BANDO DE IMPERIALISTAS !

A compra do Linkedin pela Microsoft, assim como em casos anteriores de aquisições bilionárias no setor de tecnologia, nos remete àquele jogo de mesa chamado WAR, em que os jogadores recebem uma quantidade limitada de recursos e estabelecem suas estratégias para conquistar territórios em um mundo loteado em regiões, sob determinadas regras conhecidas por todos.

Essas estratégias envolviam sigilo, dissimulação, ataques diretos, alianças, investimentos, agressividade, recuo estratégico, entre outras táticas comuns na guerra, nos negócios e na vida.

A aquisição do Linkedin pela Microsoft, por si só, não é tão surpreendente assim, considerando que entre os gigantes imperialistas da tecnologia (e são poucos) a Microsoft é a que tem mais claramente demonstrado sua vocação para dominar o território corporativo.

O sinal mais significativo deste movimento é o que foi destacado pelo Michel Lent Schwartzman no texto abaixo, publicado no próprio Linkedin, em 08/06/2016.

A ERA DOS IMPÉRIOS DA INTERNET

Por Michel Lent Schwartzman
June 8, 2016

Se por um lado a internet democratizou os meios de publicação e pode ser considerado um território livre, por outro lado, cada vez mais ela se prova como uma terra de gigantes e de monopólios. De verdadeiros impérios.
Senta que lá vem a história.

No início dos anos 1990 a internet nos EUA era a America Online. (AOL). Ou era a Prodigy. Ou a Compuserve. Estes eram os principais bulletin board systems, os famosos BBSs, precursores de tudo o que veio depois.

America Online já foi um dos grandes impérios da internet
America Online já foi um dos grandes impérios da internet

Os BBS eram reinados. Comunidades fechadas, com notícias, jogos, mensagem entre usuários, fotos. Assim, tipo Facebook, sabe? Com a diferença que você precisava pagar para assinar estes serviços e não havia forma de sair deles para a internet.

No Brasil existiam alguns BBSs também. Eram poucos. Éramos muito poucos usando este tipo de sistema. Você ligava o computador, pegava o seu modem de 2400 bps, ligava na linha telefônica, ouvia aquele ruído peculiar de conexão e entrava num destes sistemas.

Modem para acesso à internet via conexão telefônica discada...
Modem para acesso à internet via conexão telefônica discada…

Nesta época, já existia a internet livre, que te permitia acessar diversos sistemas, mas só era possível fazer através de comandos de texto e havia muito pouco pra se conhecer. O que deixava tudo muito desinteressante.

Daí, entre 91 e 94, o mundo começou a conhecer a Web. A World Wide Web era uma forma de navegar pela internet através de imagens, textos e links. Construída em cima da estrutura da internet, a Web nos permitia total liberdade e tudo parecia que ia ser assim.

Mas era uma época em que menos de 0,5% da população mundial tinha acesso , e que com o passar dos anos foi crescendo a velocidades estonteantes (hoje estamos em quase 50% de penetração global).

Com o passar do tempo vieram os buscadores de site (imagine que antes não dava pra encontrar um site sem saber o endereço), primeiro os catálogos como o Yahoo! (e o Cadê? no Brasil) e em seguida os buscadores mesmo como o precursor Altavista e, a partir do final dos anos 90, o Google.



O Cadê? foi o maior catálogo de internet do Brasil, por onde toda busca começava
O Cadê? foi o maior catálogo de internet do Brasil, por onde toda busca começava

A partir dos buscadores e de todas as outras opções que a internet oferecia, os serviços como AOL e demais BBSs, os primeiros reinados, começaram a perder a relevância e se tornaram profundamente desinteressantes e restritos, perto de toda a internet livre que tínhamos pra acessar.

Muitos BBSs se transformaram em provedores de acesso à internet e a maioria foi fechando ou sendo comprada com o passar dos anos.

Vimos então chegar a era dos blogs, dos sites, e a internet parecia realmente estar tomando um curso de boa distribuição e forças equilibradas. Ainda havia grandes concentradores de audiência (como os portais), mas nossa jornada online era pulverizada em inúmeros sites diferentes.

Entretanto, depois de alguns poucos anos, o fenômeno voltou a ocorrer. A partir do final dos anos 2000, novas plataformas gigantes começaram a se formar e a audiência mundial da internet voltou a se concentrar em poucos e grandes impérios, separados nesta nova fase em temas.

– Videos no Youtube.
– Pesquisa e ferramentas de produtividade no Google.
– Fotos com celular no Instagram.
– Mensagens curtas no Twitter.
– Rede profissional no LinkedIn.
– Textos mais profundos no Medium.
– Amigos, notícias e todo o demais no Facebook.
– E mais o mobile com seus apps.

98% das buscas de vídeos na internet passam pelo Youtube
98% das buscas de vídeos na internet passam pelo Youtube
 
Faça uma lista dos sites e/ou que você acessa todos os dias e vai perceber que não vão passar de 5. Sua comunidade de amigos. Notícias. Serviços financeiros. Shopping.

