Como o trade deve aproveitar os 800 anos de São Francisco de Assis em 2026

A celebração dos 800 anos da morte de São Francisco de Assis, em 2026, abre uma das mais promissoras oportunidades para o mercado brasileiro de turismo religioso, cultural e experiencial. Para aproveitar esse momento de grande mobilização global, operadores, agências e DMCs precisam trabalhar com estratégia e antecedência.

O primeiro ponto é a organização logística: a veneração pública dos restos mortais do santo, algo inédito em oito séculos, ocorrerá entre 22 de fevereiro e 22 de março de 2026, mediante agendamento prévio. Isso exige que grupos e peregrinos façam reservas com muitos meses de antecedência, considerando hospedagem na Úmbria, transporte regional e ingressos oficiais.

Outro aspecto decisivo é a criação de produtos híbridos, combinando espiritualidade, cultura, história, natureza e gastronomia. O peregrino contemporâneo busca, além da devoção, uma experiência de sentido, contemplação e conhecimento. Por isso, roteiros que integrem visitas a santuários franciscanos, refeições típicas, atividades ao ar livre, museus e vivências guiadas tendem a atrair públicos mais amplos e qualificados. Vale lembrar que Assis é Patrimônio Mundial da UNESCO, o que amplia seu apelo para viajantes interessados em arte medieval, arquitetura e patrimônio histórico.

Guias especializados fazem toda a diferença nesse tipo de viagem. Profissionais com formação em história da arte, turismo religioso ou teologia agregam valor ao produto, aproximam o passageiro da narrativa franciscana e elevam a percepção de exclusividade do roteiro.

Além disso, o mercado brasileiro deve ser tratado como prioritário: o país tem forte tradição católica e cresce rapidamente no consumo de viagens de significado, especialmente entre grupos paroquiais, terceira idade, escolas confessionais e viajantes em busca de espiritualidade.

Como a procura por Assis tende a ser intensa, é essencial considerar a infraestrutura da Úmbria. Hospedar passageiros em cidades próximas como Perugia, Foligno, Spello ou Bastia Umbra, oferecendo transfers diários, pode ser uma solução eficiente para garantir conforto e disponibilidade mesmo nos períodos mais concorridos. Preparar o cliente também é fundamental: materiais educativos: vídeos, e-books, textos explicativos e lives ajudam a contextualizar a viagem, contar a história de São Francisco, esclarecer a importância da data e explicar como funcionará a visitação extraordinária aos restos mortais.

Outro diferencial competitivo está em conectar a viagem a temas contemporâneos associados ao legado franciscano: ecologia integral, economia solidária, diálogo inter-religioso e preservação do patrimônio. Esses eixos conversam com o público jovem, com segmentos culturais e com viajantes interessados em causas sociais, expandindo o perfil tradicional do peregrino.

Além disso, o ciclo dos Centenários Franciscanos não se limita a 2026; há demanda crescente por viagens pré-jubilares e pós-jubileo, o que permite aos operadores trabalhar o destino de forma contínua ao longo de 2025, 2026 e 2027.

Por fim, é possível ampliar ainda mais o potencial da data integrando Assis a outros destinos de relevância religiosa e cultural. Combinações como Assis e Roma, Assis e Toscana espiritual, ou extensões para rotas como Fátima, Lourdes e Santiago de Compostela criam itinerários mais completos e atraentes, posicionando o produto franciscano como porta de entrada para experiências espirituais europeias mais amplas.

Em síntese, os 800 anos de São Francisco não representam apenas uma efeméride religiosa, mas uma oportunidade de ouro para reposicionar produtos, inovar no turismo de fé e entregar experiências profundas e transformadoras. Com planejamento, conteúdo qualificado e integração de tendências atuais, o trade brasileiro tem tudo para ocupar um espaço privilegiado nesse momento histórico.

Fórum turismo religioso acontece esta semana

A nova edição do Fórum Nacional de Turismo Religioso se aproxima e será realizada nesta semana, nos dias 25 e 26 de novembro, no Cine Teatro Padre Jesus Flores, localizado no Santuário do Divino Pai Eterno. O encontro reunirá lideranças religiosas, representantes do poder público, universidades, empresas do setor turístico e diversas instituições brasileiras. Totalmente gratuito, o Fórum consolida-se como uma das principais plataformas de articulação, pesquisa e negócios dedicadas ao turismo de fé no país.

A programação contempla palestras, seminários técnicos, apresentações institucionais, rodadas de negócios e o lançamento e reconhecimento de iniciativas voltadas ao desenvolvimento territorial, inovação e governança do segmento.

No dia 25, as atividades estarão concentradas em debates sobre espiritualidade, governança, políticas públicas, dados e hospitalidade. Entre os palestrantes confirmados estão Padre Marco Aurélio, Padre Omar Raposo, Padre Manoel Filho, Adriane Rengel, Amadeu Castanho e Padre Rodrigo Castro. À tarde, o foco se volta para sustentabilidade integral e planejamento estratégico, sob condução do Padre Daniel Aguirre.

No dia 26, a programação integra o 2º Seminário Goiano de Turismo Religioso, promovido pelo SEBRAE Goiás, reunindo representantes da Arquidiocese de Goiânia, Goiás Turismo e operadoras como Catedral Viagens, TrieloTur, Peregrinos Brasil e Domus Viagens. O seminário discutirá desafios de mercado, integração regional e oportunidades de comercialização de rotas religiosas.

A programação inclui ainda o Palco Drops/Pitch, com rodadas e apresentações rápidas voltadas à conexão comercial entre destinos, santuários, agências e operadores. Entre os participantes confirmados estão Nova Trento (SC), Congonhas (MG), Santuário Dom Bosco (DF), SEBRAE-ES e Santuário de La Salette. O objetivo é aproximar projetos e roteiros religiosos do mercado, fortalecendo oportunidades de negócios e fomentando articulações institucionais.

O Fórum chega a esta edição respaldado por importantes instituições que reconhecem sua relevância para o desenvolvimento do turismo de fé no Brasil. O evento recebeu chancela da EMBRATUR – Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo e conta com apoio de entidades como a ABBTUR, SEBRAE, Ministério do Turismo e Confederação Nacional do Turismo (CNTur). Essas chancelas reforçam o Fórum como espaço estratégico de integração entre poder público, trade turístico, academia e Igreja, legitimando-o como ambiente de formulação, articulação e promoção do turismo religioso em escala nacional.

A edição também contempla a entrega do Troféu São João Paulo II – Caminho da Fé e da Cultura, que homenageia iniciativas e personalidades de destaque no turismo religioso, reconhecendo ações de impacto cultural, social e territorial. Eu serei agraciado com o troféu por conta da discussão que promovo nesse blog evidenciando a importância econômica e cultural desse setor.

Além disso, serão anunciadas as submissões aprovadas para publicação na Revista Científica de Turismo Religioso, fortalecendo o eixo acadêmico e a produção de conhecimento sobre o setor.

O Fórum adota diretrizes de responsabilidade socioambiental, incentivando o uso de QR Codes, materiais digitais e brindes sustentáveis, reduzindo o consumo de papel. As práticas dialogam com princípios de ecologia integral e com debates inspirados na encíclica Laudato Si, articulando sustentabilidade e turismo religioso.

Europa Sagrada chegando ao Brasil

Nos dias 26 e 27 de novembro, o projeto Sacred Horizons chega ao Brasil com uma proposta clara: aproximar alguns dos destinos espirituais e culturais mais emblemáticos da Europa do trade turístico brasileiro. Com apoio da European Travel Commission (ETC), a iniciativa promove encontros em Belo Horizonte e Curitiba, reunindo agentes de viagem, operadores e representantes oficiais de turismo da Itália, San Marino, Grécia e Croácia — um movimento estratégico para um segmento que cresce de forma acelerada: o turismo espiritual, cultural e experiencial.

Em Belo Horizonte, o encontro acontece no Hilton Garden Inn, reunindo autoridades locais, imprensa especializada e buyers convidados. A programação combina apresentações institucionais e rodadas de negócios (B2B meetings), favorecendo conexões diretas entre o mercado brasileiro e os expositores europeus.

No dia seguinte, é a vez de Curitiba sediar a segunda etapa do projeto, desta vez no Radisson Hotel. O formato se repete, com foco em fortalecer o diálogo entre fé, cultura e hospitalidade, além de consolidar o Sul do Brasil como um polo estratégico para viajantes qualificados. Na capital paranaense, os participantes também terão acesso a um almoço de networking, que une tradições europeias e a gastronomia local.

A delegação europeia chega ao país com um conjunto especialmente robusto de destinos e instituições. Da Itália e San Marino, participam representantes de Emilia-Romagna, além de cidades historicamente ligadas à peregrinação e ao patrimônio cultural, como Assis, Loreto e Chiusi Della Verna. A Grécia marca presença com cinco regiões — Florina, Kastoria, Monemvasia, Nafplio e Mystras — reconhecidas por seu profundo legado ortodoxo e bizantino. Da Croácia, o destaque é a ilha de Rab, famosa por suas paisagens intocadas, tradições autênticas e a serenidade de seu litoral.

As duas cidades , Belo Horizonte e Curitiba, foram escolhidas pelo forte potencial para o turismo espiritual na Europa. Que venham muitos negócios…

Monte Athos: o sagrado inacessível às mulheres

Entre tradição, espiritualidade e exclusão, o coração da fé ortodoxa grega revela uma experiência única de turismo religioso. No norte da Grécia, o Monte Athos ergue-se sobre o Mar Egeu como um refúgio de espiritualidade e mistério. Conhecido como República Monástica do Monte Athos, esse enclave autônomo abriga vinte mosteiros e cerca de duas mil pessoas que vivem segundo regras milenares da Igreja Ortodoxa. Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade, o lugar preserva tradições bizantinas quase inalteradas desde o século X.

Mais do que um destino turístico, o Monte Athos é um território sagrado e, paradoxalmente, proibido às mulheres. A exclusão feminina, conhecida como avaton, é uma das leis mais antigas da península. Segundo a tradição ortodoxa, a Virgem Maria, ao visitar a região, teria abençoado o local e pedido que se tornasse seu “jardim”, um espaço exclusivamente masculino de devoção. Desde então, nenhuma mulher pode pisar ali, nem mesmo animais fêmeas, em alguns casos.

O território é considerado consagrado à Mãe de Deus, e os monges afirmam que permitir a entrada de mulheres seria quebrar um pacto espiritual que sustenta a vida contemplativa da comunidade.

O acesso é restrito e altamente controlado. Apenas homens com uma permissão especial chamada diamonitirion podem entrar. O documento é emitido pela administração monástica e limita a entrada diária a 100 peregrinos ortodoxos e 10 não ortodoxos. É preciso solicitar a autorização com várias semanas de antecedência.

A chegada ao Monte Athos se faz exclusivamente por mar, a partir das cidades de Ouranoupolis ou Ierissos, na região da Macedônia Central. O porto de Dafni é o principal ponto de entrada. De lá, os visitantes seguem em veículos oficiais ou trilhas até os mosteiros, onde são hospedados gratuitamente pelos monges.

Durante a estadia, o visitante compartilha refeições simples, participa de orações e vivencia o ritmo contemplativo do monacato ortodoxo. O uso de celulares, câmeras e dispositivos eletrônicos é desaconselhado; aqui, o tempo corre em outro compasso.

Os meses de abril a outubro são ideais, com clima ameno e mares mais calmos. No inverno, ventos e tempestades podem interromper as travessias. As grandes festas religiosas, como a Dormição da Virgem Maria (15 de agosto), atraem um número maior de peregrinos e exigem planejamento antecipado.

O Monte Athos é o centro espiritual do cristianismo ortodoxo, tradição seguida por cerca de 260 milhões de fiéis em países como Grécia, Rússia, Sérvia e Romênia. Diferente do catolicismo romano, a Ortodoxia não tem um papa, mas sim igrejas independentes, lideradas por patriarcas.

A espiritualidade ortodoxa valoriza o silêncio, a contemplação e o ícone, imagem sagrada que simboliza a presença divina. Nos mosteiros do Monte Athos, essa tradição se manifesta em liturgias longas, cânticos bizantinos e manuscritos preservados há séculos.

Apesar de sua beleza e profundidade espiritual, o Monte Athos também é símbolo de uma fé que resiste ao tempo e às mudanças sociais. A proibição de entrada de mulheres levanta debates sobre igualdade de gênero, direitos humanos e tradição religiosa.

Para os monges, abrir o Monte Athos significaria romper um pacto com o divino. Para outros, manter o avaton é perpetuar uma exclusão incompatível com o mundo contemporâneo.

Visitar o Monte Athos é mergulhar em um universo que parece suspenso entre o céu e o mar, entre o silêncio e a eternidade. Uma experiência espiritual rara e, para muitos, transformadora. Mas também um lembrete de que o sagrado, mesmo em sua beleza, carrega fronteiras que refletem o peso da história.

Roteiro neo-Esô no sudeste

Há viagens que descansam o corpo — e há aquelas que despertam a curiosidade e lados da alma. Entre o litoral paulista e as montanhas de Minas e do Rio, existe um percurso que une energia telúrica, paisagens exuberantes e mitos que desafiam a razão. Um roteiro místico , voltado para os neo-esotéricos, que atravessa Peruíbe, São Tomé das Letras, Sana e Visconde de Mauá, destinos ligados por uma mesma busca: a do reencontro entre natureza e transcendência.

