PERTENCIMENTO

É o sentimento de acolhimento, de que você faz parte de um grupo com um mesmo propósito, e de que este grupo também pertence a você.

Quando um amigo (profissional senior reconhecido por sua dedicação aos projetos em que atua) que viveu a experiência de trabalhar em “home office” durante cerca de um ano e que acaba de retornar ao trabalho no escritório, ouviu a pergunta sobre como está sendo este retorno, sua resposta surpreendeu:

Estou muito feliz em pertencer ao grupo outra vez.

Eu suspeitava desta realidade, em contraponto a tudo o que se apregoa como vantagem sobre o trabalho em “home office” e, por isso, insisti:

– Apesar do trabalho em “home office” oferecer maior flexibilidade, você está contente por retornar ao trabalho no escritório, com compromisso de horário, com projetos em grupo, com convívio com colegas, essas coisas…?

A resposta foi conclusiva:

O trabalho no escritório oferece mais liberdade do que em “home office”, que acaba prendendo você em casa…

No fundo, a formação de um grupo de pessoas, que se encontra todos os dias, no mesmo horário, no mesmo local, para trabalhar com paixão pelos mesmos projetos, com um mesmo propósito, na direção de um mesmo sonho, tem mais a ver com dar um sentido à vida do que com trocar trabalho por remuneração.

Pertencer a um grupo que pertence a você é uma das necessidades do espírito humano

E quando você chega a este ponto, de encontrar este grupo, este projeto em que você se alinha, uma cultura em que você compartilha as mesmas crenças, os mesmo valores, as mesmas atitudes, e este grupo recebe você, acolhe você, acredita em você, considera você como integrante genuíno do grupo, neste momento você percebe o sentido de pertencimento, de você pertencer a algo e este algo pertencer a você.

Este senso de pertencimento é o que nos dá a sensação de participarmos de “alguma coisa maior do que nós mesmos”, nos dá força e incentivo para lutar por uma causa, que será comum também aos colegas que estão ao nosso lado no dia-a-dia, com quem compartilhamos os desafios, as ideias, os projetos, os acertos e os desacertos, as vitórias e os aprendizados, os motivos pelos quais levantamos todos os dias para alinhar com um grupo de pessoas em que acreditamos e com quem temos convicção de que conquistaremos os objetivos.

Faz sentido e dá sentido à tudo o que se faz…

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REFORMA TRABALHISTA MEIA BOCA

Apesar de significar algum avanço, não consigo enxergar onde esta reforma trabalhista mexerá realmente na ferida, a ponto de atingir seu real objetivo de estimular a geração de novos empregos para reduzir o atual preocupante índice de 14 milhões de desempregados no Brasil.

Após analisar e reanalisar o texto aprovado pelo Senado, continuo pensando na perversa situação em que um candidato a emprego faz uma entrevista para um salário de R$ 5 mil, com a percepção de que, após os descontos, receberá menos de R$ 4 mil, enquanto o empregador tem a certeza de que custeará cerca de R$ 10 mil, incluindo os encargos trabalhistas, custos indiretos e benefícios.

Os principais “avanços” da reforma trabalhista lembram a tentativa inútil de maquiar um monstro…

Com uma diferença de 60% que não vai direto para o bolso do empregado, mas que sai do bolso do empregador, esta conta nunca fechou e, pelo que percebi, ainda não será desta vez que a nova reforma trabalhista resolverá esta equação…

Aos que, ainda assim, defendem a “manutenção dos direitos trabalhistas”, eu costumo lembrar 15 das mudanças que vivenciamos nos últimos 10 anos, amplamente difundidas nas redes sociais, mas que merecem ser relembradas neste contexto:

1) O MP3 faliu as gravadoras.
2) A Netflix fechou as locadoras de filmes.
3) O Google detonou as enciclopédias.
4) A OLX eliminou os classificados de jornal.
5) O Waze enterrou os aparelhos GPS.

6) O Uber complicou a vida dos taxistas.
7) O Airbnb complicou a vida dos hotéis.
8) O Youtube complicou a vida das TVs.
9) O Facebook complicou a vida das TVs.
10) O Whatsapp complicou a vida das telefônicas.

