A nova Praça XV

O Museu Histórico Nacional (MHN), na Praça Marechal Âncora, é um dos oásis no meio do imenso canteiro de obras no qual se transformou a Praça XV e arredores, no Centro do Rio. Vale contornar os tapumes e ir até lá para ver a comovente exposição “Rio como destino”, sobre a qual escrevi no post anterior, que reúne cartazes publicitários do século passado de companhias aéreas e marítimas, todos com a cidade como tema. Na saída, dê uma volta pela Praça XV, uma das mais significativas do Rio, para ter uma ideia de como vai ficar a região daqui a alguns (poucos) meses.

A Praça XV e a Estação das Barcas, já sem o Elevado da Perimetral / Foto de Carla Lencastre
Estação das Barcas na Praça XV, já sem o Elevado da Perimetral / Foto de Carla Lencastre

Assim como na Praça Mauá, a derrubada do Elevado da Perimetral trouxe de volta a vista para a Baía de Guanabara. Na frente da entrada principal do Paço Imperial, olhando para a Estação das Barcas (que ligam o Rio a Niterói e a Paquetá), já se vê como a área vai ficar diferente. Na praça ficava o antigo o Cais Pharoux, cujos vestígios estão lá até hoje. Do outro lado do Paço Imperial, na Rua Primeiro de Março, encontram-se duas igrejas históricas do Rio: Igreja de Nossa Senhora do Carmo (a Antiga Sé) e Igreja da Ordem Terceira do Carmo, com sua fachada toda em pedra. Mais adiante este ano, a Praça XV será uma das pontas da Orla Luiz Paulo Conde, um caminho que vai margear a baía até a Praça Mauá.

A passagem do Arco do Teles, com a Rua do Ouvidor ao fundo / Foto de Carla Lencastre
A passagem do Arco do Teles, com a Rua do Ouvidor ao fundo / Foto de Carla Lencastre

Por enquanto a sugestão de passeio pela região é dar as costas para a Baía de Guanabara, passar pelo Arco do Teles, do período colonial, e caminhar pelas bonitas ruelas do Rio Antigo, com sobrados em geral bem preservados e ocupados por bares, restaurantes, lojas e galerias de arte. Entre os restaurantes, encontra-se o The Line, na Travessa do Comércio (entre o Arco do Teles e a Rua do Ouvidor), que está também no Museu Histórico Nacional.

The Line, restaurante na Travessa do Comércio
The Line, restaurante na Travessa do Comércio / Foto de Carla Lencastre

As ruas calçadas de pedra levam até o Centro Cultural dos Correios, o Centro Cultural Banco do Brasil e a Casa França-Brasil. No caminho, não deixe dar uma paradinha na minúscula e linda Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, na Rua do Ouvidor.

Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores / Foto de Carla Lencastre
Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores / Foto de Carla Lencastre

 

O interior da igreja / Foto de Carla Lencastre
O interior da igreja / Foto de Carla Lencastre

A Rua do Ouvidor já foi uma das ruas mais importantes do Rio. Hoje continua muito movimentada, mas é uma rua bem estreita, ainda mais se comparada com as grandes avenidas abertas no Centro da cidade no início do século XX.

 

Rio como destino

O Corcovado sem o Redentor e o Pão de Açúcar sem o bondinho estão entre as muitas emocionantes e surpreendentes imagens da exposição “Rio de Janeiro como Destino, cartazes de viagem, 1910-1970, Coleção Berardo”, no Museu Histórico Nacional (MHN), no Centro da cidade.

Cartaz de Bernd Steiner, de cerca de 1920 / Divulgação
Cartaz de Bernd Steiner, de cerca de 1920 / Divulgação

É um dos melhores programas para os dias de chuva do verão carioca. Prorrogada até 20 de março, a mostra reúne 40 cartazes de companhias aéreas e marítimas que mostram o Rio no século passado como porta de entrada da América Latina para europeus e americanos.

Publicidade francesa de 1928 / Divulgação
Publicidade francesa de 1928 / Divulgação

A exposição tem como curadores Marcio Alves Roiter, diretor do Instituto Art Déco Brasil, e Paulo Knaus, diretor do MHN. “Os cartazes de publicidade das companhias marítimas e aéreas internacionais parecem indicar a estrada rumo à natureza, ao sol, à esperança do novo mundo, apresentando o Rio como destino. Alguns quase centenários provam que o produto da publicidade é capaz de sobreviver ao seu uso original, transformando-se em documento histórico”, escrevem Roiter e Knauss no texto de apresentação da mostra.

