A ERA DA VELOCIDADE

“As empresas precisam encontrar alternativas e modelos disruptivos, estimulando, continuamente, a revisão de seus planos estratégicos e a busca pela estrutura societária mais adequada para suportar o crescimento futuro dos negócios”.

Esta frase icônica se adequa perfeitamente a qualquer estrutura societária, de qualquer empresa, de qualquer tamanho, de qualquer segmento econômico e consta do Fato Relevante que uma gigante do ecommerce brasileiro enviou à CVM na quarta-feira, 07/03/18, para esclarecer mudanças na sua presidência e conselho de administração.

Da mesma forma que as empresas precisam de agilidade para adequar sua estrutura societária à realidade de cada momento, o mesmo se aplica à estrutura organizacional, que também demanda mudanças e ajustes frequentes, para evitar a obsolescência precoce do poder executivo (aquele que realiza e produz) da companhia.

Aquilo que já foi chamado de uma empresa instável, que “vive trocando o organograma”, sem dar tempo para a equipe ajustar-se à nova realidade, hoje tornou-se uma empresa antenada, ágil e proativa, que antecipa movimentos do mercado e previne-se com antecedência, sobrevivendo aos picos e vales de uma economia errante, de um governo errado e uma classe política aberrante.

Esta tendência foi acompanhada por uma geração de profissionais mais versáteis, adaptáveis e dinâmicos, cuja formação acadêmica costuma ser a base inicial de sua carreira, capazes que são de desenvolver outras atividades e talentos e, tal e qual as empresas em que atuam, evoluir, crescer e seguir em frente, muitas vezes em direções que jamais imaginaram conquistar.

Nas idas e vindas desta reestruturação serial, alguns profissionais têm dificuldade para se readaptar, outros demonstram simples resistência (ou falta de resiliência) à mudança, alguns poucos simplesmente congelam, mas o fato é que são nesses frequentes e rápidos ajustes que costumam surgir incríveis oportunidades, para as empresas e para os profissionais que nasceram e vivem esta era da mais alta velocidade.

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4 CHATICES QUE A TECNOLOGIA (AINDA) NÃO RESOLVEU

O carnaval acabou, já manifestamos toda nossa alegria e júbilo por sermos brasileiros, o ano comercial começando hoje no Brasil, momento em que me peguei refletindo sobre 4 temas que ainda são demandas não solucionadas pela tecnologia.

São dicas para quem tem espírito empreendedor, pois basta identificar um problema a ser solucionado para haver ali uma oportunidade a ser criada, uma demanda a ser atendida, um novo negócio a ser realizado.

Aderência intuitiva

Desenvolver sistemas é um desafio, desenvolver sistemas aderentes é uma necessidade, desenvolver sistemas intuitivos é uma arte.

O melhor artista deste segmento continua sendo a Apple, referência em qualidade, design e uso, ao ponto da caixa do iPhone X não trazer sequer aquela pequena pronta-referência impressa para facilitar os primeiros passos, tal a intuitividade do produto.

O fato é que o objetivo de todo bom software de não necessitar de manual, ajuda ou suporte (exceto a própria internet), continua sendo realidade para poucos.

A intuitividade dos sistemas acelera a adesão da novíssima geração de usuários de softwares

Mobile only mindset

A tal estratégia de desenvolvimento de sistemas baseada no mobile first é passado, o conceito de mobile only já direciona mais de 50% dos sistemas em desenvolvimento em todo o mundo.

Apesar da tendência dos softwares serem desenvolvidos com foco fundamental no uso em smartphones, a curva de aprendizado tem sido longa na indústria como um todo, talvez porque a atual geração de analistas e desenvolvedores nasceu e cresceu sob o domínio do laptop.

A próxima geração de profissionais da área de desenvolvimento de sistemas já será completamente mobile driven (no paper, no TV, no laptop), confirmando uma tendência inexorável para os próximos 5 a 10 anos.

Integração plug-and-play

Por mais que se entenda que toda integração entre sistemas é possível, que são necessários ajustes em ambos os sistemas, que a customização depende das especificidades do projeto etc etc etc, fato é que uma integração nunca é uma solução plug and play, como seria desejável.

Este é um segmento carente de boas soluções de prateleira, aquelas em que uma mesma plataforma é desenvolvida para ser adaptável a diferentes necessidades, bastando executar algumas configurações.

Integração plug-and-play continua sendo uma demanda a ser resolvida

Ambiente de trabalho ideal

Há alguns anos, o futuro do ambiente de trabalho parecia estar no modelo de home-office, aquele em que o profissional trabalha em casa, em horários de sua conveniência, buscando maior produtividade e autonomia na gestão de seu tempo.

Hoje o home-office é apenas mais uma alternativa ao escritório tradicional como tantas outras, como os espaços de coworking, os escritórios virtuais e até as office-homes, que são aqueles mega-ambientes inventados pelas gigantes da tecnologia (Google, Facebook, Apple etc.), para que os profissionais não tenham motivação ou necessidade de sair do ambiente de trabalho (qualquer semelhança com o filme The Circle não é mera coincidência).

Em tempo: A imagem inicial deste post não e do filme The Circle, mas sim da nova sede da Apple, um prédio-cidade de USD 5 Bilhões.

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AQUI NÃO É O SILICON VALLEY…

First mover, empreendedorismo, inovação, disrupção, tecnologia na veia !

Com cases apresentados em palestras de 30 a 45 minutos, das 9:00h às 18:00h do sábado, 07/10, no Expo Center Norte em São Paulo, o evento recebeu 2 mil pessoas, ávidas por conhecer as histórias de quem errou, falhou, quebrou, deu a volta por cima, empreendeu de novo e agora virou benchmarking de sucesso para motivar os pretendentes a startupers.

O Mauricio Benvenutti, da StartSe, é um sujeito cabeludo, barbudo, magro e falante, um biotipo oposto ao da imagem icônica do empreendedor do Vale do Silício, tipicamente um jovem nerd de óculos, cabelo curto e um tanto acima do peso.

Mas ele conhece o seu negócio e conduz o evento com eficácia, tanto com sua onipresença no palco (ele sobe até para apresentar quem vai apresentar os palestrantes…), quanto com sua onipresença nos inúmeros vídeos, entre uma palestra e outra, estimulando os congressistas a “viver a experiência Silicon Valley” in loco.

O StartSe Silicon Valley Conference atraiu cerca de 2 mil pessoas que passaram o sábado atentos aos casos de startups apresentados

Aprendi no evento que, no Vale (como o Silicon Valley é chamado na intimidade), os protótipos de carros autônomos andando pelas ruas são tão corriqueiros, que já não chamam a atenção e que, atualmente, o tema cool por lá é a nova corrida espacial protagonizada por empresas privadas, incluindo projetos pra colonização de Marte…

Também aprendi que uma empresa que pretende copiar os concorrentes, não é bem-vinda no Vale, frase repetida algumas vezes nos painéis, inclusive por Michele Messina, da Explora, uma espécie de tutora dos novos entrantes na região, apesar do conflito com o extraordinário case da Movile, uma ex-startup brasileira que hoje tem sede no Vale, cujo fundador Eduardo Henrique citou 14 vezes a palavra “copiamos” fulano, beltrano e sicrano, geralmente se referindo à Ambev, ao Google e outros players deste porte, durante sua ótima palestra motivacional.

Atualizei-me sobre os avanços da impressão 3D, uma tecnologia liderada pela HP, cuja visão de futuro é zerar estoques, esvaziar armazéns e torná-los desnecessários nos próximos anos, quando praticamente quaisquer peças e materiais poderão ser impressos, sob demanda nas lojas revendedoras ou mesmo pelo próprio cliente “no conforto da sua casa”, segundo o brasileiro Vinicius David, que lidera projetos de inovação dentro da HP no Vale do Silício. O Vinicius, mais de uma vez, referiu-se à HP como “minha empresa”, denotando o que se habituou chamar “espírito de dono”.

As impressoras 3D já são realidade e prometem imprimir 10% de tudo o que for fabricado no mundo até 2025

Surpreendi-me com o sucesso da Brain Care, emprendimento do brasileiro Plinio Targa, startup brasileira que desenvolveu e patenteou, no Brasil e nos EUA, tecnologia de exame cerebral não invasivo, que simplificou, barateou e tornou indolor e sem risco, os exames de diagnóstico de hidrocefalia, muitas vezes confundidos com Alzheimer e Parkinson. O primeiro projeto da Brain Care é um estimulador do cortex cerebral, aparelho que promete ampliar as capacidades cognitivas, de concentração e até a resiliência física de esportistas e profissionais que demandam esforço no limite em suas atividades.

A Brain Care pesquisa e desenvolve aparelhos que estimulam o cortex, além de equipamentos que simplificam exames cerebrais não invasivos

Concordei com os conceitos proferidos pelos empreendedores da BovControl, do RankMyApp e, principalmente, da Worthix, caso raro de empresário experiente, pé no chão, que teve a coragem de recomendar o óbvio para uma plateia um tanto deslumbrada: “Estou meio cansado de empreendedores de palco, o que funciona é empreender de olho na grana, pois é isso que vale no final das contas.”

Gostei de algumas frases ouvidas no evento:

Um equipamento inovador tem que ser simples, barato e portátil.

Plinio Targa, da Brain Care

Ideias valem muito pouco, o que tem muito valor é a execução de uma ideia.

Eduardo Henrique, da Movile

Passei 2 anos consertando startups no Vale e outros 6 meses consertando a cabeça de empreendedores de startups que quebraram, porque não conseguimos consertar.

CEO de Venture Capital

Inovação tem 3 pilares: rebeldia, conhecimento e capital. Somente os 3 juntos têm potencial para gerar inovação.

Mauricio Benvenutti, da StartSe

Não gostei do mantra que estimula o empreendedor a falhar como caminho natural para ser bem sucedido no negócio seguinte, pois se num ecossistema de negócios extraordinário como o Vale do Silício, 90% das startups quebram, 9% sobrevivem e menos de 1% realmente bombam no mercado, imagine no cenário econômico brasileiro, onde o capital de risco não é abundante e as regras de negócios, quando existem, podem mudar a qualquer momento ao sabor do politico de plantão.

Aqui, você não precisa falhar antes para ser bem sucedido depois, aliás eu recomendo: evite falhar, isso não vai te ajudar no Brasil.

Mas, se no final das contas, você quiser seguir a sugestão do Felipe Lamounier, da StartSe, que apresentou o conceito Fail fast, fail often, eu sugiro numa boa: vá para o Vale.

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