responsável por desvios nos empréstimos consignados aos funcionários públicos.

Equivocada a afirmação dos técnicos do ministério, no início deste ano, de que o governo “economizou R$ 96,2 milhões em bilhetes aéreos” quando a verdade é que os servidores federais reduziram 28,7% as viagens aéreas em 2015 em relação ao mesmo período de 2014 e isso não foi decorrente da compra direta, mas da crise econômica, ética e política gerada pelo próprio governo federal.

Considerando os dados apresentados, bem ao contrário da “economia” informada, o MPOG pagou mais, em 2015, por menos bilhetes, já que em 2014 o governo pagou o preço médio de R$ 693,41 por bilhete aéreo, contra R$ 702,76 em 2015.

Acrescente-se a isso o fato do governo ter delegado à central de compras do governo federal, a aquisição de passagens aéreas, contratando profissionais (ou desviando servidores de função) para executarem atividades típicas de empresas privadas (agências de gestão de viagens corporativas), a um custo seguramente muito maior para os cofres públicos.

Central de compras do MPOG não tem a eficácia das agências de viagens corporativas
Central de compras do MPOG não tem a eficácia das agências de viagens corporativas

Ou seja, devido à exclusão das agências de viagens, o Ministério do Planejamento passou a pagar mais caro por um serviço que todas as empresas privadas já descobriram como gerir, com tecnologia adequada operada por agências especializadas em gestão de viagens corporativas.

Este caso, que não passou despercebido às associações, ABAV à frente, é uma ocorrência clássica de estatização de uma atividade econômica privada, uma iniciativa que só poderia ter ocorrido em um governo que pregava e aplicava um crescente aparelhamento do Estado, mesmo que desafiando a lógica e o interesse econômico da sociedade brasileira.

Coincidência ou não, a área responsável pelo desenvolvimento deste projeto de estatização, foi a Assessoria Especial para Modernização da Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, cujo titular à época era Valter Correia da Silva, que comandou a “modernização” da gestão do MPOG, de nov/2012 a fev/2015, quando saiu para assumir a Secretaria Municipal de Gestão do prefeito Fernando Haddad.

Governo do PT estatizou a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG
Governo do PT estatizou a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG

Hoje, o ex-assessor do ministro Paulo Bernardo e ex-secretário do prefeito Haddad é um dos presos na Operação Custo Brasil, que apura desvios de mais de R$ 100 milhões em propinas, entre 2010 e 2015, de contratos no Ministério do Planejamento, relacionados a serviços do sistema de empréstimos consignados aos servidores federais.

Como eu disse, o mais provável é que tenha sido mera coincidência o fato de que a iniciativa de “modernização” (que culminou com a estatização do agenciamento de viagens e resultou em preço médio de passagem mais caro), tenha sido implementada pelo mesmo assessor especial e pelo mesmo ministro que estão presos por outro projeto de “modernização” de gestão, o dos empréstimos consignados, este também alardeado como uma iniciativa de grande alcance social, com um sistema de controle que traria muitas vantagens para a administração pública…

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HOTEL x AGÊNCIA: O JOGO VIROU ??

Leio, releio e analiso as inflamadas opiniões das associações da hotelaria e, antes mesmo de tecer algum juízo de valor a respeito da atitude do Decolar, não consigo deixar de observar o mais curioso dessa história: o jogo virou !

Os fornecedores de serviços de viagens, cias. aéreas e hotéis à frente, sempre foram a locomotiva da atividade de viagens e turismo e, por isso, sempre estabeleceram as regras do jogo unilateralmente, em especial as comissões a serem pagas aos agentes de viagens e esses tinham que se adequar, buscar, negociar ou encontrar maneiras de sobreviver num negócio em que sempre foi considerado como custo comercial.

Agora, finalmente, temos uma agência de viagens dizendo quanto quer receber de comissionamento !

Na verdade, o boicote ao Decolar e outras OTAs esconde uma realidade inversa, pois foi o Decolar quem afirmou antes: quem não me pagar 22% de comissão, está fora da minha disponibilidade !!!

Sei das dificuldades que os hotéis estão passando, que infelizmente não devem melhorar após os Jogos Olímpicos…, mas a rigor, quem escolheu este caminho, de privilegiar alguns poucos canais, foram os próprios hotéis.

Quando o mercado está quente, a hotelaria escolhe com quem trabalhar, para quem paga comissão ou incentivo, simplesmente manda no pedaço e estabelece as regras do jogo. Afinal, sai muito mais barato gerenciar a oferta em 10 ou 20 agências do que em 100 ou 200, ou mesmo em 2.000 ou 3.000 agências de viagens…

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Pelo mesmo motivo, as cias. aéreas optaram, há muitos anos, em concentrar sua distribuição em consolidadores, pois é mais fácil e garantido gerenciar a distribuição através de 10 ou 20 agentes consolidadores do que distribuir por milhares de agências de viagens.

