TECNOLOGIA X EMPREGO

O lado mais perverso da crise não é a redução do poder aquisitivo do consumidor, nem o crescimento do endividamento das famílias, tampouco a perda da auto-estima do povo brasileiro, tão em alta há menos de dez anos.

O pior resultado da crise, e gerador das mazelas que citei acima, é decorrente da perda de confiança do empresário, do desinteresse do investidor, do desestímulo ao empreendedor: o desemprego.

Para agravar a situação, há a evolução do comportamento social em relação à aderência às novas tecnologias, que leva ao desenvolvimento e aplicação de processos substitutos a atividades antes realizadas exclusivamente por profissionais.

O resultado é mais desemprego, só que, neste caso, para uma leva de atividades em processo de substituição existe uma outra leva (talvez maior) de novas profissões, novos cargos, novos empregos, os quais infelizmente tendem a gerar oportunidades para novos entrantes no mercado de trabalho.

Veja a outrora importante profissão de bancário, antigamente um profissional especializado no atendimento ao correntista, cuja capacitação incluia noções de mercado financeiro, prática de processos bancários, legislação financeira, regulamentações e normativas do Banco Central, atendimento interpessoal, entre outras especializações.

E o que aconteceu com este profissional?

As possibilidades geradas pelas novas tecnologias reduziram a importância crucial que a categoria profissional dos bancários, um dia, exerceu sobre a economia, ao ponto de ninguém mais preocupar-se com a greve dos bancários, uma vez que todos os principais serviços dos bancos permanecem disponíveis na internet e, na maioria das situações, também através dos caixas eletrônicos durante as paralisações dos funcionários.

O sistema financeiro evoluiu a partir dos serviços prestados pelos bancários
O sistema financeiro evoluiu a partir dos serviços prestados pelos bancários

O fato é que a entrada de milhares de startups de tecnologia no mercado financeiro está transformando completamente a empregabilidade neste segmento, conforme acentua matéria da TI Inside:

Automação e expansão das “fintechs” devem levar à substituição de 1 em cada 3 bancários

O processo de substituição do emprego é tão disruptivo no mercado financeiro, que os grandes bancos mundiais preparam-se para enfrentar a concorrência das empresas de tecnologia, Apple e Google à frente, caso essas empresas sejam licenciadas como instituições financeiras, podendo então migrar da posição de intermediários de bancos tradicionais para protagonistas do mercado financeiro, ainda o grande hub da economia mundial.

A tecnologia vem substituindo o emprego dos bancários e no futuro poderá substituir os próprios bancos...
A tecnologia vem substituindo o emprego dos bancários e no futuro poderá substituir os próprios bancos…

O resultado disso não será outro senão o que já assistimos todos os dias: sai o profissional do atendimento individualizado e entra o especialista em automação de processos (no sentido mais amplo do termo).

Qualquer semelhança com o mercado de viagens e turismo não é mera coincidência (abordaremos este tema de forma mais específica em breve).

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GRAÇAS A DEUS EXISTE SÃO PAULO

Que os cariocas me perdoem, mas São Paulo é quem está segurando a última corda do Brasil pendurado no poço…

Refiro-me aos cariocas porque além de estar entre as três maiores forças produtivas do Brasil, o Rio está recebendo vultosos investimentos em infraestrutura para um megaevento este ano, mas que, ao que tudo indica, deixará um legado de 60 mil desempregados após o término das obras para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e pelo menos 60 mil (coincidência) quartos de hotel para serem ocupados diariamente.

Antes das reações bairristas, lembro que sou carioca da gema, nascido no Lins, morador da Tijuca e da Barra da Tijuca (dirão que a Barra não é no Rio, mais bairrismo…) e amo minha cidade, dificilmente viveria em outro lugar por opção.

Mas é em São Paulo que as coisas acontecem no Brasil, é a cidade mais produtiva e cosmopolita do país, onde encontram-se trabalho, ensino, esporte, cultura e qualidade de vida, tudo em abundância e equilíbrio no mesmo lugar, incluindo os principais eventos de tecnologia no Brasil.

Para se ter uma ideia, o portal Eventbrite listou os 43 principais eventos de tecnologia no Brasil em 2016, focados em empreendedores, desenvolvedores e profissionais de social media, uma sucessão vertiginosa de circuitos, conferências, congressos, demos, exposições, feiras, festivais, fóruns, imersões, parties, shows, simpósios, summits, weeks, weekends, workshops, entre outros nomes, criativos ou não, para agregar profissionais e interessados em torno do mesmo objetivo.

Desses 43 eventos, 35 ocorrem ou têm edição na cidade de São Paulo, incluindo os 3 maiores e mais importantes:

Campus Party
(Janeiro – 8 mil participantes)
Maior evento de internet do mundo

Fórum Ecommerce Brasil
(Julho – 7 mil participantes)
Maior evento de e-commerce da America Latina

Futurecom
(Outubro – 14 mil participantes)
Maior evento de TI da America Latina

São quarenta e três grandes eventos relacionados ao mercado de tecnologia, uma quantidade que nos faz reconsiderar a máxima de que “temos eventos de turismo demais no Brasil”.

