As Olimpíadas já começaram

Os anéis olímpicos foram instalados nas areias da Praia de Copacabana semana passada, o esquema de segurança teve início no domingo e os atletas estão chegando. Também já apareceram problemas na Vila Olímpica e muitos cariocas continuam de péssimo humor e reclamando (não sem razão, é importante ressaltar). O fato é que agora não existe mais um Rio sem Olimpíadas. A cerimônia de abertura será no próximo dia 5, e as transformações pelas quais a cidade passou se fazem notar por toda a parte.

Parte da nova Praça XV, com a Estação das Barcas ao fundo / Foto de Carla Lencastre
Parte da nova Praça XV, com a Estação das Barcas ao fundo / Foto de Carla Lencastre

Do ponto de vista urbanístico, o maior legado olímpico é o Centro da cidade, sobre o qual escrevi aqui diversas vezes neste último ano. Com a derrubada do Elevado da Perimetral, o Rio ganhou de volta a Praça Mauá e toda uma Região Portuária revitalizada, com o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio, o AquaRio (com inauguração prevista para o fim do ano) e a Orla Conde, calçadão que liga as praças Mauá e XV margeando a Baía de Guanabara.

Vista livre para a Baía de Guanabara / Foto de Carla Lencastre
Vista livre para a Baía de Guanabara na Praça XV / Foto de Carla Lencastre

A Praça XV ficou pronta por último (na realidade ainda há alguns pequenos trechos em obras). A promessa é estar tudo concluído até o próximo dia 5. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), um importante legado na área de mobilidade urbana, só vai chegar à praça depois das Olimpíadas. Por enquanto o bonde liga o Aeroporto Santos Dumont à Região Portuária, pela Avenida Rio Branco, das 7h às 21h. Mesmo ainda sem VLT, a Praça XV já justifica o passeio. Como na Praça Mauá, a derrubada da Perimetral devolveu a vista para a Baía de Guanabara. E para o prédio centenário da Estação das Barcas, de onde partem as ligações para Niterói, Paquetá e Ilha do Governador.

A torre remanescente do antigo Mercado Municipal / Foto de Carla Lencastre
A torre remanescente do antigo Mercado Municipal / Foto de Carla Lencastre

Logo ao lado, a Praça Marechal Âncora também está tinindo de nova. É o endereço do Museu Histórico Nacional e do tradicional Albamar, que agora se chama Ancoramar. O restaurante está localizado na única torre que restou do antigo Mercado Municipal, projetado por Grandjean de Montigny no início do século XIX. O mercado foi inaugurado em 1908 para as comemorações do centenário da Abertura dos Portos. O restaurante surgiu em 1933. Teve período de altos e baixos, mas continua um clássico carioca. O menu dá ênfase aos frutos do mar, em pratos bons, bonitos e caros.

O salão do restaurante / Foto de Carla Lencastre
O salão do restaurante / Foto de Carla Lencastre

Nesta nova fase, o Albamar, ops, Ancoramar (vou demorar a me acostumar com o novo nome) tem uma versão mais informal no térreo. Ali funciona um bar com as portas abertas para a praça e a baía. Quase todo fim de semana as praças Marechal Âncora e XV têm sido palco de eventos variados. Durante as Olimpíadas a Praça XV terá um bungee jump e um dos palcos do Boulevard Olímpico com shows diários de artistas brasileiros. O trecho entre a Praça XV e a Região Portuária, com três quilômetros de extensão, foi batizado de Boulevard Olímpico Porto Maravilha e terá ao todo três palcos. Telões vão transmitir as principais competições.

