FORUM ECOMMERCE BRASIL É UM BOM MODELO DE FEIRA?

Estive na terça-feira 26/08, pela segunda vez, no Forum Ecommerce Brasil, um evento para 8.000 pessoas, no Transamerica Expo Center, inteiramente dedicado ao novo e vibrante mercado que está dominando o interesse das startups brasileiras: o ecommerce.

A VTEX, desenvolvedora de plataformas de ecommerce para varejistas online, foi expositor no Forum Ecommerce Brasil 2016
A VTEX, desenvolvedora de plataformas de ecommerce para varejistas online, foi expositor no Forum Ecommerce Brasil 2016

Já postei aqui sobre a edição do ano passado, quando fiz breve visita ao evento, convidado pela Sieve, oportunidade em que assisti a uma boa palestra com Jack London (amigo de muitos anos e ícone da internet brasileira), verifiquei o minimalismo dos estandes, a praticidade da montagem, o bom serviço de A&B, o foco nos negócios (e no network direcionado a negócios), quando destaquei as diferenças para nosso maior evento: a ABAV Expo (clique aqui para ler o texto sobre a edição do Forum Ecommerce Brasil 2015).

Este ano, convidados pela B2W Digital para esta ainda melhor edição 2016 do Forum Ecommerce Brasil, conheci um pouco mais da proposta do evento (feira e congresso) e, acompanhado da sensibilidade e experiência da Solange Vabo, analisei detalhes de toda a exposição, das palestras e debates em 3 diferentes e grandes auditórios, segmentados em Tecnologia, Vendas e Gestão.

O painel com Mario Gazin e Luis Paschoal foi dos mais concorridos e interessantes do evento
O painel com Mario Gazin e Luis Paschoal foi dos mais concorridos e interessantes do evento

Também identifiquei, de forma simplista, entre a maior parte dos expositores, alguns segmentos que podemos classificar em:
– Plataformas de ecommerce (ex.: VTex)
– Meios de pagamento (ex.: Stone)
– Varejo online (ex.: B2W)
– Mídia digital (ex.: PMWeb)
– Tecnologia (ex.: Totvs)
– Outros

Ano passado não encontrei ninguém do mercado de viagens e turismo, mas este ano esbarrei com amigos como o Augusto Rocha, da PMWeb e o Mauro Vendemiatti, da Avianca, Solange encontrou Gustavo Syllos, da Costa do Sauípe, e me surpreendi com painéis específicos sobre turismo online, um com participação da Melhores Destinos e da BHG (o Guto moderou) e outro com uma palestra do Eduardo Shiota, sobre a plataforma da Booking.com.

Bom sinal !

O segmento de viagens e turismo está saindo da toca, indo espiar outros modelos, outros mercados, outras oportunidades (exatamente o que me motivou a visitar este evento em 2015) e, definitivamente, o ecommerce é este segmento, por algumas similaridades importantes com o turismo online e por apresentar crescimento mesmo quando a economia vai mal.

Gustavo Daher apresentou a experiência da Wine.com.br sobre canais alternativos de venda com CRM, afiliação e email
Gustavo Daher apresentou a experiência da Wine.com.br sobre canais alternativos de venda com CRM, afiliação e email

Quanto à comparação entre o Forum Ecommerce Brasil e a ABAV Expo, a conclusão é que podemos (e devemos) aprender com a objetividade e o foco nos negócios da área de exposições, mas sem desconsiderar nossas características de uma exposição de turismo, que requer um ambiente inspirador para a venda de sonhos X uma exposição de varejo, que requer um ambiente prático para a venda de mercadorias.

Neste quesito há um empate técnico.

Entretanto, acredito muito no modelo de palestras e debates que o Forum Ecommerce Brasil desenvolve, com painelistas empreendedores, empresários e executivos, que levam seus casos reais para apresentar e serem sabatinados por uma plateia ávida por conhecimento, dicas e benchmarking, estimulando a interação e o compartilhamento de ideias.

