O QUE AINDA NOS RESERVA O SÉCULO XXI

Bolei este título alternativo para este post, porque concordei com Solange, que não gostou do título que imaginei originalmente:

O IMPACTO DAS RUPTURAS PARAMETRAIS NA PROSPECTIVA CIENTÍFICA

“Somos obcecados pelo futuro, porque temos medo dele.”
Clemente Nóbrega

Não, não estou com pressa deste século terminar, afinal ele mal começou…

Sobre isso, admito que tenho grande interesse pela prospectiva científica, este exercício de gerar visões de futuro, antecipar oportunidades e antever potenciais ameaças, apontando prioridades e tendências, prática fundamental para o processo de inovação em qualquer atividade econômica.

Como bem definiu Horton (1999) a previsão do futuro, ou prospectiva, é “o processo de desenvolvimento de visões de possíveis caminhos nos quais o futuro pode ser construído, entendendo que as ações do presente contribuirão para a construção da melhor possibilidade do amanhã”.

Ou ainda, como afirmaram Hamel e Prahalad (1995) “a previsão do futuro precisa ser fundamentada em uma percepção detalhada das tendências dos estilos de vida, da tecnologia, da demografia e geopolítica (fatores tangíveis), mas se basear igualmente na imaginação e no prognóstico (fatores intangíveis)”.

Portanto, não se trata de tentar prever objetivamente fatos futuros, mas incrementar a capacidade de inovar para caminhos escolhidos, objetivando preparar o momento presente com perspectiva estratégica para a construção do futuro.

O conhecimento, as informações e percepções colhidas ao longo da análise prospectiva são utilizados para planejar, montar estratégias e decidir, além de diminuir as incertezas sobre o futuro.

Aliás, o interesse pelo futuro tem um longo passado, com registro nas mais antigas civilizações, cujas teorias (quase profecias) foram substituídas, em nosso tempo, por uma prospectiva com base científica, que costuma limitar seu horizonte de previsibilidade a 20 ou 25 anos, objetivando manter uma fundamentação razoável, cujas variáveis não fiquem refém do que se costuma chamar de rupturas parametrais, que são eventos que podem prejudicar o resultado da previsão científica, mas que, justamente por isso, são variáveis fundamentais para qualquer dinâmica de futurologia para este século que inicia.

Por isso, para uma prospectiva mais longa, como esta que farei para os 88 anos remanescentes deste século, percebo 6 potenciais rupturas parametrais, as quais, como dito, podem comprometer qualquer análise sobre o futuro da humanidade:
1 – A ruptura ambiental
2 – A ruptura econômica
3 – A ruptura social
4 – A ruptura demográfica
5 – A ruptura de valores
6 – A ruptura de poder

Obs.: Nos próximos posts, detalharei cada uma dessas 6 rupturas parametrais, para, em seguida, apresentar as macro tendências mundiais para 2020, 2030 e 2050, períodos que são objeto de minhas pesquisas e análises.

[continua no próximo post…]

Referências e fontes de pesquisa:
. Helio Jaguaribe: Brasil e Mundo na Virada do Século (Iuperj, 1996)
. Jim O’Neill: Entrevista à BBC Brasil (Goldman Sachs, 1999)
. Sam Martin: Envisioning Your Future in 2020 (Design Mind, 2010)
. World Future Society: Envisioning Life in the Year 2100 (The 22nd Century at First Light, 2012)

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FAZENDO COMPRAS EM 2020

Vabo Júnior tornou-se especialista em e-commerce, focado em sites de varejo, um mercado que não para de crescer no Brasil e no mundo.

Diretor da Sieve, empresa de inteligência em precificação, ele acompanha as tendências, as inovações, as oportunidades, tudo sobre o assunto “venda pela internet”.

Frequentemente, ele me envia dicas do que está acontecendo no exterior nesta área, novidades, curiosidades, inovações e mudanças de comportamento do consumidor, material que usamos para analisar e discutir nossas visões (nem sempre coincidentes) nos almoços de domingo, uma prática que nunca planejamos, mas que acontece naturalmente e acaba por se tornar uma rica fonte de referências.

O mais recente material que ele enviou-me sobre o que chamo “tecnologia de compra” foi este vídeo abaixo, que ilustrava um artigo sobre “The future of shopping…”

Trata-se de um protótipo em testes em algumas lojas da rede norte-americana Whole Foods, de um carrinho de supermercado dotado de um Kinect, da Microsoft, que além de seguir o cliente ao longo dos corredores e gôndolas da loja, ainda conversa e dá dicas e informações sobre os produtos que são colocados no carrinho (tipo de produto, marca, peso, origem, validade, preço etc).

No final, o carrinho de compras faz automaticamente o checkout e debita o valor das compras no cartão de crédito que foi cadastrado no sistema, evitando filas e o passa/passa de cada produto no caixa do supermercado.

