Turismo corporativo: crescimento em meio aos desafios econômicos

Faltam poucos dias para encerrar 2024. O turismo corporativo no Brasil conquistou resultados expressivos, mesmo em meio a um cenário econômico desafiador. De acordo com o Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), feito pela FecomercioSP em parceria com a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev), o setor deverá registrar um crescimento de 5,5%, com faturamento total de R$ 130 bilhões, o maior da série histórica iniciada em 2011. Esse desempenho positivo reflete o aumento da demanda por serviços como transporte aéreo, hospedagem, locação de veículos e transporte rodoviário.

Durante o “Café com mantenedores”, da Alagev, Guilherme Dietze, da FecomercioSP, compartilhou importantes esclarecimentos sobre o panorama econômico nacional e as perspectivas para o setor. Ele destacou que o turismo brasileiro alcançou R$ 203 bilhões em faturamento, superando o recorde de 2014. O mercado corporativo representa 64% desse resultado, ou seja, R$ 130 bilhões

Apesar do otimismo, Dietze alertou sobre os desafios previstos para 2025. Entre os principais entraves, estão a alta carga tributária, a baixa produtividade e a escassez de mão de obra qualificada, além da pressão sobre os preços e a volatilidade cambial. Por isso, acreditamos que a economia brasileira deva crescer apenas 2%, evidenciando uma recuperação lenta.

Os ambientes político e econômico também trarão incertezas, especialmente em um ano pré-eleitoral. A atuação do novo presidente do Banco Central e as tensões geopolíticas globais, como a reeleição de Trump nos Estados Unidos, podem impactar o Brasil, seja nas relações comerciais ou nos mercados financeiros. As discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA), podem também afetar os discursos e decisões nacionais. 

O setor de viagens corporativas encerra 2024 com um recorde de faturamento. O mais recente dado que temos é de outubro,  quando  os gastos das empresas com esse tipo de serviços alcançaram R$ 12,7 bilhões, representando um aumento de 6,9% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O valor supera o recorde anterior, de R$ 12,4 bilhões, registrado em 2013 (ajustado pela inflação). No acumulado do ano, o setor apontou um faturamento de R$ 108,4 bilhões, um crescimento de 5,3% em relação ao mesmo período de 2023 (veja tabela abaixo).

Esse desenvolvimento se deve, em parte, à elevação nos preços dos serviços, fator que limita um aumento mais expressivo da produtividade. Apesar disso, a tendência de crescimento do segmento se manterá em 2025, com previsão de elevação de 4% e faturamento de R$ 135 bilhões. O avanço consistente é motivo de celebração, mesmo diante dos desafios. 

Expectativas para o futuroCom o desempenho positivo da economia brasileira, que acumula um crescimento de 3,1% nos últimos 12 meses, há otimismo moderado em relação ao futuro do setor. O consumo das famílias e os investimentos são indicativos de resiliência econômica. Ainda que a alta dos juros e outros obstáculos possam reduzir o ritmo da evolução financeira, o setor de turismo corporativo deve continuar a desempenhar um papel fundamental no cenário econômico nacional.

Nosso compromisso é continuar inovando e fortalecendo o mercado de turismo corporativo por meio de eventos marcantes, como o LACTE, além de intensificar treinamentos, parcerias estratégicas e pesquisas que agreguem valor ao setor. A cada ano, buscamos superar desafios e inspirar o crescimento do turismo no Brasil, consolidando nossa posição como referência e promovendo avanços que beneficiem toda a cadeia produtiva.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

Um ano de transformações: os marcos das Reuniões Globais da ALAGEV

Em 2024, realizamos quatro Reuniões Globais no Tivoli Mofarrej, em São Paulo, cada uma inspirada em formatos de programas de televisão. O objetivo foi aprofundar discussões sobre compliance, Environmental, Social, and Governance (ESG) e inovação no setor de eventos e viagens corporativas. Esses encontros contaram com a presença de centenas de profissionais (online e presencial) e foram marcados por debates estratégicos, ações colaborativas e lançamentos de projetos transformadores.

Acredito que tivemos vários momentos de muita conexão e como resultado desse trabalho em conjunto, criamos em cada reunião um manual corporativo sobre ESG. Os participantes trabalharam com os temas como respeito à governança, aspectos mais importantes dessa área, boas práticas e seus dilemas.

