Turismo ético é turismo espiritual

Nasci nos anos 1970 mas sou apaixonado pelos anos 1980. É claro que não sou saudosista, mas gosto da produção musical dessa década, assim como filmes, séries e as telenovelas da Globo. Não preciso dizer que revejo, quando possível toda a produção televisiva, principalmente entre os anos de 1983 e 1988. E me surpreendo como assuntos que são tabus nos dias de hoje eram tratados sem nenhum problema há 40 anos. A última década trouxe discussões essenciais que vêm transformando não apenas a forma como nos relacionamos uns com os outros mas também com a natureza.

Questões ligadas a racismo, misoginia, homofobia, intolerância religiosa são trazidas para debates francos nos obrigando a rever até mesmo as expressões que usamos em nossas conversas triviais. É preciso dizer que nada disso é fácil. E há um importante trabalho ainda a ser realizado. Em recente entrevista a empresária Luiza Trajano, emocionada, confessou que não percebia o racismo estrutural que ainda está tão presente em nosso país, ainda que a maior parte de nós, bata no peito e se considere antirracista.

No turismo não é diferente. Ainda que, por razões óbvias, saibamos lidar com diferenças culturais, estamos aprendendo a repensar serviços que sejam inclusivos e também ensinando os clientes a viajar buscando impactar o menos possível o meio ambiente.

Há uma preocupação da hotelaria global com a diversidade, a equidade, com a sustentabilidade. Uma crescente busca por experiências ecológicas é visível. E nesse cenário, observamos uma preocupação verdadeira e importante, de muitos destinos também com a dignidade dos animais. OS EUA foram pioneiros em adotar novas práticas, conscientes que a lição de casa ainda não terminou. Em seguida vieram os europeus, os asiáticos e os africanos.

Falamos aqui de viagens de fé. E sei que nem toda viagem tem um objetivo espiritual. Mas toda viagem pode ter valores espirituais a serem respeitados. E não é preciso ser São Francisco de Assis ou vegano para compreender que não há espiritualidade que resista ao desrespeito para com o ser humano ou a Natureza. O mês de abril tradicionalmente é dedicado a reflexão sobre turismo não cruel aos animais. Conversamos com a jornalista Andrea Miramontes, pioneira no país na conscientização de um turismo que recupere a dignidade dos bichos. Confira!

1. Como nasceu a iniciativa de promover a reflexão sobre o turismo e dignidade animal?

Trabalho com proteção animal há mais de 20 anos. Sempre levei o assunto para o jornalismo. Encaro com grande responsabilidade, como jornalista e influencer, incentivar o turismo que não cometa crueldade e abuso com animais para satisfazer as pessoas e gerar lucro. Faço isso em todos os veículos em que passei. No último grande portal de notícias em que trabalhei, eu criei a editoria de turismo em 2011, que já nasceu com essa regra. Enquanto estive lá, nenhum passeio com animais em cativeiro e que cometa crueldade foi publicado debaixo do meu guarda-chuva de editora. De 10 anos para cá, meu projeto @ladobviagem, nas redes sociais e site, já nasceu com essa missão. Foi o primeiro site de viagens dedicado a combater o abuso animal de forma explícita. Há tanta coisa linda para curtir no mundo e não precisamos usar o sofrimento de animais para nos divertir. 

2. Que tipos de cuidado o turista precisa observar? Muitas vezes ele nem se dá conta de que está colaborando para maltratar animais. 

Além de não prestigiar zoológicos, shows com animais, que deveriam estar livres com seus comportamentos naturais, e evitar selfies com animais selvagens, é preciso ficar atento a mais algumas regras. Qualquer passeio que tenha animal em cativeiro e contato de turista com animais selvagens, como dar mamadeira a leãozinho, banho em elefante, tirar foto com bicho-preguiça ou arara, montaria em qualquer animal, tem cativeiro e crueldade. Não faça. Desconfie de falsos santuários. O santuário de verdade não faz do lugar um zoológico, não permite contato das pessoas com os animais e tenta, de toda forma, reabilitar o animal para devolver à natureza. Essa é a missão.

3. Que ações destinos têm tomado e que podem inspirar?

Evitam divulgar como atração do destino os lugares que tenham animais em cativeiro. Devem destinar parte do dinheiro do turismo à preservação ambiental de fauna e flora. Hotéis não devem ter animais em cativeiro como atrativo. É preciso incentivar o turismo para observação de animais livres, sem contato com as pessoas, no habitat natural deles, conduzido por pessoas treinadas para isso. E, claro, nesse tipo de turismo, o animal aparece se quiser. O turista deve estar consciente disso. Um excelente exemplo no Brasil é um turismo no Pantanal para ver onças pintadas livres. Em vez de lucrarem com a matança de onças, é melhor protegê-las e tê-las livres, para observação de turistas. Os visitantes são levados por profissionais extremamente qualificados, inclusive, com controle do tempo máximo do passeio, silêncio e comportamento adequado do turista, para a mínima intervenção naquele ambiente, que um passeio desses exige. 

4. Há outras iniciativas parecidas com a sua no Brasil e no mundo?

Sinceramente, fui a pioneira a começar um site de turismo que se dedica a isso, como uma das principais responsabilidades. Muitos outros sites, mas estes dedicados ao veganismo e de ONGS internacionais, muito competentes, já combatiam crueldades e continuam um trabalho importante para acabar com o turismo com animais em cativeiro, selfies e shows. Hoje, alguns grandes veículos já abandonaram o incentivo de turismo que comete crueldade animal. Mas ainda temos um caminho árduo, especialmente nestes tempos de alguns influencers desmiolados e cafonas, que ainda publicam beijos em golfinhos, macacos como pet e montaria em burros, cavalos, camelos e elefantes escravos, como se fosse algo divertido.