11) O Tinder ameaça o objetivo das baladas.
12) A Tesla ameaça o modelo das montadoras.
13) O Nubank ameaça o mercado bancário.
14) A Bitcoin ameaça o sistema monetário.
15) O smartphone acabou com o telefone fixo, detonou as câmeras fotográficas e filmadoras amadoras, levou pro museu o relógio despertador, baniu a agenda digital, substituiu o bloco de anotações, recriou os tocadores de música, os gravadores pessoais etc.

E ainda existe quem queira viver com dogmas trabalhistas criados para o mercado de trabalho de 1943…

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A VIA CRUCIS DA HOTELARIA…

Olhando para a enorme quantidade de novos hotéis na Barra da Tijuca, legado dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, imaginei como um mega-evento como este tem a capacidade de ludibriar até os economistas mais pessimistas (e olha que todos são).

Há apenas 1 ano era virtualmente impossível alugar um imóvel por temporada ou conseguir um quarto de hotel, pousada, hostel, air-bnb ou o que fosse, no Rio de Janeiro, e as diárias exorbitavam, não havia referência alguma para a precificação, cobrava-se o que queria e, no final, encontrava-se cliente.

Estava claro que uma bolha estava sendo inflada.

Por conta de um evento que dura pouco mais de 2 semanas, esta bolha havia engolido a construção civil alguns anos antes, empolgada com as perspectivas geradas por um potencial fluxo de turistas, de investimentos, de novos empreendimentos, de capital estrangeiro, de boa-venturança prometida por um governo claudicante que simulava ser forte.

Como se estivéssemos vivendo uma economia paralela, enquanto o país ruía, a hotelaria arrecadava o que queria, afinal os Jogos pareciam justificavar toda a euforia, as reservas de um ano gordo pagariam os investimentos feitos e, mesmo que o movimento viesse a cair (algo esperado no pós-Jogos e considerado nos “business plans” de todos os investidores), pelo menos aquele “real estate” estaria pago.

Conversando com Solange sobre isso, a maior dúvida que nos veio à cabeça foi “como redes hoteleiras internacionais, com capilaridade global, investidores experimentados em centenas de países, com todo tipo de economia e de sistemas políticos, puderam cair nessa esparrela de que o governo brasileiro conseguiria estimular o fluxo turístico e aa viagens corporativas ao ponto de garantir o ROI de tantos empreendimentos?”

Onde estavam as planilhas de cálculo, os estudos de viabilidade, as projeções econômicas, as avaliações de cenários, as análises de risco, os planos de negócio e toda a teoria econômica que costuma embasar decisões que direcionam fluxo de bilhões de dolares de um país para outro?

Reafirmando a fama de malandro, do esperto que se dá bem em cima do gringo, como um Eike Batista estatal, o governo brasileiro conseguiu atrair capital de risco baseado simplesmente em powerpoint, promessas e gogó…

O resultado são mega-hotéis amargando menos de 10% de ocupação, empreendimentos de médio porte lutando pra sobreviver, pequenos estabelecimentos fechando as portas, além de imóveis comerciais e residenciais pela metade do preço, sem encontrar comprador, ou locações de salas comerciais por preço inferior ao valor do condomínio ou, em alguns casos, alugados sem valor de aluguel, apenas para liberar o locador do condomínio e taxas.

Com retorno negativo do investimento em ativos fixos, os proprietários e investidores tentam vender o negócio, buscam uma saída, querem passar o mico preto, mas acabam esbarrando em quem está com o mesmo problema, em quem também optou por realizar o prejuízo, mas nem isso estão conseguindo.

A super-oferta da hotelaria brasileira foi agravada pelas crises política, econômica e ética, gerando um cenário terrível

Em estado de quase penúria, os negócios imobiliários no Rio de Janeiro (com raras exceções, em todo o Brasil) parecem ter saído de uma estrada ensolarada à beira do mar e entrado repentinamente num longo túnel, onde nossas pupilas demoram a se acostumar com a escuridão, começamos a tatear sabendo que existe uma saída, mas ninguém consegue encontrar.

Acho que já vi este filme antes…

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