RETROSPECTIVA 2016: TECNOLOGIA

O ano voa, mal começou e parece que já vai acabar…

Ano de crise ética, política e econômica, de impeachment, de renascimento da esperança, de Jogos Olímpicos, de início de retomada da economia (será?), de reconstrução da nação…

A evolução tecnológica acelera o ritmo de inovações, buscando atender demanda do consumidor e o mercado de viagens e turismo vai junto, embalado por uma tsunami de novidades, de tecnologias disruptivas, que oferecem novas formas de fazer a partir de comportamentos diferentes.

Pensando nesse tema, li o excelente artigo do Luis Carlos Vargas, da Travelport, publicado Portal Panrotas em 19/04, que me estimulou a reler o também ótimo artigo do Alexandre Cordeiro, do Sabre, no Portal Panrotas de 16/03, ambos sobre a revolução que a tecnologia está provocando no mercado de viagens e turismo (recomendo a leitura de ambos).

Inspirado por esses dois artigos, iniciei a construção deste post, mas lembrei-me de entrevista que concedi no final do ano passado, sobre as tendências e novidades do mercado de viagens e turismo para este ano de 2016.

O resumo das respostas desta entrevista são as tendências tecnológicas em que acreditamos e apostamos em nosso planejamento estratégico para este ano de 2016:

1. As empresas buscarão, mais do que nunca, novos meios para cortar custos, otimizar processos, reduzir despesas, fazer mais com menos e, seguramente, a tecnologia de gestão de despesas (expense management) é o caminho natural.

2. As agências de viagens focarão em capacitar-se para novas ferramentas tecnológicas para o atendimento e encantamento do cliente, seja para operação ou agenciamento de viagens, de turismo ou corporativas.

3. A diversificação será a tônica para um mercado sem barreiras, em que todos podem tudo, agenciar, operar, intermediar, consolidar, distribuir e representar, diretamente para o cliente final ou através do agente de viagens ou através de grupos associados com o mesmo propósito.

4. O NDC (New Distribution Capability), novo padrão tecnológico desenvolvido pelo IATA para distribuição de reservas e bilhetes aéreos, deixará de ser uma promessa e começará a mostrar suas vantagens, integrado aos sistemas que focam em inovação (no início) e a todos os demais (em seguida).

5. Não bastará a uma agência de viagens corporativas ser uma TMC puramente, devido à crescente demanda por novos e variados serviços, como gestão de despesas, gestão de eventos e gestão de frotas, entre outros serviços e produtos agregados a viagens corporativas.

6. Da mesma forma, não bastará a uma agência de viagens de turismo e lazer ou a uma operadora de turismo, ser intermediário de serviços prestados por cias. aéreas e hotéis, entre outros, já que estes investem cada vez mais na comercialização direta com o consumidor.

7. A similaridade entre todos esses cenários são os investimentos em tecnologia, não mais opcionais, mas mandatórios, seja num sistema backoffice mais eficiente, num motor de reservas para entrar no mercado de OTAs, num sistema de gestão de viagens corporativas (self-booking tool) para disputar o mercado de viagens corporativas, num sistema de gestão de eventos ou de frotas, ou mesmo numa plataforma de gestão de despesas para diversificar e abrir o leque de ofertas para a mesma carteira de clientes corporativos.

O que não dá mais é para ficar parado lamentando a velocidade do bonde sem ao menos tentar entrar nele, afinal poucas coisas são tão democráticas quanto as novas tecnologias.

Quanto mais se usa em casa, mais se aprende a usar no trabalho.

E o agente de viagens já descobriu isso.

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PARA ONDE CAMINHA O MERCADO DE VIAGENS

Tenho dedicado algum tempo às visões e opiniões de observadores, profissionais da área e especialistas sobre como anda o mercado brasileiro de viagens e turismo, com especial destaque para os blogueiros Artur, Bull, Camargo, Cassio, Sidney, Syllos, Werner, entre outros que escrevem frequentemente sobre o assunto, aqui e nas redes sociais.