Romeiros, não. Peregrinos.

Conheci o Carlos Henrique Dezen quando eu era então diretor adjunto na Atout France, o órgão que promove o turismo francês no Brasil. Participamos juntos do Rendez-Vous en France e de um famtrip. Lá descobri sua espiritualidade e sua atuação, não exclusiva, no segmento religioso. Técnico em turismo, jornalista e pós-graduado em marketing de serviços, atuou no marketing do Banco Bradesco, na Shell e Lufthansa. Em 1993 abriu a Senator Tour Operator e há pelo menos 15 atua no segmento do turismo de fé.  Aqui ele fala sua visão sobre esse mercado, ainda desconhecido, embora muito antigo e altamente lucrativo.

O turismo espiritual no Brasil segue crescendo. Obviamente muito dependente ainda dos roteiros cristãos, com potencial de 179 milhões de clientes. Nada mau, principalmente porque o turismo religioso pode vir acrescido de outras experiências, como gastronomia, história e até esportes ( no caso de peregrinações e caminhadas). E muitos destinos, considerados cristãos, também são procurados por esotéricos e neopagãos, na medida em que oferecem experiências místicas. É o caso de Santiago de Compostela e até o Egito, muito além do roteiro da Sagrada Família.

Cada uma dessas entrevistas tem o objetivo de descortinar os mistérios que envolvem o turismo de fé. É possível, a cada conversa, perceber o tamanho do mercado no Brasil, seus atores, os maiores desafios e também, para quem pretende investir no segmento, quais cuidados tomar. Inclusive com o jargão próprio que vem também se transformando. Nesta entrevista Dezen alerta, no lugar de romeiros, use o termo peregrinos. Mudanças que impactam inclusive no marketing, e não apenas na comunicação. Aqui não há espaço para amadorismo. Os caminhos devem ser percorridos com precisão, seguindo as lições daqueles que começaram a peregrinar mais cedo.

Quais os destinos que você mais vende?

Os nossos principais destinos religiosos são Israel e Jordânia;  os Santuários Marianos – Fátima, Lourdes, Pilar, Schoenstatt, Medgiugore, Guadalupe- e, é claro, o Vaticano que é muito, mas muito visitado, por todas as pessoas independente da religião que professa.

Quem é o seu cliente?

O nosso público é majoritariamente católico e, nesse grupo, curiosamente, temos pessoas de todas as idades. São viajantes que ajudamos a exercitar a sua fé nesses lugares sagrados.

O mercado está aquecido?

Neste pós-pandemia, o número de “peregrinos” tem aumentado muito e tudo indica que vai aumentar mais ainda…As pessoas querem agradecer ao seu Sagrado a proteção de suas vidas e dos seus familiares.

Qual viagem foi transformadora para você?

Duas viagens marcaram muito a minha vida, a primeira foi a Terra Santa por inúmeros motivos, mas o principal foi ter andado por onde Jesus caminhou. A segunda foi em Lourdes, na França,  porque lá é um local de cura. Quando eu vi aquelas procissões, caí em prantos, foi muito emocionante. A fé não tem explicação ou você tem ou não tem. E repito : independente de religião.

E os roteiros e potencial doméstico?

Falando em Brasil, temos o santuário de Aparecida – que é um pouco menor do que o Vaticano. Temos em média 12,5 milhões de “romeiros” – como eram chamados, mas agora são conhecidos também como peregrinos. Desses peregrinos 99% são brasileiros e ainda estou sendo generoso. Temos uma grande parte no Brasil para ser trabalhada ainda porque desses 12,5 milhões 95% vem da região Sudeste.Temos também o Cristo Redentor no Rio, que a maioria vê apenas  como ponto turístico mas não é !  Padre Omar que é o Reitor  de lá faz um excelente trabalho. Possibilidades não faltam.

vila galileia: nova experiência em Pernambuco

Feira temática que reúne personagens típicos da época de Jesus é atração na cidade-teatro onde é encenado o espetáculo até o próximo sábado (8)

A cidade-teatro de Nova Jerusalém, onde está sendo realizado o espetáculo da Paixão de Cristo até o próximo sábado (8), em Pernambuco, tem uma nova atração que está encantando o público que visita o local durante a Semana Santa.

Trata-se da Vila da Galileia, uma feira temática que reúne artesãos, mestres da carpintaria, da pedra e do barro, além de personagens típicos da época de Jesus. A atração fica localizada dentro da cidade-teatro, no final da via de acesso à primeira cena do espetáculo.

Idealizada pela diretora de arte Marina Pacheco, que também coordena o figurino da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, a Vila da Galiléia permite que o público que vai assistir à encenação entre em contato com a cultura e os costumes da época de Jesus. Em barraquinhas, os visitantes podem ver de perto como eram produzidas as peças de pedra e barro naquele período, além de conhecer as técnicas de carpintaria.

Mas não é só isso. Na Vila da Galiléia, o público também pode interagir com personagens típicos da época, como pastores, homens e mulheres do povo, e ainda ter contato com animais como burrinho, ovelhas, patos e galinhas, que são atrações especialmente para as crianças.

“A experiência é única e proporciona ao público uma verdadeira viagem no tempo, com direito a um cenário incrível e muitos registros fotográficos para as redes sociais”, afirma Marina Pacheco.

As entradas para o espetáculo da Paixão de Cristo podem ser adquiridas pelo site oficial https://www.novajerusalem.com.br/.

Este ano, entre os artistas convidados estão Klebber Toledo, no papel de Jesus; Luiza Tomé, como Maria; Eriberto Leão interpretando o governador romano Pilatos; Nelson Freitas vivendo o personagem Rei Herodes e a atriz e influenciadora digital Duda Reis como a rainha Herodíades.

Reino Unido e oculto

A última previsão do VisitBritain para 2023 estima 35,1 milhões de visitas ao Reino Unido, o que representa 86% dos níveis de 2019 e um aumento de 18% em relação aos níveis de 2022. A previsão para os gastos de visitantes estrangeiros no Reino Unido este ano é de £29,5 bilhões, um recorde projetado para gastos anuais de visitantes.

Para alcançar esse objetivo audacioso, o órgão de promoção do destino lançou uma nova campanha de marketing da Grã-Bretanha para impulsionar reservas, convidando os visitantes a “ver as coisas de forma diferente” (“See Things Differently”), mostrando a Grã-Bretanha como um destino dinâmico, emocionante e inclusivo.

A campanha também abrange grandes eventos em 2023, incluindo a Coroação do Rei Charles III em maio e o Eurovision Song Contest, em Liverpool, em nome da Ucrânia, também em maio. Serão duas oportunidades valiosas para promover o know how, a criatividade e a capacidade da Grã-Bretanha de acolher eventos de grande porte.

A diretora do Visit Britain no Brasil, Priscila Moraes, nos fala de um Reino Unido ainda pouco explorado no Brasil mas que vem atraindo a atenção de muitos turistas, sobretudo apaixonados por história, filosofia, mitologia, astrologia e espiritualidade.

Quem já experimentou esse lado misterioso das ilhas, fica naturalmente encantado, sem precisar recorrer a poções, magias e outros sortilégios. Veja abaixo algumas dicas de um reino muito além daquele que você já conhece.

Muitas pessoas têm se interessado sobre a história do rei Arthur, sobretudo com as palestras online da professora Lucia Helena Galvão, da Nova Acrópole. Vocês têm um roteiro nesse sentido?
As lendas arturianas sempre exerceram essa curiosidade nas pessoas, há de fato uma simbologia  profunda que reverbera até hoje – algo que a Lucia Helena Galvão aborda muito bem. A Grã-Bretanha é o berço da lenda arturiana e encontramos referências em todos os países da ilha – na Inglaterra, na Escócia e no País de Gales. Um roteiro de Rei Arthur que passe por todos esses lugares levaria facilmente semanas para ser percorrido, mas é possível concentrar-se apenas nos pontos principais, em uma rota de 7 dias aproximadamente, passando pelas regiões de Somerset e Cornwall, na Inglaterra. 

Stonehenge é um círculo de pedras famoso internacionalmente. Com a série Outlander outros círculos vêm despertando atenção de esotéricos. Quais os outros lugares no Reino Unido em que se pode encontrar monumentos semelhantes?
Stonehenge é o mais famoso, mas o seu entorno é igualmente interessente. Ele é um dos monumentos do complexo de Avebury, que inclui não só círculos de pedras, como também outras construções cerimoniais. Estes círculos podem ser encontrados em diferentes partes da Inglaterra – Wiltshire, Cornwall e Lake District são alguns. Na Escócia há uma grande concentração em Aberdeenshire e nas ilhas Hébridas Exteriores, de onde saíram inspirações para séries como Outlander e para o desenho ‘Valente’.

Quais os locais mais visitados no Reino Unido por apaixonados por bruxaria?
O paganismo era parte da cultura ancestral do Reino Unido, então de forma geral, o país inteiro é um convite aos bruxinhos de plantão. Para quem gosta de ocultismo, o Reino Unido é um prato cheio. As opções de roteiro se estendem até onde vai a nossa curiosidade. Para quem gosta dos egípcios, o Museu Britânico tem a maior coleção egípcia fora do Egito. Também em Londres a maçonaria fundou sua primeira loja. A wicca nasceu na Inglaterra, e um dos lugares que mais recomendo visitar é o Museu de Magia e Bruxaria de Boscastle, na Cornualha. Há uma imensidão de correntes com diferentes crenças coabitando no país, e os visitantes acabem escolhendo os lugares e as escolas com os quais se conectam mais.

Para quem quer conhecer a cultura celta, quais roteiros precisam ser visitados?
A Escócia faz um ótimo trabalho preservando suas raízes, principalmente em regiões mais remotas. Um dos traços mais vivos da cultura celta é o idioma, e por esse motivo vejo muito encanto no País de Gales, por ainda preservar a língua ancestral, o Welsh. Na Inglaterra, a Cornualha também manteve um dialeto local, o Cornish, com raízes celtas. Todos estes lugares oferecem uma ótima oportunidade de conexão com os celtas.

Certa vez você disse que a autora de Harry Potter criou uma relação mítica com a estação que leva a Hogwarts. Você poderia precisar?
Estamos no reino da lenda aqui (risos), mas como é uma teoria de que gosto muito, sempre vale mencionar. Primeiro, a história: quando os romanos invadiram o Reino Unido, cerca de dois mil anos atrás, o país era povoado por tribos, a que muitos chamam de celtas. Havia uma líder da tribo Iceni, Boudica, que lutou bravamente contra os romanos, incendiando a cidade. Por muito pouco os romanos não foram vencidos. Boudica acabousendo  capturada e assassinada. Entrou para a história e ganhou uma estátua, que pode ser vista hoje ao lado do Big Ben. Agora começa a lenda: ninguém sabe ao certo onde Boudica foi enterrada, mas na década de 70 surgiu uma teoria de que seria onde hoje fica a estação King’s Cross, entre as plataformas 8 e 10. A BBC History publicou um artigo em 2014 sobre o túmulo de Boudica ter sido a inspiração para a Plataforma 9 ¾, e desde então a lenda ganhou força entre os fãs de Harry Potter.

Quando falamos do rei da Inglaterra, estamos falando do chefe da Igreja Anglicana. Além de Westminster quais outras igrejas e abadias que merecem ser visitados?
Uma das catedrais mais marcantes é a Canterbury Cathedral, na charmosa cidade de Canterbury, Inglaterra. Além da beleza e importância histórica (é patrimônio da humanidade), é a catedral do arcebispo líder da Igreja Anglicana. Em Londres, a Catedral de St Paul é outra construção majestosa, e seu domo – entre os mais altos da Europa – pode ser visto de vários pontos da cidade. Outra catedral de beleza ímpar é a Catedral de St David, no País de Gales, em homenagem ao padroeiro do país, situada na cidade de mesmo nome, que é a menor cidade do Reino Unido.

Falando de Astrologia. É possível visitar algum lugar? Existe um museu em Greenwich, por exemplo?
Sim, o Royal Observatory em Greenwich é um ótimo ponto de partida para os amantes das estrelas e oferece a chance de uma foto com o pé no ocidente e outro no oriente. Além dele, há cada vez mais experiências de ‘stargazing’ (observação de estrelas) nas reservas Dark Skies do Reino Unido – lugares onde há índices de poluição e luz perto de zero, perfeitos para observação noturna. O próprio complexo de Avebury e Stonehenge fala muito sobre o alinhamento das construções com o a posição dos astros no céu. Por fim, é possível encontrar muitas joias escondidas, como a do Castelo de Cardiff, que tem em sua torre uma homenagem aos planetas do Sistema Solar, além de uma sala zodiacal, e o lobby do luxuoso hotel Kimpton Ftizroy em Londres, marcado por um mosaico com os signos do zodíaco.  

Há algum roteiro misterioso em Londres?
Londres guarda muitas joias ocultas aos olhos da maioria dos turistas. Há roteiros de Harry Potter, há um famoso tour pelas ruas de Whitechapel, onde o serial killer ‘Jack O Estripador’ atuou e muitos outros roteiros temáticos que exploram os mistérios ainda não-solucionados da cidade. Isso sem contar os ghost tours, que sempre acontecem à noite.

Turismo religioso no Paraná

Pedro Kempe atua no turismo há 33 anos. Sua trajetória inclui passagens em importantes empresas do mercado como CVC, Schultz e Europamundo. Hoje comanda a Domus Viagens Operadora de Turismo que fundou em 2010. É um nome ativo no turismo paranaense e remove montanhas quando o assunto é turismo religioso. Atua também como palestrante e professor no tema. É atualmente conselheiro na ABAV do Paraná. Neste bate-papo, Kempe fala um pouco dos desafios do turismo de fé no Brasil.

Como você vê o turismo religioso hoje no Brasil e no mundo?
Eu enxergo oportunidades imensas com atrativos riquíssimos.

O Brasil tem forte potencial de consumo, mas ainda dificuldades em oferecer produtos nesse segmento para um mercado internacional e mesmo doméstico. Como resolver esse desafio?
A meu ver, é preciso qualificar atrativos e, obviamente, os prestadores de serviços. No caso dos atrativos, é preciso que estejam cada vez mais preparados para receber grupos, acolher com muitas informações e uma estrutura de guias, com agendamento das atividades religiosas. Precisamos todos ter conversas e direções claras para facilitar o trabalho de todos. Torna-se urgente buscar cada vez mais a profissionalização e fortalecer o trabalho de qualificação e formalização das atividades.

Pedro, quando você diz que é preciso mais qualificação, mais conversas, quem deveria capitanear esse trabalho?
O trabalho de qualificação deve vir do Ministério do Turismo, da ABAV, do SENAC e do Sebrae. Lembrando que já há ações nesse sentido. Quando falamos de conversas, palestras e explicativos, é preciso que os receptivos e operadores entendam mais do negócio e reconheçam a importância em agregar serviços de qualidade para o turista que busca esse tipo de experiência. Além disso, é preciso dar mais voz – e mostrar a importância dos mesmos terem voz – às Pastorais do Turismo e aos Monumentos Religiosos para que mostrem o potencial que carregam e a forma como podem contribuir para o desenvolvimento deste mercado.

Você tem investido nas rotas do Sul do Brasil. Pode falar um pouco a respeito?
Temos, sim, uma gama importante de produtos. Durante a pandemia do COVID-19 participamos do Projeto “Co-Operadores da ABAV-PR objetivando a formação de receptivos e operadores rodoviários” com olhar para Turismo Religioso. Desta participação lançamos a Rota do Rosário com Prudentópolis no Paraná e estamos agora recém lançando a ROTA DO MILAGRE NO PARANÁ, justamente o milagre que justificou a canonização dos pastorzinhos de Fátima. Participamos ativamente do turismo religioso do estado e sou o braço da ABAV-PR para o grupo de trabalho de turismo religioso do Estado.

Qual o perfil desse viajante hoje no Brasil?
Temos um turismo de massa no Turismo Religioso, abraçados pela causa social na informalidade. Por outro lado, temos iniciativas emergentes neste meio que buscam viagens de qualidade e maior profissionalismo.

