Já é Primavera em Nova York

Na semana passada, Nova York se despediu do inverno com um final de semana especialmente gelado. Mesmo assim, as temperaturas abaixo de zero não intimidaram os nova-iorquinos de se vestir de verde para a parada de St. Patrick’s Day no sábado. A devoção do santo, que foi responsável por grande parte da evangelização da Irlanda, chegou aos Estados Unidos junto com a imigração irlandesa e assim, desde o século XIX, St. Patrick se tornou o santo patrono da catedral de Nova York.

Parada de St. Patrick’s Day vista da esquina da Quinta Avenida e Rua 79 – no sábado

No domingo, para fechar o inverno, aconteceu a Meia Maratona de Nova York. Durante o evento, turistas e moradores locais enfrentaram a temperatura de dois graus negativos para apoiar os bravos competidores, que eram saudados com cartazes e gritos de incentivo.

Meia Maratona de Nova York – no domingo

Mas já é primavera em Nova York e o começo da nova estação foi marcado pela inauguração de exposições que prometem agitar os próximos meses. Uma delas é a exposição de orquídeas do Jardim Botânico do Bronx, local raramente visitado por turistas. Localizado na famigerada região do Bronx e ocupando uma área de 250 acres (cerca de 1 milhão de metros quadrados), o Jardim Botânico guarda, entre suas inúmeras atrações, a última reserva florestal ainda intocada desde a ocupação holandesa do século XVII.

Jardim Botânico do Bronx – última reserva florestal intocada desde a ocupação Holandesa

Nesta ilha verde no coração de Nova York acontece, pelo 16º ano consecutivo, o The Orchid Show, uma exposição composta por milhares de orquídeas, de incontáveis espécies. O local escolhido para o evento foi o Conservatory Garden, uma imensa estufa de vidro em estilo vitoriano que abriga exemplares provenientes de várias partes do mundo.

O Conservatory Garden no Jardim Botânico do Bronx
A impressionante variedade de formas e cores das orquídeas

Grande parte das orquídeas foi disposta em estruturas criadas especialmente para a exposição pelo artista floral belga Daniel Ost. São intrincadas formas produzidas com bambu e mangueiras plásticas, criando um resultado impressionante. A mostra tem atraído milhares de visitantes todos os dias e fica em exibição até 22 de abril.

Uma das estruturas criadas pelo artista belga Daniel Ost

Outro evento, que também explora os temas da primavera, é a exposição Public Parks, Private Gardens – Paris to Provence, no Metropolitan Museum of Art. A exposição faz uma reflexão sobre a construção da paisagem, a partir do olhar dos paisagistas do oitocentos francês e principalmente dos pintores impressionistas e pós-impressionistas.

Visitantes se encantaram com os jardins retratados pelos pintores impressionistas

A exposição conta, ainda, com vários objetos de jardinagem originais usados para a manutenção dos parques parisienses. Estão dispostos regadores, tesouras, pequenos potes para criação de mudas e tesouras de poda. Em exibição até junho.

Coleção de regadores usados no séc. XIX. ao lado, Claude Monet e a esposa Camille em um dos parques da cidade (1873)

Exposição de Tarsila do Amaral no MoMa – Nova York

São Paulo, década de 1920. A cidade, ainda provinciana, vivenciava um crescimento sem precedentes que, em pouco tempo, a tornaria o carro-chefe da nação e uma das mais importantes metrópoles das Américas. Neste ambiente moldado por uma minoria enriquecida e por levas de imigrantes, provenientes de diversas partes do Brasil e também do exterior, floresceu um dos movimentos mais férteis da arte brasileira: o modernismo.

A exposição de Tarsila, anunciada nas ruas de Nova York

Um dos marcos iniciais deste movimento foi a polêmica Semana de Arte Moderna de 1922 que, nos primeiro dias do mês de fevereiro, agitou os salões do Teatro Municipal. Poucos meses após a exposição, chegava a São Paulo uma jovem pintora, proveniente de Paris. Seu nome era Tarsila do Amaral.

A paulista nascida em Capivarí, havia passado uma temporada na Europa, onde estudara em renomadas academias de pintura. Logo após sua chegada se envolveu com os mais proeminentes membros da Semana de 22: Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, compondo o que ficaria conhecido como o Grupo dos Cinco.

