VIAGENS E TURISMO APROXIMA-SE DO E-COMMERCE

Há algum tempo tenho abordado aqui temas relacionados a um novo segmento econômico, que só tem crescido desde que surgiu há cerca de 15 anos, independentemente do desempenho da economia: o e-commerce.

Faço isso porque acompanho de perto a evolução deste novíssimo segmento e porque acredito que o mercado de viagens e turismo vai, em algum momento, acompanhar exatamente o que acontece no e-commerce, podendo inclusive ser absorvido (leia-se “ser compreendido como parte integrante”) pelo e-commerce.

Ou seja, o e-commerce hoje é completamente dominado pelo conceito da venda de produtos pela internet, embora naturalmente também exista a venda (e a prestação) de serviços online, mas o conceito dominante atualmente no e-commerce é mesmo o varejo online, onde grandes e tradicionais redes varejistas investem cada vez mais no canal, enquanto novos entrantes não param de entrar…

Mas o futuro está aí (aliás, dizem que o futuro começou no ano 2000) e, seguramente, os serviços contratados e/ou prestados online crescerão em relevância dentro do segmento econômico desenvolvido sob o conceito e-commerce, e é aí que viagens e turismo se destaca, desde já, justamente por ser um dos negócios que mais rapidamente se desenvolveu com a internet.

As AVOs (Agências de Viagens Online) são uma forma importante de e-commerce, mas estranhamente, pouco acompanham ou participam das experiências e inovações desenvolvidas pelo segmento e, portanto, perdem com isso.

Seguindo a minha obstinação com a sinergia entre o agenciamento de viagens online e o e-commerce, publico abaixo texto do Luis Vabo Junior, inicialmente publicado no Blog do portal E-Commerce Brasil, o mais importante e influente deste segmento.

Texto imperdível, recomendo a leitura e reflexão:

SHOP.ORG 2015 E O FUTURO DA INTERNET

Por: Luís Vabo Jr.

O Shop.org deste ano foi na Philadelphia, terra de Rocky Balboa e berço da independência dos Estados Unidos. Com a participação de 5.000 pessoas e 300 expositores, o destaque ficou por conta da penetração do Mobile (já não é mais tendência, virou pura realidade como a nova plataforma dominante) e da chegada das tecnologias do “futuro” (que de futuro não tem nada, pois já estão bem presentes).

Matthew R. Shay, presidente da NRF, a federação do varejo americano, abriu o evento comentando a relevância do setor para a economia, sendo responsável por 1 a cada 4 empregos, atualmente. Comentou também sobre os esforços que vêm sendo feitos na área de cybersecurity e patentes, como proteção às propriedades intelectuais.

Em seguida, sempre é escolhido para falar um varejista local. O selecionado foi o CEO da QVC, Mike George, que fez uma palestra muito interessante conectando a experiência de compras com entretenimento e comunidade. A palestra dele chamou ainda a atenção pelo fato de terem comprado recentemente a Zulily, que havia sido a última a palestrar no evento do ano passado. Os principais pontos abordados por ele foram:

Principais pontos

Vamos aos tópicos principais que resumem o Shop.org 2015:

==> Mobile é a prioridade número 1 para os varejistas virtuais.

Assumindo a dianteira em relação a omnichannel, marketing, site merchandising, expansão internacional e site replatform, que são os próximos na lista de prioridades.

==> Embora seja a prioridade número 1, os varejistas virtuais ainda estão pelejando para conseguir lidar com a complexidade da migração para o Mobile.

Atribuição, usabilidade, responsividade, modelo de negócios e estrutura organizacional são os fatores críticos que fazem com que a venda média em smartphones seja de 12% com um tráfego médio de 30%. Para tablets, a proporção é mais suave (16% e 17%, respectivamente)

==> Mobile influencia mais as vendas off-line do que as vendas online!

Embora contra-intuitivo é a realidade.

Mobile influencia

==> Conteúdo está de volta

Para que a experiência do consumidor seja completa são necessários mais investimentos em conteúdo.

Destaques para: Instagram e Pinterest UGC + Vídeos e Fotos em alta qualidade + Tutoriais e Reviews de Experts + Vídeos How-to + Conteúdo social propagado + Blogs.

==> O feijão com arroz ainda é muito importante.

Principais fatores considerados pelo consumidor antes de realizar uma compra nos últimos 3 meses: custo de frete + busca + ratings e reviews + imagens dos produtos + carrinho salvo + imagens alternativas dos produtos + demonstrações em vídeo.

==> Feriados e datas comemorativas nunca foram tão importantes e… caros!

73% dos consumidores americanos reportaram que compraram menos em lojas físicas porque haviam comprado online no feriado de Thanksgiving! Alta expectativa de descontos e promoções! Volumes maiores, margens menores…

O Amazon Prime Day representou 1,5 vezes um dia comum. O CyberMonday foi 2,2 vezes. Já o dia dos solteiros na China (11/11) movimentou 8,9 vezes mais do que um dia normal!

==> Novos objetos interessantes capturam nossa atenção mas não o nosso bolso.

Os wearables (tecnologias vestíveis), mobile digital wallets, subscription boxes e smart home devices despertam interesse, porém ainda estão na curva inicial de adoção.

Exponencial Organizations

O último ponto se conecta com a principal palestra do evento, que foi feita pelo CEO da Singularity University, Salim Ismail, que é o autor do livro Exponential Organizations. Leitura recomendada para todos que trabalham ou se interessam por E-Commerce, Plataformas Digitais, Internet, Futuro, Tecnologia, Inovação, Vale do Silício e temas correlatos.

A principal tese dele é que as companhias formatadas para o sucesso no século XX estão fadadas ao fracasso no século XXI, porque o mundo está experimentando uma onda exponencial e, portanto, as empresas precisam se tornar organizações exponenciais para que possam se adaptar e sobreviver.

A Lei de Moore já previu o impacto da força exponencial em diversos aspectos de nossa vida cotidiana que serão reconfigurados nos próximos anos: saúde, água, energia, meio ambiente, alimentação, educação, segurança, pobreza, tecnologia e tantos outros.

Recentemente, foi feito um seminário na Singularity University com executivos top de diversas companhias (como Shell, SAP, Coca Cola, Google, Nokia, Hershey’s, entre outras) e o levantamento mostrou que 75% deles tinha pouco ou nenhum conhecimento dessas tecnologias revolucionárias que estão em curso. Após o seminário, a conclusão é que 80% destas tecnologias trariam impacto “game-changer” em até 2 anos e 100% delas em até 5 anos. 100% dos executivos traçaram planos de ação imediatos.

E quais são estas tecnologias disruptivas? Seguem alguns exemplos:

Internet das Coisas (IoT :: Internet of Things)

Os primeiros 20 anos da internet que conhecemos foram formados pela conexão de pessoas a máquinas. O novo paradigma será o aumento exponencial da conexão de máquinas a máquinas (M2M). Em 2020, haverá mais de 50 bilhões de devices e, em 2030, a comunicação M2M responderá por mais de 50% do total.

Biotecnologia

Diversas inovações irão revolucionar a saúde. Sequenciamento do DNA, cura inimaginável de doenças, alteração genética de embriões, brain computer interfaces e até o armazenamento dos seus sonhos serão possíveis com a biotecnologia exponencial.

Veículos selfdrive

Outra revolução ocorrerá no transporte de pessoas e mercadorias com os veículos autodirigíveis. Google Car, Tesla, Uber, entre outros players, serão responsáveis por reconfigurar tudo que conhecemos a respeito desse assunto. Existem alguns dilemas éticos no meio do caminho, que certamente serão endereçados.

Energia solar

O custo da energia solar está caindo exponencialmente e em alguns anos sua adoção será massiva, pois além de abundante, será incrivelmente barata. O que será possível fazer com uma energia que tende ao infinito?

Realidade aumentada e realidade virtual

Considerada uma das três tecnologias com alto impacto no varejo e no e-commerce nos próximos anos, a realidade aumentada/virtual promete oferecer novas experiências ao consumidor, pois permite que ele veja e interaja com os produtos e serviços que deseja possuir antes mesmo de tê-los em suas mãos.

Drones

Considerada a segunda das três tecnologias com alto impacto no varejo e no e-commerce nos próximos anos, a utilização de drones já é realidade em fase piloto em algumas companhias como a Amazon (Prime Air) e o Google (Projeto Wing), porém é na startup Matternet que residem as maiores apostas. Com um drone autônomo (que não precisa de piloto) desenhado exclusivamente para transporte de mercadorias de até 1kg, num raio de 20km, seu custo por entrega é de US$ 1,50 para um tempo médio de entrega de 10 minutos contra US$ 11 em 40 minutos do melhor entregador (hoje em dia) nos EUA.

Drone

Impressoras 3D

Considerada a terceira das três tecnologias com alto impacto no varejo e no e-commerce nos próximos anos, as impressoras 3D prometem revolucionar a concepção e recebimento dos produtos por parte dos consumidores. Imagine não precisar esperar o produto chegar na sua casa, pois você poderá imprimi-lo diretamente? Imagine poder digitalizar seu corpo, sua casa, seu carro, seu gato e ter produtos customizados para eles? Admirável mundo novo ou Jetsons?

Frase de Bill Gates: “Normalmente nós superestimamos as mudanças que virão nos próximos dois anos e subestimamos as mudanças que ocorrerão nos próximos dez”.

A sociedade está preparada para as mudanças exponenciais que virão? Veremos nos próximos anos.

Por aqui, seguem minhas previsões do que vai acontecer em 2036:

1) Minha filha não vai tirar carteira de motorista quando fizer 18 anos.

2) Vou imprimir em 3D 50% das minhas compras em casa ou num hub próximo de casa. Os outros 50% chegarão por drone ou Uber selfdrive.

3) Antes de eu fazer qualquer compra (online ou offline) terei experimentado o produto por realidade virtual/aumentada.

4) Energias alternativas como solar e eólica serão mainstream deixando combustíveis fósseis como peças de museu.

5) Vou saber quais doenças tenho alta probabilidade de ter em 2056 para me prevenir desde 2036.

6) Vou passar minhas férias em Marte.

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Vabo Júnior

Sobre o autor: Luis Vabo Jr é diretor executivo da B2W Digital, Professor de Empreendedorismo na PUC-Rio, Empreendedor Endeavor, Vencedor do Prêmio E-Commerce Brasil na categoria Inovação, OPM pela Harvard Business School, Mestre em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ, extensão na EMLyon na França e Engenheiro de Produção pela PUC-Rio.

Para ler o texto original do Luís Vabo Jr, publicado em 30/10/2015, e informar-se mais sobre o assunto e-commerce, clique em:
https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/shop-org-2015-e-o-futuro-da-internet/

Para ler os textos anteriores em que abordei o tema e-commerce, clique em:

13/08/2013: Feira de Turismo X Feira de E-Commerce

11/06/2015: Aprendendo com quem está fora da crise

03/12/2014: 6 lições que aprendi na sede global da Amazon

06/05/2014: Lições do Vale do Silício

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NOTÍCIAS DE UM PAÍS SEM CRISE

Em rápida passagem de 5 dias por New York, registro aqui uma parte do que percebi e experimentei na capital do mundo, uma cidade em constante processo de renovação.

Os norte-americanos estão ocupados (ou distraindo-se) com as maluquices de Donald Trump como pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano.

Os “drones” saíram definitivamente da fase projeto-piloto e já são uma realidade, com uma crescente relação de aplicações no dia-a-dia da população.

Drone fazendo levantamento fotográfico do Central Park
Drone fazendo mapeamento aero-fotográfico monitorado do Central Park

Os “self-driving cars” da Tesla continuam sendo matéria dos telejornais, que apresentam, ainda como novidade, um conceito pesquisado, desenvolvido e difundido pela Volvo, Google e (dizem) Apple, há pelo menos 5 anos.

Os carros sem motorista continuam atraindo o interesse de uma sociedade movida a automóvel
Carros sem motorista geram curiosidade numa sociedade movida a automóvel

Os policiais do NYPD – New York Police Department foram alçados à categoria de celebridades, com direito a muitas fotos com turistas em Times Square. Seu lema “Courtesy, Professionalism and Respect”, levado ao pé da letra, atesta que a polícia novaiorquina foca no cidadão (a quem associa sua imagem) e não no criminoso, uma estratégia que ajudou a reduzir tremendamente os índices de criminalidade na cidade.

Os policiais de New York são atenciosos com os turistas
Os policiais de New York são cada vez mais atenciosos com os turistas

Chega a ser nostálgico olhar a loja vazia da Fao Schwartz, templo do consumo infantil pré-era digital, ao lado da loja da Apple número 1 em vendas no mundo, cada vez mais abarrotada de gente de todas as idades, ideias, lançamentos e criatividade à flor da pele. As duas lojas, lado a lado, formam o retrato mais realista do novo interesse do consumidor…

A loja da Apple continua atraindo seguidores e amantes de inovações tecnológicas
A loja da Apple na esquina do Central Park atrai amantes de inovações tecnológicas

O Central Park continua sendo o pulmão de Manhattan, onde turistas passeiam, misturados a moradores correndo, patinando na pista de gelo, exercitando-se ou simplesmente fazendo nada. Continua imperdível a caminhada pelo parque, onde encontramos amigos agentes de viagens brasileiros fazendo a mesmíssima coisa, desfrutando a liberdade de caminhar à toa, sem a paranoia da preocupação de ser assaltado a qualquer momento…

Tarde de outono no Central Park revela diferentes cenas, ângulos e luzes espetaculares
Entardecer de outuno no Central Park revela ângulos, luzes e cenas urbanas espetaculares

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Após a caminhada no Central Park, o Robert Restaurant, dentro do NYC Museum of Arts and Design (2, Columbus Circle), que expõe e vende peças originais de artistas novaiorquinos, é uma ótima pedida, com linda vista, gente descolada, menu muito bem cuidado e serviço atencioso.

O Burger Joint, um boteco dentro do Le Parker Meridien (119 W 56th St.), continua gerando filas cada vez maiores, para degustar o que muitos chamam de “o melhor hamburger de NY”.

O "melhor hamburger de New York" é preparado por uma simples lanchonete dentro da recepção do Le Parker Meridien (coisas de NYC)
O melhor hamburger, dentro da recepção do Le Parker Meridien (coisas de NYC…)

O menu do Oyster Bar da Grand Central Station (89 E 42nd St.) continua imbatível, em especial na enorme variedade de tipos e origens das ostras.

Dezenas de tipos de ostras, identificadas pela origem, são oferecidas no Oyster Bar
Dezenas de tipos de ostras, identificadas pela origem, são oferecidas no Oyster Bar

O restaurante francês Le Cirque (151 E 58th St.) prometeu muito mais do que entregou, apesar de ostentar 1 estrela Michelin.

O Le Cirque ostenta uma estrela Michelin entre outros prêmios de alta gastronomia
O Le Cirque ostenta uma estrela Michelin entre outros prêmios de alta gastronomia

O Aureole (135 W 42nd St.) confirmou a genialidade de Charlie Palmer, um chef badalado que assina outros bons restaurantes em Manhartan.

O Esca (402 W 43th St.) brilhou na categoria “frutti di mare”, apesar do ambiente mais cheio, típico das casas especializadas na cozinha italiana.

Mas o melhor espetáculo gastronômico em NY continua sendo proporcionado pelo Le Bernardin (155 W 51th St.), cuja decoração, criatividade no cardápio, sutileza de sabores e qualidade da carta de vinhos, reconfirmou porque ostenta 3 estrelas Michelin.

Entre os atuais shows da Broadway, a peça infantil Matilda faz bonito, em especial pela qualidade da interpretação da protagonista, Mattea Conforti, uma garotinha de 9 anos (que parece ter 7) que dá um verdadeiro show de canto, dança e carisma, liderando um “cast” de crianças, verdadeiros virtuosos do musical profissional padrão Broadway.

O musical Matilda estava lotado de crianças e adultos
O musical Matilda lota todas as noites

Já a badalada Wicked, uma peça adolescente que foca o público adulto, não encantou tanto, apesar da fama, do figurino bem elaborado, das boas sacadas do cenário e do vozeirão das duas protagonistas, que travam um verdadeiro duelo ao longo do espetáculo, que é o que vale o ingresso.

A super-produção Aladdin é rica, enche os olhos e os ouvidos, tem comédia e emoção, muito bons atores, dançarinos e cantores (o gênio da lâmpada rouba completamente a cena), e ninguém descobre como o tapete mágico voa por quase 10 minutos sobre o palco (sem fios, sem fumaça, sem jogo de luz ou de espelhos), transportando os 2 protagonistas em uma noite estrelada, enquanto cantam “A Whole New World” a plenos pulmões, para uma plateia completamente hipnotizada, num show genuinamente padrão de qualidade Disney, verdadeiramente imperdível.

A visita ao Ground Zero é um “must do” composto por um Memorial Museum em homenagem às vítimas da tragédia, dois gigantescos monumentos invertidos no lugar das duas torres gêmeas e uma exposição de vídeos, fotos, peças e pedaços da construção do que restou dos ataques terroristas de 11/09/2001.

O objetivo do Memorial Museum é que os atos terroristas de 11/09/2001 jamais sejam esquecidos
O objetivo do Memorial Museum é que os atos terroristas de 11/09/01 não sejam esquecidos

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Também visitamos o One World Observatory, instalado no alto de um prédio moderníssimo, com mais de meio quilômetro de altura (o mais alto do Ocidente), cuja bela vista 360 graus de toda Manhattan, vale o caro ingresso da atração.

No alto dos mais de 100 andares do One World Observatory avista-se 360 graus da cidade de New York
Milhões de visitantes sobem os mais de 100 andares do One World Observatory de onde avistam 360 graus da cidade de New York

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OWO

No último dia em NY, ainda encontramos tempo para visitar o Bryant Park, endereço da New York Public Library (5th Ave at 42nd St.) e palco permanente de exposições de artistas e designers da cidade, que oferecem diretamente ao público suas obras e criações exclusivas, tudo coisa fora do padrão comercial das lojas tradicionais.

