Rota de Paulo de tarso atrai turistas religiosos

Peregrinação internacional percorre locais sagrados na Turquia, Grécia e Itália e revela a trajetória do apóstolo Paulo em suas missões pelo mundo antigo

A fé e a história se entrelaçaram em um dos roteiros mais simbólicos do turismo religioso internacional: a Rota de São Paulo . Inspirado nas viagens missionárias do apóstolo Paulo de Tarso, o percurso atrai peregrinos, estudiosos e turistas em busca das origens do cristianismo e da cultura mediterrânea. Entre paisagens arqueológicas e cidades modernas, o itinerário passa por três países-chave — Turquia, Grécia e Itália — e reconstitui o itinerário descrito no Novo Testamento.

Paulo, considerado um dos grandes divulgadores da fé cristã no mundo greco-romano, percorreu milhares de quilômetros em missões evangelizadoras durante o século I. Seu legado é celebrado por meio de igrejas, ruínas, sinagogas e centros culturais que contam sua história com profundidade e emoção.

Na Turquia , os visitantes podem conhecer Tarso , cidade natal de Paulo, além de importantes polos da Ásia Menor como Éfeso, Icônio, Listra, Derbe e Antioquia da Pisídia . Esses locais preservam ruínas romanas e memoriais cristãos que testemunharam os primórdios da fé no Oriente.

O roteiro segue para a Grécia , onde Paulo realizou sua primeira grande missão europeia. Em cidades como Filipos, Tessalônica, Berea, Atenas e Corinto , ele esconde debates filosóficos, exclusivos e perseguições. Hoje, igrejas ortodoxas, sítios destruídos e museus narram esses momentos cruciais da história cristã.

A jornada culmina na Itália , com destaque para Roma , onde, segundo a tradição, Paulo foi preso, escreveu cartas e acabou martirizado. A Basílica de São Paulo Extramuros , a Via Ápia e a prisão de Mamertino são paradas obrigatórias para quem deseja reviver seus últimos passos.

Mais do que uma simples viagem, a Rota de São Paulo é uma tradição espiritual e cultural. Ela oferece não apenas a chance de explorar lugares históricos, mas também de reflexão sobre fé, resistência e transformação — valores universais que ainda ecoam nos caminhos do apóstolo.

Turquia – As raízes e as primeiras missões

A atual Turquia, na Antiguidade conhecida como Ásia Menor, abriga o início da jornada paulina.

  • Tarso : cidade natal de Paulo. Visite a Igreja de São Paulo e o poço tradicionalmente ligado à sua infância.
  • Antioquia da Pisídia : onde Paulo teria pregado em uma das primeiras comunidades gentílicas. Ruínas da basílica e do teatro romano revelam a imponência do lugar.
  • Éfeso : uma das cidades mais importantes do mundo antigo. Paulo viveu ali por três anos. O grande teatro, a Biblioteca de Celso e a Igreja de São João compõem o roteiro.
  • Icônio, Listra e Derbe : cenário das primeiras perseguições e especificidades. Guias locais ajudam a localizar os pontos de relevância bíblica.

Experiência recomendada : Trilhas históricas e visitas reflexivas com guias especializados em cristianismo primitivo.

 Grécia – Debates filosóficos e as primeiras comunidades na Europa

Paulo desembarcou na Europa por Filipos e iniciou uma jornada que mescla fé e debates intelectuais.

  • Filipos : local do batismo de Lídia, a primeira convertida europeia. O rio Zygaktis permite vivenciar renovações simbólicas de fé.
  • Tessalônica : ruínas e roupas mostram a tensão entre a mensagem cristã e a vida urbana helenística.
  • Berea : onde os bereanos, elogiados por Paulo, investigavam cuidadosamente as Escrituras.
  • Atenas : palco do famoso discurso no Areópago, onde Paulo confronta os epicuristas e estoicos sobre o “Deus desconhecido”.
  • Corinto : centro comercial onde Paulo viveu por 18 meses. Visitas ao tribunal (bema) e à estrada romana de Cencréia marcam a viagem.

Experiência recomendada : Leitura pública de Atos 17 com vista para a Acrópole, em Atenas, ou estudos bíblicos guiados em Berea.

 Itália – Prisão e martírio

O roteiro culmina em Roma, onde Paulo teria sido prisioneiro e martirizado.

  • Basílica de São Paulo Extramuros : erguida sobre o local de seu suposto túmulo.
  • Prisão Mamertina : onde Paulo teria ficado preso com Pedro.
  • Via Ápia : estrada por onde entrou em Roma, hoje caminho de peregrinação.
  • Vaticano e igrejas paulinas : visitas às sete igrejas tradicionais incluem memórias das cartas paulinas.

Experiência recomendada : peregrinação guiada pelas sete igrejas de Roma com abordagem na missão de Paulo e sua influência no cristianismo ocidental.

Entre fé e história: uma viagem de transformação

Mais do que um trajeto turístico, a Rota de São Paulo propõe uma imersão espiritual, cultural e histórica. Em cada cidade, ruína ou paisagem, o visitante é convidado a revisitar os dilemas enfrentados por Paulo: fé e razão, tradição e inovação, confronto e conciliação.

Para muitos, essa peregrinação é também um reencontro pessoal — com a fé, com as origens e com um mundo que ainda carrega os ecos das palavras do apóstolo que disse: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) .

Roberto de Lucena destaca o potencial do turismo religioso em SP

O turismo tem se consolidado como uma das principais forças econômicas do Estado de São Paulo. À frente dessa transformação está o Secretário de Turismo, Roberto de Lucena, que, com uma trajetória marcada por três mandatos como deputado federal e vasta experiência no setor público, tem conduzido uma gestão visionária, especialmente na valorização do turismo religioso.

Em entrevista exclusiva, Lucena detalha os números expressivos do setor, os projetos inovadores e os planos para descentralizar e interiorizar o turismo paulista.


Ricardo Hida: Secretário, nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e França, o turismo representa uma parcela significativa do PIB. Qual é o panorama atual do turismo no Estado de São Paulo?

Roberto de Lucena: Hoje, o turismo representa 10% do PIB paulista, movimentando mais de R$ 320 bilhões. Se São Paulo fosse um país, estaria entre as 21 maiores economias do mundo. A cadeia turística envolve 52 setores e gera 950 mil empregos diretos, além de aproximadamente 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Em um cenário global de mecanização e avanço da inteligência artificial, o turismo se destaca como o setor com maior potencial de geração de empregos humanos e incentivo ao empreendedorismo. O governador Tarcísio de Freitas reconheceu essa importância e tem investido fortemente nessa agenda.


Ricardo Hida: Um dos destaques da sua gestão é a criação de guias de turismo religioso. Como surgiu essa iniciativa?

Roberto de Lucena: Percebemos a necessidade de comunicar melhor a diversidade turística do estado, segmentando por nichos. Em feiras internacionais, São Paulo ainda é associado apenas à capital e ao turismo de negócios. Mas São Paulo é mais do que a capital. O estado tem 644 municípios, sendo 210 considerados turísticos: são 70 estâncias e 140 municípios de interesse turístico. Isso gera uma diversidade enorme de eixos turísticos. Temos turismo de saúde, bem-estar, turismo ecológico, turismo de aventura, de compras, de observação de vida silvestre. E, com a COPPE em expansão, o mundo chega ao Brasil por São Paulo. E há um eixo que vínhamos trabalhando pouco: o turismo religioso. Ele sempre existiu e sempre foi forte, mas não havia sido devidamente organizado. O turismo religioso movimenta mais de 300 milhões de viagens por ano no mundo, gerando bilhões de reais para a economia global. Aqui no estado, por exemplo, temos Aparecida, Guaratinguetá com Frei Galvão, Cachoeira Paulista com a Canção Nova, e Canas com a Renovação Carismática Católica. Esse conjunto, que chamamos de Vale da Fé, recebe 16 milhões de visitantes por ano — mais do que toda a população de Portugal. No turismo evangélico, o Templo de Salomão em São Paulo recebe mais visitantes que o próprio Cristo Redentor. Além disso, São Paulo abriga as sedes das maiores denominações evangélicas do país e a sede nacional da Igreja Católica. Foi então que entendemos: era preciso organizar tudo isso, catalogar, padronizar e oferecer como produto turístico. E assim nasceram os guias turísticos religiosos do Estado de São Paulo, começando com o guia do turismo católico.


Ricardo Hida: E o turismo evangélico surpreendeu pelo seu potencial. Como foi estruturar esse roteiro?

Roberto de Lucena: Segundo dados do Ministério do Turismo, o Brasil registra 32 milhões de viagens motivadas pela fé todos os anos. Destas, cerca de 7 milhões são feitas por turistas efetivos — ou seja, pessoas que se deslocam especificamente para vivenciar o turismo religioso.
No caso do turismo evangélico, o que encontramos em São Paulo foi surpreendente. Há aqui um patrimônio histórico e cultural riquíssimo, pouco divulgado e pouco estruturado até então. Por exemplo, em Santa Bárbara d’Oeste está o primeiro templo evangélico do Brasil. Um templo protestante que, na época, era compartilhado por três igrejas históricas: Presbiteriana, Batista e Metodista — cada uma usando o espaço em horários diferentes. Além disso, temos o primeiro cemitério protestante das Américas, em Iperó. Esse local está ligado à fundação da primeira siderúrgica das Américas — uma iniciativa do Império. Na época, existiam apenas outras duas no mundo: uma na Alemanha e outra na China. Dom Pedro II era frequentador da região. Como não havia mão de obra especializada no Brasil, foram trazidos técnicos da Inglaterra, Suécia e Alemanha — muitos deles protestantes. Com o tempo, essas pessoas começaram a morrer e surgiu um problema: seus corpos não podiam ser enterrados em solo consagrado católico. Os corpos chegaram a ser armazenados em caixotes, aguardando uma solução. Sensibilizado, Dom Pedro II interveio e conseguiu que um terreno fosse “excomungado” pela Igreja, para a criação de um cemitério protestante. Esse é o primeiro do continente americano — e existe até hoje. Além disso, São Paulo é sede da Sociedade Bíblica do Brasil, que possui o maior parque gráfico de publicações bíblicas do mundo. Temos também a famosa Rua Conde de Sarzedas, conhecida como a rua dos evangélicos, onde se concentram comércios voltados a esse público. O Templo de Salomão, símbolo da fé evangélica, é aberto à visitação com guias especializados. É uma experiência impressionante. Também temos o Museu da Bíblia, em Barueri — um dos mais completos do mundo. E o Museu de Arqueologia Bíblica, em Engenheiro Coelho, liderado pelo pastor Rodrigo Silva, da Igreja Adventista, em parceria com a Universidade Adventista. Tudo isso compõe um circuito evangélico autêntico, que passa por São Paulo e influencia o país inteiro. A Assembleia de Deus, por exemplo — mãe de todas as igrejas pentecostais no Brasil — foi fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém do Pará. E a primeira igreja fora de Belém foi criada justamente aqui, em Santos. Nos anos 1970 e 1980, São Paulo abrigou os maiores templos evangélicos do mundo: o templo da Igreja O Brasil para Cristo, na Pompeia, e a sede mundial da Igreja Deus é Amor, entre outros. Temos muitas curiosidades como essas. E quando organizadas, todas essas informações formam um circuito incrível para o turismo evangélico. Um circuito que faz frente até mesmo às rotas históricas da Reforma, na Alemanha, Suécia ou Inglaterra. São Paulo tem, sim, uma história religiosa fabulosa.