Qual é um destino que é referência em acolhimento, promoção e logística quando se fala em turismo espiritual?
No Brasil temos APARECIDA, com seu santuário consagrado a Padroeira do nosso País. O destino tem uma logística muito boa de acolhida com hotéis próprios para bem atender.  Depois temos atrativos emergentes que vem se destacando significativamente, como a Rota do Rosário, Santa Paulina em Nova Trento, Salvador dos Passos de irmã Dulce e outros. 

Como e por que você entrou nesse mercado?
Quando abrimos a operadora de turismo, queríamos nos destacar no cenário de operadores no Brasil. A escolha de um nicho justamente foi o viés que encontramos para sermos quem somos.

Qual viagem espiritual que foi um marco transformador para você?
A Terra Santa é sempre o destino mais tocante e de forma indescritível.

Que ações a ABAV pensa implementar para desenvolver esse segmento?
A ABAV incentiva fortemente o grupo de Turismo Religioso no Paraná e apoia o Fórum Paranaense de Turismo Religioso, com ações importantes de capacitação para este segmento. Na ABAV Nacional é possível identificar um forte interesse neste segmento e muitos associados que atuam e querem atuar neste mercado.

Zen com toque de dendê

A última edição do The Traveller trouxe roteiros que falam de turismo regenerativo e viagens com propósito. Seria possível falar de um turismo autoregenarativo com propósito de transcendência pessoal? Para o soteropolitano Caio Costa a resposta é sim.

O influenciador reúne mais de 700 mil seguidores em suas páginas na internet difundindo conteúdo que auxilia no autoconhecimento e no bem-estar. Reconhecido por difundir seus ensinamentos gratuitamente para mais de 635 mil seguidores da página @silencio.divino, Caio também já ajudou mais de 10 mil pessoas com cursos on-line e com conteúdos tanto de autoconhecimento quanto destinados ao público que buscam roteiros na natureza com forte conexão com a espiritualidade.

Para Caio o que garantiu o sucesso deste trabalho é o exemplo do desenvolvimento de uma vida equilibrada que atenda valores de saúde, bem-estar e autoconhecimento, mas principalmente espiritualidade. “É através da dimensão material que você pode experienciar o que se mostra no seu íntimo emocional”, reflete o terapeuta.  Recentemente decidiu investir no turismo espiritual, com viagens exclusivas para quem busca transcendência e autodesenvolvimento. Leia abaixo sua impressão sobre o turismo transformador.

Como surgiu a ideia de organizar roteiro “Natureza e Energia” destinado a buscadores espirituais?
A ideia de desenvolver o “Roteiro – Natureza e Energia” surgiu do estilo de vida que preenche o meu coração. A espiritualidade sempre esteve presente na minha vida, e as minhas viagens tem sempre essa pegada, costumo ir em locais alternativos, com pouca gente e com bastante natureza para me conectar. Então os meus seguidores começaram a me perguntar sobre, comecei dando dicas, eai surgiu a ideia. No “Roteiro – Natureza e Energia”, além de dicas detalhadas de vários locais pelo Brasil para se conectar com a espiritualidade de diversas formas, inclui conhecimentos de emissão de passagens aéreas com milhas e acesso à salas VIPS de forma gratuita.

Quantas pessoas já acessaram o roteiro?
Mais de 500 pessoas já acessaram o “Roteiro – Natureza e Energia”, diversos depoimentos de como as pessoas utilizaram os conhecimentos para viajar sem pagar passagem aérea, e como as viagens tem sido muito mais proveitosas e conectadas com o que realmente importa.

Como você enxerga a busca por esse tipo de viagens em suas redes sociais?
Enxergo que a procura surge de buscadores autênticos de si, e da espiritualidade, que não mais buscam festas e muvuca. A base do meu público são de pessoas que buscam a si, a maioria dos que já acessaram o “Roteiro – Natureza e Energia”, já adquiriram outros cursos de autoconhecimento meu, como o “curso de Proteção Energética”, o “Desvendando sua Missão de Alma”, ou a “Jornada para atrair sua Alma Gêmea.”

A Bahia é um pólo espiritual. Salvador reúne desde o turismo para Santa Dulce dos pobres até festas dos Orixás, passando pelo catolicismoe o espiritismo com Divaldo Pereira Franco. Que lugares você indica para autoconhecimento na capital baiana e no resto do estado?
Sim, a Bahia possui um campo energético muito forte, e denso também, devido a sua história. Com isso, entidades de todas as egrégoras espirituais se reunem com campo etérico da Bahia, tornando-a, o mais intenso estado do Brasil no quesito gradiente energético. Além do nosso queridíssimo Divaldo Franco, que super recomendo a visita ao centro Mansão do Caminho, recomendo que as pessoas busquem conhecer giras de umbanda, uma religião brasileira muito forte aqui na Bahia, que é uma mistura do espiritismo europeu, do candomblé africano, com as entidades e espiritos também brasileiros, assim, forma-se uma linda egrégora que variadas manifestações. Mas temos muitos portais energéticos por aqui, a ilha de Boipeba é uma delas, um gradiente de energia que faz emergir tantos processos e tesouros dentro de nós, associado a uma paisagem paradisíaca, realmente incrível.

Qual uma viagem que você realizou e que lhe promoveu uma profunda transformação espiritual?
Se eu pudesse dizer uma viagem que me promoveu uma profunda transformação, eu responderia a minha primeira viagem para a Chapada dos Veadeiros, em 2015. Apesar de logo no primeiro dia eu ter entrado num processo de limpeza intensa, com febre e vômito, recebi instruções da espiritualidade de que estava acontecendo uma limpeza importante, porque logo eu iria retornar para aquela região pois ali tinha coisas importantes para eu experienciar. Dito e certo, alguns anos depois, lá estava eu morando na Chapada dos Veadeiros, foram momentos muito ricos, é um lugar com um gradiente de energia dual, mas bem expansivo. Pois para onde você olha há espaço, o cerrado expande o cardíaco em alegria, mas os processos também te levam a lugares bem profundos, o que ao meu ver se revelam oportunidades únicas de descobertas e insights sobre as nossas próprias sombras. A Chapada dos Veadeiros mora no meu coração.

turismo espiritual no chile

Segundo dados da Subsecretaria de Turismo e do Serviço Nacional de Turismo do Chile, pouco mais de 30.000 turistas estrangeiros chegaram ao país em 2019 motivados por motivos religiosos, o que representa 0,7% do total de visitantes. Há um consenso entre os especialistas chilenos que, embora o segmento do turismo religioso seja incipiente no mercado internacional, a realidade interna no caso do turismo nacional é diferente, dado que ao longo do ano ocorrem várias datas religiosas que motivam fluxos importantes para os destinos turísticos.

Em Arica e Parinacota, por exemplo, está a conhecida rota da Virgem de Las Peñas, famosa pela peregrinação celebrada todos os anos. Lá se encontra a Rota das Missões, geralmente focada na comuna de Camarones. Na região de Tarapacá há um circuito que acontece na cidade de Tirana todo dia 16 de julho, data em que se comemora a Virgen del Carmen, com grande número de danças e representações religiosas. Em Valparaíso, por conta de Teresa de Los Andes, beatificada em 18 de outubro de 1987, é possível conhecer Auco, capital espiritual do Chile. Já em Los Lagos é famosa a “Ruta de las Iglesias” de Chiloé que inclui 16 igrejas que são consideradas Monumento Histórico Nacional e declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO no ano 2000.

Embora seja reconhecido como, proporcionalmente, o país mais católico praticante da América do Sul, o turismo de fé do Chile também atinge esotéricos e pessoas em busca de autoconhecimento.

Conversamos com Miguel Quezada, do Serviço Nacional de Turismo do Chile, para entender um pouco mais sobre o turismo espiritual no país.

Há operadoras ou agências chilenas especializadas neste nicho?

Sim, na região de Arica e Parinacota a Norte Outdoor tem como foco a promoção do turismo de aventura na região e possui um circuito para Ruta Las Peñas. Já a operadora de turismo Surire Tour tem um programa completo para Tirana. A Ovitravel e LST La Serena realizam viagens para a Grande e Pequena Festa da Virgem de Andacollo. A operadora de turismo Turismo Pehuén de Castro e agencia Nativa oferecem Rota das Igrejas. No caso da Rota dos Jesuítas, o operador é Turistour.

Quais regiões do Chile têm feriados católicos que impulsionam o turismo? O que são e quando acontecem?

Na Região de Arica e Parinacota temos a Festa de la Virgen del Rosario de las Peñas, celebrada no Santuário de Las Peñas em Lívílcar.  No dia 8 de dezembro há a chamada “fiesta chica” e no primeiro domingo de outubro, a  “fiesta Excelente”. Realiza-se em um dos caminhos de peregrinação mais arriscados da América, reunindo anualmente cerca de cinquenta mil pessoas que vêm do Chile, Peru e Bolívia para venerar a imagem da Virgem esculpida na rocha viva do canion, uma antiga rota de trânsito entre Potosí e Arica.

Em Tarapacá temos a Festa de La Tirana,  uma homenagem à Virgen del Carmen e é celebrada todos os anos na primeira quinzena de julho em uma pequena cidade de mesmo nome localizada no pampa de Tamarugal, bem perto da fronteira que une o Chile com a Bolívia e o Peru. A festa de La Tirana, como a maior festa religiosa do país, é um espetáculo que todos os chilenos -e turistas estrangeiros- deveriam presenciar. Uma celebração de fé, dança e cantos em homenagem à Virgen del Carmen que dura quase uma semana inteira. 15 e 16 de julho de cada ano.

Na região do Atacama ocorre a Festa de la Candelaria, padroeira dos mineiros, que se celebra anualmente no dia 2 de fevereiro e reúne milhares de fiéis de toda a região. A festividade remonta a 1778, quando Mariano Caro Inca encontrou a imagem nas montanhas, perto da salina de Maricunga. A descoberta milagrosa atraiu peregrinos, o que motivou o pároco a construir um santuário em 1800, que foi reconstruído após um incêndio em 1922. Com o tempo, a festa tornou-se referência indiscutível da religiosidade popular da região do Atacama, e das irmandades de dança chinesa.   A Festa de los Negros de Lora remonta aos primeiros anos da Conquista, entre 1550 e 1600, depois que uma imagem da Virgem de Quito foi levada para a capela de Lora, que, segundo a lenda, desapareceu da igreja várias vezes, para depois aparecer entre as comunidades indígenas. É realizada todo mês de outubro na comuna de Licantén, setor de Lora

A Festa de San Francisco de Huerta de Maule é homenagem que o camponês presta ao seu santo padroeiro para que obtenha boa saúde e colheitas generosas, além de proteção para a família e para a comunidade em geral.  Já A Festa da Virgem do Carmo de Pelarco é uma tradicional celebração de caráter religioso que recebe todos os anos milhares de fiéis que vêm venerar a Padroeira do Chile, mas que também se tornou uma atividade turística, dado o número de visitantes que recebe e o programa de atividades que acontecem em torno desta festa que acontece todos os anos durante o mês de julho.