Sempre com argumentos e pontos de vista interessantes, todos buscam respostas e/ou sugerem caminhos, reforçando o conceito de que os blogueiros Panrotas não ficam em cima do muro, mas apresentam suas opinões sobre os temas que analisam e publicam.

Aqui no Blog Distribuindo Viagens, tenho abordado com certa frequência o tema e-commerce (varejo online) como o caminho natural para o mercado de viagens e turismo (releia abaixos alguns posts sobre o assunto) e são vários os motivos para esta certeza.

Talvez por ter sido um dos primeiros mercados a aderir à internet, junto com a venda de livros e CDs, o mercado de viagens e turismo adaptou o modelo de negócios tradicional (off-line) para o novo ambiente de negócios, ainda desconhecido e assustador à época, e foi promovendo pequenos e constantes ajustes “on the job”, sem qualquer mudança disruptiva durante todo este período e assim chegamos às OTAs e Corporate Booking Tools atuais.

A verdade é que compra-se viagem e turismo online hoje da mesmíssima forma que se fazia há 15 anos.

Enquanto isso, o mercado de varejo, que vinha de uma recente transformação de lojas de ruas para shoppings (iniciada nos anos 80), percebeu que a crescente escassez de tempo e espaço nas cidades, grandes núcleos de consumo de produtos e serviços, transformaria o ato de comprar (sair de casa, enfrentar o trânsito, estacionar, caminhar, procurar nas lojas de rua ou de shopping, comprar, pagar e transportar para casa) em um processo prestes a entrar em colapso, pressionado pela explosão demográfica mundial e recursos naturais finitos.

O símbolo típico das lojas online que caracteriza o mercado de e-commerce
O símbolo típico das lojas online que caracteriza o mercado de e-commerce

Não bastava portanto, adaptar o modelo de negócio do comércio de varejo, mas reinventá-lo completamente.

Esta reinvenção do “fazer compras” passava necessariamente pela otimização do processo de entrega do produto adquirido, abrindo oportunidades para uma imensa cadeia de fornecedores de logística, elo (até então) frágil de um mercado completamente depende disso para que o ciclo da compra se complete.

O fato desta dependência da entrega não existir no mercado de viagens e turismo online reforçou a percepção equivocada de que são dois mercados que recebem abordagens distintas por serem completamente diferentes.

Não são.

O grande desafio dos players de ambos os mercados não são a entrega do produto, no ecommerce, ou a pressão da desintermediação, no turismo online, entre tantas outras dificuldades desses e de outros negócios.

O nome do jogo continua sendo a oferta, leia-se a exposição do produto ao cliente com disponibilidade de informações (imagem, preço, condições, serviço, valor, experiência), numa busca por transparência, referência e comparabilidade que permita ao cliente a certeza de estar fazendo a melhor compra.

Nisso, o ecommerce saiu na frente, com os grandes e milhares de pequenos empreendedores focados de forma obstinada em fidelizar o consumidor através de lojas (online, claro) cada vez mais atraentes e completas, permitindo experiências de compra, até a entrega e o pós-venda, bastante positivas.

Penso que quando o mercado de viagens e turismo online atingir este nível de qualidade da oferta de produtos, a atual sangria do velho modelo cessará e seu processo de substituição estará encerrado.

A oferta de serviços de viagem se aproximará do modelo do e-commerce de produtos de varejo
A oferta de serviços de viagem se aproximará do modelo do e-commerce de produtos de varejo

E este movimento de aproximação da venda de viagens online em direção ao ecommerce de produtos de varejo está bem próximo de acontecer, conforme analisa Kevin May no artigo Is travel retailing finally about to take off?, texto originalmente publicado no Tnooz.com e compartilhado pelo Gustavo Syllos no Linkedin.

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Obs.: Veja abaixo alguns posts anteriores sobre e-commerce, tema cuja referência e mentoria recebo de Luís Vabo Júnior:

06/11/2015: Viagens e Turismo aproxima-se do E-Commerce

13/08/2013: Feira de Turismo X Feira de E-Commerce

11/06/2015: Aprendendo com quem está fora da crise

03/12/2014: 6 lições que aprendi na sede global da Amazon

06/05/2014: Lições do Vale do Silício

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