Ricardo Hida: Recentemente, a Secretaria lançou também o guia de turismo judaico. O que ele traz de novidade?

Roberto de Lucena: Esse guia, desenvolvido com o Museu Judaico e a Federação Israelita, organiza a rica presença cultural da comunidade judaica em São Paulo. Destacamos o Memorial do Holocausto, o Museu Judaico, além de restaurantes, centros culturais e ações sociais. É um convite para mergulhar na história e na contribuição dos judeus para o estado e o país.


Ricardo Hida: Quais são os próximos projetos da Secretaria, além do turismo religioso?

Roberto de Lucena: Nosso foco é interiorizar e descentralizar o turismo. O programa “Sabor de São Paulo” valoriza a gastronomia regional e já reconheceu 13 regiões gastronômicas. Lançamos também o Creditu SP, uma linha de crédito para fomentar projetos turísticos. Outro grande projeto é a Academia do Turismo, com a meta de oferecer 100 mil vagas de capacitação até 2026, combatendo a falta de mão de obra qualificada no setor.


Ricardo Hida: Para quem deseja acessar os guias e saber mais sobre esses projetos, como proceder?

Roberto de Lucena: Basta acessar o site da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Lá estão disponíveis gratuitamente mais de 30 guias, incluindo o recém-lançado Guia das Padarias, com mais de 300 estabelecimentos listados. E em breve teremos novidades.


Ricardo Hida: Secretário, agradeço imensamente pela entrevista e por compartilhar tantos projetos inspiradores. Nos vemos em breve para falar sobre essas novas iniciativas!

Roma em Luto: Peregrinação após a Morte do Papa Francisco

Roma, a Cidade Eterna, sempre foi palco da confluência entre história, fé e tradição. Mas, com a recente morte do Papa Francisco, o cenário ganha novos contornos de solenidade e reflexão. Milhares de fiéis, peregrinos e turistas se dirigem à capital italiana não apenas para prestar suas últimas homenagens ao pontífice argentino, mas também para vivenciar de forma intensa os símbolos mais sagrados da Igreja Católica.

Neste momento único, em que o Vaticano vive o período da Sede Vacante e o mundo observa atentamente a transição papal, a cidade se transforma em um verdadeiro roteiro espiritual — onde cada pedra, cada altar e cada basílica ecoam séculos de devoção e poder religioso.

O Vaticano: Centro das Homenagens e da Esperança

A primeira parada obrigatória é a Basílica de São Pedro, onde o corpo do Papa Francisco repousa para visitação pública. Sob a imponente cúpula desenhada por Michelangelo, fiéis enfrentam longas filas movidos por um misto de tristeza e gratidão, em busca de um último adeus àquele que ficou conhecido como o “Papa dos Pobres”.

A Praça de São Pedro torna-se palco de vigílias e orações coletivas, enquanto os sinos repicam em respeito e os olhares já se voltam para a chaminé da Capela Sistina, onde em breve será escolhido o novo sucessor de Pedro.

Santa Maria Maggiore: A Devoção Mariana do Papa Francisco

Entre as muitas igrejas de Roma, a Basílica de Santa Maria Maggiore ganha destaque especial neste momento. Conhecida por sua grandiosidade e por abrigar relíquias ligadas à Virgem Maria, este templo sempre foi um dos favoritos de Francisco, que frequentemente visitava o local antes e depois de suas viagens apostólicas.

Peregrinos têm lotado suas naves centenárias, não apenas para admirar os mosaicos paleocristãos e a arquitetura majestosa, mas para rezar àquela que o Papa tanto venerava. A Capela Paulina, com a imagem de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”, torna-se o centro das orações por uma Igreja em transição.

As Quatro Basílicas Papais: O Caminho da Tradição

Além de São Pedro e Santa Maria Maggiore, o roteiro espiritual se completa com visitas às outras duas basílicas papais: São João de Latrão, a catedral oficial do Papa, e São Paulo Extramuros, onde repousam os restos mortais do apóstolo dos gentios.

Em São João de Latrão, fiéis contemplam o altar exclusivo reservado ao pontífice, agora vazio, símbolo da vacância da Sé. Já em São Paulo Extramuros, o olhar recai sobre as imagens de todos os papas da história, uma linha contínua de sucessão que, em breve, ganhará um novo nome e rosto.