1ª Reunião Global – Global Show
A primeira edição, em 18 de março, que teve como tema o talk show “Global Show”, reuniu mais de 295 participantes e apresentou conceitos fundamentais de governança corporativa. Ao longo do ano, foram lançados o programa de embaixadores e dashboards de pesquisas anuais.

O debate destacou o crescimento do mercado de eventos, abordando desafios e boas práticas em temas como diversidade, gestão de riscos, segurança e impacto social. Foi enfatizada a importância de ações graduais e bem-feitas, aliando ética e responsabilidade para atender às demandas de stakeholders. Três orientações básicas foram discutidas: preparação profissional com projetos relevantes, manutenção de valores inegociáveis frente a culturas corporativas resistentes e assunção coletiva de responsabilidades. 

Outro ponto importante foi o painel “Chega Mais Anfitrião”, que tratou das certificações ISO 27.001 e ISO 1018:2020, destacando a necessidade de segurança de dados. A tecnologia foi vista como aliada, mas sempre dependente de políticas bem estruturadas e ações transparentes. Durante o evento, também foi exibido um vídeo do professor Gianfranco Muncinelli, que reforçou a governança como base para ações ambientais e sociais, destacando a importância de regras claras, compliance e monitoramento contínuo para otimização dos negócios.

2ª Reunião Global – Que história é essa Alagev?
Com o nome “Que história é essa Alagev?”, em maio, a segunda reunião usou como base um programa de auditório e reuniu 265 participantes. Iniciativas como a campanha em apoio ao Rio Grande do Sul, o lançamento do aplicativo da associação e a criação do segundo capítulo do manual sobre governança fortaleceram o protagonismo individual e a relevância de ações colaborativas no ambiente corporativo.

O encontro apostou em debates sobre diversidade na liderança, gestão de crises e ética nos negócios e destacou a “microrrevolução”, conceito que incentiva mudanças individuais e coletivas para transformar as práticas empresariais. Casos como a condução de crises e situações de assédio, fortaleceram a importância da transparência, responsabilidade e cultura organizacional. Além disso, foram realizadas ações solidárias, como a campanha “SOS Rio Grande do Sul” e o apoio ao Grupo Primavera, promovendo impacto social por meio de parcerias e práticas éticas.

3ª Reunião Global – GN News
Já em setembro, o telejornal “GN News” abordou compliance, transparência e comunicação eficaz, com a participação de 268 associados. A ação marcou a expansão do G-Summit para novas capitais, o lançamento do Index – pesquisa realizada em parceria com a FecomercioSP – e o programa Looping, que oferece benefícios exclusivos para os associados.

O evento discutiu temas como compliance, tecnologia e transparência na cadeia de suprimentos para o setor, enfatizando a importância de negociações éticas e planejamento estratégico. Profissionais destacaram a necessidade de adaptar políticas às culturas empresariais, usar tecnologias para facilitar processos e promover relações de confiança. Além disso, foram apresentados avanços como os minilabs do LACTE 2025 e novas lideranças da Alagev. 

4ª Reunião Global – 24h no ar
E, em novembro, tivemos o tema de reality show com “24h no ar, o que você faz quando ninguém te vê fazendo?”, que contou com 292 profissionais. O encontro mostrou a importância da reputação e da comunicação de marcas, explorando como ações nos bastidores impactam a percepção do público. Entre as atividades, o painel sobre comunicação enfatizou estratégias para gerenciar crises, valorização da imagem corporativa e o papel dos colaboradores como representantes das organizações. Além disso, uma plataforma digital inovadora possibilitou acompanhar a reunião, votar em novos líderes e explorar conteúdos interativos.

Os debates abordaram o impacto da tecnologia e inteligência artificial na gestão de crises e na reputação corporativa, destacando a necessidade de planejamento e governança. Anunciamos iniciativas como um curso de IA aplicada a eventos, a Missão Empresarial para a Espanha e o lançamento do LACTE20, que celebrará duas décadas de história em fevereiro de 2025. Esses esforços reforçam o nosso compromisso com a inovação e o desenvolvimento do mercado, promovendo conexões estratégicas e disseminando conteúdos relevantes para seus membros.

