Inovações em gestão de viagens: destaques das palestras da GBTA

Nós, da ALAGEV, tivemos a oportunidade de participar do GBTA (Global Business Travel Association) Convention, principal evento global da indústria de viagens de negócios, que aconteceu entre os dias 22 e 24 de julho, em Atlanta (EUA). O evento trouxe insights sobre como transformar a experiência de viagem corporativa, abordando desde a melhoria na gestão de viagens até a otimização de contratos e adoção de novas tecnologias. Abaixo, destaquei os principais pontos discutidos durante as sessões.

Crescimento econômico nas viagens corporativas em 2024
Na abertura, Suzanne Neufang, CEO do GBTA, apresentou os resultados do 2024 Business Travel Index Outlook. A pesquisa anual, realizada com 4,1 mil viajantes corporativos, trouxe insights de cinco regiões globais, em 72 países e 44 setores. Segundo Neufang, os gastos com viagens corporativas devem atingir US$ 1,48 trilhão este ano, com previsão de crescimento para US$ 2 trilhões em quatro anos, demonstrando a estabilidade econômica pós-pandemia.

Considerando o total de 2024, a América Latina responde por 3,6%, atingindo US$ 53,3 bilhões, enquanto a Ásia-Pacífico representa 41,3% (US$ 612,6 bilhões), a América do Norte 26,7% (US$ 396,8 bilhões), a Europa 26,4% (US$ 391,1 bilhões) e o Oriente Médio e África, 2% (US$ 30 bilhões). De acordo com os dados, o Brasil é o 10º país no ranking dos que mais gastam com viagens corporativas, com previsão de US$ 30,3 bilhões neste ano, e crescimento de 6%. Ficamos atrás da China, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido, França, Coreia do Sul, Índia e Itália. Vale destacar que o TOP 15 soma 84% do total, ou seja, US$ 1,25 trilhão.

O estudo também aponta vantagens potenciais para o período, como a estabilidade econômica vigente, os avanços tecnológicos e o crescimento de alguns mercados-chave. No entanto, os desafios incluem a persistência da inflação, a recuperação mais lenta da China, a geopolítica, os problemas com força de trabalho, os desastres naturais e a necessidade de soluções para acelerar a sustentabilidade.

Dados adicionais da pesquisa revelam que:
:: 64% dos entrevistados gastaram mais com viagens a negócios em 2024 do que em 2023;
:: 76% viajaram tanto quanto ou mais do que em 2019;
:: O gasto estimado na última viagem foi de US$ 834;
:: O objetivo principal de 23% dos viajantes é de participação em seminários e treinamentos, enquanto 13% viajam para convenções e conferências;
:: 43% valorizam conforto e 41% valorizam custos;
:: 58% combinam viagens profissionais e pessoais.

O estudo completo, com mais de 70 páginas de conteúdo, está disponível gratuitamente para membros do GBTA.

Building trust and refining your leadership branding
Carla Harris, consultora no Morgan Stanley, palestrante motivacional internacional e autora, falou sobre a transformação em pontos de conexão entre a liderança e a inovação. Ela destacou 3 passos que cada líder precisa seguir, sendo eles: autenticidade, você ser quem você é; gerar confiança, porque é a base principal de todas as relações; e transparência e clareza nas comunicações.

A palestrante também apresentou duas dicas de ouro: atuar exatamente dentro do escopo que você precisa fazer, ou seja, as atitudes e as atividades que são relevantes para você, e a segunda regra é que mesmo que você possa, não significa que muitas vezes você deva fazer. Ou seja, é preciso analisar com calma cada situação.

Design a simpler future: the connected travel experience
Na palestra “Design a simpler future: the connected travel experience” foram apresentados os desafios que os travel managers enfrentam como atrasos, despesas e cancelamentos. Para mostrar uma proposta para melhorar a experiência dos viajantes, o debate, comandado pelo Andrew Menkes, CEO da Partnership Travel Consulting, ressaltou que é necessário retornar às práticas antigas, onde ouvir os turistas se torna crucial. Além disso, as pesquisas desempenham um papel fundamental nesse processo, ajudando a identificar oportunidades e expectativas.

A ideia é criar uma experiência de viagem tão conectada quanto a que temos em casa, com TVs inteligentes e compras on-line. Para isso, é preciso evoluir no setor de viagens corporativas, garantindo que os viajantes tenham uma experiência integrada e fluida.

TMC RFP sourcing: 5 steps to ensure a successful process
Selecionar uma agência de viagens parceira é um dos maiores desafios para compradores e gestores de viagens. A palestra “TMC RFP Sourcing: 5 Steps to Ensure a Successful Process” mostrou cinco passos essenciais para garantir um processo bem-sucedido:

Formar uma equipe de stakeholders engajados e contar com o apoio de um patrocinador de nível C;
Identificar necessidades reais para criar um scorecard eficiente;
Estabelecer um cronograma realista desde o início do processo até a implementação e pós go-live;
Garantir a posse de dados de viagem, como volumetria, relatórios e perfil dos viajantes;
Escolher TMCs que tenham capacidade operacional para atender ao volume e processo da empresa.

Project travel optimizing extend stay needs for savings & experience
Equilibrar segurança, qualidade, conforto, orçamento e necessidades da empresa é importante para uma política de viagem eficaz. A palestra “Project Travel Optimizing Extend Stay Needs for Savings & Experience”, ministrada por Greeley Koch, diretor das Américas; Daniel Moretta, presidente de gestão de viagens Globespan; David Menezes, diretor, Sourcing Estratégico do Grupo Aecon, Inc.; destacou a valorização de uma ação viva, que se ajusta às prioridades de cada projeto.

NDC in Action: Adding NDC to Your Mix
A adoção do New Distribution Capability (NDC) tem acelerado, mas o modelo exige alinhamento e comunicação constante entre os parceiros da cadeia de distribuição. A palestra “NDC in Action: Adding NDC to Your Mix”, ministrada por Kathy Morgan, vice-presidente da gestão de produtos da Sabre; Tom Wilkinson, diretor de distribuição da SAP Concur; Dorian Stonie, diretor sênior de viagens globais de força de vendas; Alex Stutz, vice-presidente de viagens de negócios globais; enfatizou a importância de focar na qualidade dos produtos, em vez da quantidade de ofertas.

O grande desafio é encontrar o melhor equilíbrio entre reduzir custos e a complexidade, utilizando parceiros de negócios bem preparados. É essencial entender perfeitamente as urgências da organização para implementar soluções personalizadas e eficazes dentro do programa de viagens.

Elementos-chave na negociação de contratos de eventos
A sessão sobre negociação de contratos de eventos abordou a importância dos Acordos de Serviços Mestre (MSAs) para simplificação e eficiência. Os participantes destacaram a evolução dos contratos de hotéis e as prioridades de termos legais específicos para diferentes regiões.

A discussão também incluiu os desafios na consolidação de termos comerciais, a importância de dados e transparência, e a necessidade de comunicação objetiva e contínua. Os MSAs foram apontados como ferramentas essenciais para reduzir riscos financeiros e legais, além de facilitar a obtenção de contratos e reduzir o tempo de sourcing.

Por fim, as palestras do GBTA deste ano ofereceram uma visão abrangente e detalhada dos desafios e soluções para o setor de viagens corporativas, englobando desde a melhoria na experiência dos viajantes até a otimização de processos e inovação. Implementar essas práticas pode transformar significativamente a gestão, tornando-a mais eficiente e alinhada com as expectativas dos clientes.

*Luana Nogueira, diretora executiva da ALAGEV

Tecnologia e o Brasil fora do radar dos eventos: insights da ALAGEV no IMEX Frankfurt

Nos últimos meses, a ALAGEV marcou presença nos principais eventos de negócios, incluindo o IMEX Frankfurt, que aconteceu em maio na Alemanha. O nosso destaque foi os conversas sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) para apresentar soluções inovadoras e práticas avançadas no setor brasileiro. 

Inteligência Artificial em eventos
Durante o encontro, mostramos como a IA pode transformar a acessibilidade e a inclusão em eventos, utilizando closed caption (legenda oculta) e tradução simultânea em diferentes idiomas de forma online e instantânea. Destacamos a importância de criar experiências inclusivas, levando em consideração gênero, deficiências e diferenças culturais e regionais. Demonstramos um design imersivo e emotivo com foco em storytelling de alto nível, transformando pequenos momentos no espaço de eventos.

A transformação digital, por meio de multicanais, foi outro ponto crucial abordado. Acreditamos que ter dados é sinônimo de poder, uma vez que eles agregam imenso valor à experiência do usuário. A comunicação digital deve ser um diálogo em “duas vias” e, para isso, utilizamos ferramentas de sugestão de incentivos. Com dados sólidos e históricos, foi possível predizer, com base no perfil dos participantes e no orçamento disponível, a melhor indicação de programa e destino para a próxima viagem.