Estudo (1923) – Ainda sob a influência de Fernand Léger

Neste começo de século XX, não raramente, a alta sociedade e a intelectualidade paulistana gravitava em torno das novidades que chegavam de Paris. Desta forma, pintura, escultura, arquitetura, literatura, moda, modos de viver e hábitos cotidianos, muitas vezes apresentavam forte sotaque francês. Assim sendo, após se unir a Oswald de Andrade, Tarsila passa uma temporada na Europa, onde manteve contato com grandes mestres do modernismo, principalmente Fernand Léger, de quem herdou alguns gestos na pintura.

Vista de uma das salas de exposição com a tela Abaporu ao fundo.

Pau-Brasil

Entretanto, este quadro iria se transformar radicalmente com o incipiente movimento modernista brasileiro. Em 1924, Tarsila participa de uma viagem de redescoberta do Brasil, acompanhada pelos amigos modernistas e pelo poeta suiço Blaise Cendrars. Esta viagem, que passou pelo interior do estado de São Paulo e pelas antigas Vilas do Ouro em Minas Gerais, traria significativas mudanças em seu modo de pensar e de agir, reverberando em significativas transformações em sua pintura. O ambiente tropical, a fauna e flora brasileira, as cores do interior “caipira”, como dizia a própria Tarsila, passaram a povoar suas telas e se tornaram um momento especial de sua carreira artística: a fase Pau-Brasil.

Morro da Favela (1924) – Fase Pau-Brasil

Antropofagia – Tupi or not Tupi, that is the question

Esta aproximação com as raízes brasileiras viria ao encontro de uma busca, iniciada ainda nos primeiros anos do século XX, por uma identidade nacional. Esta busca culminou com a tela Abaporu (1928), que se tornaria posteriormente uma de suas obras mais célebres. O nome Abaporu teria sido criado pelo escritor Raul Bopp e significa, na língua Tupi, “homem que se alimenta de carne humana”. A obra foi um presente de aniversário de Tarsila para seu marido, o escritor Oswald de Andrade. A tela chegou em um momento em que o escritor estava começando a delinear os contornos de um novo movimento que iria envolver a literatura e as artes plásticas: o Movimento Antropofágico, cujo manifesto foi publicado no mesmo ano.

Abaporu (1928)

A essência do movimento seria uma reação frente à esmagadora presença da cultura europeia no Brasil. Seria um momento de reflexão sobre os valores da nossa terra. Assim como os índios antropófagos, que se alimentavam do corpo de seus inimigos como forma de absorver sua força e suas qualidades, o Movimento Antropofágico propunha se alimentar da cultura europeia, absorver seus valores e convertê-los em um produto nacional.

A Negra (1923)

Oswald de Andrade, em nítida crítica à sociedade brasileira, insere na abertura de seu manifesto a frase Tupi or not Tupi, that is the question, parafraseando a lendária frase do livro Hamlet de William Shakespeare. A frase aparece ao lado de um desenho do Abaporu.

Oswald de Andrade: Manifesto Antropófago, ou Antropofágico. Maio de 1928

As temáticas sociais

Em 1931, já separada de Oswald de Andrade, Tarsila faz uma longa viagem à então União Soviética, acompanhada de seu novo marido, o psiquiatra Osório César. Em 1933, já de volta ao Brasil, Tarsila se envolve com a temática social e pinta a tela Operários.

Operários (1933)

A exposição Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil, realizada pelo MoMa reúne suas principais obras, produzidas nas décadas de 1920 e 1930. Em cartaz até 03 de Junho.

Anúncio da exposição em estação do metrô.

Pronto para conhecer Nova York como um local?

É com grande honra que passamos a integrar este seleto grupo de escritores.

Nossa intenção aqui será criar uma seleção de posts a respeito da Big Apple, que é uma das mais vibrantes cidades do mundo e destino cobiçado pelos brasileiros. Atualidades, gastronomia, vida cultural, compras e entretenimento serão os principais assuntos abordados e, eventualmente, serão complementados por sugestões de roteiro e até mesmo de pequenas viagens de um dia nos arredores da cidade.

Nova York é uma cidade de comportamento movediço e uma das poucas no mundo que consegue se reinventar a cada ano. Por isso, a cada estação surge uma cidade diferente para ser explorada permitindo que uma legião de turistas, que cresce exponencialmente, se apaixone por suas esquinas, por seus pequenos e aconchegantes restaurantes e por suas atrações inusitadas. Assim, convidamos os caros leitores a participar deste passeio por Nova York.

Sejam muito bem-vindos!