Vale a pena dar um conferida:

Outro projeto interessante, que já é realidade em algumas lojas da rede francesa Casino, pode ser visto no próximo vídeo.

Ao escolher uma mercadoria na prateleira do supermercado, o cliente literalmente toca o smartphone no produto para saber mais sobre o seu preço, informação nutricional, fornecedor, entre outros dados importantes para a decisão de compra e, ao pegar o produto, o cliente escaneia sua etiqueta com o smartphone, de forma a acompanhar a totalização da compra em tempo real.

No momento do check-out, o cliente simplesmente toca o smartphone contra o leitor da máquina registradora, transmitindo o total da compra, podendo pagar através do próprio smartphone ou através de qualquer meio tradicional, como faria normalmente.

Também acho que vale a pena dar uma olhada:

Após assistir esses 2 vídeos, por favor responda: você acha que uma dessas duas tecnologias tem potencial disruptivo, ou seja, poderá mudar a forma como as pessoas fazem compras presenciais?

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A ADOLESCENTE QUE ABANDONOU O CELULAR

Regina tinha 17 anos e era uma adolescente, como todas as da sua época, viciada em celular, não no aparelho em si, mas no universo de possibilidades que ela acessava através de seus 2 smartphones.

Sim, Regina não tinha predileção por equipamento ou marca, portava um Blackberry e um iPhone, usando-os conforme suas preferências de navegação pelas redes sociais e aplicativos “da hora”…

Regina dormia com os celulares ligados ao lado da cama, era despertada por eles e, antes de escovar os dentes, já havia compartilhado 2 dicas, 1 piada, 2 recados e 3 fotos, entre as que havia tirado na balada na noite anterior.

Regina gostava de estudar, mas não conseguia a concentração necessária para introspectar no estudo, porque seus celulares jamais ficavam mais de 5 minutos sem tocar…, e quando demoravam a emitir algum tipo de alerta, notificação ou chamado, Regina ficava amuada, sentia-se um pouco desprestigiada no seu círculo social, formado por quase todos os colegas da escola, por algumas poucas amigas de verdade e por muitos desconhecidos que ela adicionava na rede social, a quem chamava de “amigos do Face”.

Apesar de um tanto incomodada com o espaço que os aparelhos estavam tomando em sua vida, Regina não conseguia libertar-se e seguia utilizando-os intensivamente, pelo simples fato de que sentia prazer nisso.

Regina escrevia (ou “postava”, na linguagem das redes sociais) sobre seu dia-a-dia, sua rotina de casa, escola, shopping, cursos de idiomas, academia, festas etc, publicava fotos, muitas fotos, além de vídeos e músicas, num ritmo de produção de conteúdo parecido com os Diários que as adolescentes mantinham no século passado, com a diferença que estes eram guardados à sete chaves e mostrados, exclusivamente, para a melhor amiga.

Até que, um dia, Regina cansou…

Em algum momento de julho de 2012, Regina acordou e disse em voz alta, imaginando que falava somente para seus botões:

– Chega, já deu pra mim, não quero mais saber de celular como extensão do meu braço.

A mãe de Regina ouviu o desabafo e, incrédula, conferiu:

– Também acho que você exagera no uso do celular, minha filha, mas daí a largar de vez é muito extremista.

Mas Regina, como toda adolescente, era muito intensa e, para ela, era tudo ou nada.

– Já decidi, a partir de hoje meus celulares ficarão desligados na gaveta.

Ao observar o olhar ainda surpreso da mãe, Regina completou:

– Eu acho que sobrevivo, mãe…

A decisão de Regina não fora motivada por qualquer tipo de problema com as redes sociais ou com seus “webfriends”, ela genuinamente enfadou-se de tudo aquilo.

“Já estava por aqui”, dizia Regina, passando os dedos em forma de faca no pescoço.

Regina levou muito à sério sua decisão e hoje, 5 meses depois, ainda com 17 anos de idade, considera-se mais feliz.

– Sinto que minha qualidade de vida decolou, minhas notas melhoraram, curto mais os amigos ao meu lado e valorizo os momentos com a minha família. Estou até achando meus pais uns fofos…

“E os amigos do Face?”, perguntei, curioso.

– Estão lá e, de vez em quando, acesso pelo laptop.

Após esse bate-papo (presencial) que tive com Regina, fiquei ainda com 3 perguntas sem resposta:

1 – Regina curou-se de um vício ou amadureceu simplesmente?

2 – Regina deverá vencer a abstinência das redes socias enquanto adolescente, mas sobreviverá na fase adulta e profissional de sua vida futura?

3 – O comportamento de Regina pode indicar uma tendência?

Imagino que somente o tempo (nem tanto tempo assim) responderá estas questões…

Obs.: Este não é um texto de ficção. Regina existe, embora tenha outro nome, é filha de uma amiga de São Paulo e ambas concordaram que eu contasse sua história.

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