Hoje fala-se muito em viagens de autodescoberta, viagens transformadoras. Machu Picchu, no Peru, é muito procurada nesse quesito. Existe alguma oferta que aborde essa cosmovisão andina no Chile?

Sim. Na zona norte, por exemplo, existe uma oferta associada às populações autóctones, nomeadamente às comunidades Colla e Diaguitas.

Os astrólogos têm estudado Astronomia para sua educação. Dizem que o Chile oferece experiências fantásticas para os amantes da astronomia. Como é essa oferta astronômica?

Catalogado como “o céu mais limpo do mundo” O Chile possui uma ampla gama de observatórios astronômicos abertos ao público onde, através de tours com ênfase científica, o visitante pode conhecer o Universo através de modernos telescópios.No entanto, na zona norte do Chile, foram desenvolvidas experiências de astroturismo ligadas à natureza, com caminhadas no mar de dunas sob a luz da lua cheia, fogueiras astronômicas e observação do cosmos a olho nu no meio do deserto.

Existem viagens de autodescoberta no Deserto do Atacama?

O Deserto do Atacama é um cenário ideal para viagens de autodescoberta, desde as paisagens, as cores, o silêncio, a grandeza da natureza e a “solidão” que se vive, por exemplo, no mar de dunas da Região do Atacama. À medida que o deserto é descoberto, as pessoas que visitam o Chile percebem que o “lugar mais seco do mundo” é um lugar cheio de vida.

turismo e fé com eduardo Zorzanello

Eduardo Zorzanello e Marta Rossi comandam um dos mais importantes eventos de turismo da América do Sul. A Festuris reúne grandes players do mercado, promove incontáveis negócios e traz conteúdo relevante em diferentes frentes da indústria de viagens: luxo, MICE, enoturismo, aventura, LGBT, ecoturismo, entre outros. Outrossim é uma das poucas plataformas brasileiras em que o potencial das viagens espirituais fica muito evidenciado. Em todas as edições em que pude participar, tive contato com uma oferta, especialmente do turismo religioso católico, que não é tão presente em outras feiras. Neste breve papo, o executivo expõe suas opiniões sobre o potencial do segmento e dá dicas de experiências turísticas transformadoras.

Hoje o turismo espiritual está dividido em turismo de autoconhecimento, turismo de viagens transformadoras e turismo religioso. Tal mercado cresce no Brasil e no mundo, de forma sustentável, há pelo menos 15 anos. Como você enxerga seu potencial ?

Esse mercado é exponencial, pois reúne muitas oportunidades em um momento pós-pandemia. Tendo em vista as necessidades da população no mundo, que busca equilibrar o emocional com as atividades agitadas e estressantes em ambientes competitivos, tem levado as pessoas a buscarem um processo de equilíbrio e manter a parte espiritual alimentada. Elas precisam, sob pena de adoecerem espiritual, mental e fisicamente. Então, acredito que isso pode ser um grande fomentador do segmento espiritual e religioso, dentro de suas divisões, porque muitas vezes, as pessoas buscam soluções na espiritualidade, que é um grande remédio para as dores humanas.

E como a  Festuris tem trabalhado com esse nicho? Há algum tipo de ação específica para as próximas edições?

Nós tínhamos no Festuris, antes da pandemia, um espaço dedicado exclusivamente ao turismo espiritual e religioso. De uns anos pra cá, identificamos que cada expositor procura destacar em seu portfólio de vendas destinos ou produtos dedicados ao tema. Então hoje está descentralizado, ocorrem ações diferentes ao longo do evento como esse ano, o espetáculo Gandhi foi oferecido pela Copa Airlines e Curaçao. Assim como Galícia, que teve o foco em divulgar o Caminho de Santiago de Compostela, a cidade de Encantado com o recém inaugurado Cristo Protetor (maior estátua de Cristo no Brasil), o Roteiro Caminhos de Caravaggio entre Canela e Farroupilha, entre outros expositores.

O Brasil é um país com cerca de 85% de cristãos declarados, entre católicos e protestantes. Israel, Itália, Espanha e Portugal lideram a preferência dos turistas religiosos. Mas temos uma oferta muito interessante no Brasil que passa por Aparecida do Norte e Belém. No Rio Grande do Sul, há a Rota das Missões que ainda não é tão famosa nacionalmente, há algo que se possa fazer para aumentar o fluxo no Sul?

Exato, há muitos locais, principalmente aqui no sul, que estão despontando para este segmento, mas é importante que os setores público e privado entendam que é o momento de fazer investimentos em estruturação, promoção do produto e qualificação das pessoas para atenderem da melhor forma possível. Assim, o fluxo turístico irá aumentar, fomentando os destinos e o sistema econômico local.

Você já fez alguma viagem que lhe trouxe alguma experiência espiritual, seja de autoconhecimento ou religiosa, que possa compartilhar, indicar para os leitores do Panrotas?

Sim, estive algumas vezes em Portugal, no Santuário Nossa Senhora de Fátima; na Itália, no Vaticano e Costa do Marfim, na Catedral Nossa Senhora da Paz. São  lugares importantes para a renovação da fé. Além disso, é legal ainda mais compreender sobre diferentes culturas cristãs. Já no Peru, em Machu Picchu, existe toda uma atmosfera energética, lindo demais e renovador para mente e espírito visitar esses lugares.  

Fé na estrada, tudo de bike

A união da fé com a prática esportiva está gerando mais um produto turístico para Ituporanga. É o circuito de Cicloturismo dos Padroeiros, que vem sendo desenvolvido pela Fundação Fexponace e Prefeitura Municipal em parceria com a Associação de Ciclismo da cidade, com a Paróquia Santo Estêvão e apoio técnico do Sebrae.