Memórias Jesuítas: O Legado Espiritual de Francisco

Não há como percorrer Roma neste contexto sem visitar a Igreja do Gesù e a Igreja de Santo Inácio de Loyola, centros nevrálgicos da Companhia de Jesus. Como primeiro Papa jesuíta da história, Francisco deixou um legado espiritual profundamente marcado pela simplicidade, pelo serviço e pela busca da justiça social — valores que ressoam entre os altares dedicados ao fundador da ordem.

Entre a Fé e a História: Turismo Religioso em Tempos de Luto

O falecimento de um Papa transforma Roma não apenas em um centro de decisões eclesiásticas, mas em um destino de peregrinação global. Agências de turismo já adaptam seus roteiros, oferecendo experiências que unem visitação aos principais pontos sagrados com a participação em missas especiais e cerimônias de homenagem.

Para além das basílicas, muitos fiéis sobem a Scala Santa, ajoelhando-se nos degraus que, segundo a tradição, foram pisados por Cristo em Jerusalém — um gesto de penitência e oração por dias de renovação para a Igreja.

O Futuro da Igreja Passa por Roma

Enquanto Roma reverbera o luto pela partida de Francisco, também se renova a expectativa pelo futuro do catolicismo. A fumaça branca ainda não subiu, mas a certeza é de que a Cidade Eterna continua a ser o epicentro da fé para milhões.

Neste cenário, percorrer os caminhos de Roma é mais do que turismo: é uma jornada de espiritualidade, memória e esperança.


Serviço

  • Quando ir: Durante o período de velório e cerimônias oficiais, atenção às restrições e horários especiais no Vaticano.
  • O que levar: Roupas discretas, adequadas para ambientes religiosos; preparo para longas caminhadas e filas.
  • Dica: Guias especializados em turismo religioso oferecem explicações detalhadas sobre o simbolismo de cada local, além de acesso facilitado a algumas áreas.

Terceira temporada de The White Lotus explora a espiritualidade em resorts de luxo

Terceira temporada de The White Lotus explora a espiritualidade gourmet em resorts de luxo na Tailândia

A terceira temporada de The White Lotus, aclamada série da HBO, estreia em novo cenário e com novos personagens, mantendo o formato de antologia que consagrou as duas primeiras fases. Desta vez, a narrativa se desenvolve na Tailândia, entre a capital Bangkok e a ilha de Koh Samui, com foco em temas como religião, espiritualidade e as complexidades das relações humanas — tudo isso inserido no contexto do turismo de bem-estar de luxo, segmento que cresceu 28% em 2023, somente na China.

A encantadora Tailândia, onde o budismo é praticado por cerca de 92% da população, serve como pano de fundo para a trama, que acompanha uma família em busca de aprofundamento teológico, um casal lidando com diferenças geracionais e um grupo de amigas tentando se reconectar. A Tailândia é apresentada não apenas como um destino paradisíaco, mas como um palco simbólico onde o Ocidente colide com tradições espirituais milenares.

Criador da série, Mike White declarou ter escolhido o país justamente por seu contraste entre espiritualidade autêntica e a apropriação ocidental do sagrado. “É uma estética de transcendência, não uma prática real. Tudo parece profundo, mas é só decoração”, afirmou, em crítica direta àquilo que se convencionou chamar de “espiritualidade fast food” — experiências espirituais gourmetizadas, embaladas para consumo rápido e superficial.

A trilha sonora da temporada reforça essa guinada temática, incorporando instrumentos tradicionais tailandeses como cítaras e flautas, substituindo os arranjos intensos e eletrônicos das temporadas anteriores.

Apesar da ambientação mística, The White Lotus não abandona sua essência bem humorada. A série continua a escancarar as contradições da elite global, abordando tensões familiares, rivalidades, crises existenciais e até disputas fiscais — tudo isso envolto na opulência e sofisticação dos resorts tailandeses.

A nova temporada se aprofunda na crítica social ao mostrar como o luxo ocidental transforma espiritualidade em produto, oferecendo ao espectador uma reflexão incômoda e, ao mesmo tempo, irresistível sobre fé, consumo e aparência. Ao retratar a busca por sentido em um spa de cinco estrelas, The White Lotus reforça seu papel como um espelho da modernidade: tudo pode ser vendável, até a experiência de iluminação interior.

Governo de SP lança Guia Turístico Judaico

A Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), em parceria com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), o Memorial do Holocausto e o Museu Judaico de São Paulo, lançou oficialmente o Guia Turístico Judaico durante o mês dedicado à celebração da imigração judaica. O evento de lançamento ocorreu na quinta-feira, 20 de março, às 14h, na sede da Setur-SP.

A publicação reúne mais de 50 atrativos turísticos relacionados à cultura judaica no Estado de São Paulo, incluindo museus que preservam memórias de resistência e superação, sinagogas históricas, restaurantes kosher reconhecidos, lojas especializadas e uma agenda de festivais. O guia visa fortalecer a valorização do legado judaico na identidade cultural paulista. A iniciativa integra um conjunto de ações previstas em protocolo de intenções firmado entre a Setur-SP e a Fisesp.

O Guia Turístico Judaico está disponível gratuitamente em versão digital, nos idiomas português e hebraico, por meio do portal oficial da secretaria: www.turismo.sp.gov.br/guia-de-turismo-judaico.

Durante o evento, o vice-governador Felício Ramuth destacou o papel do Estado na promoção da inclusão e no respeito à diversidade cultural e religiosa. O secretário de Turismo, Roberto de Lucena, reforçou que a contribuição da comunidade judaica é parte fundamental da construção de São Paulo como um estado plural e democrático. “São Paulo é essencialmente inclusivo, e não tolera preconceito, discriminação ou antissemitismo”, afirmou.