Cartaz de Victor Vassarely, de cerca de 1940 / Divulgação
Cartaz de Victor Vassarely, de cerca de 1940 / Divulgação

Hoje Lima é a cidade da América Latina que mais recebe visitantes, seguida pela Cidade do México. O Rio está na modesta 92ª posição na lista das cidades mais visitadas do mundo segundo o site Euromonitor.

Publicidade britânica do início da década de 1950 / Divulgação
Publicidade britânica do início da década de 1950 / Divulgação

Os Jogos Olímpicos de 2016 podem mudar o cenário para melhor. A cidade vai ganhar 20 mil novos quartos de hotéis, chegando a um total de 50 mil, e obras de infraestrutura estão melhorando a mobilidade urbana. A paisagem do Centro está mudando. Na reinaugurada Praça Mauá, onde fica o Porto do Rio, além do Museu de Arte do Rio (MAR), de 2013, há o Amanhã, um museu voltado para ciências, com projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Aberto há menos de um mês, alcançou esta semana a marca de 100 mil visitantes. Neste início as filas têm sido longas, e a espera para entrar no museu pode chegar a duas horas.

Projeção de como ficará a fachada da nova sede do MIS, na Praia de Copacabana / Divulgação
Projeção de como ficará a fachada do novo MIS, em Copacabana / Divulgação

Ainda na área cultural, a nova sede do Museu da Imagem e do Som (MIS) será inaugurada este ano em plena Praia de Copacabana. A expectativa é que os três museus juntos tragam mais de um milhão de visitantes à cidade. Para discutir o futuro do turismo no Rio pós-Olimpíadas, um grupo de empresários do setor e governantes se reuniu no fim do ano passado no MHN, em um evento paralelo à inauguração da mostra de cartazes de viagem. Alguns dos debates estão resumidos no site Rio como Destino.

Cartaz de Judd Wiertz, de cerca de 1930 / Divulgação
Cartaz de Judd Wiertz, de cerca de 1930 / Divulgação

No caminho para a sala (com ar-condicionado) da exposição, não deixe de parar para admirar as carruagens dos tempos do Brasil Império e o famoso pátio de canhões do museu. O restaurante do MHN, The Line, é uma boa opção para o almoço.

Cartaz de Kenneth Shoesmith, de cerca de 1920
Cartaz de Kenneth Shoesmith, de cerca de 1920

Serviço

Exposição “Rio como Destino, cartazes de viagem, 1910-1970 Coleção Berardo”.

Local: Museu Histórico Nacional, Praça Marechal Ancora s/nº, Centro.

Horário: Terça a sexta-feira, das 10h às 17h30m. Aos sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.

Ingresso:  R$ 8. Entrada grátis aos domingos.

Dias de glória na Glória

A Glória e parte do Centro vistos do Outeiro / Foto de Carla Lencastre
A Glória e parte do Centro vistos do Outeiro / Foto de Carla Lencastre

Este mês tem Casa Cor Rio. Mas nem é preciso uma mostra de decoração e paisagismo para justificar uma ida à Glória, bairro de passado aristocrático que passou décadas meio abandonado. De uns anos para cá, com mais segurança, novos moradores e opções de lazer, a Glória está mudando de cara. Entre o Centro e a Zona Sul, é uma das áreas históricas do Rio. O Casa Cor é mais um ótimo pretexto para ir passear por lá.

Uma das casas da Villa Aymoré / Foto de Carla Lencastre
Uma das casas da Villa Aymoré, sede do Casa Cor / Foto de Carla Lencastre

A mostra este ano acontece na lindíssima Villa Aymoré. Suas centenárias casas estavam em ruínas, e foram inteiramente restauradas. Na vila teria morado a Baronesa de Sorocaba, irmã da Marquesa de Santos e também amante de Dom Pedro I. Mas os primeiros moradores da região foram os tupinambás, e todas as casas da Villa Aymoré têm nomes de origem indígena.

