AINDA SOBRE O FUTURO

[…continuação do post anterior]

Para entender melhor este post, recomendo ler o post anterior

4 – A ruptura demográfica

Basta observar os dados de crescimento populacional, no período de somente 300 anos, para perceber o risco de ruptura parametral iminente:
1800 = 1,0 bi
1850 = 1,2 bi
1900 = 1,6 bi
1950 = 2,5 bi
2000 = 6,1 bi
2050 = 9,1 bi
2100 = 10,0 bi

Entretanto, a questão aqui não é o crescimento em si da população mundial, taxa que vem reduzindo gradativamente neste século e tende a estabilizar em algum momento da segunda metade.

Tampouco é problema de espaço, pois os seres humanos ocupam, atualmente, menos de 5% do espaço geográfico habitável do planeta e, apenas como hipótese mensurável, se todas as atuais 7 bilhões de pessoas do planeta residissem nos EUA, a densidade demográfica do país seria ainda inferior a atual ocupação média de uma cidade como Paris, por exemplo.

A ruptura demográfica poderá ocorrer a partir do desequilíbrio entre os países com altas taxas de crescimento populacional, em geral os mais pobres, em contraponto com os países com baixa taxa de crescimento, em geral os mais ricos.

O crescimento de populações carentes, associado ao envelhecimento de populações ricas, num ambiente de ruptura econômica e de ruptura social, tem potencial para gerar estagnação econômica nas nações desenvolvidas e aprofundamento da miséria em nações subdesenvolvidas, ambos fatores com forte característica de ruptura parametral.

5 – A ruptura de valores

Discorrer sobre ruptura de valores carece uma introdução cuidadosa, face à sua complexidade e, ao mesmo tempo, profunda gravidade frente a todas as demais.

Estamos desenvolvendo uma civilização planetária, cuja característica universal é o descrédito das religiões organizadas, com consequente desconexão entre postura religiosa e postura ética.

Esta erosão de valores éticos tradicionais gera um espírito consumista, que prioriza o imediatismo e o desejo de maximizar oportunidades, apesar de insuficiente para suportar a vida de modo civilizado para todo o conjunto da sociedade.

Por isso, penso que existe alto risco de ruptura parametral gravíssima, que geraria uma, de duas alternativas possíveis, ou um novo humanismo social ou um neobarbarismo tecnológico, com clara tendência para o segundo, a perdurar nas próximas décadas.

6 – A ruptura de poder

Abordarei este conceito através de uma breve linha do tempo:

Em 1900, a Europa liderava o hemisfério norte.
Em 1920, a Europa estava destruída pela 1a. Guerra Mundial.

Em 1940, a Alemanha conquistara a França e dominava quase toda a Europa.
Em 1960, a Alemanha estava destruída, após derrotada na 2a. Guerra Mundial.

Em 1980, um muro separava Berlim e dividia o mundo entre 2 correntes ideológicas.
Em 2000, a Alemanha estava reunificada e os socialistas flertavam com o capitalismo.

Em 2020, mais de 70% da economia mundial depende do Brasil, Rússia, Índia e China.
Em 2040, a China assume a liderança econômica mundial e o Brasil está entre os top 5.

Com raras exceções, cada mudança de século coincide com profundas alterações no planeta, em especial na hegemonia que determinada nação exerce sobre o mundo.

O início do século XXI não é diferente e testemunhamos, hoje, a alternância de poder entre os EUA e a China, processo que pode levar de 20 a 50 anos (após identificado com relevância pela primeira vez) e que poderá provocar uma ruptura parametral grave, face à nova dinâmica no fluxo de produção, de capital e de conhecimento, em última análise, uma nova dinâmica de poder.

O fato é que tudo o que aconteceu nos últimos 10 anos do século 20, e nos primeiros 10 anos do século 21, definirão como serão os restantes 90 anos que nos separam de 2100.