Por força do hábito, característica humana, ou apenas preguiça, apesar de termos toda a internet ao nosso dispor hoje em dia, voltamos a nos comportar basicamente como fazíamos na época da AOL e concentrando nosso tempo e atenção em alguns poucos canais. Agora, não mais por falta de opção. Talvez justamente pelo excesso de coisas pra escolher, acabamos nos acostumando e ficando com apenas alguns.

E na medida em que nos concentramos em poucos sites, fortalecemos estas empresas, criando verdadeiros gigantes capazes de comprar tudo e todas, que vão se tornando cada dia maiores, mais complexas e mais monopolistas.

Se nos anos 90 já tínhamos uma concentração grande, a atual concentração de pessoas em uma mesma plataforma é uma situação absolutamente sem precedentes, criando discussões inéditas, como que efeito sobre o humor da população mundial pode ter uma simples mudança de algoritmo que define o que é mostrado no mural das pessoas numa rede social.

Pense que hoje o Facebook hoje pode ser considerado o pais mais populoso do mundo, com 1,65 bilhão de “habitantes” (a China tem 1,3 bilhão de habitantes).

Se o Facebook fosse um país, teria mais "habitantes" do que a China...
Se o Facebook fosse um país, teria mais “habitantes” do que a China…

Isso faz de Mark Zuckerberg (e líderes de outros gigantes) verdadeiros imperadores romanos dos tempos modernos cujas decisões têm impactos em centenas de milhões de pessoas em todas as partes do mundo.

É claro que empresas desta natureza não são comandadas por um único indivíduo. Conselhos, decisões conjuntas e toda espécie de sistemas de decisão compartilhada são perseguidas, justamente para evitar tanta responsabilidade nas mãos de poucos, mas ainda assim o mundo cada vez mais se vê concentrado nas mãos de muitos poucos players, cujas decisões não conhecem fronteiras e cada vez mais expandem seu alcance. E da mesma forma que estão estabelecidos hoje, amanhã pode ser que não existam mais.

Assim como outros impérios que a história do mundo já viu.

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Obs.: Raramente publico texto de outros autores e, quando o faço, é porque considerei o texto interessante, com conteúdo relevante e oportuno, merecedor da atenção dos leitores do Blog B2B Tech. É o caso deste texto, originalmente postado no Linkedin por Michel Lent Schwartzman

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VENDA DIRETA: ESPERNEAR NÃO ADIANTA

Em agosto de 2015, publiquei um post – Distribuir Hotel Virou Festa de Rua – sobre a crescente participação de consolidadores na distribuição hoteleira, como sendo parte de um movimento crescente de pulverização da distribuição, tendência que eu já havia antecipado em 2010 no primeiríssimo post – Tendências do Turismo – que escrevi, ainda no saudoso Blog Distribuindo Viagens, no qual relacionei 6 vatícinios, entre os quais esses 4 que reproduzo abaixo:

– A desintermediação continuará, pressionada pelos interesses comerciais dos prestadores de serviços turísticos e também pelo desejo do consumidor.
– As agências de viagens se reinventarão e agregarão valor ao seu serviço, mantendo sua importância no negócio.
– A distribuição das cias. aéreas incluirá todos os meios, de todos os tipos, diretos e indiretos, portais próprios, webservices, GDS, sistemas integradores, consolidadores, operadores e agentes de viagens, entre outros.
– A internet continuará sendo um catalisador de mudanças e um agente revolucionário para os negócios.
Algumas dessas previsões podem ser conferidas em 2011, enquanto outras farão mais sentido se forem verificadas a partir de 2015.

No cenário atual, operadoras avançam na venda ao passageiro final, agências de viagens montam e operam pacotes para este mesmo passageiro, consolidadores de bilhetes aéreos distribuem reservas hoteleiras, brokers de hotelaria vendem direto às empresas, agências de lazer e operadoras participam de concorrências de empresas e órgãos de governo, agências de viagens corporativas diversificam na venda de viagens de turismo, enquanto o verdadeiro desafio para todos esses players continua sendo a venda direta do fornecedor (cias. aéreas e hotéis etc.) ao passageiro final.

Agências de viagens, operadoras, consolidadoras, "brokers" de hotelaria etc. estão todos atrás do mesmo cliente e os fornecedores (cias. aéreas, hotéis etc.) seguem investindo na venda direta
Agências de viagens, operadoras, consolidadoras, “brokers” de hotelaria etc. estão todos atrás do mesmo cliente e os fornecedores (cias. aéreas, hotéis etc.) seguem investindo na venda direta

Embora a evolução da desintermediação seja inexorável (em nossa atividade e em qualquer outra), o agenciamento profissional, aquele que realmente agrega valor à reserva e emissão do serviço, tende a perpetuar-se, seja para a viagem de turismo ou para a viagem corporativa.