Análise
Vejo que teremos muitos desafios para colocar em prática tudo o que foi apresentado. A ênfase na “microrrevolução” é inspiradora, porém pode ser insuficiente sem que as empresas assumam um papel mais ativo na implementação de políticas consistentes e monitoráveis. A integração entre inovação e responsabilidade é crucial, mas exige maior alinhamento entre as ações estratégicas e as realidades operacionais das organizações, especialmente em um segmento ainda carente de práticas amplamente padronizadas e transparentes. É essencial que encontros como esses não apenas inspirem, mas também gerem impacto mensurável em toda a cadeia produtiva.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

COP30 no Brasil: estamos prontos para esse desafio global?

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será um marco importante para o estado do Pará e, em especial, para a cidade de Belém, que sediará o evento em novembro de 2025. Trata-se de uma oportunidade única para o Brasil, especialmente por ocorrer no coração da Amazônia. Além das discussões globais sobre preservação ambiental, a COP30 permitirá uma conexão direta com as realidades locais, desde as comunidades indígenas até os povos ribeirinhos. O encontro reunirá cerca de 40 mil visitantes, dos quais 7 mil fazem parte da “família COP” – delegações e equipes da ONU – o que garantirá uma visibilidade internacional sem precedentes.

A COP30 é uma oportunidade única para o Brasil, especialmente por ser realizada no coração da Amazônia. A conferência vai além de simples discussões sobre preservação ambiental. Será a chance de vivenciar e entender, em profundidade, as realidades locais. Não se trata mais de um debate distante sobre a maior floresta tropical do mundo, como ocorreu nas edições anteriores em lugares como o Egito ou a Alemanha. Agora, líderes mundiais, cientistas e ambientalistas vão estar fisicamente na Amazônia, observando e interagindo diretamente com as pessoas que ali vivem, e isso fará toda a diferença. Poderemos abordar a questão dos povos indígenas, suas tradições e sua relação com a floresta, assim como a vida dos ribeirinhos, tudo com uma proximidade sem precedentes.

O governo federal já sinalizou um investimento significativo de cerca de R$ 3,7 bilhões para a COP30, com verbas provenientes do Novo PAC, BNDES e Itaipu. Esse montante é fundamental para a preparação da cidade e da região para receber um evento dessa magnitude, mas é apenas uma parte do que precisa ser feito. Há urgência para que o estado do Pará e o governo federal foquem na infraestrutura, especialmente na rede hoteleira de Belém, que hoje está longe de atender à demanda estimada.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), a cidade conta com apenas 5.712 quartos de hotel, o que totaliza 12.115 leitos disponíveis, se somarmos também os espaços em hostels e áreas distantes do centro da capital. O déficit é gritante. A cidade precisaria, ao menos, quadruplicar sua capacidade hoteleira para receber os visitantes esperados na conferência, e o prazo para viabilizar essas mudanças está cada vez mais curto.

Entre as alternativas já discutidas pelo governador Helder Barbalho e a vice-governadora Hana Ghassan estão a construção de três novos hotéis de alto padrão, a adaptação de escolas em hostels temporários, o uso de cruzeiros de luxo para hospedagem e a construção de habitações modulares provisórias perto do centro de convenções. Também estão sendo consideradas soluções como o aluguel de temporada, utilizando plataformas como Airbnb e Booking. São medidas importantes, mas a implementação dessas propostas precisa ser rápida e eficiente. Não podemos mais perder tempo!

Na COP30, o Brasil tem a oportunidade de liderar pelo exemplo. O mundo estará observando, e a conferência pode ser uma vitrine para mostrar nosso comprometimento com a sustentabilidade, o desenvolvimento econômico e a proteção da Amazônia. Contudo, se não houver um esforço célere, sério e imediato dos governantes, essa oportunidade pode se transformar em um resultado extremamente negativo. A preparação deveria ter começado muito antes de ontem. Precisamos agir com seriedade e visão de futuro para garantir que Belém esteja à altura do desafio e que a COP30 deixe um legado duradouro para o estado, para o Brasil e para o mundo.

Se conseguirmos aproveitar essa oportunidade, poderemos não apenas atender ao público da COP, mas também transformar a região em um destino exemplar de turismo sustentável, gerando receitas que serão revertidas em mais conservação e desenvolvimento para a Amazônia. Agora, é a hora de agir! 

Luana Nogueira é diretora executiva da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV)