A primeira vez que ouvi a expressão “maquiagem” de bilhete, há alguns anos atrás, eu não entendi a que se referia.
Hoje, que já sei do que se trata, maquiar bilhete significa algo como alterar seu valor de face visando ludibriar o cliente pagante…, em resumo, uma fraude, um roubo, um crime.
Conhecendo os sistemas de reservas mais utilizados, tanto pelas agências de viagens quanto pelo comprador final, como os GDSs, portais das cias. aéreas, sistemas de gestão de viagens corporativas, OTAs, etc etc, custo a aceitar que seja possível alterar o valor de face de um bilhete.
Como para cada profissional especializado em criar mecanismos de segurança em TI, existem 14 pessoas focadas em ludibriar estes mesmos mecanismos, conversei com alguns agentes de viagens, de mercados tão diferentes quanto São Paulo, Rio de Janeiro, Brasilia e interior de São Paulo, para tentar entender o “processo”…
Aqui a palavra “processo” tem o propósito de esclarecer que o problema não está na tecnologia, que envolve as etapas de solicitação, reserva, autorização e emissão do bilhete aéreo, mas no processo de entrega deste bilhete aéreo ao cliente.
Ok, ok, estamos falando de E-TKT, mas é justamente aí onde ocorre o problema: no limbo entre sistemas de tecnologia de ponta e compradores que resistem a operar estes sistemas…
Pelo que apurei, especialmente no mercado de viagens corporativas, ainda existem empresas clientes (incluindo órgãos de governo) que somente processam o pagamento às agências (pasmem!) com a cópia do E-TKT anexada à fatura !
Ora, como todos sabem, hoje embarca-se em um voo sem qualquer bilhete impresso, bastando apresentar o documento de identidade do passageiro.
Portanto, uma cópia de um “E-TKT” pode ser simplesmente uma cópia de um email enviado ao passageiro, que pode não ser, necessariamente, enviado pelo sistema que o reservou e emitiu, mas pelo editor de email de um consultor da TMC…
Pronto, está criado o ambiente para uma “maquiagem” de bilhete, a qual, entretanto, nada tem a ver com os sistemas de reservas, mas tudo a ver com o processo equivocado, ultrapassado, retrógrado mesmo, do cliente conciliar a fatura da agência de viagens com um “E-TKT” enviado por email…
Inacreditável para os dias atuais, com as tecnologias disponíveis e os sistemas de controle e prevenção de fraudes largamente utilizados, os quais entretanto, carecem do entendimento e da aderência do usuário, sob pena da alta tecnologia ser esquecida e a porta do alto risco ser escancarada…
A pergunta que não quer calar: Até quando processos inseguros como este continuarão a ser exigidos por alguns clientes corporativos?
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* Este é o terceiro post de uma série sobre processos que deveriam ser aprimorados, corrigidos ou, em alguns casos, eliminados da indústria de viagens. Esta série é identificada pelo marcador: “Até quando?” e o próximo texto da série será:
SERVIÇO ACESSÓRIO OU RECEITA ACESSÓRIA?
Textos anteriores da série “Até quando?”:
ENXURRADA DE ADMs: INSTRUMENTO DE PRESSÃO OU RECEITA ADICIONAL?
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