São Paulo recebeu a primeira comunidade judaica das Américas e, atualmente, abriga a segunda maior comunidade judaica da América Latina, composta por cerca de 110 mil judeus.

O guia integra o Programa de Turismo Religioso Paulista, que já lançou publicações voltadas a outras expressões de fé, como roteiros evangélicos, católicos e circuitos que destacam monumentos dedicados a Cristo no interior e litoral do Estado. O programa tem como objetivo promover a diversidade religiosa e valorizar as múltiplas manifestações de fé presentes na população paulista.

Marcos Knobel, representante da Fisesp, ressaltou o impacto cultural da iniciativa: “Este guia é um marco para o turismo cultural em nosso Estado. Ele contribui para tornar a herança judaica mais acessível, seja por meio da história, da gastronomia ou das vivências culturais. O turismo judaico é um segmento em expansão, e esta publicação será uma ferramenta valiosa para sua promoção”.

O Rabino Toive Weitman, diretor do Memorial do Holocausto, também celebrou o lançamento. “São Paulo foi o refúgio escolhido por inúmeros imigrantes judeus e sobreviventes do Holocausto, que aqui reconstruíram suas vidas e deixaram marcas profundas na cidade. Este roteiro representa uma oportunidade singular de imersão na memória coletiva, homenageando a resiliência e a contribuição dessa comunidade para o desenvolvimento da capital e do Estado”, concluiu.

Dubai se prepara para o Ramadan

Entre os dias 1 e 30 de março ocorre o Ramadan, o mês sagrado para os muçulmanos. Além de práticas espirituais específicas, trata-se de uma oportunidade única para se visitar as cidades mais importantes para o Islã: Meca, Medina e Israel.

Um dos mais importantes hubs do Oriente Médio, Dubai se preparou para a ocasião investindo em iluminações temáticas e decorações especiais. Os turistas poderão participar de iftares (refeições para quebra do jejum) e suhoors (refeições antes do amanhecer) em diversos locais, desde tendas tradicionais a restaurantes premiados.

O iftar é um dos momentos mais aguardados do dia. Ao pôr do sol, o som dos canhões ecoa pela cidade, marcando a quebra do jejum. Restaurantes renomados oferecem menus especiais, destacando sabores do Oriente Médio e da África do Norte. Entre os destaques estão o Asateer Tent no Atlantis, The Palm, o Al Hadheerah no resort Bab Al Shams e o exclusivo Armani Hotel, no Burj Khalifa.

Para uma experiência mais tradicional, o Sheikh Mohammed Centre for Cultural Understanding (SMCCU) convida visitantes a compartilhar um iftar com a comunidade local, proporcionando uma imersão na cultura e tradições dos Emirados.

Outro destaque é a cerimônia do disparo do canhão, uma tradição que anuncia o início e o fim do jejum diário. Os tiros são realizados em pontos icônicos da cidade, como Burj Khalifa e Madinat Jumeirah, atraindo turistas e moradores.

O Ramadan se encerra com o Eid Al-Fitr, previsto para ocorrer entre 31 de março e 2 de abril de 2025. Essa é uma das maiores celebrações do mundo islâmico, marcada por festividades, doações de presentes e encontros familiares. Em Dubai, a data é comemorada com fogos de artifício, eventos culturais e promoções especiais em shopping centers.

É importante que os profissionais de turismo alertem seus clientes não muçulmanos para respeitar os preceitos religiosos. Embora não seja necessário jejuar, é recomendável que o turista evite comer, beber ou mascar chiclete em público durante o dia.

Rota de Miguel arcanjo

Miguel aparece apenas cinco vezes na Bíblia. No entanto, é uma das figuras mais populares na religiosidade cristã, no esoterismo e na umbanda. Chamado de Príncipe das Milícias Celestiais, o arcanjo é invocado diante de grandes perigos e batalhas espirituais. Dados da Expocatólica apontam um crescimento significativo nos últimos anos em produtos relacionados a São Miguel. Não apenas no mercado editorial católico e evangélico, mas na comercialização de imagens, chaveiros e camisetas. Tal fato pode ser explicado pelo crescimento de movimentos carismáticos e também por conta do aumento da violência e medo na população.

No turismo, observou-se também uma procura cada vez maior pela rota dedicada a ele que une Europa e Israel. A chamada Linha Sacra, curiosamente em perfeita linha reta, indica e liga 7 santuários consagrados a Miguel Arcanjo onde, supostamente, ele teria aparecido e operado milagres.

O início da jornada se dá na Irlanda, em Skellig Michael, mosteiro na ilha deserta onde São Patrício teria recebido orientações do arcanjo para libertar o país das trevas. A segunda parada se dá na Inglaterra, em um monte localizado em uma ilha próxima a Cornuália. Dizem as lendas que um grupo de pescadores foi salvo de uma terrível tempestade pela figura angélica. Posteriormente uma série de milagres foram a ele atribuídos, com destaque para a cura de doenças graves.

O mais famoso ponto da rota é a terceira parada: o Monte Saint Michel, entre Bretanha e Normandia, na França. Trata-se de um dos três monumentos mais visitados do país. Não apenas pelo caráter religioso, já que o arcanjo teria aparecido para o bispo Aubert, no século VIII e pedido a construção de uma capela, local importante para as peregrinações cristãs durante e Idade Média, mas sobretudo por conta da beleza natural. O monte torna-se uma ilha quando a maré sobe. Em 2012 tive a oportunidade de visitar, junto do reitor do local, a pequena capela onde tudo começou. Jornalistas brasileiros ateus que viajavam comigo ficaram impactados e sentiram misto de emoções. Uma delas decidiu converter-se ao catolicismo após a viagem.

O próximo ponto é a Sacra di San Michele, em Turim, na Itália. Trata-se de um imponente complexo de mil anos, composto por monastério, igreja e hospedaria. Era parada obrigatória no período medieval para franceses que iam a Roma e italianos que peregrinavam até o Monte Saint Michel.

Ainda na Itália é possível visitar a gruta de São Miguel, no Monte Sant’Angelo. Na região da Apulia, encontra-se uma caverna onde se ergueu o Santuário de São Miguel Arcanjo, no século V, após sua aparição a São Lourenço Maiorano.

Seguindo-se em linha reta encontra-se a penúltima parada, na Grécia. O Monastério de Symi foi construído no século XI, depois da aparição de Miguel a um eremita de nome Luke. O mosteiro abriga uma das mais importantes imagens do arcanjo.

Por fim, a rota termina em Israel, no Mosteiro de Monte Carmelo, construído no século XII. O local é também conhecido pelo nome de Monastério Stella Maris. Grande parte dos católicos que visitam a Terra Santa, conhecem o lugar.

Tal rota exige logística detalhada e suporte de operadoras especializadas. São muitas passagens de avião. Trata-se de um produto caro, quando se decide fazer de uma só vez toda a jornada. Ocorre que muitos agentes acabam sugerindo que as visitas sejam feitas em diferentes viagens. Assim, alguém que vai pra França visita o Monte Saint Michel; em outra oportunidade por ir a Grécia e visitar o Monastério de Symi. Trata-se da oferta mais comum.

Ainda assim, tive a possibilidade em minhas viagens de encontrar brasileiros que faziam uma única viagem, de ponta a ponta. Assim como acontece com os peregrinos de Santiago de Compostela, muitos não eram católicos praticantes tampouco evangélicos.

Trata-se de uma tendência importante na economia da religião. A ver.

Bénin: berço do Brasil

Benin, o berço do candomblé e ancestral do Brasil

Se muçulmanos devem ir a Meca ao menos uma vez na vida, se católicos devem conhecer Roma e Jerusalém e evangélicos precisam também visitar esse último destino, os adeptos das religiões de matriz africana em todo o continente americano não podem deixar de desbravar o Benin, de onde saíram milhões de negras e negros escravizados para as Américas por 4 séculos. Na verdade, qualquer pessoa que queira entender o Brasil, precisa visitar o país, na costa oeste do continente. Lá é que vamos entender a nossa relação com as almas, com as superstições, com os oráculos, com a música. Lá vamos entender o porquê de sermos quem somos. O nosso catolicismo e o pentecostalismo, inclusive, têm muita influência do Benin. Ainda que muitos africanos tenham vindo de Angola e outras nações da África, a hegemonia do Benin na construção da cultura e religiosidade brasileira é inegável.

Como professor e pesquisador, decidi visitar o antigo reino de Daomé para entender a espiritualidade brasileira. Antes de se tornar uma colônia francesa, o Benin, assim como Burkina Fasso, Togo, Níger e Nigéria faziam parte do maior império da África.  O país é cenário do filme King Woman, com Viola Davis. Não foi a minha primeira viagem ao continente. Já conhecia o sul da África e o Norte. Desta vez, decidi visitar esse destino que vai investir fortemente no mercado brasileiro, sobretudo no turismo de memória. Antes, resolvi passar em Adis Abeba. Primeiramente porque a  Ethiopian Airlines- a mais importante companhia aérea africana, cujo serviço não deve nada para as europeias e americanas- tem as melhores tarifas e também porque queria conhecer a Etiópia, berço do cristianismo na África, mencionada algumas vezes na Bíblia e com suas igrejas escavadas em rochas.

Lake Nokoué, city of Ganvié 32 000 inhabitants Daily life at Ganvié

O aeroporto internacional do Benin fica em Cotonou, a mais importante cidade do país. Lá há duas possibilidades de hospedagem: o fabuloso Sofitel, um palácio cinco estrelas recém-inaugurado, e um dos mais lindos do planeta e que tem o Mohamed, antigo gerente no Fairmont Rio de Janeiro, como diretor de operações. A outra opção é o Maison Rouge, um hotel design e boutique, quatro estrelas superior, ao lado da Embaixada do Brasil, com uma gastronomia fantástica e onde você pode tomar café na companhia de fabulosos pavões. Eu optei experimentar os dois hotéis, até porque, com exceção de Ouidah, que oferece um resort pé na areia,  de padrão internacional e um serviço acolhedor e eficiente, a Casa Del Papa, não há muitas opções de luxo no país. Cotonou é capital financeira, sede da presidência do país e tem um dos maiores murais de grafiti do mundo, assinado pelo nosso Kobra. A obra de arte retrata o passado, presente e futuro da país e mostra o Benin como exemplo para o mundo do convívio pacífico de todas as religiões. De fato, a cidade, além de ter o maior shopping popular do continente, também é repleto de templos e igrejas de todas as religiões, inclusive a Igreja Universal do Reino de Deus. Lá, a expressão sincretismo é utilizada sem sua conotação negativa. Indica, ao contrário, uma saudável combinação de crenças. União sem fusão. Na cidade deve-se visitar uma das maiores estátuas do planeta, dedicada a mulher guerreira africana.

A estada ideal no Benin para brasileiros é de 7 dias. O primeiro dia para repouso, o último para compras e os demais para se visitar cada uma das cidades. Você pode escolher Cotonou ou Ouidah como base e fazer um bate-volta a cada dia. 

Ouidah é a cidade onde se encontra a rota da escravidão. Trata-se de uma jornada importantíssima não apenas para afrodescendentes mas para qualquer pessoa que queira entender sobre a construção da identidade nos  EUA, América Central e Brasil. A rota tem 6 escalad e culmina na Porta do Não Retorno, na praia, voltada para o Atlântico de onde milhões de mulheres, homens e crianças partiam para as Américas sem chance alguma de retorno. Esse  monumento, cheio de símbolos espirituais, foi tema de um documentário com Gilberto Gil e também de um programa com Luciano Huck. Em Ouidah pode-se visitar um grande templo dedicado às cobras pítons, consideradas sagradas no Benin. Em todos os cantos se vê templos vodouns, equivalente aos nossos terreiros. Esse templo maior foi visitado por João Paulo II e Bento XVI. Ao lado se encontra a maior catedral da África do Oeste, dedicada a Nossa Senhora.

Ketou é uma cidade que deveria ser irmã gêmea de Salvador. Lá pude visitar o Rei  (para quem tive de cumprir todos os salamaleques e usar o vocativo majestade), soberano de todos os iorubás. No Brasil, parte importante dos terreiros de candomblé são chamados de queto, justamente por conta da ligação histórica com essa cidade.  Lá se visita muitos palácios e se entende como se dá a religião dos orixás na África, totalmente diferente do que existe no Brasil. O culto de orixás no Brasil e o chamado Vodun do Haiti têm muito pouco de comum com as práticas africanas.

Vodoun no Benin não tem nada a ver com feitiçaria, muito menos com os bonecos que o Pica-Pau espetava cantando “ vodu é pra jacu”. Tais práticas são vistas no Haiti e no sul dos Estados Unidos. Para os africanos, os vodouns, assim como os orixás, não foram pessoas, tampouco divindades. São forças da Natureza que dão nomes a rios, por exemplo. Daí que muçulmanos, católicos e mesmo evangélicos no país também cultuam a essas forças da Natureza e seus antepassados.

Aliás o que não falta é culto aos antepassados no Benin. Justamente em Ketou pude ver um ritual com Geledés: danças com espíritos ancestrais. Lá também é possível assistir cultos com os famosos zangbettos, entidades que dançam com muitas palhas da costa sobre elas. Dizem que não há ninguém debaixo das palhas. Tentei desvendar o mistério. Não consegui.  No YouTube é possível observar tais manifestações. É importante não confundir zangbetto com o orixá Obaluaê.

Abomey foi a capital do Reino e é outra cidade muito importante para se visitar. É chamada a cidade dos palácios reais porque cada rei construía um edifício para chamar de seu. Lá é possível visitar um mercado de artesanato que existe há muitos séculos. Cada expositor lá presente recebeu a concessão do rei para ganhar dinheiro em uma determinada atividade: da confecção de roupas e panôs, até joias e esculturas. Conheci uma das duas únicas famílias que produzem atabaques há muitas gerações. Sim, como mencionei, certas atividades só podem ser exercidas com permissão real. Lá pude visitar ainda o templo construído em forma de Camaleão, animal sagrado a quem os nativos atribuem o desenvolvimento do mundo, e um mercado a céu aberto inteiramenre dedicado a venda de ervas e apetrechos para rituais africanos . Pense naquelas lojas que vendem artigos religiosos. Imagine uma feira livre cheia de barracas iguais a essas lojas. É sobre isso.

Porto Novo é também uma cidade importante quando se fala em religião. É a maior cidade muçulmana do Benin, por estar ao lado da Nigéria. Muitas mesquitas ao lado de templos dos vodouns. O mais curioso para se visitar é a mesquita construída como uma igreja barroca de Salvador.

Alguns africanos que conseguiram a alforria voltaram para o Benin e lá construíram fortuna. Levaram a estética do Brasil colonial para o país. Além dos nomes e sobrenomes – muitos beninenses ricos se chamam Souza, Silva, Almeida- o Brasil influenciou também a gastronomia, a arquitetura e a moda. 

A catedral da Imaculada Conceição também merece visita. Uma vez em Porto Novo, é essencial conhecer o Rio Negro. Uma das experiências mais incríveis que vivi . Trata-se de um rio sagrado. Ao atravessá-lo, chega-se a uma aldeia recôndita e se conhece as tradições preservadas do país.

Para encerrar a viagem, é preciso visitar Ganvié, uma cidade lacustre de 30 mil pessoas. Toda a cidade foi construída sobre um lago, por pessoas que fugiram do tráfico negreiro. Lá o deslocamento se dá por pequenas embarcações e todas as residências e comércios são palafitas. 

É uma viagem autêntica. Culturalmente e espiritualmente rica. Não é uma África pasteurizada, clichê. É um pedaço do continente com belas paisagens e experiências únicas para os verdadeiros wanderlust.

SETUR-SP lança guia para Turista Evangélico

A Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP) lançou, no final de outubro, o Guia Turístico Evangélico, a publicação apresenta um panorama sobre a cultura evangélica, museus, eventos e demais atrativos religiosos no estado. O guia integra um conjunto de ações para o desenvolvimento do turismo religioso, um dos segmentos que mais crescem no Brasil, movimentando mais de R$ 15 bilhões anuais, segundo dados do Ministério do Turismo e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Com a inclusão a Setur-SP amplia a lista de roteiros religiosos, que já contava com guias dedicados ao turismo católico, halal e a monumentos ao Cristo, segundo a pasta, o objetivo é explorar as vocações religiosas do estado e promover a diversificação dos destinos turísticos, ampliando o suporte para iniciativas locais e implantando novas rotas de visitação.

São Paulo se destaca pela grande quantidade de templos religiosos, como apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e além disso, o estado é sede da Marcha para Jesus, evento que atrai anualmente cerca de dois milhões de participantes.

O novo guia traz informações sobre alguns dos principais pontos de interesse para o público evangélico, tanto na capital quanto no interior, entre eles estão grandes templos e marcos históricos, como a Igreja Batista de Santa Bárbara d’Oeste, considerada a mais antiga do Brasil, e um dos maiores templos evangélicos localizado no bairro da Pompéia.

Outras cidades do interior paulista, como Barueri, Engenheiro Coelho e Santana de Parnaíba, também ganharam destaque, o Museu de Arqueologia Bíblica de Engenheiro Coelho, por exemplo, abriga quase duas mil peças que ilustram cerca de 4.500 anos de história.

O guia também aponta atrações de cultura e entretenimento ligadas à fé, como o tradicional Auto de Páscoa da Igreja da Cidade, realizado há mais de duas décadas, que celebra a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e já contou com cerca de 584 mil pessoas, segundo a organização.

O Guia Turístico Evangélico está disponível para consulta no site da Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo: https://www.turismo.sp.gov.br/guia-turistico-evangelico-do-estado-de-sao-paulo

Síndrome de Jerusalém

Na época em que ocupava o cargo de diretor adjunto da Atout France na América do Sul, participei na França de um evento em que se discutiu a síndrome de Paris, tema de diferentes matérias jornalísticas e documentários no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, comumente manifestada pelos turistas japoneses quando visitavam pela primeira vez a capital francesa Tratava-se de um fenômeno recente que escancarava as diferenças culturais entre os dois povos. Uma tensão no contato entre franceses, sempre francos (adoro etimologia das palavras), com os japoneses, conhecidos pela dificuldade de dizer não publicamente e detentores de um código de hospitalidade muito próprio, chamado de omotenashi.

Mas há outra síndrome muito comum no universo de viagens e muito mais antiga. Quem trabalha com viagens religiosas conhece muito bem: a síndrome de Jerusalém.

Ela se manifesta principalmente entre judeus e evangélicos, sobretudo os cristãos pentecostais. Trata-se de um surto em que fiéis religiosos, ao chegar à Cidade Santa, começam a manifestar comportamentos psicóticos. Já no aeroporto de Ben Gurion.

Artigos acadêmicos apontam que o psiquiatra Heinz Herman já estudara tal fenômeno nos anos de 1930, portanto antes mesmo da criação do Estado de Israel. A literatura, no entanto, aponta registros de tais ocorrências desde a Idade Média e descrições detalhadas em obras literárias do século XIX.

Grosso modo, algumas pessoas passam a manifestar comportamentos atípicos: desde saírem do hotel durante a noite enroladas em lençóis bancos como se voltassem no tempo, até pregações desconexas em lugares públicos, anunciando o final do mundo.

Guias experientes identificam a síndrome a partir de sinais iniciais muito particulares: ansiedade extrema, agitação, sudorese, desejo de separar-se do grupo, emoções intensas, obsessão por banhos e roupas limpas, discursos radicais religiosos e entoação de cânticos, hinos e louvores ininterruptamente. Os primeiros sintomas podem ser notados quando o avião aterrissa em Israel.

Imediatamente profissionais de saúde mental são acionados e a administração de medicamentos torna-se necessária, além de um acompanhamento muito de perto por parte dos responsáveis. Nos anos 1980 e 1990 foram observados menos de cem casos. Com o crescimento dos movimentos pentecostais no Brasil, nos EUA e em países africanos, o número de ocorrências aumentou significativamente. Isso é explicado pela doutrina do avivamento que é uma das características dessas igrejas em relação as igrejas protestantes históricas. Trata-se, segundo os adeptos, de um transe em que ocorre a manifestação do Espírito Santo durante o culto.

Mas a síndrome é também observada junto a homens judeus e católicos. Muitos deles passam a se intitular profetas durante o processo.

O assunto serviu de mote para um episódio do desenho animado “The Simpsons”: The greatest story ever d’ohed. Nele, Homer, em uma viagem a Jerusalém, é acometido da síndrome e passa a se intitular um novo messias de uma religião cujos fiéis são chamados de “Chrismujews” ( uma mistura de cristãos, muçulmanos e judeus).

Apesar do tom bem humorado da produção televisiva, trata-se de um assunto sério e que pode causar transtornos durante a viagem e depois dela, embora não se tenha registrado nenhum caso fatal ou muito grave.

Profissionais que atuam no setor precisam aprofundar o conhecimento sobre o assunto. Afinal, saúde, principalmente mental, não é brincadeira.