Perguntei aos meus amigos, que nos acompanham nesta viagem, qual a principal percepção que estão tendo, referente ao atual ambiente de New York, em relação à última vez que vieram à Big Apple.

A resposta veio em uníssono: a percepção de segurança nas ruas, que permite um sentimento de liberdade, e a modernização da cidade, representada pela enorme quantidade de obras em andamento.

Não, não será New York que sediará os Jogos Olímpicos de 2016…

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UM PAÍS DE ATRASADOS

Na época em que prestei o exame do vestibular, nos idos de 1978, já era comum que muitos estudantes se atrasassem para o exame e, com isso, frustrassem ou postergassem seu sonho de entrar na faculdade, exatamente como ocorre atualmente com o ENEM.

Um tanto “nerd” (ainda não existia esta expressão), eu considerava inimaginável atrasar para o exame do vestibular, pois se existe algo nesse país que não tem qualquer flexibilidade no horário é a prova para acesso às universidades, seja vestibular, ENEM ou o nome que quiserem dar e, por isso, lembro que me programei para chegar 1 hora antes do horário marcado, simples assim.

O fato é que são muito poucas as outras situações do cotidiano brasileiro em que o horário é efetivamente cumprido por todas as partes envolvidas e, como cumprir qualquer horário depende de uma sequência de fatos, quando todos esses fatos atrasam dá para ter uma ideia das desculpas esfarrapadas utilizadas para justificar o injustificável.

No Brasil, atrasar é esporte popular, descumprir horário é esporte olímpico e desrespeitar agendamento é campeonato mundial, torneios de incivilidade em que somos líderes absolutos.

Chegamos a achar graça da pontualidade britânica, não valorizamos a precisão dos relógios suíços e nos divertimos com a famosa reverência japonesa ao cumprimento de horários, e ainda existem sociólogos pregando que esta é a nossa cultura (desrespeito ao outro) e, portanto, não adianta lutar contra isso…

No Brasil, nem médico respeita seu cliente, que marca uma consulta às 11:00h mas, às 12:30h, ainda aguarda ser atendido:

– “Eu estou aqui trabalhando, o paciente é que tem que aguardar”, explicou-me uma vez um médico quando questionei o motivo dele descumprir sistematicamente os horários agendados.

– “E eu estou fazendo o quê aqui, doutor? Passeando?”, respondi, inutilmente.

O brasileiro, de uma forma geral, acha natural (e julga-se pontual) chegar às 15:25h para uma reunião marcada às 15:00h, ou chegar diariamente ao trabalho às 9:20h, quando o expediente começa às 9:00h, ou ainda, entrar no cinema ou teatro com a sessão iniciada, deixar o táxi aguardando (que também chegou atrasado), chegar no restaurante meia hora depois do combinado com os amigos, entre outros desrespeitos às outras pessoas.

Por isso, confesso que não me penalizo com os atrasados do ENEM e alinho com a galera que tem postado milhares de piadas a respeito dessa turma, no mínimo, irresponsável.

São tantas gozações, que podem ser encontradas com a “hashtag” #ShowdosAtrasados2015, e as principais redes de TV montam coberturas ao vivo nos portões das grandes universidades, para flagrar em “real time”, o show de bizarrices, que são as tentativas de explicar o inexplicável, pelos estudantes que batem o nariz no portão recém-fechado:

– O ônibus atrasou
– O trânsito estava congestionado
– Minha mãe perdeu a hora de me acordar
– Esqueci a caneta e tive que voltar para buscar
– Meu relógio não estava no horário de verão
– Fecharam o portão antes do horário
– O portão estava mal sinalizado e me perdi
– Fui pra balada ontem à noite pra relaxar…

Eu realmente não consigo entender, os caras vem se preparando há anos, estudando, se esforçando, fazendo uma série de atividades para tentar ser bem sucedido num único exame anual… e jogam tudo fora porque acreditam que 2 minutos não é atraso, e ainda acham que cobrar pontualidade é exigir demais.

No fundo, estes episódios de atrasos para o exame do ENEM formalizam um mal comportamento social crônico de toda a nação, mas acabam tendo uma função disciplinar, no sentido de mostrar que, no jogo de tentar ser bem sucedido na vida, a regra é clara, comece sendo pontual em seus compromissos ou, mais cedo ou mais tarde, você estará fora do jogo.

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