Será que temos mesmo muitos eventos de turismo ou nossos eventos de turismo é que estão muito parecidos, com o conteúdo girando sempre em torno dos mesmos temas, ano após ano, evento após evento, além dos formatos repetitivos baseados na dupla estandes/palestras (seja lá o nome marqueteiro que se dê a isso).

Não, eu não tenho a fórmula do sucesso, mas sei que a mesmice não funciona mais e, por isso, mais do que nunca, inovar é preciso.

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PONDO ORDEM NA CASA !

É mais usual do que parece o movimento de padronização de tecnologias, em especial aquelas inovadoras e disruptivas, que chegam para mudar abruptamente o comportamento do consumidor em relação a determinado produto ou serviço.

Como exemplo de tecnologia recente, ainda nascendo, basta observar a tão comentada Internet das Coisas ou IoT de “internet of things”, que inclui “wearable devices”, “embedded systems”, entre outros.

Muitas startups correram, e ainda correm, para sair na frente e desenvolver soluções inovadoras baseadas em IoT, sonhando que sejam dominantes no futuro em função de seu grau disruptivo, mas as grandes indústrias de bens de consumo (refiro-me a eletrodomésticos, carros, roupas, entre outras) estão tão atentas a esta tendência, que não perderam tempo e já começam um movimento de padronização desta nova tecnologia, em comum acordo com os grandes provedores de tecnologia no mundo:

IoT: Empresas mundiais criam fundação para padronizar tecnologia

Esta fundação agregará diversos segmentos da indústria, com o objetivo de organizar um mercado ainda incipiente e que envolve todo e qualquer produto, desde malas, sapatos, geladeiras, armários, bicicletas, roupas, material esportivo, carros, alimentos, remédios etc, etc, etc.

Os fabricantes de bens de consumo buscam um padrão tecnológico para a Internet das Coisas estar em todos os lugares até 2025
Os fabricantes de bens de consumo buscam um padrão tecnológico para a Internet das Coisas estar em todos os lugares até 2025

Como IoT é uma tecnologia nova a ser embarcada em produtos velhos conhecidos do consumidor, os tradicionais fabricantes não querem ficar de fora desta festa e, mais do que isso, não querem depender de poucos fornecedores, ou de empresas que utilizem padrões próprios para desenvolver e manter este ou aquele dispositivo, não querem se tornar dependentes de ninguém.

Isso nos lembra alguma coisa?

Sim, uma analogia direta com nosso mercado nos faz lembrar que, desde que a IATA citou pela primeira vez o termo NDC, diversos questionamentos surgiram no mercado sobre seus reais objetivos.

Diziam que as cias. aéreas desejavam a posse e o controle de todos os dados dos passageiros para alavancar sua estratégia de desintermediação, ou que o objetivo era enfraquecer o hub de distribuição representado pelos GDSs, cada um com um padrão tecnológico proprietário, ou ainda permitir que todos os players de tecnologia da distribuição tenham as mesmas condições concorrenciais e, assim, estimular inovações disruptivas que mudem o rumo do negócio.

A verdade é que a real motivação do NDC não é nenhuma dessas, mas o mais prosaico dos objetivos: padronização tecnológica tal e qual as indústrias de bens de consumo estão buscando para a IoT.

Aliás, comparativamente ao objetivo da padronização da IoT, veja o que diz a IATA sobre o NDC:

The power of standardization

An industry standard will facilitate a more efficient airline distribution system, thereby benefitting airlines, agents, GDSs, IT providers and travel start-ups. Structured around seven distribution-related functions, the NDC Standard provides the opportunity to address the end-to-end airline distribution process, e.g. shopping, booking etc., and to deliver enhanced customer experiences.

A IATA lançou o projeto de padronização da tecnologia de distribuição no final de 2012 e batizou-o NDC (New Distribution Capability)
A IATA lançou o projeto de padronização da tecnologia de distribuição no final de 2012 e batizou-o NDC (New Distribution Capability)

Para maiores detalhes sobre o NDC, veja diretamente na fonte: IATA NDC Standard

Se para ter força suficiente para organizar o mercado, a padronização de uma tecnologia depende de ser promovida por uma entidade, fundação ou associação representativa dessa indústria, no caso da distribuição de reservas aéreas, essa entidade sem dúvida alguma é a IATA, cujas mais de 400 cias. aéreas associadas produzem 84% do tráfego aéreo mundial, processam US$ 367 bilhões em vendas via BSP e atendem 35 mil agências de viagens em todo o mundo.

As cias. aéreas, aqui representadas pela IATA, são as efetivas donas do mercado de transporte aéreo, cessionárias que são deste modal de transporte no mundo e, tal e qual os citados fabricantes de bens de consumo, pretendem arrumar a casa, padronizando a tecnologia de distribuição de seu serviço.

A questão aqui é que, diferentemente da IoT, as tecnologias de distribuição de reservas aéreas existem há mais de 50 anos e, por isso, o desafio da IATA de estabelecer um padrão, enfrenta décadas de legado tecnológico, de práticas e acordos comerciais (que envolvem incentivos financeiros bilaterais) e que são diferentes de mercado para mercado, de país para país, transformando sua implantação numa missão tão complexa quanto substituir todo o combustível de uma aeronave em pleno voo…

Claro que não é impossível de ser feito, mas há que se encontrar alternativas para o equilíbrio comercial entre todas as partes envolvidas.

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