SEMANA DE PÉROLAS E COINCIDÊNCIAS

A última semana de novembro ficará marcada no Brasil pela prisão de um senador e de um banqueiro, e suas consequências, além da descoberta do improvável relacionamento, muito próximo, de políticos importantes do Rio de Janeiro, cuja ambição desmedida os afastaram do objetivo de representar genuinamente seus eleitores.

Ambos os episódios serão lembrados, entre outros, pelas manifestações mais comezinhas da natureza humana, como prepotência, cinismo, deboche, escárnio, delação, abandono, traição, crime de corrupção etc.

Naturalmente coincidência

1) O prefeito Eduardo Paes teria feito um acordo com o senador Romario, para desistir de concorrer à prefeitura do Rio em 2016 e apoiar a candidatura de Pedro (agressor de mulher) Paulo, em troca da ocultação de sua conta no banco BSI.

Um por todos, todos por um ou, mais moderno, #TamoJunto
“Um por todos, todos por um”, “Amigos desde criancinha” ou, mais moderno, #TamoJunto

2) O banco BSI, que negou a existência da conta de Romario (embora agora o próprio Romario admita), pertence ao BTG Pactual, de André (obstrução da justiça) Esteves, preso por envolvimento na Operação Lava-Jato.

3) Por último, a Procuradoria Geral da República encontrou um documento na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral, com o seguinte texto escrito na verso: “Em troca de uma emenda à Medida Provisória número 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de R$ 45 milhões”.

Não, os três fatos não têm nada a ver um com o outro, são apenas múltiplas coincidências…

Questões humanitárias

O fundador e presidente do BTG Pactual, André Esteves, é acusado de atrapalhar as investigações da Lava-Jato, em conluio com o senador Delcídio do Amaral, através de um plano conjunto para facilitar e bancar a fuga de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras que está preso em Curitiba.

O senador Delcídio Amaral, o banqueiro André Esteves e o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, todos presos por envolvimento na Operação Lava-Jato
O senador Delcídio Amaral, o banqueiro André Esteves e o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, todos presos por envolvimento na Operação Lava-Jato

1) Delcídio justificou a obstrução da justiça pelas suas “preocupações humanitárias” com o estado psicológico de Cerveró na prisão.

2) Esteves não alegou nada ainda mas, preso em Bangu 8, já conseguiu receber a visita da esposa, “privilégio humanitário” autorizado pelo secretário estadual de Administração Penitenciária, mas que outros familiares de presos levam semanas ou meses para conquistar.

Como se vê, as questões humanitárias são tratadas de forma peculiar quando os envolvidos são muito ricos e poderosos.

Pérolas da obviedade

A ministra do STF Carmen Lúcia virou “pop” nas redes sociais, ao proferir uma defesa de voto favorável à prisão do senador Delcídio (nunca antes na história desse país) Amaral, líder do governo do PT no Senado, com as seguintes obviedades, confirmando, com a chancela do Supremo Tribunal Federal, que, sim, o óbvio precisa ser dito e repetido:

Ministra conquistou popularidade nas redes sociais pelas frases de efeito e decisões carregadas de justiça social
Ministra conquistou popularidade nas redes sociais pelas frases de efeito e decisões carregadas de justiça social

A esperança venceu o medo,… O cinismo venceu a esperança,… O escárnio venceu o cinismo,… Mas o crime não vencerá a justiça.

Uma semana agitada, mas o mais interessante é este sentimento de que as próximas semanas prometem muito mais…

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TEJE PRESO !

A prisão do líder do governo no Senado é emblemática.

Representa uma ruptura no “status quo”, quase impensável num país onde não se prendiam ricos e poderosos, onde se incluem políticos, empreiteiros e banqueiros, entre outros (embora não se possa generalizar).

O líder do governo no Senado foi flagrado obstruindo a justiça
O líder do governo no Senado foi flagrado obstruindo a justiça

Representa, antes de tudo, a independência dos poderes, ou seja, bastam processos bem consubstanciados para que a lei seja cumprida e o STF, ou o respectivo tribunal, faça a sua parte.

