Como a IA está mudando a lógica da gestão de viagens corporativas

Edson Gonçalves, cofundador e VP de produtos na Paytrack

A inteligência artificial (IA) já deixou de ser uma promessa distante. Hoje, ela integra uma série de decisões operacionais e estratégicas no ambiente corporativo, inclusive na gestão de viagens, uma área historicamente marcada por processos manuais, respostas reativas e alto grau de imprevisibilidade.

Nos últimos anos, ferramentas baseadas em IA e análise preditiva começaram a reestruturar a forma como empresas controlam seus deslocamentos e orçamentos. O que antes exigia esforço constante de correção, hoje pode ser conduzido por dados que apontam com antecedência quando, onde e como os recursos serão utilizados. Na prática, isso significa conseguir prever picos de demanda, antecipar compras em períodos mais vantajosos, poder ajustar políticas com base em comportamentos recorrentes e até renegociar contratos a partir de padrões identificados pela própria tecnologia.

Um levantamento da MyCWT, plataforma de gestão de viagens da empresa CWT (anteriormente conhecida como Carlson Wagonlit Travel), mostrou que soluções baseadas em IA já são capazes de prever variações de custos com até 95% de precisão. Isso muda completamente a lógica dos gestores. Em vez de atuar depois que os custos estouraram, é possível construir cenários mais realistas, tomar decisões com antecedência e reduzir riscos operacionais.

Esse tipo de previsibilidade se torna ainda mais relevante quando consideramos o impacto financeiro do setor de viagens dentro das empresas. Uma gestão pouco eficiente pode gerar perdas expressivas não apenas em recursos, mas também em tempo, produtividade e reputação. Gastos fora da política, reservas feitas de última hora e falhas de comunicação com fornecedores são fontes recorrentes de desperdício que poderiam ser evitadas com ferramentas de antecipação.

Outro ponto importante é que a IA oferece ganhos que vão além do custo direto. Ao cruzar dados de comportamento, histórico de viagens e preferências, os algoritmos conseguem identificar padrões que ajudam a personalizar a experiência dos colaboradores, sem comprometer a política da empresa. Isso permite, por exemplo, negociar com fornecedores a partir da real demanda dos usuários, reduzindo gastos com serviços pouco utilizados e fortalecendo acordos mais estratégicos.

A adoção dessas tecnologias ainda encontra resistência em algumas organizações, especialmente pela percepção de que os modelos são complexos ou exigem uma reformulação completa dos sistemas já existentes. Mas o cenário está mudando. Ferramentas mais acessíveis e com integração simplificada vêm ganhando espaço e facilitando a entrada de empresas que, até então, viam a tecnologia como um investimento distante.

Neste momento, o maior desafio é cultural. É preciso reavaliar o papel do gestor de viagens. Ele deixa de ser um executor e passa a atuar como agente estratégico, alguém que utiliza dados não apenas para controlar, mas para planejar e influenciar decisões mais amplas dentro da empresa.

A previsibilidade oferecida pela IA não elimina os desafios da gestão de viagens, mas permite lidar com eles de forma mais estruturada. Em vez de responder a imprevistos com urgência, é possível criar um ambiente de controle contínuo, que antecipa riscos e gera economia.

À medida que essas soluções evoluem e se tornam mais comuns no mercado, é natural que a expectativa em torno dos resultados também aumente. Empresas que aprenderem a utilizar esses dados de forma prática, integrando-os à rotina de planejamento, estarão mais bem preparadas para lidar com flutuações econômicas, demandas inesperadas e mudanças no comportamento de consumo.

A gestão de viagens do futuro será orientada por dados. E, dentro desse contexto, prever será mais importante do que reagir.

*Edson Gonçalves é cofundador e VP de produtos na Paytrack, plataforma all-in-one definitiva para a gestão de despesas e viagens corporativas. O executivo possui quase 20 anos de dedicação ao campo da tecnologia.

Gestão de risco: quando estar preparado faz toda a diferença

É em momentos de crise que percebemos o valor de um bom planejamento. Quando falamos sobre a organização de eventos corporativos, inclusive internacionais, especialmente em regiões com contextos geopolíticos sensíveis, a gestão de risco precisa estar no centro da estratégia e não ser vista como um item opcional ou de última hora.

Recentemente, um grupo de políticos do Brasil viajou a Israel, a convite do governo daquele país, para um evento voltado à inovação em segurança pública. Durante a estadia, um conflito entre Israel e Irã se intensificou, o que causou o fechamento do espaço aéreo e forçou os brasileiros a se abrigarem em bunkers, que são estruturas subterrâneas fortificadas. A repatriação da comitiva, só possível após dias de articulação entre a Confederação Nacional de Municípios (CNM), o Itamaraty e o Palácio do Planalto, demonstrou claramente como uma crise pode se instalar repentinamente e como é importante ter um plano de ação bem estruturado para responder a ela.

O episódio serve como alerta: em um mundo cada vez mais interconectado, instável e dinâmico, empresas e governos precisam contar com protocolos robustos de gestão de risco para seus eventos e viagens internacionais. E isso vai muito além de checar a previsão do tempo ou garantir um seguro-saúde.

Gestão de risco, nesse contexto, significa avaliar previamente os possíveis cenários de instabilidade política, climática, sanitária ou de segurança no país de destino. Significa ter protocolos de evacuação, canais diplomáticos acessíveis, apoio jurídico e médico, e, principalmente, contar com parceiros internacionais que ofereçam suporte logístico e operacional global, caso uma crise impeça a movimentação imediata de participantes.

A repatriação dos gestores brasileiros só aconteceu pela mobilização de forças institucionais e diplomáticas de alto escalão. Em muitos casos corporativos, sem o envolvimento direto de governos, esse tipo de operação dependeria exclusivamente da preparação prévia feita pela empresa ou entidade organizadora do evento, além dos seus parceiros logísticos e de mobilidade internacional.

E não se trata da necessidade apenas em eventos em zonas de guerra. Gestão de risco também se faz necessária em encontros realizados durante períodos de instabilidade climática, como furacões nos Estados Unidos ou enchentes repentinas na Europa ou até mesmo no Brasil. A pandemia do coronavírus é outro exemplo recente: empresas com programas estruturados conseguiram reagir mais rapidamente às restrições de fronteira, mudanças de legislação e cancelamentos de viagens em massa. Outros casos emblemáticos incluem manifestações políticas em grandes cidades, fechamento de aeroportos por greves gerais, ou até mesmo incidentes naturais como terremotos e erupções vulcânicas.

Para quem atua na organização de viagens corporativas, feiras e convenções, o aprendizado é claro: é preciso investir em inteligência de risco, análise geopolítica e protocolos de contingência. Não basta torcer para que tudo ocorra bem. É necessário planejar, com o máximo de detalhes possíveis, como reagir se algo der errado.

Luana Nogueira é diretora-executiva da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev)

Brasil em destaque na IMEX Frankfurt 2025: tecnologia, estratégia e oportunidades para o avanço do MICE internacional

Mais uma vez, a Alagev esteve presente em um dos eventos mais relevantes do turismo de negócios global: a IMEX Frankfurt, realizada em maio, na Alemanha. Tive a oportunidade de acompanhar de perto as principais tendências e insights que estão moldando o futuro do setor.
O encontro reuniu representantes de mais de 150 países e reforçou o papel estratégico dos eventos internacionais na economia mundial — com importantes reflexões para o desenvolvimento do segmento no Brasil.
Entre os destaques, está o avanço expressivo do nosso país no ranking da ICCA (International Congress and Convention Association), que administra o maior banco de dados de eventos do mundo. O Brasil conquistou a 15ª posição global, consolidando sua liderança na América Latina e no Caribe. Foram 234 eventos internacionais realizados em 2024 — um crescimento de 50% em relação ao ano anterior, superando em 17% a meta estipulada. Esse resultado histórico é fruto da mobilização entre Embratur, CVBs regionais e setor privado, aliada ao esforço coletivo para posicionar o Brasil como um destino plural, competitivo e atrativo para o mercado MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions).
Outro avanço significativo foi a descentralização dos destinos brasileiros. Ao todo, 42 cidades sediaram eventos internacionais — um aumento de mais de 60% em comparação com 2023. Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Brasília, Campinas e São Paulo foram alguns dos destaques, comprovando o potencial de diferentes regiões para atender às exigências do mercado global.
Esses avanços refletem também os dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), realizado pela FecomercioSP em parceria com a Alagev. O setor segue em expansão: só no primeiro trimestre de 2025, o faturamento alcançou R$ 32,7 bilhões — novo recorde histórico, com crescimento de 7,2% em relação ao mesmo período de 2024. Esse desempenho reforça a relevância dos encontros presenciais como ferramentas de relacionamento, geração de negócios e valorização institucional, algo amplamente discutido na IMEX.