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Detalhes da inauguração do novíssimo Yoo2 / Fotos de Carla Lencastre
Detalhes da decoração do novíssimo Yoo2, em Botafogo / Fotos de Carla Lencastre

Além da inauguração das obras públicas, o Rio tem visto a abertura de um hotel atrás do outro nesta reta final (será um grande desafio manter uma boa taxa de ocupação pós-Olimpíadas). Muitos ficam na Barra da Tijuca, como o Grand Hyatt Rio e os recém-inaugurados Pestana Barra Beach, Courtyard e Residence Inn, estes dois últimos da Marriott. Na Zona Sul, a grande estrela dos últimos dias é o Yoo2 by Intercity, na Praia de Botafogo, com um das vistas mais deslumbrantes do Rio. Escrevi sobre o hotel para a edição da semana passada do Jornal Panrotas. Dá para ler a reportagem na versão digital (páginas 28 e 29) aqui no Portal Panrotas.

Vista de um dos quartos do Yoo2 / Foto de Carla Lencastre
A vista espetacular de um dos quartos do Yoo2 / Foto de Carla Lencastre

Que comecem os Jogos!

A nova orla do Rio

A emoção de ver algo pela primeira vez. É assim que a Prefeitura do Rio está anunciando a inauguração da fase inicial da Orla Prefeito Luiz Paulo Conde, no Centro da cidade, às margens da Guanabara. O trecho que acaba de ser aberto ao público sai do Museu do Amanhã, na Praça Mauá, e vai até perto da ponte que leva à Ilha das Cobras. Toda a área pertence à Marinha, inclusive a ilha, e é a primeira vez que o público em geral tem acesso a pé a este trecho.

A Ilha das Cobras (à esquerda), que pertence à Marinha / Foto de Carla Lencastre
A Ilha das Cobras (à esquerda) e a nova orla / Foto de Carla Lencastre

Com um total de 3,5 quilômetros de extensão, a Orla Conde vai ligar a Praça Mauá à Praça Quinze, também no Centro, sempre margeando a baía. A previsão é que esteja concluída antes dos Jogos Olímpicos. Por enquanto, o trecho aberto é curto, mas já permite apreciar o Centro da cidade de novas perspectivas. O Mosteiro de São Bento, por exemplo, imponente construção colonial do fim do século 16, se destaca soberano acima da região ocupada pela Marinha. A única tristeza é a água da baía, que continua poluída.

O Mosteiro de São Bento visto da Orla Conde / Foto de Carla Lencastre
O Mosteiro de São Bento visto da Orla Conde / Foto de Carla Lencastre

Aproveitei a abertura do novo caminho do Rio para finalmente conhecer o Museu do Amanhã. Inaugurado em dezembro, pouco antes do Natal, passou o verão com filas ao ar livre que duravam duas ou três horas. Apenas nos primeiros 18 dias de funcionamento foram cem mil visitantes, que enfrentaram bravamente o forte calor. Mas agora está tudo diferente (menos a temperatura que continua a mesma). Com exceção das terças-feiras, quando a entrada é gratuita, durante a semana praticamente não há longas esperas. E uma parte dos ingressos, com hora marcada, está à venda pela internet. As filas são curtas, mas o passeio envolve caminhadas ao sol em uma área ainda não arborizada. Então não se esqueça do kit básico de sobrevivência no Rio: boné ou chapéu, garrafinha de água e protetor solar.

A entrada do Museu do Amanhã / Foto de Carla Lencastre
A entrada do Museu do Amanhã / Foto de Carla Lencastre

Muito já se falou sobre este novo cartão-postal carioca, um museu da ciência projetado pelo polêmico arquiteto valenciano Santiago Calatrava. Em um resumo muito rápido, o acervo reúne informações, dispostas de maneira interativa e sempre em três idiomas (português, inglês e espanhol).

Praça Mauá

Praça Mauá

Cenas do interior do Amanhã / Fotos de Carla Lencastre
Cenas do interior do Amanhã / Fotos de Carla Lencastre

Do lado de fora, sua estrutura de aço tem painéis de captação de energia solar. Os espelhos d’água ao lado do museu fazem parte de um sistema que usa a água da baía para a refrigeração, e depois a devolve ao mar. Em um deles há uma escultura de Frank Stella (na foto destacada no alto deste post). Um bilhete único dá acesso ao Amanhã e ao vizinho Museu de Arte do Rio (MAR).