Sem fazer pré-julgamento, afinal ninguém da Operação Lava-Jato foi ainda julgado (exceto pela imprensa e pela opinião pública), mas a simbologia dessas prisões, baseadas em escutas autorizadas pela justiça, delações premiadas (portanto legais) e outras provas, é um alento para um país marcado pela desonestidade como padrão de comportamento do cidadão, pela ilegalidade como norma de relacionamento e pela corrupção endêmica entre o poder pública e a iniciativa privada.

Apesar de tudo isso, o pulso ainda pulsa e ainda vejo alguma luz no fim do túnel, muito fraca, mas ela está lá…

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“QUERIDA OLGA” OU “BRAVO, MAKTOUR” ?

Meus queridos amigos blogueiros Artur e Sidney postaram 2 bons textos sobre as consequências da crise econômica sobre o desempenho das operadoras de turismo brasileiras, a partir de duas histórias reais, mas absolutamente diferentes.

O “Querida Olga,” (de 29/10/15) foi tão contundente que recebeu 43 comentários, incluindo as respostas do Artur às justas reações de quem foi pego no meio do naufrágio da Designer, enquanto o “Bravo, Maktour!” (de 18/11/15) ressuscitou o assunto através de uma outra história, diametralmente oposta, relacionada às ações do controlador da Maktour para manter firme o curso do navio.

Além de colocarem de forma muito clara e direta as suas opiniões, extraem-se de ambos os textos um genuíno sentimento de amizade e respeito dos blogueiros aos protagonistas dessas duas histórias, independentemente do lado que o leitor se posicione a respeito do conteúdo dos textos.

Apesar de não ser nosso intuito requentar este debate, eu venho recebendo algumas “cobranças” para posicionar-me a respeito das dificuldades financeiras das operadoras de turismo brasileiras frente à nova realidade (esperamos que passageira) econômica, mas não o fiz e sinto que não devo fazê-lo, porque não vejo especificidade desta crise em relação a este segmento de nosso mercado.

A rigor, o atual cenário é sombrio para toda a economia brasileira, com raríssimas exceções (nenhuma dessas exceções é um segmento de viagens e turismo) e já abordei este tema aqui mais de uma vez.

Governo fraco, desperdício de dinheiro público, péssimos indicadores econômicos, baixo índice educacional e de saúde pública, decrescente qualidade de vida, aparelhamento do Estado e corrupção endêmica em todas as esferas dos 3 poderes e em todos os níveis, municipal, estadual e federal.

Naturalmente que uma recessão como esta, que chega de forma rápida (mas não silenciosa) e que não dá sinais de que irá embora tão cedo (pelo menos não no atual governo), acaba por deixar pelo caminho as empresas “alavacandas”, entenda-se aquelas com dívidas relativas a investimentos recentes ou à cobertura de fluxo de caixa, e sem aquilo que chamo de “colchão”, que é uma reserva de capital próprio (da empresa ou de sócios), disponível para momentos como este, já que a diferença entre capital próprio ou de terceiros (empréstimos, financiamentos, crédito bancário etc.) todos já conhecem.

Por isso, desmistifico um pouco as consequências destas tristes ocorrências sobre a distribuição, uma vez que, para toda demanda sempre haverá um fornecimento substituto e reafirmo aqui a opinião que postei em comentário sobre outro texto do Artur – “O nó da distribuição” – e que resume a minha percepção sobre o que vem acontecendo:

“Artur,

Por incrível que pareça, o que você batizou de nó da distribuição não é um nó, mas o oposto, é o desatar de um emaranhado…

Como você mesmo afirma, tudo isso já estava escrito há 15 anos e eu acrescento que esta “freada de arrumação” que o mercado está dando (por mais desagradável e dolorosa que seja) tem duas principais razões:

1) A baixa compreensão dos empresários tradicionais sobre a web como ambiente de negócios (e-commerce) e suas consequências, apesar da internet estar aí há 20 anos.

2) A crise tripla brasileira (econômica, política e ética) que impacta os negócios, paralisa as expectativas, engessa os investimentos e reduz as vendas.

Este cenário, sombrio e raro, ocorre quando a inércia empresarial encontra a incompetência política.”

Aguardemos, com fé e trabalho, as cenas dos próximos capítulos…

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