O projeto prevê a criação de um roteiro de pedal para valorizar a cultura e natureza de Ituporanga, oferecendo aos turistas uma experiência especial pelo interior do município, incluindo a gastronomia rural, ecoturismo e as capelas das comunidades. 

“A fé e cultura religiosa são marcas fortes da experiência do circuito, já que em Ituporanga as comunidades valorizam suas capelas e celebram seus padroeiros. Desta forma, o cicloturismo além de uma prática de bem-estar e qualidade de vida se alia ao turismo para fortalecer a oferta religiosa”, afirma Paulo Roberto Ribeiro, presidente da Fexponace. 

Pela proposta, o circuito deverá ter 150 quilômetros de extensão, com início na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes e finalização na Igreja Matriz Santo Estêvão. “É uma forma de fortalecermos as características religiosas que já fazem a nossa cidade ser reconhecida no cenário estadual e nacional”, reforça Frei Ângelo, da Paróquia Santo Estevão.

Os percursos serão divididos em quatro trechos e terão diferentes níveis de dificuldade, com opções de pedal para meio turno ou até quatro dias. “A ideia é que seja um atrativo para que qualquer pessoa possa participar, desde as que não têm muita familiaridade com o pedal até quem já tem prática o bastante e busca níveis de aventura maiores. Já temos uma expertise em cicloturismo e acreditamos que esse potencial pode ser explorado de forma mais assertiva, unindo a religiosidade tão presente por aqui”, afirma Elaine Klaumann, da Associação de Ciclistas de Ituporanga.

O mapeamento dos trajetos já foi realizado e os circuitos detalhados vão ser inseridos nos mapas de navegação dos aplicativos usados para a prática do cicloturismo. Desenvolvimento da identidade visual, com a marca do produto, manual e aplicações é a próxima etapa do projeto, que também prevê fotografia, sinalização e capacitação dos agentes que poderão ter envolvimento direto e indireto com o produto turístico. 

A previsão é de que o lançamento do circuito de Cicloturismo dos Padroeiros de Ituporanga seja realizado em 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes. 

Turismo Religioso não é o que você pensa

Recentemente em um almoço para recepcionar a delegação de Lisieux que esteve no Brasil,  Amadeu Castanho, decano do turismo religioso, provocou uma importante reflexão, a partir dos comentários feitos pela portuguesa Maria Rodrigues, responsável pelo Santuário Francês de Santa Terezinha do Menino Jesus. Disse ele : “há uma brutal diferença entre turismo religioso e turismo para destinos religiosos, mas o mercado não está suficiente maduro para alinhar os dois conceitos. “

Maria se queixava que grupos de devotos que visitavam o Santuário e os locais em que a santa francesa viveu, não tinham uma experiência espiritual satisfatória e muitas vezes voltavam frustrados ao Brasil, embora uma estrutura religiosa esteja à disposição dos fiéis, como irmãs brasileiras para acolhê-los e até a possibilidade de padres realizarem ofícios na cidade em que Santa Terezinha nasceu. Uma experiência completa, segundo especialistas,  exige ao menos 3 dias na região, inclusive para se aproveitar toda a oferta gastronômica. Em geral, as visitas se dão em três horas. Dada a proximidade com Paris, faz-se um bate volta. E nisso se perde visita a Alençon e até Pontmain, um dos mais importantes lugares de aparição Mariana.

Tudo isso porque o roteiro não foi pensado para ser uma viagem religiosa.  Cria-se pacotes seguindo, em geral a mesma lógica tradicional de visitar, ainda que superficialmente, o maior número de pontos turísticos para fotos e compras de suvenires. O famoso carrossel com 20 países em 14 dias.

Turismo religioso é um turismo de experiência transcendental. Uma jornada de encontro com elementos sagrados de cada turista e, mais do que isso, de reencontro pessoal. E tal atividade não se dá com um guia cronometrando os minutos e, com seu guarda-chuva, apito ou placa, empurrando os visitantes de um lugar para o outro para que se cumpra o roteiro. Além disso, é preciso muito repertório para que haja o famoso encantamento. No caso do Brasil, Santa Terezinha se popularizou muito por conta das escolas que são dirigidas, ainda hoje, por freiras. Poucos católicos, no entanto, apesar de recorrerem à santa em suas orações e devoções, sabem de sua vida, dos milagres que realizou. Ao visitar o norte da França, registram os momentos com os celulares, mas não com os corações e memórias afetivas. Tampouco voltam conhecendo mais sobre a trajetória da mais jovem doutora da Igreja Católica.

Estamos falando de França, mas poderíamos falar de Itália, Portugal, India, Nepal ou Israel. Turismo religioso não é apenas visita de lugares históricos: é seguir passos de líderes espirituais, entender o espaço e a realidade que viveram e se conectar com seus ensinamentos e a presença na vida de cada viajante.

Tal confusão se dá porque falta fiéis profissionais de turismo ou profissionais de turismo especializados em religiões. Você não precisa professar uma ou outra crença para trabalhar com viagens de fé. Mas precisa entender de história e religião.  Mais uma prova do diletantismo que é característica da indústria de viagens em nosso país. É claro que há mercado, caso contrário, delegações de destinos religiosos não viriam há anos, ininterruptamente ao Brasil para abrir frentes e manter relacionamentos. O potencial turístico religioso não para de crescer, porque ao contrário do que se dizia no início do século XX a religião não vai acabar, vai mudar de perfil e seu campo de atuação. O que falta é estudo, planejamento e competência para maior parte dos profissionais que desejam atuar na área. Oportunidades não faltam.