A ideia é praticarmos a análise dos dados presentes sob uma perspectiva histórica, como quem não está apenas participando deste momento porque está vivo hoje, mas sim como um observador futuro que olha para o hoje como passado, mesmo consciente de que:

“A longo prazo estaremos todos mortos.”
John Maynard Keynes

Obs.: Em futuros posts apresentarei as macro tendências mundiais para 2020, 2030 e 2050, períodos que são objeto de minhas pesquisas e projeções, sempre sob um ponto de vista muito particular e que, apesar de considerarem as 6 rupturas parametrais que apresentei neste post e no anterior, podem ser impactados por sua oportunidade, profundidade e até por sua não ocorrência.

[continua em próximos posts…]

Referências e fontes de pesquisa:
. Helio Jaguaribe: Brasil e Mundo na Virada do Século (Iuperj, 1996)
. Jim O’Neill: Entrevista à BBC Brasil (Goldman Sachs, 1999)
. Sam Martin: Envisioning Your Future in 2020 (Design Mind, 2010)
. World Future Society: Envisioning Life in the Year 2100 (The 22nd Century at First Light, 2012)

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PRIMEIRAS 3 RUPTURAS PARAMETRAIS DO SÉCULO

[…continuação do post anterior]

Para entender melhor este post, recomendo ler o post anterior

1 – A ruptura ambiental

A incapacidade do ser humano de equilibrar a contínua agressão ao meio ambiente com a recomposição espontânea da natureza, tende a gerar um definitivo desequilíbrio da biosfera, que poderá comprometer a habitabilidade do planeta antes da metade deste século.

A reversão deste insidioso processo parece ser possível, desde que os países mais desenvolvidos, e portanto, mais poluidores, tomem medidas drásticas contra o consumo gratuito de recursos naturais, por exemplo taxando a economia produtiva pela emissão de CO2 em, pelo menos, USD 20 por tonelada, o que geraria um fundo poderoso a ser utilizado para mitigar os danos à natureza e revertê-los no médio e longo prazos.

Não me parece que haja, entre as nações, genuína responsabilidade social e suficiente disposição política, para implementação de medidas como esta, antes da metade do século, devido, entre outros fatores, à potencial ruptura econômica.

2 – A ruptura econômica

A emergência da globalização econômica e tecnológica sem um sistema de regulação internacional adequado à economia planetária, poderá levar à graves crises decorrentes da inadequada institucionalização do processo, cujos primeiros sinais estão evidentes na atual crise econômica mundial, a primeira e provavelmente a mais profunda deste século, cujas consequências serão sentidas nas próximas décadas.

A prevalência da soberania das nações sobre o equilíbrio econômico mundial atua como catalisador do antagonismo entre os povos, exigindo uma intermediação tão isônoma quanto eficaz, condições inexistentes no atual modelo de representação política da ONU e organismos multilaterais.

O milenar conceito de divisão geopolítica mundial concentra a visão dos governos em suas respectivas nações, dificultando, senão impedindo, uma agenda global que priorize o ser humano, independentemente de origem, raça, credo, opinião, preferências ou mesmo nacionalidade, uma das causas do crescente agravamento da iminente ruptura social.

3 – A ruptura social

Apesar da tendência de redução da pobreza mundial, cerca de 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem com menos do que USD 1,25 por dia (20% da população mundial hoje, contra 43% em 1990), pois a desigualdade de renda dificulta o alcance da redução da pobreza gerada pelo crescimento econômico e as políticas usuais de aumento de impostos e subsídios à economia acabam por ampliar a disparidade entre ricos e pobres, aumentar a pobreza e estimular tensões sociais e políticas.

Também conhecida como abismo entre pobres e ricos ou simplesmente injustiça social, esta relação atingiu um grau de desequilíbrio intolerável sob qualquer ponto de vista, seja macroeconômico, sociológico ou mesmo ético.

Este desequilíbrio, uma vez não resolvido ou amenizado, poderá gerar consequências perniciosas para o conjunto da sociedade humana (migrações incontroláveis, terrorismo, novas formas de fanatismo religioso, fundamentalismo e intolerância política etc.), fomentando consequências naturais de beligerância entre os povos, gerando por essência, conflitos com forte potencial de ruptura parametral.

Trata-se da luta pela sobrevivência, em primeiro lugar, e da luta pela sobrevivência digna, em segundo, demandas inexoráveis da humanidade, reconhecidas e aceitas por todos na teoria, mas sem correspondência nas ações práticas, além de comprometidas, entre outros fatores, pela provável ruptura demográfica.

Obs.: No próximo post, detalharei mais 3 rupturas parametrais (de um total de 6), e, em futuros posts, apresentarei as macro tendências mundiais para 2020, 2030 e 2050.

[continua no próximo post…]

Referências e fontes de pesquisa:
. Helio Jaguaribe: Brasil e Mundo na Virada do Século (Iuperj, 1996)
. Jim O’Neill: Entrevista à BBC Brasil (Goldman Sachs, 1999)
. Sam Martin: Envisioning Your Future in 2020 (Design Mind, 2010)
. World Future Society: Envisioning Life in the Year 2100 (The 22nd Century at First Light, 2012)

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O QUE AINDA NOS RESERVA O SÉCULO XXI

Bolei este título alternativo para este post, porque concordei com Solange, que não gostou do título que imaginei originalmente:

O IMPACTO DAS RUPTURAS PARAMETRAIS NA PROSPECTIVA CIENTÍFICA

“Somos obcecados pelo futuro, porque temos medo dele.”
Clemente Nóbrega

Não, não estou com pressa deste século terminar, afinal ele mal começou…

Sobre isso, admito que tenho grande interesse pela prospectiva científica, este exercício de gerar visões de futuro, antecipar oportunidades e antever potenciais ameaças, apontando prioridades e tendências, prática fundamental para o processo de inovação em qualquer atividade econômica.

Como bem definiu Horton (1999) a previsão do futuro, ou prospectiva, é “o processo de desenvolvimento de visões de possíveis caminhos nos quais o futuro pode ser construído, entendendo que as ações do presente contribuirão para a construção da melhor possibilidade do amanhã”.

Ou ainda, como afirmaram Hamel e Prahalad (1995) “a previsão do futuro precisa ser fundamentada em uma percepção detalhada das tendências dos estilos de vida, da tecnologia, da demografia e geopolítica (fatores tangíveis), mas se basear igualmente na imaginação e no prognóstico (fatores intangíveis)”.

Portanto, não se trata de tentar prever objetivamente fatos futuros, mas incrementar a capacidade de inovar para caminhos escolhidos, objetivando preparar o momento presente com perspectiva estratégica para a construção do futuro.

O conhecimento, as informações e percepções colhidas ao longo da análise prospectiva são utilizados para planejar, montar estratégias e decidir, além de diminuir as incertezas sobre o futuro.

Aliás, o interesse pelo futuro tem um longo passado, com registro nas mais antigas civilizações, cujas teorias (quase profecias) foram substituídas, em nosso tempo, por uma prospectiva com base científica, que costuma limitar seu horizonte de previsibilidade a 20 ou 25 anos, objetivando manter uma fundamentação razoável, cujas variáveis não fiquem refém do que se costuma chamar de rupturas parametrais, que são eventos que podem prejudicar o resultado da previsão científica, mas que, justamente por isso, são variáveis fundamentais para qualquer dinâmica de futurologia para este século que inicia.

Por isso, para uma prospectiva mais longa, como esta que farei para os 88 anos remanescentes deste século, percebo 6 potenciais rupturas parametrais, as quais, como dito, podem comprometer qualquer análise sobre o futuro da humanidade:
1 – A ruptura ambiental
2 – A ruptura econômica
3 – A ruptura social
4 – A ruptura demográfica
5 – A ruptura de valores
6 – A ruptura de poder

Obs.: Nos próximos posts, detalharei cada uma dessas 6 rupturas parametrais, para, em seguida, apresentar as macro tendências mundiais para 2020, 2030 e 2050, períodos que são objeto de minhas pesquisas e análises.

[continua no próximo post…]

Referências e fontes de pesquisa:
. Helio Jaguaribe: Brasil e Mundo na Virada do Século (Iuperj, 1996)
. Jim O’Neill: Entrevista à BBC Brasil (Goldman Sachs, 1999)
. Sam Martin: Envisioning Your Future in 2020 (Design Mind, 2010)
. World Future Society: Envisioning Life in the Year 2100 (The 22nd Century at First Light, 2012)

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