Rota de Paulo de tarso atrai turistas religiosos

Peregrinação internacional percorre locais sagrados na Turquia, Grécia e Itália e revela a trajetória do apóstolo Paulo em suas missões pelo mundo antigo

A fé e a história se entrelaçaram em um dos roteiros mais simbólicos do turismo religioso internacional: a Rota de São Paulo . Inspirado nas viagens missionárias do apóstolo Paulo de Tarso, o percurso atrai peregrinos, estudiosos e turistas em busca das origens do cristianismo e da cultura mediterrânea. Entre paisagens arqueológicas e cidades modernas, o itinerário passa por três países-chave — Turquia, Grécia e Itália — e reconstitui o itinerário descrito no Novo Testamento.

Paulo, considerado um dos grandes divulgadores da fé cristã no mundo greco-romano, percorreu milhares de quilômetros em missões evangelizadoras durante o século I. Seu legado é celebrado por meio de igrejas, ruínas, sinagogas e centros culturais que contam sua história com profundidade e emoção.

Na Turquia , os visitantes podem conhecer Tarso , cidade natal de Paulo, além de importantes polos da Ásia Menor como Éfeso, Icônio, Listra, Derbe e Antioquia da Pisídia . Esses locais preservam ruínas romanas e memoriais cristãos que testemunharam os primórdios da fé no Oriente.

O roteiro segue para a Grécia , onde Paulo realizou sua primeira grande missão europeia. Em cidades como Filipos, Tessalônica, Berea, Atenas e Corinto , ele esconde debates filosóficos, exclusivos e perseguições. Hoje, igrejas ortodoxas, sítios destruídos e museus narram esses momentos cruciais da história cristã.

A jornada culmina na Itália , com destaque para Roma , onde, segundo a tradição, Paulo foi preso, escreveu cartas e acabou martirizado. A Basílica de São Paulo Extramuros , a Via Ápia e a prisão de Mamertino são paradas obrigatórias para quem deseja reviver seus últimos passos.

Mais do que uma simples viagem, a Rota de São Paulo é uma tradição espiritual e cultural. Ela oferece não apenas a chance de explorar lugares históricos, mas também de reflexão sobre fé, resistência e transformação — valores universais que ainda ecoam nos caminhos do apóstolo.

Turquia – As raízes e as primeiras missões

A atual Turquia, na Antiguidade conhecida como Ásia Menor, abriga o início da jornada paulina.

  • Tarso : cidade natal de Paulo. Visite a Igreja de São Paulo e o poço tradicionalmente ligado à sua infância.
  • Antioquia da Pisídia : onde Paulo teria pregado em uma das primeiras comunidades gentílicas. Ruínas da basílica e do teatro romano revelam a imponência do lugar.
  • Éfeso : uma das cidades mais importantes do mundo antigo. Paulo viveu ali por três anos. O grande teatro, a Biblioteca de Celso e a Igreja de São João compõem o roteiro.
  • Icônio, Listra e Derbe : cenário das primeiras perseguições e especificidades. Guias locais ajudam a localizar os pontos de relevância bíblica.

Experiência recomendada : Trilhas históricas e visitas reflexivas com guias especializados em cristianismo primitivo.

 Grécia – Debates filosóficos e as primeiras comunidades na Europa

Paulo desembarcou na Europa por Filipos e iniciou uma jornada que mescla fé e debates intelectuais.

  • Filipos : local do batismo de Lídia, a primeira convertida europeia. O rio Zygaktis permite vivenciar renovações simbólicas de fé.
  • Tessalônica : ruínas e roupas mostram a tensão entre a mensagem cristã e a vida urbana helenística.
  • Berea : onde os bereanos, elogiados por Paulo, investigavam cuidadosamente as Escrituras.
  • Atenas : palco do famoso discurso no Areópago, onde Paulo confronta os epicuristas e estoicos sobre o “Deus desconhecido”.
  • Corinto : centro comercial onde Paulo viveu por 18 meses. Visitas ao tribunal (bema) e à estrada romana de Cencréia marcam a viagem.

Experiência recomendada : Leitura pública de Atos 17 com vista para a Acrópole, em Atenas, ou estudos bíblicos guiados em Berea.

 Itália – Prisão e martírio

O roteiro culmina em Roma, onde Paulo teria sido prisioneiro e martirizado.

  • Basílica de São Paulo Extramuros : erguida sobre o local de seu suposto túmulo.
  • Prisão Mamertina : onde Paulo teria ficado preso com Pedro.
  • Via Ápia : estrada por onde entrou em Roma, hoje caminho de peregrinação.
  • Vaticano e igrejas paulinas : visitas às sete igrejas tradicionais incluem memórias das cartas paulinas.

Experiência recomendada : peregrinação guiada pelas sete igrejas de Roma com abordagem na missão de Paulo e sua influência no cristianismo ocidental.

Entre fé e história: uma viagem de transformação

Mais do que um trajeto turístico, a Rota de São Paulo propõe uma imersão espiritual, cultural e histórica. Em cada cidade, ruína ou paisagem, o visitante é convidado a revisitar os dilemas enfrentados por Paulo: fé e razão, tradição e inovação, confronto e conciliação.

Para muitos, essa peregrinação é também um reencontro pessoal — com a fé, com as origens e com um mundo que ainda carrega os ecos das palavras do apóstolo que disse: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) .

Roberto de Lucena destaca o potencial do turismo religioso em SP

O turismo tem se consolidado como uma das principais forças econômicas do Estado de São Paulo. À frente dessa transformação está o Secretário de Turismo, Roberto de Lucena, que, com uma trajetória marcada por três mandatos como deputado federal e vasta experiência no setor público, tem conduzido uma gestão visionária, especialmente na valorização do turismo religioso.

Em entrevista exclusiva, Lucena detalha os números expressivos do setor, os projetos inovadores e os planos para descentralizar e interiorizar o turismo paulista.


Ricardo Hida: Secretário, nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e França, o turismo representa uma parcela significativa do PIB. Qual é o panorama atual do turismo no Estado de São Paulo?

Roberto de Lucena: Hoje, o turismo representa 10% do PIB paulista, movimentando mais de R$ 320 bilhões. Se São Paulo fosse um país, estaria entre as 21 maiores economias do mundo. A cadeia turística envolve 52 setores e gera 950 mil empregos diretos, além de aproximadamente 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Em um cenário global de mecanização e avanço da inteligência artificial, o turismo se destaca como o setor com maior potencial de geração de empregos humanos e incentivo ao empreendedorismo. O governador Tarcísio de Freitas reconheceu essa importância e tem investido fortemente nessa agenda.


Ricardo Hida: Um dos destaques da sua gestão é a criação de guias de turismo religioso. Como surgiu essa iniciativa?

Roberto de Lucena: Percebemos a necessidade de comunicar melhor a diversidade turística do estado, segmentando por nichos. Em feiras internacionais, São Paulo ainda é associado apenas à capital e ao turismo de negócios. Mas São Paulo é mais do que a capital. O estado tem 644 municípios, sendo 210 considerados turísticos: são 70 estâncias e 140 municípios de interesse turístico. Isso gera uma diversidade enorme de eixos turísticos. Temos turismo de saúde, bem-estar, turismo ecológico, turismo de aventura, de compras, de observação de vida silvestre. E, com a COPPE em expansão, o mundo chega ao Brasil por São Paulo. E há um eixo que vínhamos trabalhando pouco: o turismo religioso. Ele sempre existiu e sempre foi forte, mas não havia sido devidamente organizado. O turismo religioso movimenta mais de 300 milhões de viagens por ano no mundo, gerando bilhões de reais para a economia global. Aqui no estado, por exemplo, temos Aparecida, Guaratinguetá com Frei Galvão, Cachoeira Paulista com a Canção Nova, e Canas com a Renovação Carismática Católica. Esse conjunto, que chamamos de Vale da Fé, recebe 16 milhões de visitantes por ano — mais do que toda a população de Portugal. No turismo evangélico, o Templo de Salomão em São Paulo recebe mais visitantes que o próprio Cristo Redentor. Além disso, São Paulo abriga as sedes das maiores denominações evangélicas do país e a sede nacional da Igreja Católica. Foi então que entendemos: era preciso organizar tudo isso, catalogar, padronizar e oferecer como produto turístico. E assim nasceram os guias turísticos religiosos do Estado de São Paulo, começando com o guia do turismo católico.


Ricardo Hida: E o turismo evangélico surpreendeu pelo seu potencial. Como foi estruturar esse roteiro?

Roberto de Lucena: Segundo dados do Ministério do Turismo, o Brasil registra 32 milhões de viagens motivadas pela fé todos os anos. Destas, cerca de 7 milhões são feitas por turistas efetivos — ou seja, pessoas que se deslocam especificamente para vivenciar o turismo religioso.
No caso do turismo evangélico, o que encontramos em São Paulo foi surpreendente. Há aqui um patrimônio histórico e cultural riquíssimo, pouco divulgado e pouco estruturado até então. Por exemplo, em Santa Bárbara d’Oeste está o primeiro templo evangélico do Brasil. Um templo protestante que, na época, era compartilhado por três igrejas históricas: Presbiteriana, Batista e Metodista — cada uma usando o espaço em horários diferentes. Além disso, temos o primeiro cemitério protestante das Américas, em Iperó. Esse local está ligado à fundação da primeira siderúrgica das Américas — uma iniciativa do Império. Na época, existiam apenas outras duas no mundo: uma na Alemanha e outra na China. Dom Pedro II era frequentador da região. Como não havia mão de obra especializada no Brasil, foram trazidos técnicos da Inglaterra, Suécia e Alemanha — muitos deles protestantes. Com o tempo, essas pessoas começaram a morrer e surgiu um problema: seus corpos não podiam ser enterrados em solo consagrado católico. Os corpos chegaram a ser armazenados em caixotes, aguardando uma solução. Sensibilizado, Dom Pedro II interveio e conseguiu que um terreno fosse “excomungado” pela Igreja, para a criação de um cemitério protestante. Esse é o primeiro do continente americano — e existe até hoje. Além disso, São Paulo é sede da Sociedade Bíblica do Brasil, que possui o maior parque gráfico de publicações bíblicas do mundo. Temos também a famosa Rua Conde de Sarzedas, conhecida como a rua dos evangélicos, onde se concentram comércios voltados a esse público. O Templo de Salomão, símbolo da fé evangélica, é aberto à visitação com guias especializados. É uma experiência impressionante. Também temos o Museu da Bíblia, em Barueri — um dos mais completos do mundo. E o Museu de Arqueologia Bíblica, em Engenheiro Coelho, liderado pelo pastor Rodrigo Silva, da Igreja Adventista, em parceria com a Universidade Adventista. Tudo isso compõe um circuito evangélico autêntico, que passa por São Paulo e influencia o país inteiro. A Assembleia de Deus, por exemplo — mãe de todas as igrejas pentecostais no Brasil — foi fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém do Pará. E a primeira igreja fora de Belém foi criada justamente aqui, em Santos. Nos anos 1970 e 1980, São Paulo abrigou os maiores templos evangélicos do mundo: o templo da Igreja O Brasil para Cristo, na Pompeia, e a sede mundial da Igreja Deus é Amor, entre outros. Temos muitas curiosidades como essas. E quando organizadas, todas essas informações formam um circuito incrível para o turismo evangélico. Um circuito que faz frente até mesmo às rotas históricas da Reforma, na Alemanha, Suécia ou Inglaterra. São Paulo tem, sim, uma história religiosa fabulosa.


Ricardo Hida: Recentemente, a Secretaria lançou também o guia de turismo judaico. O que ele traz de novidade?

Roberto de Lucena: Esse guia, desenvolvido com o Museu Judaico e a Federação Israelita, organiza a rica presença cultural da comunidade judaica em São Paulo. Destacamos o Memorial do Holocausto, o Museu Judaico, além de restaurantes, centros culturais e ações sociais. É um convite para mergulhar na história e na contribuição dos judeus para o estado e o país.


Ricardo Hida: Quais são os próximos projetos da Secretaria, além do turismo religioso?

Roberto de Lucena: Nosso foco é interiorizar e descentralizar o turismo. O programa “Sabor de São Paulo” valoriza a gastronomia regional e já reconheceu 13 regiões gastronômicas. Lançamos também o Creditu SP, uma linha de crédito para fomentar projetos turísticos. Outro grande projeto é a Academia do Turismo, com a meta de oferecer 100 mil vagas de capacitação até 2026, combatendo a falta de mão de obra qualificada no setor.


Ricardo Hida: Para quem deseja acessar os guias e saber mais sobre esses projetos, como proceder?

Roberto de Lucena: Basta acessar o site da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Lá estão disponíveis gratuitamente mais de 30 guias, incluindo o recém-lançado Guia das Padarias, com mais de 300 estabelecimentos listados. E em breve teremos novidades.


Ricardo Hida: Secretário, agradeço imensamente pela entrevista e por compartilhar tantos projetos inspiradores. Nos vemos em breve para falar sobre essas novas iniciativas!

Terceira temporada de The White Lotus explora a espiritualidade em resorts de luxo

Terceira temporada de The White Lotus explora a espiritualidade gourmet em resorts de luxo na Tailândia

A terceira temporada de The White Lotus, aclamada série da HBO, estreia em novo cenário e com novos personagens, mantendo o formato de antologia que consagrou as duas primeiras fases. Desta vez, a narrativa se desenvolve na Tailândia, entre a capital Bangkok e a ilha de Koh Samui, com foco em temas como religião, espiritualidade e as complexidades das relações humanas — tudo isso inserido no contexto do turismo de bem-estar de luxo, segmento que cresceu 28% em 2023, somente na China.

A encantadora Tailândia, onde o budismo é praticado por cerca de 92% da população, serve como pano de fundo para a trama, que acompanha uma família em busca de aprofundamento teológico, um casal lidando com diferenças geracionais e um grupo de amigas tentando se reconectar. A Tailândia é apresentada não apenas como um destino paradisíaco, mas como um palco simbólico onde o Ocidente colide com tradições espirituais milenares.

Criador da série, Mike White declarou ter escolhido o país justamente por seu contraste entre espiritualidade autêntica e a apropriação ocidental do sagrado. “É uma estética de transcendência, não uma prática real. Tudo parece profundo, mas é só decoração”, afirmou, em crítica direta àquilo que se convencionou chamar de “espiritualidade fast food” — experiências espirituais gourmetizadas, embaladas para consumo rápido e superficial.

A trilha sonora da temporada reforça essa guinada temática, incorporando instrumentos tradicionais tailandeses como cítaras e flautas, substituindo os arranjos intensos e eletrônicos das temporadas anteriores.

Apesar da ambientação mística, The White Lotus não abandona sua essência bem humorada. A série continua a escancarar as contradições da elite global, abordando tensões familiares, rivalidades, crises existenciais e até disputas fiscais — tudo isso envolto na opulência e sofisticação dos resorts tailandeses.

A nova temporada se aprofunda na crítica social ao mostrar como o luxo ocidental transforma espiritualidade em produto, oferecendo ao espectador uma reflexão incômoda e, ao mesmo tempo, irresistível sobre fé, consumo e aparência. Ao retratar a busca por sentido em um spa de cinco estrelas, The White Lotus reforça seu papel como um espelho da modernidade: tudo pode ser vendável, até a experiência de iluminação interior.

Caminho de peregrino – documentário

Para o peregrino e produtor de conteúdo no YouTube “Vida de Mochila’, Richard Oliveira, a peregrinação foi uma forma de estar sozinho sem internet, esvaziar a mente para diminuir a ansiedade do dia a dia. “ No meu caso, a peregrinação foi a alternativa que deu certo, e planejo continuar buscando esses momentos para me conhecer melhor e para aumentar a minha felicidade pessoal”, aborda o mochileiro.

O estudo feito pela Universidade de Essex, no Reino Unido, aponta que caminhar em meio a natureza pode melhorar significativamente a saúde mental, trazendo benefícios para o humor e a autoestima. Essa atividade estimula a liberação da endorfina, conhecida popularmente como hormônio da felicidade, auxiliando no combate da ansiedade e estresse, permitindo um momento reflexivo, incentivando a autopercepção.   Uma possível explicação para o aumento na percepção da solidão recai sobre o uso excessivo da internet, em que muitos deixam de se conectar com o que está a sua volta para dar atenção ao online.

Um levantamento da empresa NordVPN, empresa de tecnologia virtual, aponta que os brasileiros passam mais de 41 anos na Internet, ou seja, 54% do tempo de vida médio da população. Portanto, caminhar em meio a natureza pode ser uma forma de as pessoas se reconectarem com elas mesmas e viverem em solitude.  

Frequentemente relacionada a uma jornada de cunho religioso, seja por devoção ou por promessa, a peregrinação consiste no ato de percorrer uma rota previamente estabelecida, a pé, cujo propósito é buscar um maior entendimento de si e a possibilidade de redenção.   O percurso brasileiro mais famoso é o Caminho da Fé, cujo destino é a Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, na cidade de Aparecida, em São Paulo. Estima-se que cerca de 80 mil pessoas já o fizeram, a pé ou de bicicleta. Em 2022, segundo a Associação do Caminho da Fé, estima-se que pelo menos 20.240 viajantes realizaram o percurso.

Entretanto, existem outros caminhos tão famosos quanto, como a Estrada Real, retratado no documentário “Um mochileiro no caminho dos diamantes, Estrada Real” disponível no canal do Vida de Mochila, no YouTube. Refletindo sobre a vida, a morte, família, amigos, solidão e solitude, Richard Oliveira retrata os 32 dias de viagem, sendo 25 deles caminhando e 7 de folga, percorrendo o Caminho dos Diamantes e o de Sabarabuçu, situados na Estrada Real, totalizando 540 km viajados.  

A Estrada Real é uma antiga rede de rotas de transporte terrestre de recursos naturais preciosos, como ouro e diamante, estabelecida no Brasil Imperial. A Estrada é um patrimônio cultural e turístico importante, constituída por 4 caminhos: o Velho — que parte de Ouro Preto, Minas Gerais, até Paraty, Rio de Janeiro; o Novo — com destino à capital carioca; o de Diamantes — de Ouro Preto às Diamantinas, ambas cidades mineiras, e o de Sabarabuçu — de Cocaisà Glaura, passando também na Serra da Piedade (antigo Pico de Sabarabuçu); as duas últimas apresentadas no documentário.  

Com as bençãos de alah

Turismo Halal: Embratur e Câmara de Comércio Árabe-Brasileira se reúnem para ampliar negócios no setor

Como a gente vem falando há tempos, o turismo espiritual vai muito além das peregrinações em destinos católicos ou visitas a Terra Santa. Há congressos, seminários, cursos e também, quem diria, acolhimento especial na hotelaria seguindo as necessidades religiosas de muitos turistas. Nos anos 2000, quando eu era gerente de marketing no Sofitel, criei um serviço especial para os muçulmanos que me rendeu até a capa no Valor Econômico.

Atualmente o hotel Jequitimar privatiza o hotel uma vez ao ano para grupos de judeus ortodoxos. E não é o único. Há empreendimentos espalhados pelo Brasil que também fecham finais de semana para grupos iogues veganos. Nada de couro, carne, laticínios, ovos. Nada, mesmo, de origem animal. Nem seda. É preciso uma expertise operacional para que dê tudo certo. Porque algumas expressões de fé costumam ser rigorosas, uma vez que interditos desrespeitados podem gerar graves problemas para adeptos de uma crença.

Recentemente o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e o CEO e secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour, se reuniram para ampliar parcerias voltadas ao turismo halal.

Essa categoria abrange destinos turísticos preparados para receber o viajante muçulmano, respeitando as regras e os costumes da população islâmica. É um segmento que leva em consideração questões como os horários para reza, higiene que deve ser feita antes dela, a necessidade de estar direcionado para Meca ao orar, o jejum durante o Ramadã, entre outras. Na época do Sofitel, os clientes recebiam no quarto um cesto com minitapete, bússola, água de rosas e chá.

Para o presidente da Agência, Marcelo Freixo, o turismo halal é um dos mais promissores do mundo. “Com a parceria, queremos aproximar mais o mundo árabe para investimentos no setor turístico, como hotéis e aviação. E, consequentemente, aumentar o número de turistas daquela região, que representa cerca de 72 milhões de turistas do mundo. Temos grande interesse nesse mercado, pois é uma grande oportunidade para empresas de turismo brasileiras”, comentou Freixo.

O CEO e Secretário Geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour, acredita que a união de esforços dos dois países irá gerar bons frutos para as duas culturas. “Temos a honra de estabelecer uma parceria tão promissora. Tenho certeza de que, com a Embratur, teremos uma parceria muito ampliada na promoção de destinos”, finalizou.

Se esse mercado interessa, atenção: nos dias 23 e 24 de outubro, será realizado o “Global Halal Brazil Business Forum, que reunirá especialistas e players do mercado halal do Brasil e do mundo no WTC Events Center, na capital paulista. Hoteleiros, o mercado muçulmano é bem grande e fiel. Que tal iniciativa possa trazer mais turistas para o Brasil. Insh’Allah.

turquia investe no turismo do Santo que inspirou papai Noel

Localizada em Anatolia, na Turquia, a igreja construída em nome de São Nicolau acaba de passar por uma reforma e já está reaberta para receber seus visitantes. O Bispo Nicolau era conhecido por dividir seus bens com os pobres e se tornou muito conhecido ao deixar presentes escondidos pelas janelas dos moradores de sua cidade, que inspirou a criação de um dos personagens mais famosos do mundo, o papai Noel ou Santa Klaus.

A Igreja de São Nicolau passa a receber seus turistas em 2023 após as obras de restauração e paisagismo, como a  retirada das coberturas antigas e construídas novas coberturas de proteção, conservação e reparação no interior e exterior da igreja, desde as paredes até à cúpula, abóbada e piso. Além do trabalho de documentação e conservação das pinturas murais originais e dos mosaicos do piso, o espaço da galeria no segundo andar também foi incluído no percurso do visitante, além das adaptações internas para os visitantes com dificuldade de mobilidade.

São Nicolau era considerado a segunda maior autoridade do cristianismo de Anatólia e faleceu em 6 de dezembro 365 d.C., data em que se celebra o santo. Após sua morte, o povo da cidade construiu um monumento que depois se tornou uma grande basílica em cujas paredes estão retratados os milagres que se acredita serem realizados por São Nicolau.

A Igreja de São Nicolau, uma das obras essenciais da história da arte bizantina com acréscimos feitos no século 11, está entre os exemplos mais proeminentes do período bizantino.  A igreja, que está na Lista Provisória do Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2000, é muito frequentada anualmente por inúmeros turistas locais e estrangeiros. A igreja é essencial não apenas por ser um centro histórico, mas também por ser um centro religioso e no passado era conhecida como um destino dos peregrinos que iam a Jerusalém vindos da rota do Mediterrâneo. Há também um sarcófago romano decorado com escamas de peixe e folhas de acanto, que se acredita ser de Nicolau e já os ossos que se acredita pertencerem a São Nicolau são exibidos no Museu de Anatolia.

Para mais informações sobre o destino, visite o site oficial do Turismo Turquia: Go Türkiye.

Reino Unido e oculto

A última previsão do VisitBritain para 2023 estima 35,1 milhões de visitas ao Reino Unido, o que representa 86% dos níveis de 2019 e um aumento de 18% em relação aos níveis de 2022. A previsão para os gastos de visitantes estrangeiros no Reino Unido este ano é de £29,5 bilhões, um recorde projetado para gastos anuais de visitantes.

Para alcançar esse objetivo audacioso, o órgão de promoção do destino lançou uma nova campanha de marketing da Grã-Bretanha para impulsionar reservas, convidando os visitantes a “ver as coisas de forma diferente” (“See Things Differently”), mostrando a Grã-Bretanha como um destino dinâmico, emocionante e inclusivo.

A campanha também abrange grandes eventos em 2023, incluindo a Coroação do Rei Charles III em maio e o Eurovision Song Contest, em Liverpool, em nome da Ucrânia, também em maio. Serão duas oportunidades valiosas para promover o know how, a criatividade e a capacidade da Grã-Bretanha de acolher eventos de grande porte.

A diretora do Visit Britain no Brasil, Priscila Moraes, nos fala de um Reino Unido ainda pouco explorado no Brasil mas que vem atraindo a atenção de muitos turistas, sobretudo apaixonados por história, filosofia, mitologia, astrologia e espiritualidade.

Quem já experimentou esse lado misterioso das ilhas, fica naturalmente encantado, sem precisar recorrer a poções, magias e outros sortilégios. Veja abaixo algumas dicas de um reino muito além daquele que você já conhece.

Muitas pessoas têm se interessado sobre a história do rei Arthur, sobretudo com as palestras online da professora Lucia Helena Galvão, da Nova Acrópole. Vocês têm um roteiro nesse sentido?
As lendas arturianas sempre exerceram essa curiosidade nas pessoas, há de fato uma simbologia  profunda que reverbera até hoje – algo que a Lucia Helena Galvão aborda muito bem. A Grã-Bretanha é o berço da lenda arturiana e encontramos referências em todos os países da ilha – na Inglaterra, na Escócia e no País de Gales. Um roteiro de Rei Arthur que passe por todos esses lugares levaria facilmente semanas para ser percorrido, mas é possível concentrar-se apenas nos pontos principais, em uma rota de 7 dias aproximadamente, passando pelas regiões de Somerset e Cornwall, na Inglaterra. 

Stonehenge é um círculo de pedras famoso internacionalmente. Com a série Outlander outros círculos vêm despertando atenção de esotéricos. Quais os outros lugares no Reino Unido em que se pode encontrar monumentos semelhantes?
Stonehenge é o mais famoso, mas o seu entorno é igualmente interessente. Ele é um dos monumentos do complexo de Avebury, que inclui não só círculos de pedras, como também outras construções cerimoniais. Estes círculos podem ser encontrados em diferentes partes da Inglaterra – Wiltshire, Cornwall e Lake District são alguns. Na Escócia há uma grande concentração em Aberdeenshire e nas ilhas Hébridas Exteriores, de onde saíram inspirações para séries como Outlander e para o desenho ‘Valente’.

Quais os locais mais visitados no Reino Unido por apaixonados por bruxaria?
O paganismo era parte da cultura ancestral do Reino Unido, então de forma geral, o país inteiro é um convite aos bruxinhos de plantão. Para quem gosta de ocultismo, o Reino Unido é um prato cheio. As opções de roteiro se estendem até onde vai a nossa curiosidade. Para quem gosta dos egípcios, o Museu Britânico tem a maior coleção egípcia fora do Egito. Também em Londres a maçonaria fundou sua primeira loja. A wicca nasceu na Inglaterra, e um dos lugares que mais recomendo visitar é o Museu de Magia e Bruxaria de Boscastle, na Cornualha. Há uma imensidão de correntes com diferentes crenças coabitando no país, e os visitantes acabem escolhendo os lugares e as escolas com os quais se conectam mais.

Para quem quer conhecer a cultura celta, quais roteiros precisam ser visitados?
A Escócia faz um ótimo trabalho preservando suas raízes, principalmente em regiões mais remotas. Um dos traços mais vivos da cultura celta é o idioma, e por esse motivo vejo muito encanto no País de Gales, por ainda preservar a língua ancestral, o Welsh. Na Inglaterra, a Cornualha também manteve um dialeto local, o Cornish, com raízes celtas. Todos estes lugares oferecem uma ótima oportunidade de conexão com os celtas.

Certa vez você disse que a autora de Harry Potter criou uma relação mítica com a estação que leva a Hogwarts. Você poderia precisar?
Estamos no reino da lenda aqui (risos), mas como é uma teoria de que gosto muito, sempre vale mencionar. Primeiro, a história: quando os romanos invadiram o Reino Unido, cerca de dois mil anos atrás, o país era povoado por tribos, a que muitos chamam de celtas. Havia uma líder da tribo Iceni, Boudica, que lutou bravamente contra os romanos, incendiando a cidade. Por muito pouco os romanos não foram vencidos. Boudica acabousendo  capturada e assassinada. Entrou para a história e ganhou uma estátua, que pode ser vista hoje ao lado do Big Ben. Agora começa a lenda: ninguém sabe ao certo onde Boudica foi enterrada, mas na década de 70 surgiu uma teoria de que seria onde hoje fica a estação King’s Cross, entre as plataformas 8 e 10. A BBC History publicou um artigo em 2014 sobre o túmulo de Boudica ter sido a inspiração para a Plataforma 9 ¾, e desde então a lenda ganhou força entre os fãs de Harry Potter.

Quando falamos do rei da Inglaterra, estamos falando do chefe da Igreja Anglicana. Além de Westminster quais outras igrejas e abadias que merecem ser visitados?
Uma das catedrais mais marcantes é a Canterbury Cathedral, na charmosa cidade de Canterbury, Inglaterra. Além da beleza e importância histórica (é patrimônio da humanidade), é a catedral do arcebispo líder da Igreja Anglicana. Em Londres, a Catedral de St Paul é outra construção majestosa, e seu domo – entre os mais altos da Europa – pode ser visto de vários pontos da cidade. Outra catedral de beleza ímpar é a Catedral de St David, no País de Gales, em homenagem ao padroeiro do país, situada na cidade de mesmo nome, que é a menor cidade do Reino Unido.

Falando de Astrologia. É possível visitar algum lugar? Existe um museu em Greenwich, por exemplo?
Sim, o Royal Observatory em Greenwich é um ótimo ponto de partida para os amantes das estrelas e oferece a chance de uma foto com o pé no ocidente e outro no oriente. Além dele, há cada vez mais experiências de ‘stargazing’ (observação de estrelas) nas reservas Dark Skies do Reino Unido – lugares onde há índices de poluição e luz perto de zero, perfeitos para observação noturna. O próprio complexo de Avebury e Stonehenge fala muito sobre o alinhamento das construções com o a posição dos astros no céu. Por fim, é possível encontrar muitas joias escondidas, como a do Castelo de Cardiff, que tem em sua torre uma homenagem aos planetas do Sistema Solar, além de uma sala zodiacal, e o lobby do luxuoso hotel Kimpton Ftizroy em Londres, marcado por um mosaico com os signos do zodíaco.  

Há algum roteiro misterioso em Londres?
Londres guarda muitas joias ocultas aos olhos da maioria dos turistas. Há roteiros de Harry Potter, há um famoso tour pelas ruas de Whitechapel, onde o serial killer ‘Jack O Estripador’ atuou e muitos outros roteiros temáticos que exploram os mistérios ainda não-solucionados da cidade. Isso sem contar os ghost tours, que sempre acontecem à noite.

Zen com toque de dendê

A última edição do The Traveller trouxe roteiros que falam de turismo regenerativo e viagens com propósito. Seria possível falar de um turismo autoregenarativo com propósito de transcendência pessoal? Para o soteropolitano Caio Costa a resposta é sim.

O influenciador reúne mais de 700 mil seguidores em suas páginas na internet difundindo conteúdo que auxilia no autoconhecimento e no bem-estar. Reconhecido por difundir seus ensinamentos gratuitamente para mais de 635 mil seguidores da página @silencio.divino, Caio também já ajudou mais de 10 mil pessoas com cursos on-line e com conteúdos tanto de autoconhecimento quanto destinados ao público que buscam roteiros na natureza com forte conexão com a espiritualidade.

Para Caio o que garantiu o sucesso deste trabalho é o exemplo do desenvolvimento de uma vida equilibrada que atenda valores de saúde, bem-estar e autoconhecimento, mas principalmente espiritualidade. “É através da dimensão material que você pode experienciar o que se mostra no seu íntimo emocional”, reflete o terapeuta.  Recentemente decidiu investir no turismo espiritual, com viagens exclusivas para quem busca transcendência e autodesenvolvimento. Leia abaixo sua impressão sobre o turismo transformador.

Como surgiu a ideia de organizar roteiro “Natureza e Energia” destinado a buscadores espirituais?
A ideia de desenvolver o “Roteiro – Natureza e Energia” surgiu do estilo de vida que preenche o meu coração. A espiritualidade sempre esteve presente na minha vida, e as minhas viagens tem sempre essa pegada, costumo ir em locais alternativos, com pouca gente e com bastante natureza para me conectar. Então os meus seguidores começaram a me perguntar sobre, comecei dando dicas, eai surgiu a ideia. No “Roteiro – Natureza e Energia”, além de dicas detalhadas de vários locais pelo Brasil para se conectar com a espiritualidade de diversas formas, inclui conhecimentos de emissão de passagens aéreas com milhas e acesso à salas VIPS de forma gratuita.

Quantas pessoas já acessaram o roteiro?
Mais de 500 pessoas já acessaram o “Roteiro – Natureza e Energia”, diversos depoimentos de como as pessoas utilizaram os conhecimentos para viajar sem pagar passagem aérea, e como as viagens tem sido muito mais proveitosas e conectadas com o que realmente importa.

Como você enxerga a busca por esse tipo de viagens em suas redes sociais?
Enxergo que a procura surge de buscadores autênticos de si, e da espiritualidade, que não mais buscam festas e muvuca. A base do meu público são de pessoas que buscam a si, a maioria dos que já acessaram o “Roteiro – Natureza e Energia”, já adquiriram outros cursos de autoconhecimento meu, como o “curso de Proteção Energética”, o “Desvendando sua Missão de Alma”, ou a “Jornada para atrair sua Alma Gêmea.”

A Bahia é um pólo espiritual. Salvador reúne desde o turismo para Santa Dulce dos pobres até festas dos Orixás, passando pelo catolicismoe o espiritismo com Divaldo Pereira Franco. Que lugares você indica para autoconhecimento na capital baiana e no resto do estado?
Sim, a Bahia possui um campo energético muito forte, e denso também, devido a sua história. Com isso, entidades de todas as egrégoras espirituais se reunem com campo etérico da Bahia, tornando-a, o mais intenso estado do Brasil no quesito gradiente energético. Além do nosso queridíssimo Divaldo Franco, que super recomendo a visita ao centro Mansão do Caminho, recomendo que as pessoas busquem conhecer giras de umbanda, uma religião brasileira muito forte aqui na Bahia, que é uma mistura do espiritismo europeu, do candomblé africano, com as entidades e espiritos também brasileiros, assim, forma-se uma linda egrégora que variadas manifestações. Mas temos muitos portais energéticos por aqui, a ilha de Boipeba é uma delas, um gradiente de energia que faz emergir tantos processos e tesouros dentro de nós, associado a uma paisagem paradisíaca, realmente incrível.

Qual uma viagem que você realizou e que lhe promoveu uma profunda transformação espiritual?
Se eu pudesse dizer uma viagem que me promoveu uma profunda transformação, eu responderia a minha primeira viagem para a Chapada dos Veadeiros, em 2015. Apesar de logo no primeiro dia eu ter entrado num processo de limpeza intensa, com febre e vômito, recebi instruções da espiritualidade de que estava acontecendo uma limpeza importante, porque logo eu iria retornar para aquela região pois ali tinha coisas importantes para eu experienciar. Dito e certo, alguns anos depois, lá estava eu morando na Chapada dos Veadeiros, foram momentos muito ricos, é um lugar com um gradiente de energia dual, mas bem expansivo. Pois para onde você olha há espaço, o cerrado expande o cardíaco em alegria, mas os processos também te levam a lugares bem profundos, o que ao meu ver se revelam oportunidades únicas de descobertas e insights sobre as nossas próprias sombras. A Chapada dos Veadeiros mora no meu coração.

turismo espiritual no chile

Segundo dados da Subsecretaria de Turismo e do Serviço Nacional de Turismo do Chile, pouco mais de 30.000 turistas estrangeiros chegaram ao país em 2019 motivados por motivos religiosos, o que representa 0,7% do total de visitantes. Há um consenso entre os especialistas chilenos que, embora o segmento do turismo religioso seja incipiente no mercado internacional, a realidade interna no caso do turismo nacional é diferente, dado que ao longo do ano ocorrem várias datas religiosas que motivam fluxos importantes para os destinos turísticos.

Em Arica e Parinacota, por exemplo, está a conhecida rota da Virgem de Las Peñas, famosa pela peregrinação celebrada todos os anos. Lá se encontra a Rota das Missões, geralmente focada na comuna de Camarones. Na região de Tarapacá há um circuito que acontece na cidade de Tirana todo dia 16 de julho, data em que se comemora a Virgen del Carmen, com grande número de danças e representações religiosas. Em Valparaíso, por conta de Teresa de Los Andes, beatificada em 18 de outubro de 1987, é possível conhecer Auco, capital espiritual do Chile. Já em Los Lagos é famosa a “Ruta de las Iglesias” de Chiloé que inclui 16 igrejas que são consideradas Monumento Histórico Nacional e declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO no ano 2000.

Embora seja reconhecido como, proporcionalmente, o país mais católico praticante da América do Sul, o turismo de fé do Chile também atinge esotéricos e pessoas em busca de autoconhecimento.

Conversamos com Miguel Quezada, do Serviço Nacional de Turismo do Chile, para entender um pouco mais sobre o turismo espiritual no país.

Há operadoras ou agências chilenas especializadas neste nicho?

Sim, na região de Arica e Parinacota a Norte Outdoor tem como foco a promoção do turismo de aventura na região e possui um circuito para Ruta Las Peñas. Já a operadora de turismo Surire Tour tem um programa completo para Tirana. A Ovitravel e LST La Serena realizam viagens para a Grande e Pequena Festa da Virgem de Andacollo. A operadora de turismo Turismo Pehuén de Castro e agencia Nativa oferecem Rota das Igrejas. No caso da Rota dos Jesuítas, o operador é Turistour.

Quais regiões do Chile têm feriados católicos que impulsionam o turismo? O que são e quando acontecem?

Na Região de Arica e Parinacota temos a Festa de la Virgen del Rosario de las Peñas, celebrada no Santuário de Las Peñas em Lívílcar.  No dia 8 de dezembro há a chamada “fiesta chica” e no primeiro domingo de outubro, a  “fiesta Excelente”. Realiza-se em um dos caminhos de peregrinação mais arriscados da América, reunindo anualmente cerca de cinquenta mil pessoas que vêm do Chile, Peru e Bolívia para venerar a imagem da Virgem esculpida na rocha viva do canion, uma antiga rota de trânsito entre Potosí e Arica.

Em Tarapacá temos a Festa de La Tirana,  uma homenagem à Virgen del Carmen e é celebrada todos os anos na primeira quinzena de julho em uma pequena cidade de mesmo nome localizada no pampa de Tamarugal, bem perto da fronteira que une o Chile com a Bolívia e o Peru. A festa de La Tirana, como a maior festa religiosa do país, é um espetáculo que todos os chilenos -e turistas estrangeiros- deveriam presenciar. Uma celebração de fé, dança e cantos em homenagem à Virgen del Carmen que dura quase uma semana inteira. 15 e 16 de julho de cada ano.

Na região do Atacama ocorre a Festa de la Candelaria, padroeira dos mineiros, que se celebra anualmente no dia 2 de fevereiro e reúne milhares de fiéis de toda a região. A festividade remonta a 1778, quando Mariano Caro Inca encontrou a imagem nas montanhas, perto da salina de Maricunga. A descoberta milagrosa atraiu peregrinos, o que motivou o pároco a construir um santuário em 1800, que foi reconstruído após um incêndio em 1922. Com o tempo, a festa tornou-se referência indiscutível da religiosidade popular da região do Atacama, e das irmandades de dança chinesa.   A Festa de los Negros de Lora remonta aos primeiros anos da Conquista, entre 1550 e 1600, depois que uma imagem da Virgem de Quito foi levada para a capela de Lora, que, segundo a lenda, desapareceu da igreja várias vezes, para depois aparecer entre as comunidades indígenas. É realizada todo mês de outubro na comuna de Licantén, setor de Lora

A Festa de San Francisco de Huerta de Maule é homenagem que o camponês presta ao seu santo padroeiro para que obtenha boa saúde e colheitas generosas, além de proteção para a família e para a comunidade em geral.  Já A Festa da Virgem do Carmo de Pelarco é uma tradicional celebração de caráter religioso que recebe todos os anos milhares de fiéis que vêm venerar a Padroeira do Chile, mas que também se tornou uma atividade turística, dado o número de visitantes que recebe e o programa de atividades que acontecem em torno desta festa que acontece todos os anos durante o mês de julho.

Hoje fala-se muito em viagens de autodescoberta, viagens transformadoras. Machu Picchu, no Peru, é muito procurada nesse quesito. Existe alguma oferta que aborde essa cosmovisão andina no Chile?

Sim. Na zona norte, por exemplo, existe uma oferta associada às populações autóctones, nomeadamente às comunidades Colla e Diaguitas.

Os astrólogos têm estudado Astronomia para sua educação. Dizem que o Chile oferece experiências fantásticas para os amantes da astronomia. Como é essa oferta astronômica?

Catalogado como “o céu mais limpo do mundo” O Chile possui uma ampla gama de observatórios astronômicos abertos ao público onde, através de tours com ênfase científica, o visitante pode conhecer o Universo através de modernos telescópios.No entanto, na zona norte do Chile, foram desenvolvidas experiências de astroturismo ligadas à natureza, com caminhadas no mar de dunas sob a luz da lua cheia, fogueiras astronômicas e observação do cosmos a olho nu no meio do deserto.

Existem viagens de autodescoberta no Deserto do Atacama?

O Deserto do Atacama é um cenário ideal para viagens de autodescoberta, desde as paisagens, as cores, o silêncio, a grandeza da natureza e a “solidão” que se vive, por exemplo, no mar de dunas da Região do Atacama. À medida que o deserto é descoberto, as pessoas que visitam o Chile percebem que o “lugar mais seco do mundo” é um lugar cheio de vida.

Em nome de Hórus, Ísis e Osíris

Palavras, palavras. De Dalida a Cássia Eller- passando pelas duplas sertanejas- muita gente já percebeu que certos vocábulos são passageiros; modismos prestes a desaparecer antes de uma mudança de tarifa nos sites de companhias aéreas. Outros conceitos no turismo levam tempo para realmente serem compreendidos e assimilados. Um exemplo é a tal da viagem de experiência. Ora, toda viagem oferece experiência boa ou má. O uso dos adjetivos transformadoras ou inspiradoras faria muito mais sentido.  Entretanto, clichês imperam. Alguns palestrantes vêm, nos últimos anos,  limitando tais viagens apenas como enoturismo. Equívoco grandioso. Viagens esportivas, viagens românticas, viagens espirituais também são turismo de experiências, inspiradoras e muito transformadoras,  repletas de conteúdo, estórias em que os viajantes entram em contato com seu próprio universo interior.  

Nesse cenário, um psicólogo; um sociólogo apaixonado por gastronomia, e um publicitário, interessado por ocultismo, são responsáveis por traduzir com perfeição o que é realmente uma viagem transformadora. Criadores da plataforma CDH,  Bruno Lonaro, Otávio Albuquerque e Leo Lousada, fazem sucesso no YouTube, na 95,7 FM e agora no turismo. A mais recente viagem ao Egito que fizeram -com um grupo de 32 pessoas- foi acompanhada por milhares de pessoas interessadas em muito mais situações que fotos com camelos e pirâmides.

Em um bate papo eles nos contam quais ingredientes fizeram a experiência dar tão certo.

1. O que é o CDH? Ele existe desde quando? Qual a audiência de vocês?  

O Conhecimentos da Humanidade nasceu como um canal de YouTube em 2015 com a ideia de ser um espaço onde a gente pudesse falar sobre temas de história, psicologia, filosofia e autoconhecimento. 

Como os temas são bem diversos, nosso público também é, indo desde jovens adultos até pessoas com muitos anos de estrada na busca pelo saber!

Com o tempo, o projeto se expandiu bastante e fomos para além dos vídeos na internet: fizemos eventos presenciais, produzimos nosso próprio baralho de Tarot, criamos vários cursos digitais, estreamos um programa de rádio e, inclusive, começamos a fazer viagens pelo mundo, levando pessoas para uma viver uma experiência histórica ao vivo. Temos quase mais de meio milhão de seguidores.

2. Desde quando começaram a fazer viagens? 

Nossa primeira viagem foi em 2019, para a Índia, quando levamos 8 pessoas para uma jornada incrível por diversas cidades desse país tão rico em cultura e história. A vivência serviu como um ótimo teste para esse formato onde atuamos como uma espécie de “guias narrativos”, conduzindo a experiência das pessoas. A viagem seguinte, para o Egito, já foi pensada para ser bem maior, desta vez levando 32 pessoas, e deveria ter acontecido no começo de 2020 – no entanto, com a pandemia, nossos planos foram adiados um pouco. Mas felizmente conseguimos ir agora em junho de 2022 e foi incrível!

3. Quais os objetivos dessa viagem ao Egito?

Nossa ideia foi mostrar os incríveis tesouros históricos do Egito, passando, é claro, pelas pirâmides e pela esfinge, mas indo muito além disso, então visitamos inúmeros templos, um oásis gigantesco no meio do deserto de água cristalina, subimos (e descemos!) o belíssimo monte Sinai e até conhecemos a linda cidade litorânea de Sharm el Sheik.

Em meio a tudo isso, criamos uma espécie de jornada pessoal de autoconhecimento para os integrantes do grupo, onde a cada dia eram propostas algumas reflexões inspiradas na história de Ísis, Osíris e Hórus, três divindades egípcias. A ideia era que todos chegassem ao fim da viagem com belas memórias e, melhor ainda, levando para casa uma experiência de vida transformadora!

4. Que experiências espirituais vocês ofereceram aos viajantes?

Acreditamos que a espiritualidade é algo íntimo, pessoal, ou seja, cada um tem uma visão sobre o que é essa conexão ou como encara as experiências. Em nossas viagens, buscamos trabalhar com questões amplas, mas dando as ferramentas para que cada um possa trazê-las para sua individualidade. Usando um deck de Tarot que nós mesmos desenvolvemos, criamos uma jornada de autoconhecimento que é trabalhada entregando a cada dia uma carta diferente aos viajantes e propondo uma reflexão. Assim, trazemos algumas práticas para que as pessoas possam viver sua espiritualidade sem nenhuma imposição de crença. A ideia é que cada um experiencie processos de autoconhecimento, associados ao conteúdo histórico e mitológico que vivemos em cada país. 

5. Qual o perfil do grupo?

Bastante diverso! Uma das melhores partes da nossa viagem foi justamente a convivência com esse grupo, que se integrou de uma forma sensacional. Havia desde alguns pais com suas crianças até alguns integrantes mais velhos que sempre toparam todas as aventuras, fosse para atravessar o deserto e entrar em pirâmides, subir a trilha do Sinai ou mergulhar nas águas do oásis! Foi realmente uma viagem para a família toda.

6. Que outros destinos vocês pretendem trabalhar?

Devemos voltar ao Egito e à Índia em breve, mas temos também diversos outros roteiros que gostaríamos de fazer, como a cidade de Salém na semana do Dia das Bruxas, Peru, Grécia, Inglaterra, Espanha, México etc, sempre com esse viés histórico e mitológico para conhecer a fundo a cultura do local.

7. Além de uma experiência espiritual, que outros temas vocês abordam nas viagens?

Nossa ideia é proporcionar uma experiência transformadora de autoconhecimento, explorando o lado histórico, mitológico e cultural de todos os lugares pelos quais passamos. Mas tudo isso, é claro, sem deixar de curtir bons momentos de pura diversão, passeando pelas cidades, comendo em restaurantes, aproveitando as piscinas dos hotéis, brincando com o grupo e, como não poderia faltar, parando nos melhores lugares para fazer algumas comprinhas de presentes para nós mesmos e os amigos que ficaram em casa!

https://www.youtube.com/c/ConhecimentosdaHumanidade