Villa Carijó / Foto de Carla Lencastre
Villa Carijó / Foto de Carla Lencastre
Villa Iriri / Foto de Carla Lencastre
Villa Iriri / Foto de Carla Lencastre

A Villa Aymoré fica no início da Ladeira da Glória, que leva ao magnífico Outeiro, frequentado pela família imperial. Você pode começar o passeio pela Rua do Russel, pegando o plano inclinado (gratuito) até o Outeiro. No interior da igreja não deixe de admirar as paredes decoradas com belos azulejos.

Plano inclinado do Outeiro da Glória / Foto de Carla Lencastre
Plano inclinado da Glória / Foto de Carla Lencastre

 

O interior do Outeiro / Foto de Carla Lencastre
O interior do Outeiro / Foto de Carla Lencastre
Detalhe dos azulejos no interior da igreja / Foto de Carla Lencastre
Azulejos da igreja / Foto de Carla Lencastre
Outro painel de azulejos / Foto de Carla Lencastre
Outro painel de azulejos / Foto de Carla Lencastre

Do alto do Outeiro, descortina-se a Baía de Guanabara, a Marina da Glória, o Pão de Açúcar e, triste constatação, o abandonado Hotel Glória. Um dos símbolos do bairro, erguido em 1922, com uma bela vista para a baía, foi comprado pelo empresário Eike Batista, que derrubou toda a parte interna do hotel. Hoje o Glória está destruído. As obras estão paralisadas há dois anos, quando agravou-se a crise financeira do grupo comandado por Eike.

A baía, o Pão de Açúcar e o Hotel Glória / Foto de Carla Lencastre
A baía, o Pão de Açúcar e o Hotel Glória / Foto de Carla Lencastre

Do Outeiro desça a ladeira com calçadas de pedras portuguesas para chegar ao Casa Cor.

Ou faça o itinerário inverso. Apesar de ser uma ladeira, a caminhada é curta, e tanto faz o ponto de partida do percurso. A estação de metrô da Glória fica perto do início da ladeira. Só leve em conta que o verão carioca começou semana passada, e as temperaturas já chegaram perto dos 40ºC. Como quase sempre, água, chapéu e protetor solar são indispensáveis.

A Glória vista da Villa Aymoré / Foto de Carla Lencastre
A Glória vista da Villa Aymoré / Foto de Carla Lencastre

As casas de vila do Casa Cor não têm ar-condicionado. Fiz o passeio durante o dia, mas talvez tivesse sido mais agradável ao cair da tarde. Mesmo no calor, não deixe de dar uma paradinha no lindo Jardim de Frida Kahlo, projeto da paisagista Paula Bergamin inspirado na casa da pintora, na Cidade do México.

Jardim de Frida Kahlo / Foto de Carla Lencastre
Jardim de Frida Kahlo / Foto de Carla Lencastre
O Corcovado visto do jardim de Frida /Foto de Carla Lencastre
O Corcovado visto do jardim de Frida /Foto de Carla Lencastre

A Ladeira da Glória e o Outeiro, erguido de meados do século XVIII, ficam de um lado da Glória. Do outro, as ruas levam a Santa Teresa e a passeios diferentes. Na ladeira, encontra-se também a Casa da Glória, onde nos fins de semana acontecem eventos culturais e gastronômicos. Para começar ou encerrar o passeio pela Glória de um jeito carioca, tome um chope na Taberna da Glória, no sopé da ladeira. O bar é concorrido no carnaval, mas fica mais tranquilo nesta época do ano. Se for domingo de manhã, não deixe de passar na feira livre do bairro, na Rua da Glória, e comer uma tapioca.

Cartão-postal do Outeiro / Foto de Carla Lencastre
Cartão-postal do Outeiro / Foto de Carla Lencastre
Pedras portuguesa na Ladeira da Glória / Foto de Carla Lencastre
As pedras da ladeira / Foto de Carla Lencastre

A duas fotos acima foram publicadas no meu Instagram. Para me acompanhar por lá é só procurar por Carla Lencastre. No facebook a página tem o nome do meu outro blog, O Olhar Nômade.

Casa Cor Rio: A mostra foi prorrogada até 13 de outubro. De terça-feira a domingo, das 12h às 21h. Ingresso: R$ 44 (de terça a sexta-feira) e R$ 50 (fim de semana). Villa Aymoré, Ladeira da Glória 26. Quando terminar o Casa Cor, as casas serão alugadas como escritórios.

Outeiro da Glória: De terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h. Aos sábados e domingos, das 9h às 12h. O plano inclinado funciona nos mesmos horários.