O fato dos hotéis terem ficado dependentes das OTAs é uma consequência óbvia de uma decisão estratégica equivocada, dos próprios hotéis, ao longo dos últimos 10 anos.

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Não dá é pra achar que esta é uma questão a ser resolvida no tapetão ou com discursos inflamados, pois o único caminho é sentar e negociar, com sabedoria, humildade e conhecimento das regras de mercado.

A quem não tem bom jogo não mão, recomenda-se não pagar para ver…

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CONTRATAR OU MONTAR UMA AGÊNCIA DE VIAGENS CORPORATIVAS?

Antes mesmo do crescimento da internet, muitas pessoas tinham o desejo “secreto” de ser agente de viagens, fosse para atender a família, amigos ou até mesmo para si próprio.

Pesquisar e planejar viagens de férias é o prazer de muita gente, normalmente pessoas que confundem o ato de viajar com a atividade profissional especializada do agente de viagens.

O ato prazeroso de planejar viagens é diferente do trabalho profissional do agente de viagens
O ato prazeroso de planejar viagens é diferente do trabalho profissional do agente de viagens

Provavelmente advindo daí, de tempos em tempos assistimos este movimento ocorrer também nas empresas, quando um grupo de funcionários assume o papel de agência de viagens e atua em substituição ao trabalho especializado de uma TMC.

O mais curioso sobre isso é a interpretação de que este movimento revela uma tendência das empresas aderirem à compra direta junto aos fornecedores de serviços de viagens ou que o “open booking” ainda encontra espaço nas empresas.

Num caso recente, que chegou a atrair o interesse da imprensa, um gestor de viagens (que trazia experiência anterior como ex-funcionário de TMC), conseguiu convencer sua diretoria a estruturar um departamento de viagens para assumir todas as demandas da companhia, e desta forma, “economizar” na contratação de uma agência.

A matéria divulgava que a empresa abriu mão de contratar uma TMC e operava todos os serviços diretamente junto aos fornecedores e, para isso, contava com 6 profissionais (!!!) especializados em reservas e emissão de bilhetes aéreos, hospedagens e gestão de viagens…

Ou seja, a empresa deixou de contratar uma TMC, para contratar 6 profissionais (mais o executivo que liderou o processo), absorvendo portanto um custo muito maior do que uma TMC cobraria por serviços especializados, pois uma equipe com 7 profissionais dedicados, incluindo seus custos diretos e indiretos, seguramente custa o dobro do que a consultoria de uma agência especializada, para o volume daquela empresa.

Tiro no pé…

Da mesma forma que este, outros casos similares escondem o desejo de alguns profissionais de empreenderem como agentes de viagens corporativas, que assim o fazem sob a proteção de uma empresa-cliente que lhes garante o ofício e minimiza os riscos.

Sinto que lhes sobra capacitação mas falta o gosto pelo risco, o arrojo de empreender, o espírito de “dono”, como diria o Jorge Paulo Leman.

Como toda iniciativa empreendedora, o maior desafio de uma agência de viagens é conquistar e manter uma carteira de clientes
Como toda iniciativa empreendedora, o maior desafio de uma agência de viagens é conquistar e manter uma carteira de clientes

O governo do PT, sob a batuta do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo (este mesmo envolvido nas maracutaias do crédito consignado aos funcionários públicos), teve iniciativa semelhante, ao criar uma central de compra de bilhetes aéreos com a principais cias. aéreas nacionais, com quem celebrou acordos comerciais para venda direta.

Neste caso, o governo federal alardeou que “economizou” na contratação de agências de viagens formalmente estabelecidas, ao optar pela utilização de funcionários públicos para realizar, com a ineficácia conhecida, as mesmas atividades das TMCs.

Outro tiro no pé…

Na ânsia de mitigar o que consideram ser um custo de comercialização dispensável, tanto as empresas quanto o governo acabam por gerar uma despesa muito maior e sem a mínima contrapartida da eficácia, da economia e dos resultados obtidos pelas agências de gestão de viagens corporativas.

Esses movimentos são cíclicos, acontecem de tempos em tempos, mas em algum momento essas empresas, públicas e privadas, percebem o erro estratégico que cometem e voltam a contratar agentes de viagens especialistas, as TMCs, reduzindo assim seu custo global de contratação e permitindo que foquem efetivamente no seu negócio principal.

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