Todas as vezes que visito o Metropolitan Museum tenho a sensação de que os curadores não cansam de se superar. Desta vez o museu oferece aos visitantes a impressionante exposição Golden Kingdoms: Luxury & Legacy in the Ancient Americas, dedicada inteiramente à arte pré-colombiana. A exposição contempla as expressões artísticas e a vasta iconografia criada pelos principais povos que habitaram as Américas, desde tempos imemoriais até a chegada dos colonizadores europeus no século XVI.
As peças foram organizadas seguindo a trajetória histórica destes povos, desde os primeiros assentamentos até as culturas mais desenvolvidas. São objetos de rara beleza criados em cerâmica, pedra, conchas e materiais nobres como o ouro, a turquesa e o jade.
Para os povos pré-colombianos estas obras de arte alcançaram significativa importância na sociedade não apenas pelo alto valor dos materiais empregados, mas principalmente como forma de expressão de status social, poder político e crença religiosa. Diferente do que ocorria em outras culturas, o ouro quase nunca era usado como moeda corrente pois se revestia de especial valor simbólico e foi amplamente empregado em objetos de culto ou de aparato cerimonial.
Desta forma, os curadores do Metropolitan criaram uma narrativa central para a exposição, balizada por obras de cunho religioso ou oficial, provenientes de grandes coleções de arte, o que torna a exposição uma oportunidade única para se apreciar este tesouro da história da arte, reunido em um único local.
O inconfundível geometrismo das formas, recorrente na linguagem artística pré-colombiana foi amplamente empregado na criação de seres mitológicos, como a Serpente Emplumada ou a figura reclinada de Chac Mool, provenientes de Chichen Itza, no atual México.
Em decorrência de suas grandes dimensões, as Stelas de pedra se destacavam entre as inúmeras peças expostas. A Stela é um tipo de monumento composto por um único bloco de pedra contendo relevos decorativos. Aparece em diversas culturas do Mundo Antigo e poderiam ter diferentes funções como a demarcação de um território, a comemoração de algum evento ou mesmo a homenagem a um Deus ou soberano.
Outras peças, por sua vez, se destacavam pelo apuro na execução como o conjunto de objetos funerários provenientes do norte do Peru, composto por uma adaga ritual, uma máscara funerária e uma coroa. Ricamente executadas em ouro, prata, turquesa e pigmentos minerais, estas peças rapidamente se tornaram um dos destaques da exposição.
A coroa foi executada com a técnica do repoussé, que consiste em usar uma lâmina de ouro tratada pelo verso, criando uma textura em relevo semelhante a um tecido. Esta técnica pode ser percebida em várias outras peças da exposição, visto que os povos da região central dos Andes deram preferência à laminação do ouro ao invés de usar a fundição.
Mesmo após a devastadora ação dos conquistadores europeus, ainda é possível perceber a permanência de certos modos de produção artística, que se tornaram tão característicos dos povos pré-colombianos. Um magnífico exemplo desta permanência é a coroa em ouro e esmeraldas, já de meados do setecentos e que pertencia à imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
O geometrismo das formas também pode ser percebido nas peças de cerâmica e nos vários exemplares de tapeçaria e tecidos. Estas obras ficam em exibição até junho de 2018.
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