Captação estratégica e tecnologia como alavancas
Durante o evento, ficou evidente que alinhar a captação de eventos às vocações econômicas, acadêmicas e culturais de cada destino é essencial. Essa abordagem agrega valor e diferenciação em um mercado altamente competitivo.
A transformação digital segue como protagonista. Desde a jornada do participante até a análise de dados, a tecnologia tem impulsionado decisões mais eficazes e experiências mais conectadas. Um exemplo foi o lançamento, durante a feira, do novo módulo de capacitação em MICE da Embratur, que prepara profissionais e destinos brasileiros para atuar com excelência na atração de eventos internacionais — uma iniciativa totalmente alinhada à missão da Alagev de fomentar a qualificação e a inovação.

Dados, IA e personalização
Big Data e inteligência artificial (IA) deixaram de ser tendência para se tornarem realidade. A personalização baseada em dados permite sugerir incentivos, entender perfis e antecipar comportamentos. Essa inteligência contribui para eventos mais assertivos, com maior engajamento e retorno sobre o investimento.
Outro aspecto fundamental é a inclusão. Recursos como closed caption, tradução simultânea, storytelling imersivo e formatos adaptados a diferentes culturas não são mais diferenciais — são requisitos para uma entrega verdadeiramente global e humanizada.

Experiências imersivas e o papel do digital
A interatividade ganhou força com o uso de realidade aumentada para tours virtuais, gamificação, aplicativos personalizados e conteúdos sob demanda. A experiência híbrida — que combina participação presencial com acesso remoto — se mostrou uma solução valiosa para ampliar alcance e engajamento, sem perder qualidade.

Desafios e caminhos do Brasil no cenário internacional
Apesar dos avanços no ranking da ICCA, o Brasil ainda tem um caminho importante a percorrer para se consolidar como um destino prioritário no radar internacional. Fatores como o custo elevado, a ausência de uma promoção coordenada no exterior e a valorização insuficiente do turismo de negócios no próprio país ainda limitam nossa competitividade global.
Para mudar esse cenário, é fundamental uma atuação conjunta entre governo, setor privado e entidades do trade. O turismo de negócios movimenta bilhões, gera empregos, impulsiona a inovação e fortalece a imagem do Brasil no exterior. Investir em capacitação, tecnologia e na promoção estratégica dos nossos destinos é essencial para posicionar o MICE como um pilar relevante do desenvolvimento econômico e social.
A Alagev segue comprometida com esse movimento, atuando de forma integrada, inovadora e estratégica para ampliar a relevância do país no turismo de negócios. Que possamos ocupar, cada vez mais, os palcos internacionais não apenas como participantes, mas como protagonistas.
E para isso, nosso próximo passo será levar a delegação brasileira à Global Business Travel Association (GBTA), que acontece de 21 a 23 de julho, em Denver (EUA). Reconhecido como o principal encontro global do setor de viagens corporativas, reúne anualmente milhares de profissionais do mundo inteiro para uma agenda dedicada à troca de experiências, conteúdo estratégico e desenvolvimento de negócios. Em 2024, levamos 60 profissionais à convenção. A expectativa para 2025 é ampliar essa presença, impulsionada pelo retorno positivo dos participantes e pelo sucesso da iniciativa anterior.

Interessados em integrar a delegação já podem se inscrever pelo site: https://conteudo.alagev.org/gbta-2025.