Neste quesito ponto para o Forum Ecommerce Brasil (até aqui…)

O segredo é focar no que interessa ao agente de viagens: simples assim...
O segredo é focar no que interessa ao agente de viagens: simples assim…

Mas devemos empatar esta partida com a edição 2016 da ABAV Expo, de 28 a 30 de setembro, no Expo Center Norte, quando a Vila do Saber mostrará alguns casos reais motivadores, que merecem ser apresentados, defendidos e arguidos pelos agentes de viagens participantes, que terão assim a chance de encontrar, no nosso dia-a-dia, algumas referências reais de caminhos a seguir em seus negócios.

Não deixe de conferir !

.

HACKATHON COMO ESTÍMULO À INOVAÇÃO

Hoje virou moda, mas o tipo de evento criado pela Sun (em 1999) para programadores, “hackers”, “crackers” e outras tribos, o hackathon (acrônimo de “hacker” e “marathon”) popularizou-se de vez também no Brasil, e isso é muito bom.

No hackathon, profissionais de tecnologia, analistas e arquitetos de software, design thinkers e UX designers, programadores (junior, pleno, senior e gênio), testadores e product owners, etc. etc. se reúnem em grupos, geralmente de 3 a 5 pessoas, para desenvolver uma solução para algum problema, ou algo que substitua ou melhore uma solução existente.

O compartilhamento de ideias é um dos pontos fortes do hackathon
O compartilhamento de ideias é um dos pontos fortes do hackathon

O evento é uma forma interativa de estimular ideias criativas, promover o trabalho em equipe, valorizar a liderança autêntica, além de planejar, realizar e entregar dentro do prazo, mesmo sob pressão, e qualquer semelhança com o dia-a-dia não é mera coincidência…

Com a maratona de programação, grupos, empresas e organizadores de eventos promovem oportunidades para catalisar o espírito empreendedor dessa turma que traduz ideias em linhas de códigos.

Jovens programadoras também curtem o desafio da maratona de desenvolvimento de software
Jovens programadoras também curtem o desafio da maratona de desenvolvimento de software

Quando bem planejadas, arquitetadas, desenhadas, desenvolvidas e testadas, estas linhas de código acabam por produzir protótipos que podem se transformar em novos produtos, e é aí que reside o maior barato do hackathon…

Além do gosto da aventura, do desafio de um trabalho compartilhado, da forma meio caótica, ininterrupta, incluindo a madrugada, a vontade de produzir algo literalmente do zero, em tão pouco tempo, a possibilidade concreta da solução desenvolvida ser utilizada como parte de um sistema ou produto tecnológico é mesmo a maior motivação de todos.

Durante as 24 horas de programação, o cansaço não pode vencer a motivação
Durante as 24 horas de programação, o cansaço não pode vencer a motivação

Foi o que testemunhamos sexta e sábado passado, durante o 1o. Hackathon Reserve 2016, em que grupos com 4 profissionais de tecnologia cada, concorreram a viagens e treinamentos especializados, mas o que os motivou mesmo foi o desejo de ver sua ideia ser aplicada num produto real, comercialmente viável, uma solução que resolva um problema de fato e que traga real benefício aos usuários.

Deste evento, cuja comissão julgadora era formada por mestres, doutores e executivos de outras empresas de tecnologia e e-commerce, no mínimo 2 projetos criativos, bem idealizados, desenvolvidos e apresentados, mostraram logo de cara que têm potencial para crescer e se transformar em soluções tecnológicas para problemas reais.

Os vencedores do 1o. Hackathon Reserve 2016
Os vencedores do 1o. Hackathon Reserve 2016

Caso estas novas soluções venham a ser efetivamente desenvolvidas e incorporadas aos sistemas da empresa, o que beneficiará até 3 milhões de usuários, de 30 mil empresas e 100 agências de gestão de viagens corporativas, terá sido atingido o principal objetivo do hackathon, tanto dos participantes quanto do organizador, que é o de provar a capacidade do voluntariado em transformar as boas ideias em boas soluções, o esforço em resultado, a iniciativa em acabativa, a inovação em produto.

Guerreiros da maratona de programação: experiência única !
Guerreiros da maratona de programação: experiência única !

.

BANDO DE IMPERIALISTAS !

A compra do Linkedin pela Microsoft, assim como em casos anteriores de aquisições bilionárias no setor de tecnologia, nos remete àquele jogo de mesa chamado WAR, em que os jogadores recebem uma quantidade limitada de recursos e estabelecem suas estratégias para conquistar territórios em um mundo loteado em regiões, sob determinadas regras conhecidas por todos.

Essas estratégias envolviam sigilo, dissimulação, ataques diretos, alianças, investimentos, agressividade, recuo estratégico, entre outras táticas comuns na guerra, nos negócios e na vida.

A aquisição do Linkedin pela Microsoft, por si só, não é tão surpreendente assim, considerando que entre os gigantes imperialistas da tecnologia (e são poucos) a Microsoft é a que tem mais claramente demonstrado sua vocação para dominar o território corporativo.

O sinal mais significativo deste movimento é o que foi destacado pelo Michel Lent Schwartzman no texto abaixo, publicado no próprio Linkedin, em 08/06/2016.

A ERA DOS IMPÉRIOS DA INTERNET

Por Michel Lent Schwartzman
June 8, 2016

Se por um lado a internet democratizou os meios de publicação e pode ser considerado um território livre, por outro lado, cada vez mais ela se prova como uma terra de gigantes e de monopólios. De verdadeiros impérios.
Senta que lá vem a história.

No início dos anos 1990 a internet nos EUA era a America Online. (AOL). Ou era a Prodigy. Ou a Compuserve. Estes eram os principais bulletin board systems, os famosos BBSs, precursores de tudo o que veio depois.

America Online já foi um dos grandes impérios da internet
America Online já foi um dos grandes impérios da internet

Os BBS eram reinados. Comunidades fechadas, com notícias, jogos, mensagem entre usuários, fotos. Assim, tipo Facebook, sabe? Com a diferença que você precisava pagar para assinar estes serviços e não havia forma de sair deles para a internet.

No Brasil existiam alguns BBSs também. Eram poucos. Éramos muito poucos usando este tipo de sistema. Você ligava o computador, pegava o seu modem de 2400 bps, ligava na linha telefônica, ouvia aquele ruído peculiar de conexão e entrava num destes sistemas.

Modem para acesso à internet via conexão telefônica discada...
Modem para acesso à internet via conexão telefônica discada…

Nesta época, já existia a internet livre, que te permitia acessar diversos sistemas, mas só era possível fazer através de comandos de texto e havia muito pouco pra se conhecer. O que deixava tudo muito desinteressante.

Daí, entre 91 e 94, o mundo começou a conhecer a Web. A World Wide Web era uma forma de navegar pela internet através de imagens, textos e links. Construída em cima da estrutura da internet, a Web nos permitia total liberdade e tudo parecia que ia ser assim.

Mas era uma época em que menos de 0,5% da população mundial tinha acesso , e que com o passar dos anos foi crescendo a velocidades estonteantes (hoje estamos em quase 50% de penetração global).

Com o passar do tempo vieram os buscadores de site (imagine que antes não dava pra encontrar um site sem saber o endereço), primeiro os catálogos como o Yahoo! (e o Cadê? no Brasil) e em seguida os buscadores mesmo como o precursor Altavista e, a partir do final dos anos 90, o Google.



O Cadê? foi o maior catálogo de internet do Brasil, por onde toda busca começava
O Cadê? foi o maior catálogo de internet do Brasil, por onde toda busca começava

A partir dos buscadores e de todas as outras opções que a internet oferecia, os serviços como AOL e demais BBSs, os primeiros reinados, começaram a perder a relevância e se tornaram profundamente desinteressantes e restritos, perto de toda a internet livre que tínhamos pra acessar.

Muitos BBSs se transformaram em provedores de acesso à internet e a maioria foi fechando ou sendo comprada com o passar dos anos.

Vimos então chegar a era dos blogs, dos sites, e a internet parecia realmente estar tomando um curso de boa distribuição e forças equilibradas. Ainda havia grandes concentradores de audiência (como os portais), mas nossa jornada online era pulverizada em inúmeros sites diferentes.

Entretanto, depois de alguns poucos anos, o fenômeno voltou a ocorrer. A partir do final dos anos 2000, novas plataformas gigantes começaram a se formar e a audiência mundial da internet voltou a se concentrar em poucos e grandes impérios, separados nesta nova fase em temas.

– Videos no Youtube.
– Pesquisa e ferramentas de produtividade no Google.
– Fotos com celular no Instagram.
– Mensagens curtas no Twitter.
– Rede profissional no LinkedIn.
– Textos mais profundos no Medium.
– Amigos, notícias e todo o demais no Facebook.
– E mais o mobile com seus apps.

98% das buscas de vídeos na internet passam pelo Youtube
98% das buscas de vídeos na internet passam pelo Youtube
 
Faça uma lista dos sites e/ou que você acessa todos os dias e vai perceber que não vão passar de 5. Sua comunidade de amigos. Notícias. Serviços financeiros. Shopping.

Por força do hábito, característica humana, ou apenas preguiça, apesar de termos toda a internet ao nosso dispor hoje em dia, voltamos a nos comportar basicamente como fazíamos na época da AOL e concentrando nosso tempo e atenção em alguns poucos canais. Agora, não mais por falta de opção. Talvez justamente pelo excesso de coisas pra escolher, acabamos nos acostumando e ficando com apenas alguns.

E na medida em que nos concentramos em poucos sites, fortalecemos estas empresas, criando verdadeiros gigantes capazes de comprar tudo e todas, que vão se tornando cada dia maiores, mais complexas e mais monopolistas.

Se nos anos 90 já tínhamos uma concentração grande, a atual concentração de pessoas em uma mesma plataforma é uma situação absolutamente sem precedentes, criando discussões inéditas, como que efeito sobre o humor da população mundial pode ter uma simples mudança de algoritmo que define o que é mostrado no mural das pessoas numa rede social.

Pense que hoje o Facebook hoje pode ser considerado o pais mais populoso do mundo, com 1,65 bilhão de “habitantes” (a China tem 1,3 bilhão de habitantes).

Se o Facebook fosse um país, teria mais "habitantes" do que a China...
Se o Facebook fosse um país, teria mais “habitantes” do que a China…

Isso faz de Mark Zuckerberg (e líderes de outros gigantes) verdadeiros imperadores romanos dos tempos modernos cujas decisões têm impactos em centenas de milhões de pessoas em todas as partes do mundo.

É claro que empresas desta natureza não são comandadas por um único indivíduo. Conselhos, decisões conjuntas e toda espécie de sistemas de decisão compartilhada são perseguidas, justamente para evitar tanta responsabilidade nas mãos de poucos, mas ainda assim o mundo cada vez mais se vê concentrado nas mãos de muitos poucos players, cujas decisões não conhecem fronteiras e cada vez mais expandem seu alcance. E da mesma forma que estão estabelecidos hoje, amanhã pode ser que não existam mais.

Assim como outros impérios que a história do mundo já viu.

.

Obs.: Raramente publico texto de outros autores e, quando o faço, é porque considerei o texto interessante, com conteúdo relevante e oportuno, merecedor da atenção dos leitores do Blog B2B Tech. É o caso deste texto, originalmente postado no Linkedin por Michel Lent Schwartzman

.