OPERADORAS CORPORATIVAS?

Sabemos que cada segmento do agenciamento de viagens tem suas especificidades.

Também sabemos que as agências de viagens corporativas são especializadas no atendimento das demandas de empresas e de seus colaboradores em viagens a trabalho.

Ao longo do tempo, com a busca de maior rentabilidade pelas cias. aéreas, a redução e o corte de comissões levaram as chamadas TMCs a buscarem formas alternativas de remuneração, sendo o “transaction fee” (taxa por transação) a mais usual e aceita pelos clientes, o que acabou por transformá-la em padrão de mercado.

Já as operadoras de turismo são agências de viagens que montam pacotes de serviços de turismo (bilhete aéreo + hotel, por exemplo) e vendem ao consumidor final ou distribuem através da grande rede de agências de viagens.

Como as operadoras trabalham colocando um “markup” sobre os “preços de operadora” que recebem das cias. aéreas e dos hotéis, elas são conhecidas (e de certa forma invejadas) por terem liberdade de “fazer o seu próprio preço”.

Com margens de remuneração (comissionamento, DU, RAV, “transaction fee” etc.) cada vez menores e os descontos (acreditem!) cada vez maiores, não ia demorar mesmo até que algumas agências corporativas tivessem a ideia de também “fazer o seu próprio preço”…

Até aí nada demais, desde que na disponibilidade de voos informada, esteja transparente para o cliente o que é tarifa aérea e o que é a RAC (Remuneração do Agente Corporativo).

Não pode é a cia. aérea cobrar tarifa de 500,00 e o sistema da agência informar 600,00 como se fosse esta a tarifa da cia. aérea…

Neste caso o correto é informar:
Tarifa = 500,00
RAC = 100,00
Taxa = 37,00
Total = 637,00

A tentativa, mesmo por omissão, de ludibriar o cliente juntando a tarifa ao “markup”, é uma fraude que algumas agências corporativas estão se arriscando ao fazer.

Este tipo de comportamento lembra o das agências que cobram “transaction fee”, mesmo recebendo a DU sem repassá-la ao cliente…

Agindo de forma clara e transparente, informando abertamente o seu preço, o procedimento da agência corporativa de estabelecer o seu “markup” sobre uma tarifa neto, pode transformar-se em tendência, na exata medida em que o agente de viagens busca, de forma legítima, formas legais de remuneração ao serviço que presta.

Na verdade, colocar um “markup” sobre tarifas aéreas, remete ao hoje pouco utilizado “management fee” em que a agência de viagens corporativas cobra um valor percentual sobre as tarifas dos serviços contratados.

Resta saber a competitividade de tarifas aéreas que se transformam em preços de agência de viagens, após acrescida sua margem de rentabilidade.

Uma coisa é certa: o cliente corporativo saberá escolher.

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QUASE UMA SEITA…

72 pessoas acordaram numa manhã de sábado de sol de verão, pegaram seus carros ou foram de taxi, alguns haviam voado de outras cidades na véspera, para entrar em um grande salão, onde permaneceram fechadas, das 9:00h às 17:00h, quase sem contato com o mundo exterior.

Não, não era um “reality show”, era “reality life”…

72 voluntários dedicaram um dia inteiro em prol do aprimoramento do mercado em que atuam, a indústria de eventos e viagens corporativas.

72 profissionais que assistiram e participaram, debateram e refletiram, ensinaram e aprenderam, compartilharam conhecimentos de forma focada e descontraída ao mesmo tempo.

Segmentados em 11 comitês, 72 clientes (gestores de viagens), agentes de viagens (TMCs), cias. aéreas, hotéis, locadoras e transportadores terrestres, sistemas integradores, de gestão de viagens (SGVC) e de distribuição global (GDS), especialistas em eventos, incentivos, meios de pagamento, consultores, outros profissionais e associações da indústria de eventos e viagens corporativas, estavam juntos com a mesma motivação.

Ali, naquele 02/02/2013, esses 72 profissionais, de todas as idades, com diferentes experiências e variadas opiniões, assinaram a ata de constituição de uma nova associação internacional e, assim, tornaram-se fundadores da ALAGEV – Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativos.

Durante o coffee-break, observei aquelas pessoas e imaginei como era extraordinário participar de tudo aquilo, daquela motivação, daquela certeza de fazer algo positivo por um propósito comum, sem interesses pessoais ou objetivos comerciais, apenas “por acreditar na causa”.

