No dia 11 de março de 2020, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou o avanço da contaminação da covid-19. Desde esse momento, o setor de eventos e viagens corporativas vem lutando nesse cenário inédito com fronteiras fechadas, voos cancelados, novos protocolos e o receio do incerto.
E diante de uma situação diferente, com a paralisação que parecia ser por uma curta temporada, mas que se estendeu por longos meses, tentamos nos fortalecer, entre altos e baixos. Chegamos em 2022 com muitos desafios, novas realidades, mas com perspectivas positivas.
De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a contribuição do turismo para o PIB da América Latina pode chegar a US$ 233 bilhões este ano, alta de 48,2% em relação a 2020. Apesar disso, esses dados ainda estão 12,7% abaixo dos níveis pré-pandemia. Em 2019, o setor na região contribuiu com US$ 267 bilhões para o PIB, ou seja, 8,1% da economia. Em 2020, com o início da pandemia, caiu para 41,1%, com apenas US$ 157 bilhões. O WTTC também apontou que à medida que a economia global comece a se recuperar, os empregos no turismo podem retomar gradualmente, o que já estamos vendo acontecer. Caso as restrições de viagens fiquem mais flexibilizadas e a vacinação continue avançando, até o final deste ano, o número de empregos do mercado na América Latina pode chegar a 16 milhões de vagas, 22,8% a mais que no primeiro ano pandêmico.
E segundo dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), criado pela FecomercioSP em parceria com a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV), o faturamento do setor quase dobrou em um ano. O LVC aponta que em janeiro as atividades ligadas às viagens corporativas registraram faturamento de R$ 4,86 bilhões, alta de 91,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Embora o valor tenha quase dobrado na comparação com janeiro de 2020, pré-pandemia, o nível ainda está 14,9% abaixo.
De acordo com o estudo, a alta significativa no primeiro mês do ano se dá por conta da base fraca de comparação. Em janeiro de 2021, o segmento apresentou queda de 55,6%, quando as empresas estavam com restrições para funcionar, principalmente com a chegada da segunda onda do coronavírus. O indicador mostra que a recuperação do mercado é um termômetro relevante de aquecimento das empresas que realizam e incentivam viagens de negócios pelo país. Isso porque ao ter o funcionário se deslocando, movimenta-se a economia pela compra de passagens aéreas ou de ônibus, hospedagem, alimentação e todos os demais gastos que uma viagem exige.
Outro ponto que o estudo ressalta é que a retomada é certa por motivos como a demanda reprimida da pandemia, a impossibilidade de deslocamento ou excesso de reuniões on-line, além do retorno à normalidade e a expansão dos negócios diante da abertura completa da economia, sobretudo após a vacinação ter alcançado um percentual relevante na sociedade.
Porém, o ritmo do real retorno é o que mais gera dúvidas. Primeiro por uma economia doméstica fraca, com juros elevados e que inibem os investimentos das empresas. Adiciona-se a isso o fato do aumento de custos por conta da inflação. E, nesse aspecto, as empresas estão mais rigorosas nos critérios de aprovação das viagens dos funcionários e empresários, pesando os custos x benefícios.
Desafios do setor aéreo e hoteleiro
Com a alta do câmbio, o setor aéreo enfrenta alguns desafios, já que possui 51% dos custos dolarizados, sendo um terço deles ligado ao querosene e 18% em referência ao pagamento do leasing das aeronaves. Além disso, temos a questão da pandemia, que não acabou. Porém, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) defendeu que medidas emergenciais de contenção de preços devem ser realizadas, pelo menos, durante a vigência do conflito da Rússia com a Ucrânia. Assim, a indústria consegue diminuir um pouco o impacto da crise.
Considerando a hotelaria, foram registrados bons resultados com o Carnaval. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), Alagoas e Sergipe se destacaram com 80% de seus quartos reservados. O ranking segue com Rio Grande do Norte (70%), Pernambuco (67%), Ceará (65%), Bahia (52%), Paraíba (47%), Piauí (45%) e Maranhão (40%) no Nordeste. Na região Sudeste, Rio de Janeiro e Espírito Santo alcançaram 72% de reservas, seguidos por Paraná com 65%, e São Paulo e Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com 50%. No Norte do país, destacam-se Goiás (50%), Brasília (47%), Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (40%). Apesar de positivos, os números ainda não são suficientes para celebrar uma real recuperação total. Em escopo geral, a taxa de ocupação de 2021 ficou em 34,45%, ou seja, 31,33% acima dos resultados de 2020, mas 45,8% abaixo dos dados do período pré-pandemia (2019).
No geral, os próximos meses serão decisivos, pois ainda enfrentaremos problemas das consequências do coronavírus, economia com inflação, política e juros elevados.
Luz no fim do túnel
Por outro lado, acredito que teremos um longo caminho pela frente, mas não é a primeira vez que passamos por obstáculos. Com o impulsionamento da vacinação em massa aliada à adoção de protocolos de biossegurança por parte dos serviços turísticos, que oferecem cada vez mais um ambiente seguro, o nosso país viverá um período de retomada.
O avanço e recuperação da indústria, mesmo que em passos mais lentos, podem ser confirmados por conta dos números crescentes de eventos e viagens. A exemplo disso, basta verificar as nossas agendas, que estão preenchidas por viagens e encontros corporativos. Os corredores das feiras estão estampados por muito sucesso, networking e alegria – o que não víamos há mais de dois anos. Comprovação desse cenário, foram os eventos que aconteceram recentemente, como a LACTE e WTM. E os que já estão confirmados no calendário do empresário como, por exemplo, o Fórum Panrotas, Abav TravelSP, Expo Turismo Paraná e ILTM Latin America, entre outros.
Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV.