Rota de Paulo de tarso atrai turistas religiosos

Peregrinação internacional percorre locais sagrados na Turquia, Grécia e Itália e revela a trajetória do apóstolo Paulo em suas missões pelo mundo antigo

A fé e a história se entrelaçaram em um dos roteiros mais simbólicos do turismo religioso internacional: a Rota de São Paulo . Inspirado nas viagens missionárias do apóstolo Paulo de Tarso, o percurso atrai peregrinos, estudiosos e turistas em busca das origens do cristianismo e da cultura mediterrânea. Entre paisagens arqueológicas e cidades modernas, o itinerário passa por três países-chave — Turquia, Grécia e Itália — e reconstitui o itinerário descrito no Novo Testamento.

Paulo, considerado um dos grandes divulgadores da fé cristã no mundo greco-romano, percorreu milhares de quilômetros em missões evangelizadoras durante o século I. Seu legado é celebrado por meio de igrejas, ruínas, sinagogas e centros culturais que contam sua história com profundidade e emoção.

Na Turquia , os visitantes podem conhecer Tarso , cidade natal de Paulo, além de importantes polos da Ásia Menor como Éfeso, Icônio, Listra, Derbe e Antioquia da Pisídia . Esses locais preservam ruínas romanas e memoriais cristãos que testemunharam os primórdios da fé no Oriente.

O roteiro segue para a Grécia , onde Paulo realizou sua primeira grande missão europeia. Em cidades como Filipos, Tessalônica, Berea, Atenas e Corinto , ele esconde debates filosóficos, exclusivos e perseguições. Hoje, igrejas ortodoxas, sítios destruídos e museus narram esses momentos cruciais da história cristã.

A jornada culmina na Itália , com destaque para Roma , onde, segundo a tradição, Paulo foi preso, escreveu cartas e acabou martirizado. A Basílica de São Paulo Extramuros , a Via Ápia e a prisão de Mamertino são paradas obrigatórias para quem deseja reviver seus últimos passos.

Mais do que uma simples viagem, a Rota de São Paulo é uma tradição espiritual e cultural. Ela oferece não apenas a chance de explorar lugares históricos, mas também de reflexão sobre fé, resistência e transformação — valores universais que ainda ecoam nos caminhos do apóstolo.

Turquia – As raízes e as primeiras missões

A atual Turquia, na Antiguidade conhecida como Ásia Menor, abriga o início da jornada paulina.

  • Tarso : cidade natal de Paulo. Visite a Igreja de São Paulo e o poço tradicionalmente ligado à sua infância.
  • Antioquia da Pisídia : onde Paulo teria pregado em uma das primeiras comunidades gentílicas. Ruínas da basílica e do teatro romano revelam a imponência do lugar.
  • Éfeso : uma das cidades mais importantes do mundo antigo. Paulo viveu ali por três anos. O grande teatro, a Biblioteca de Celso e a Igreja de São João compõem o roteiro.
  • Icônio, Listra e Derbe : cenário das primeiras perseguições e especificidades. Guias locais ajudam a localizar os pontos de relevância bíblica.

Experiência recomendada : Trilhas históricas e visitas reflexivas com guias especializados em cristianismo primitivo.

 Grécia – Debates filosóficos e as primeiras comunidades na Europa

Paulo desembarcou na Europa por Filipos e iniciou uma jornada que mescla fé e debates intelectuais.

  • Filipos : local do batismo de Lídia, a primeira convertida europeia. O rio Zygaktis permite vivenciar renovações simbólicas de fé.
  • Tessalônica : ruínas e roupas mostram a tensão entre a mensagem cristã e a vida urbana helenística.
  • Berea : onde os bereanos, elogiados por Paulo, investigavam cuidadosamente as Escrituras.
  • Atenas : palco do famoso discurso no Areópago, onde Paulo confronta os epicuristas e estoicos sobre o “Deus desconhecido”.
  • Corinto : centro comercial onde Paulo viveu por 18 meses. Visitas ao tribunal (bema) e à estrada romana de Cencréia marcam a viagem.

Experiência recomendada : Leitura pública de Atos 17 com vista para a Acrópole, em Atenas, ou estudos bíblicos guiados em Berea.

 Itália – Prisão e martírio

O roteiro culmina em Roma, onde Paulo teria sido prisioneiro e martirizado.

  • Basílica de São Paulo Extramuros : erguida sobre o local de seu suposto túmulo.
  • Prisão Mamertina : onde Paulo teria ficado preso com Pedro.
  • Via Ápia : estrada por onde entrou em Roma, hoje caminho de peregrinação.
  • Vaticano e igrejas paulinas : visitas às sete igrejas tradicionais incluem memórias das cartas paulinas.

Experiência recomendada : peregrinação guiada pelas sete igrejas de Roma com abordagem na missão de Paulo e sua influência no cristianismo ocidental.

Entre fé e história: uma viagem de transformação

Mais do que um trajeto turístico, a Rota de São Paulo propõe uma imersão espiritual, cultural e histórica. Em cada cidade, ruína ou paisagem, o visitante é convidado a revisitar os dilemas enfrentados por Paulo: fé e razão, tradição e inovação, confronto e conciliação.

Para muitos, essa peregrinação é também um reencontro pessoal — com a fé, com as origens e com um mundo que ainda carrega os ecos das palavras do apóstolo que disse: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) .

Roma em Luto: Peregrinação após a Morte do Papa Francisco

Roma, a Cidade Eterna, sempre foi palco da confluência entre história, fé e tradição. Mas, com a recente morte do Papa Francisco, o cenário ganha novos contornos de solenidade e reflexão. Milhares de fiéis, peregrinos e turistas se dirigem à capital italiana não apenas para prestar suas últimas homenagens ao pontífice argentino, mas também para vivenciar de forma intensa os símbolos mais sagrados da Igreja Católica.

Neste momento único, em que o Vaticano vive o período da Sede Vacante e o mundo observa atentamente a transição papal, a cidade se transforma em um verdadeiro roteiro espiritual — onde cada pedra, cada altar e cada basílica ecoam séculos de devoção e poder religioso.

O Vaticano: Centro das Homenagens e da Esperança

A primeira parada obrigatória é a Basílica de São Pedro, onde o corpo do Papa Francisco repousa para visitação pública. Sob a imponente cúpula desenhada por Michelangelo, fiéis enfrentam longas filas movidos por um misto de tristeza e gratidão, em busca de um último adeus àquele que ficou conhecido como o “Papa dos Pobres”.

A Praça de São Pedro torna-se palco de vigílias e orações coletivas, enquanto os sinos repicam em respeito e os olhares já se voltam para a chaminé da Capela Sistina, onde em breve será escolhido o novo sucessor de Pedro.

Santa Maria Maggiore: A Devoção Mariana do Papa Francisco

Entre as muitas igrejas de Roma, a Basílica de Santa Maria Maggiore ganha destaque especial neste momento. Conhecida por sua grandiosidade e por abrigar relíquias ligadas à Virgem Maria, este templo sempre foi um dos favoritos de Francisco, que frequentemente visitava o local antes e depois de suas viagens apostólicas.

Peregrinos têm lotado suas naves centenárias, não apenas para admirar os mosaicos paleocristãos e a arquitetura majestosa, mas para rezar àquela que o Papa tanto venerava. A Capela Paulina, com a imagem de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”, torna-se o centro das orações por uma Igreja em transição.

As Quatro Basílicas Papais: O Caminho da Tradição

Além de São Pedro e Santa Maria Maggiore, o roteiro espiritual se completa com visitas às outras duas basílicas papais: São João de Latrão, a catedral oficial do Papa, e São Paulo Extramuros, onde repousam os restos mortais do apóstolo dos gentios.

Em São João de Latrão, fiéis contemplam o altar exclusivo reservado ao pontífice, agora vazio, símbolo da vacância da Sé. Já em São Paulo Extramuros, o olhar recai sobre as imagens de todos os papas da história, uma linha contínua de sucessão que, em breve, ganhará um novo nome e rosto.

Memórias Jesuítas: O Legado Espiritual de Francisco

Não há como percorrer Roma neste contexto sem visitar a Igreja do Gesù e a Igreja de Santo Inácio de Loyola, centros nevrálgicos da Companhia de Jesus. Como primeiro Papa jesuíta da história, Francisco deixou um legado espiritual profundamente marcado pela simplicidade, pelo serviço e pela busca da justiça social — valores que ressoam entre os altares dedicados ao fundador da ordem.

Entre a Fé e a História: Turismo Religioso em Tempos de Luto

O falecimento de um Papa transforma Roma não apenas em um centro de decisões eclesiásticas, mas em um destino de peregrinação global. Agências de turismo já adaptam seus roteiros, oferecendo experiências que unem visitação aos principais pontos sagrados com a participação em missas especiais e cerimônias de homenagem.

Para além das basílicas, muitos fiéis sobem a Scala Santa, ajoelhando-se nos degraus que, segundo a tradição, foram pisados por Cristo em Jerusalém — um gesto de penitência e oração por dias de renovação para a Igreja.

O Futuro da Igreja Passa por Roma

Enquanto Roma reverbera o luto pela partida de Francisco, também se renova a expectativa pelo futuro do catolicismo. A fumaça branca ainda não subiu, mas a certeza é de que a Cidade Eterna continua a ser o epicentro da fé para milhões.

Neste cenário, percorrer os caminhos de Roma é mais do que turismo: é uma jornada de espiritualidade, memória e esperança.


Serviço

  • Quando ir: Durante o período de velório e cerimônias oficiais, atenção às restrições e horários especiais no Vaticano.
  • O que levar: Roupas discretas, adequadas para ambientes religiosos; preparo para longas caminhadas e filas.
  • Dica: Guias especializados em turismo religioso oferecem explicações detalhadas sobre o simbolismo de cada local, além de acesso facilitado a algumas áreas.

Turismo Religioso não é o que você pensa

Recentemente em um almoço para recepcionar a delegação de Lisieux que esteve no Brasil,  Amadeu Castanho, decano do turismo religioso, provocou uma importante reflexão, a partir dos comentários feitos pela portuguesa Maria Rodrigues, responsável pelo Santuário Francês de Santa Terezinha do Menino Jesus. Disse ele : “há uma brutal diferença entre turismo religioso e turismo para destinos religiosos, mas o mercado não está suficiente maduro para alinhar os dois conceitos. “

Maria se queixava que grupos de devotos que visitavam o Santuário e os locais em que a santa francesa viveu, não tinham uma experiência espiritual satisfatória e muitas vezes voltavam frustrados ao Brasil, embora uma estrutura religiosa esteja à disposição dos fiéis, como irmãs brasileiras para acolhê-los e até a possibilidade de padres realizarem ofícios na cidade em que Santa Terezinha nasceu. Uma experiência completa, segundo especialistas,  exige ao menos 3 dias na região, inclusive para se aproveitar toda a oferta gastronômica. Em geral, as visitas se dão em três horas. Dada a proximidade com Paris, faz-se um bate volta. E nisso se perde visita a Alençon e até Pontmain, um dos mais importantes lugares de aparição Mariana.

Tudo isso porque o roteiro não foi pensado para ser uma viagem religiosa.  Cria-se pacotes seguindo, em geral a mesma lógica tradicional de visitar, ainda que superficialmente, o maior número de pontos turísticos para fotos e compras de suvenires. O famoso carrossel com 20 países em 14 dias.

Turismo religioso é um turismo de experiência transcendental. Uma jornada de encontro com elementos sagrados de cada turista e, mais do que isso, de reencontro pessoal. E tal atividade não se dá com um guia cronometrando os minutos e, com seu guarda-chuva, apito ou placa, empurrando os visitantes de um lugar para o outro para que se cumpra o roteiro. Além disso, é preciso muito repertório para que haja o famoso encantamento. No caso do Brasil, Santa Terezinha se popularizou muito por conta das escolas que são dirigidas, ainda hoje, por freiras. Poucos católicos, no entanto, apesar de recorrerem à santa em suas orações e devoções, sabem de sua vida, dos milagres que realizou. Ao visitar o norte da França, registram os momentos com os celulares, mas não com os corações e memórias afetivas. Tampouco voltam conhecendo mais sobre a trajetória da mais jovem doutora da Igreja Católica.

Estamos falando de França, mas poderíamos falar de Itália, Portugal, India, Nepal ou Israel. Turismo religioso não é apenas visita de lugares históricos: é seguir passos de líderes espirituais, entender o espaço e a realidade que viveram e se conectar com seus ensinamentos e a presença na vida de cada viajante.

Tal confusão se dá porque falta fiéis profissionais de turismo ou profissionais de turismo especializados em religiões. Você não precisa professar uma ou outra crença para trabalhar com viagens de fé. Mas precisa entender de história e religião.  Mais uma prova do diletantismo que é característica da indústria de viagens em nosso país. É claro que há mercado, caso contrário, delegações de destinos religiosos não viriam há anos, ininterruptamente ao Brasil para abrir frentes e manter relacionamentos. O potencial turístico religioso não para de crescer, porque ao contrário do que se dizia no início do século XX a religião não vai acabar, vai mudar de perfil e seu campo de atuação. O que falta é estudo, planejamento e competência para maior parte dos profissionais que desejam atuar na área. Oportunidades não faltam.