Na Praça Mauá, o edifício A Noite (à esquerda) e o MAR (à direita)
Na Praça Mauá, o edifício A Noite, o primeiro arranha-céu do Rio, e o MAR (à direita)

Mesmo que você não pretenda visitar o MAR, não deixe de ir até o terraço (o acesso é gratuito). É de lá que se tem o melhor panorama da nova Praça Mauá e do Museu do Amanhã.

O panorama da praça visto do terraço do MAR / Foto de Carla Lencastre
O panorama da praça visto do terraço do MAR / Foto de Carla Lencastre

Bem perto do MAR fica o Morro da Conceição. O passeio pode continuar por uma das áreas mais antigas do Rio, ocupada desde o final do século 16. Encerrei o programa no Imaculada Bar e Restaurante, na Ladeira do João Homem, calçada com paralelepípedos e repletas de sobrados coloridos de inspiração portuguesa. Estamos a apenas alguns minutos da Praça Mauá do século 21, mas a sensação é que se atravessou um portal do tempo. O acesso para a ladeira é por uma escadinha que sai da Travessa do Liceu. O bar fica bem no início da subida e perto do asfalto. Durante o dia, a área é segura.

Praça Mauá

A entrada do Imaculada, no Morro da Conceição / Foto de Carla Lencastre
A Ladeira do João Homem e entrada do bar, no Morro da Conceição / Fotos de Carla Lencastre

No Imaculada cada mesa leva o nome de um músico carioca. Fiquei na Jacob do Bandolim, ao lado da Jamelão. No cardápio, clássicos de botequim com um charme a mais, como pastéis de carne seca, bolinhos de feijoada, um saboroso filé mignon com vinho tinto e linguiça calabresa acebolada flambada com raki e acompanhada de um delicioso creme de aipim. Os preços, entre R$ 18 e R$ 32,90, são mais do que razoáveis para o padrão carioca.

Praça Mauá

Praça Mauá

No Imaculada / Fotos de Carla Lencastre
No Imaculada / Fotos de Carla Lencastre

Para beber, há cervejas variadas, nacionais e importadas, e caipirinhas (R$ 18). Entre elas, uma curiosa versão “detox”, com couve, gengibre, limão, hortelã e cachaça. Não me arrisquei.

A Ponte Rio-Niterói e o Amanhã / Foto de Carla Lencastre
A Ponte Rio-Niterói e o Amanhã / Foto de Carla Lencastre

Museu do Amanhã. Terça-feira a domingo, das 10h às 18h. Ingresso: R$ 10. Um bilhete único de R$ 16 dá acesso também ao vizinho Museu de Arte do Rio (MAR). Da estação de metrô da Uruguaiana até a Praça Mauá são uns 15 minutos de caminhada. O VLT (bonde sobre trilhos ainda em fase de testes), que vai ligar o Aeroporto Santos Dumont à Rodoviária Novo Rio, terá um ponto na praça. museudoamanha.org.br

Imaculada Bar & Restaurante. Segunda-feira, das 11h às 15h. De terça a sábado, das 11h às 22h. Domingo, das 11h às 17h. Ladeira do João Homem 7. Tel + 21 2253-3999. www.barimaculada.com.br

 

Vista para um novo Rio

A blogosfera Panrotas está cheia de novidade. Para dar as boas-vindas aos que já conheciam o Direto do Rio e também a quem está chegando agora a esta nova fase do blog, nada melhor do que escrever sobre as mudanças pelas quais a cidade está passando.

Com a revitalização da Região Portuária, novas áreas e vistas do Rio são redescobertas, como o Santo Cristo. Na subida do Morro do Pinto, na Rua Sara, em uma área razoavelmente segura e de fácil acesso, fica o Bar do Omar com seu panorama bonito e inusitado do Porto do Rio e da Ponte Rio-Niterói ao fundo.