Eu estava mesmo imerso nesses pensamentos, quando a Patrícia aproximou-se e murmurou baixinho: “É quase uma seita…”

É isso, uma seita, mas não uma seita secreta. Bem ao contrário, a ALAGEV é uma seita aberta, transparentemente escancarada a todos que comungarem com os princípios do voluntariado, da integridade e da paixão por gestão de eventos e viagens corporativas.

Durante o almoço, fiquei pensando no privilégio de participar da diretoria executiva de uma associação com essas características e, em especial, na responsabilidade de ser o seu primeiro vice-presidente, tendo Viviânne Martins como presidente e Alexandre Pinto como diretor financeiro.

E lembrei de como os conselheiros Ana Panneitz, Patricia Thomas, Eliane Taunay, Eduardo Murad, Rodrigo Cezar, Walter Teixeira, João Bueno e Paulo Daniel, também fazem o possível e o impossível, para multiplicar seu tempo para apoiar a Aline Bueno e o Paulo Amorim, incansáveis na missão de gerenciar (e realizar) a associação, junto com toda a equipe.

Neste momento, fui surpreendido por uma fotógrafa, que apontou seu mini-iPad na direção de nossa mesa e dirigiu a foto, pedindo que todos sorrissem, “pois o dia estava lindo lá fora…”

Era Chieko Aoki, que veio ver de perto o que acontecia por ali, no Villa Noah, e aproveitou para registrar (foto abaixo) aquele momento, enquanto almoçava conosco.

Fundacao Alagev - Encontro de Comites Villa Noah
Fundação da ALAGEV - Almoço no Villa Noah no Encontro de Comitês 02/02/2013

O voluntariado tem disso, atrai, contagia e congrega…

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CABEÇA DE DONO…

Esta é uma expressão típica do conceito de meritocracia, incutido na cabeça de trainees e jovens executivos que se interessavam por disputar uma vaga em uma das empresas dos fundadores do Banco Garantia, nos anos 80.

Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, em sociedade e liderados (ou inspirados) por Jorge Paulo Lemann, criaram um império econômico graças ao seu talento individual e capacidade nata de identificar, motivar e extrair o máximo de jovens e promissores profissionais.

Criaram e seguiram à risca um modelo próprio de gestão, que prega a busca incessante de eficácia, através de metas cada vez mais agressivas, de produção, de automação de processos, de economia e de redução de custos.

A teoria do “fazer mais com menos” foi levada ao extremo do “fazer sempre mais e mais, com cada vez menos e menos”, numa filosofia de que o resultado está acima de tudo, não importando os meios para alcancá-lo, tese que eles sempre praticaram em suas próprias vidas, sempre com muito sucesso, diga-se de passagem (pelo menos naquilo a que se propõem).

No fundo, a ideia dos caras sempre foi baseada no velho Reco-Reco (Reconhecimento gera Recompensa), com metodologia criteriosa de medição de resultados versus generosa premiação pelas metas superadas, apoiado por um discurso bem estruturado, aceito e disseminado nos meios acadêmicos na época (e ainda hoje) associado a uma penca de exemplos de virtuosos e bem sucedidos jovens seguidores.

Um dos conceitos fundamentais deste pensamento considera que o profissional deve pensar e agir como sócio da empresa, para sempre buscar os melhores resultados para a companhia, dia e noite, todos os dias, ano após ano, muitas vezes (quase sempre) abdicando de seu tempo livre, de momentos de lazer, da companhia de amigos e da família: afinal, os resultados devem estar em primeiro lugar.

Para os líderes de uma empresa cuja estratégia de gestão é baseada na meritocracia, não importam os motivos, sejam quais forem, que levaram uma equipe, ou um integrante da equipe, a ser bem ou mal sucedido em determinado objetivo ou projeto.

Para essa corrente de gestores, o que importam são somente os resultados em si, o resto é puro discurso humanista, numa corruptela dos “fins que justificam os meios” que faria corar o mais rigoroso seguidor dos 5 sigmas japoneses…

Aliás, essa conceituação de que o bom profissional tem que ter “cabeça de dono”, não resiste a uma análise mais detalhada no mundo real à nossa volta, que não garante que responsabilidade, empenho e comprometimento sejam exclusividade de sócios de empresas.

Conheço inúmeros profissionais em nosso mercado que não precisam ser donos do negócio para pautarem seu procedimento profissional como exemplo de motivação, empenho e resultados, e nem por isso pode-se dizer que têm “cabeça de dono”.

Na verdade, eles têm “cabeça de profissional competente”, o que, aliás, é o que se espera de um profissional quando ele é contratado: que aja sim com cabeça de dono…, mas dono de sua própria carreira.

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