Personalização com Big Data
Utilizamos também o Big Data para personalizar a jornada do participante, coletando e analisando dados para criar experiências únicas. A personalização se mostrou fundamental para aumentar a satisfação e o engajamento de cada visitante.

Brasil fora do radar
Durante o encontro, tivemos acesso a uma série de pesquisas mundiais. Um dado que nos chamou a atenção foi o estudo da Incentive Travel Index, que mostrou que os dez destinos mais desejados pelos compradores norte-americanos e europeus são Canadá, Alasca, Cruzeiros, Havaí, Europa Emergente, América Central, Europa Ocidental, Caribe, Estados Unidos e México. Surpreendentemente, o Brasil não estava nessa lista.

Na minha perspectiva, essa ausência reflete uma realidade preocupante: a falta de investimento no turismo nacional. O Brasil, apesar de suas belezas naturais e culturais, enfrenta desafios significativos, como a falta de valorização por parte dos próprios brasileiros, altos custos de viagens para os nossos destinos e pouco aproveitamento em divulgações internacionais, especialmente nos países da América Latina que deveriam ser nossos principais aliados. É alarmante constatar que Paris (França), uma única cidade, recebe mais turistas anualmente do que todo o Brasil, um país continental. Para reverter essa situação, é fundamental investir em educação e conscientização sobre a importância do turismo e o potencial do destino. Além disso, é essencial continuarmos com a nossa luta diária com os políticos para o incentivo e prospecção desse setor, que é responsável por quase 8 milhões de empregos e 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (WTTC, 2023).

Meetings Outlook

Já no estudo do Meetings Outlook, foram apresentados os fatores de interesse na escolha de um local para eventos. A pesquisa mostrou que 28% dos participantes desejam um novo lugar; 23% preferem um destino já conhecido; 19% escolhem espaços usados anualmente; 17% optam por regiões não visitadas desde 2019; e 8% querem locais que proporcionem benefícios e all-inclusive. As principais justificativas para selecionar um espaço foram economia de custos (mais de 70%); redução de desperdício (acima de 50%); necessidades (próximo a 50%); sustentabilidade (mais de 40%); experiência (40%); apresentação (mais de 30%); localização (superior a 20%); jantar e individualização (20%).

Futuro do trabalho: elemento humano
O futuro do trabalho foi outro tema importante discutido. O IMEX destacou a relevância do bem-estar no ambiente de trabalho; a mudança de foco do dinheiro como principal fator de retenção de talentos; a redução de riscos com a contratação correta; e o foco em nichos de mercado. As habilidades cada vez mais valorizadas serão criatividade; comunicação com base em escuta ativa; pensamento crítico/analítico; e conexão em comunidade (ubuntu).

Realidade aumentada para tours e demonstrações
Nas minhas highlights do IMEX, percebi também a implementação de tours virtuais e demonstrações interativas usando Realidade Aumentada (AR), permitindo aos participantes explorar locais e interagir com produtos de maneiras inovadoras, mesmo sem a presença física.

Aplicativos personalizados para eventos
Os aplicativos personalizados são as ferramentas do momento. Eles centralizam informações importantes, facilitam o networking, e enviam notificações e atualizações aos participantes. 

Aliado a isso, a gamificação aumentou o engajamento. Com as plataformas de interação para perguntas e respostas ao vivo, enquetes e feedback em tempo real, além de experiências imersivas em Realidade Virtual (VR), há maior interatividade do público.

Plataformas de streaming e conteúdo sob demanda
O acesso on-demand a gravações de sessões e conteúdos adicionais, além de ferramentas que permitem interatividade online foram tão ricas quanto a experiência presencial. Esses pontos são importantes para que as empresas se atualizem e utilizem esses insights para atrair ainda mais os clientes e fornecedores internacionais e alcançar o seu lugar na lista de destinos mais desejados para eventos. 

Continuaremos com a nossa missão de inovar e liderar o setor de eventos com tecnologias avançadas e estratégias personalizadas, sempre focando na experiência do participante e na eficiência operacional. Porém, é crucial que o Brasil aumente seus investimentos em turismo, educação e promoção internacional para realmente se destacar como destino global.

*Luana Nogueira, diretora executiva da ALAGEV

O futuro do trabalho: preparação e adaptabilidade

Se tem um assunto que atrai atenção das pessoas é o futuro do mercado de trabalho. Durante o LACTE-19ª edição, evento anual promovido pela  Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV), Dado Schneider, professor e doutor em comunicação, em sua palestra “O Futuro mudou bem na minha vez” compartilhou sua experiência e visão sobre as transformações das gerações. 

Me identifiquei com seus pensamentos e decidi escrever esse artigo. De acordo com o especialista, a maioria dos profissionais que hoje está no mercado de trabalho é do século e milênio anterior e enfrenta um cenário de constante mudança. Durante a juventude, ele observou a resistência dos mais velhos em mudar seus ideais. Agora, ao amadurecer, percebeu uma nova dinâmica da evolução no mundo corporativo e que hoje é preciso  se adaptar rapidamente para permanecer relevante no mercado de trabalho.

Estruturas e hierarquias

No final do século XX, as estruturas empresariais, escolares e familiares eram verticais. O palestrante, quando mais novo, trabalhou em uma agência de publicidade e se inspirava para alcançar “essa vida tranquila” dos diretores. Após muito tempo de esforço, ao atingir esse patamar, o mundo mudou: agora, gerentes e empreendedores trabalham, muitas vezes, mais do que seus colaboradores.

Anos atrás era comum usar a frase “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Agora, as novas gerações não aceitam qualquer tipo de liderança e questionam quando percebem algo errado. 

Mentalidades e adaptação

Schneider refletiu sobre a distinção entre jovens e velhos em termos de abertura à mudança. Ele nota a existência de “jovem velho”, “velho jovem”, “jovem que é jovem” e o “velho que é velho”, destacando que a diferenciação é pela mentalidade e vontade de se atualizar, e não pela idade. No século XXI, preconceitos de cor, gênero e idade não são mais aceitáveis. Mudar hoje significa entender e aceitar o que acontece ao nosso redor, mesmo não gostando.

Futuro e evolução

Precisamos estar preparados para essa nova realidade. Vivemos a “adolescência do futuro”, onde o século XX tenta manter seu poder, mas o XXI está prestes a decolar, especialmente após a pandemia de covid-19. Com a inteligência artificial, valorização das minorias e a empatia, estamos dando um salto evolutivo. 

Vejo que as crianças estão mais conectadas ao mundo das notícias e com uma infância mais equipada, diferente do passado. Um exemplo claro sobre as alterações do comportamento da sociedade é que anos atrás o melhor bife em um jantar ficava com o adulto, hoje, o melhor alimento é destinado aos mais jovens. 

O especialista traz ainda uma reflexão valiosa “somos adultos inéditos, nunca houve adultos iguais a nós, porque vamos durar mais”. Com o avanço da medicina, qualidade de vida e tecnologia, as pessoas vão viver por mais tempo e precisam se adaptar às mudanças.

Há apenas dois séculos, nossa expectativa de vida mal ultrapassava 40 anos. Segundo o estudo, detalhado na revista The Lancet, a perspectiva de vida global deve aumentar de 73,6 anos em 2022 para 78,1 anos em 2050. E a vida saudável deve crescer de 64,8 anos para 67,4 anos. 

Por exemplo, na Espanha, a expectativa de vida dobrou no último século: passou de 40 anos em 1900 para mais de 83 anos em 2019, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol. Já nos últimos 50 anos, o número de pessoas com mais de 80 anos triplicou, enquanto o total de pessoas com 90 anos aumentou cinco vezes. Segundo estudo da Organização das Nações Unidas, essa tendência global indica que, até 2050, o número de centenários aumentará de 533 mil para mais de três milhões.

O Juan Carlos Izpisúa, bioquímico e participante do documentário da National Geographic “Life Science: Longevity”, comenta que “estamos muito próximos de viver 150 anos”. O especialista ressalta que os avanços científicos estão aumentando e nos aproximam de um futuro que está mais próximo do que parece.

Reflexão final

Pensando nesses dados e com base na palestra do LACTE, entendo que o problema não é a idade, mas sim parar no tempo e não querer se adaptar. 

Em um mundo em constante evolução, a capacidade de se atualizar e evitar envelhecer por dentro é crucial. Para continuar a crescer intelectualmente, é essencial abraçar a mudança e compreender as transformações ao nosso redor.

*Luana Nogueira, diretora executiva da ALAGEV