Parte do Porto do Rio visto do Bar do Omar / Foto de Carla Lencastre
O Porto do Rio e o novo AC by Marriott (à direita) vistos do Bar do Omar / Foto de Carla Lencastre

Há uns dois anos o lugar começou a aparecer no circuito dos botequins cariocas off-Zona Sul. Mas só conseguir ir agora, quando as obras na região já estão entrando em sua fase final. E foi um dos programas mais diferentes e divertidos que fiz na cidade nas últimas semanas.

A laje do Omar / Foto de Carla Lencastre
Mesa com vista na laje do Omar, no Morro do Pinto / Foto de Carla Lencastre

O simpático e empreendedor Omar que dá nome ao bar aproveitou a laje de casa para botar umas mesas, servir cerveja gelada e uns bons petiscos e incrementar a renda da família. O boca a boca foi fazendo a fama do boteco com vista para o novo Rio. O Bar do Omar participou de duas edições do concurso Comida de Buteco, os negócios da família prosperaram e o botequim agora ocupa também o terraço do vizinho.

Omar

Omar

Detalhes da decoração do Bar do Omar / Fotos de Carla Lencastre
Detalhes da decoração do Bar do Omar / Fotos de Carla Lencastre

Uma pequena mureta repleta de plantas marca a divisa entre as duas lajes. Mesas e cadeiras são de madeira. Lampiões balançam ao vento (não há áreas fechadas com ar-condicionado). O terraço original tem paredes verdes. No anexo foi pintado um painel com motivos marinhos, incluindo o personagem Bob Esponja e um submarino amarelo. Telhas de zinco protegem toda a área. A trilha sonora é o cacarejar dos galos do vizinho.

Omar

Garrafas de cerveja (no alto) e drinque de seriguela / Fotos de Carla Lencastre
Garrafas de cerveja (no alto) e drinque de seriguela / Fotos de Carla Lencastre

O cardápio tem dez tipos de cerveja de 600ml e outras tantas opções de long neck, a maioria nacional. Há também caipirinhas e caipiroscas servidas à moda do Nordeste com frutas pouco encontradas no Rio, como cupuaçu, cajá e seriguela. Para abrir os trabalhos, a pedida é a Omaracujá (R$ 5), uma deliciosa batida de maracujá com trocadilho. O grande sucesso da casa são os hambúrgueres (entre R$ 10 e R$ 25), apresentados com observação “não é gourmet”. Mas também há batata frita (R$ 19) e linguiça acebolada (R$ 23, acompanhada de pão de alho) como em qualquer botequim carioca, além de bolinhos de sabores variados (a minha pedida). O serviço é bom e os preços são honestos, ainda mais em um Rio inflacionado.

Omar

Pôr do sol no Bar do Omar (com o novo Holiday Inn se destacando na paisagem) / Foto de Carla Lencastre
Fim de um dia de verão no Bar do Omar (com a torre do novo Holiday Inn se destacando na paisagem) / Fotos de Carla Lencastre

O melhor horário para ir ao Bar do Omar é no final da tarde, para assistir ao pôr do sol e à cidade se acendendo. No panorama chamam atenção dois hotéis novos que serão inaugurados na Região Portuária nos próximos meses. Um deles é Holiday Inn Porto Maravilha, que marca a volta da rede IHG ao Rio. Em uma torre de 32 andares, com mais de 500 quartos, destaca-se na paisagem a piscina construída na base do prédio.

O outro será um AC, bandeira espanhola de design que foi comprada pelo grupo hoteleiro americano Marriott. O AC by Marriott Porto Maravilha tem sua abertura prevista para junho. Para a primeira semana de julho, a diária custa a partir de R$ 285. A piscina fica no terraço, que deve ter mais uma vista incrível para o novo Rio. Agora é esperar para ver se o bar do hotel será tão bom quanto o Bar do Omar.

Detalhe do painel do fundo do mar do Omar / Foto de Carla Lencastre
Detalhe do painel do fundo do mar do Omar / Foto de Carla Lencastre

Bar do Omar. Rua Sara 114, Santo Cristo. facebook.com/BarDoOmar