E é este valor agregado que garante que a agência de gestão de viagens corporativas seja encarada mais como uma empresa de gestão do que de viagens, pois neste caso a gestão é o valor agregado ao serviço de agenciamento, atualmente realizada com apoio da tecnologia pela totalidade das TMCs (Travel Management Companies) em operação no Brasil.

Da mesma forma, é a consultoria antes, durante e após a viagem que agrega valor ao agenciamento de viagens de turismo, e a forma de fazê-lo vem mudando muito ao longo dos últimos anos, como o Henrique Santiago abordou em duas interessantes matérias do Portal Panrotas: 7 dicas para jovens agentes que querem mudar o mundo e Millenials quebram modelo tradicional de viagens.

É aquela verdade absoluta de que não adianta espernear, pois só existe uma forma de concorrer com a venda direta do fornecedor de um produto ao consumidor final deste produto, uma verdadeira luta de Davi contra Golias: “Ofereça ao cliente um serviço melhor e mais completo do que o fornecedor.”

A concorrência do agente de viagens com a venda direta pelos fornecedores (cias. aéreas, hotéis etc.) só pode ser enfrentada com inteligência, estratégia e qualidade de serviço.
A concorrência do agente de viagens com a venda direta pelos fornecedores (cias. aéreas, hotéis etc.) só pode ser enfrentada com inteligência, estratégia e qualidade de serviço.

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O PROGRAMADOR É ARTISTA OU TÉCNICO?

Taí um tema que encontra múltiplas e variadas versões, opiniões e experiências, em especial se confrontarmos escolas de gestão distintas.

Não há uma verdade única, mas há interessantes argumentos por (A) quem defende a codificação como uma atividade criativa análoga à arte, como pintar um quadro ou esculpir uma escultura, e (B) os que defendem que a produção de software, enquanto business, mais se assemelha à construção de um produto, como uma linha de montagem de um automóvel, por exemplo.

Segundo os defensores do conceito A, enquanto artistas, os desenvolvedores não devem ser pressionados com relação ao cumprimento de uma jornada fixa de trabalho, da mesma forma que a definição de prazo para conclusão de um projeto acaba por atrapalhar seu processo criativo.

Programadores seriam como artistas que esculpem uma obra de arte a partir do nada
Programadores seriam como artistas que esculpem uma obra de arte a partir do nada

Para os que percebem o software como um produto (segundo o conceito B), cuja construção aproxima-o mais das ciências exatas do que das artes, a etapa de alta criatividade está mais no projeto que antecede a montagem, e a codificação em si deve ser realizada por times com conhecimento das melhores técnicas, com método, processo e disciplina.

Profissional criativo é desejável em qualquer atividade, mas não é mandatório que todo programador seja criativo, desde que ele domine as técnicas mais atualizadas de programação para o projeto que esteja desenvolvendo.

Ou como diria o Sidney Lima Filho, especialista no tema:

– “Programar é igual a pintar, nem todo pintor é criativo, mas existem grandes obras de arte que são pinturas. Antes de me pedir para não ter horário, mostre-me o seu quadro. Criatividade é a habilidade de criar sistematicamente. Se você só cria de vez em quando, então você não é criativo, apenas teve algum rompante de criatividade. Programar é uma atividade criativa, portanto a qualidade da sua solução também reflete sua capacidade criativa.”

Ainda na ótica de quem acredita no conceito B, a criatividade na codificação se aproximaria das soluções que um engenheiro criativo aplica à linha de montagem, buscando melhor resultado do que aquele previsto no projeto original.

Neste caso, o conceito de times coesos, trabalhando juntos, no mesmo local e no mesmo horário, fazem muita diferença na produtividade, na eficácia e, por conseguinte, nos resultados alcançados na produção de software, em especial em projetos de grande porte.

Um trabalho que depende de uma equipe e no qual há uma interdependência de etapas, de compartilhamento de conhecimento e troca de experiências, seguramente terá melhores produtividade, eficácia e resultado, se toda a equipe trabalhar junta.

Programadores atuando como um time, trabalhando juntos no mesmo local e no mesmo horário, produzem software com maior produtividade, eficácia e resultados
Programadores atuando como um time, trabalhando juntos no mesmo local e no mesmo horário, produzem software com maior produtividade, eficácia e resultados

Ou seja, um time que desenvolve software de forma compartimentada, em que cada desenvolvedor é responsável por determinada funcionalidade ou trecho do código, será mais produtivo, eficaz e atingirá melhores resultados se todos atuarem no mesmo local e no mesmo horário.

A disciplina é mesmo um componente fundamental nesse tema e quando me refiro à comunicação presencial, destaco standup meetings diários, espírito de equipe, motivação pela criação compartilhada com amigos e colegas e reuniões de projeto, que é o que fazem o que chamo “team commitment”.

Entre produtividade ou eficácia definitivamente fique com os dois, mas atente que é um grupo de profissionais atuando juntos que impactará diretamente a conquista de resultados.

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