Peruíbe: portais do mar e da ufologia

Localizada no litoral sul paulista, Peruíbe é um dos vértices do chamado Triângulo da Ufologia Brasileira, ao lado de São Tomé das Letras (MG) e Alto Paraíso (GO). Cercada pela Estação Ecológica da Jureia-Itatins, a cidade combina praias selvagens com mistérios cósmicos. Moradores e visitantes relatam avistamentos de luzes no céu e fenômenos que desafiam a ciência. Trata-se de uma dos municípios brasileiros com mais relatos de OVNIS. É preciso lembrar que um OVNI não indica necessariamente a existência de uma nave alienígena. Como o próprio nome diz, trata-se de um objeto voador não identificado. Mas o verdadeiro encanto está na energia densa da Mata Atlântica, onde se acredita que antigos povos guardaram segredos sobre portais dimensionais e civilizações perdidas.

São Tomé das Letras: a cidade das pedras e das estrelas

Nas montanhas do sul de Minas, São Tomé das Letras é o coração desse roteiro esotérico. A cidade, feita de quartzito e lendas, vibra com histórias de duendes, fadas e também discos voadores. Cada pedra parece conter um símbolo, e cada gruta um segredo. No alto da Casa da Pirâmide, visitantes observam o pôr do sol como um ritual de reconexão. Diz-se que a cidade está sobre uma das sete cidades subterrâneas de Agartha, e que suas águas e cristais canalizam uma das maiores energias telúricas do planeta. Dizem as boas e más línguas que existe um portal que conecta São Tomé a Machu Picchu. Vale passar um final de semana para conhecer uma atmosfera que não se encontra em nenhum outro lugar do mundo.
Mas para além dos mitos, São Tomé é um convite à contemplação e à convivência entre o humano e o sagrado natural.

Sana: o vilarejo do silêncio e da cura

Descendo a serra rumo ao norte fluminense, o pequeno Sana, distrito de Macaé, é refúgio de terapeutas, artistas e buscadores espirituais. Suas cachoeiras — especialmente a Sete Quedas — são templos naturais onde o banho é quase um batismo energético. O clima bucólico, o artesanato e as rodas de música ao entardecer criam um ambiente de espiritualidade simples e comunitária, herança dos hippies que ali chegaram nos anos 1970 e fundaram uma cultura de paz e reconexão com a terra. Não espere grandes luxos, mas muito acolhimento e sorrisos.

Visconde de Mauá: o sagrado nas montanhas

Encerrando o percurso, Visconde de Mauá, entre o Rio e Minas, une luxo, natureza e espiritualidade. Suas pousadas charmosas e alta gastronomia convivem com a força dos rios e o silêncio das montanhas. É destino para quem busca retiros, meditação, astrologia e terapias holísticas — mas também para quem entende que o verdadeiro luxo é a introspecção. O clima frio e a paisagem alpina transformam cada caminhada em contemplação, cada neblina em metáfora do invisível. Trata-se de um destino também muito voltado para casais e lua-de-mel.

Uma rota de autoconhecimento

Mais do que um roteiro turístico, esse percurso é, para muitos, uma rota iniciática, onde cada parada indica um portal de autoconsciência. Ligando o mar ao planalto e às montanhas, conecta símbolos — água, pedra, ar e fogo — e experiências que atravessam a fé, o mito e o mistério. De Peruíbe a Mauá, o viajante encontra não apenas destinos, mas espelhos: cada cidade revela um fragmento do sagrado que ainda habita em nós. Como acontece em todo o turismo religioso e espiritual no país, as atividades ainda são pouco sistematizadas, embora demanda não falte. Fique de olho!

Aroya Cruises inaugura nova era no turismo halal com cruzeiro religioso

O turismo religioso ganha um novo capítulo com a estreia do cruzeiro halal da Aroya Cruises, uma jornada de 13 noites entre a Malásia e Jidá (Arábia Saudita). Mais do que uma viagem, trata-se de uma experiência espiritual que une fé, cultura e hospitalidade.

Partindo de Port Klang, na Malásia, o itinerário contempla escalas em Indonésia, Maldivas e Omã, antes de chegar a Jidá, a porta de entrada para Meca e Medina. Em cada destino, os viajantes mergulham em tradições islâmicas milenares, visitam mesquitas históricas e participam de atividades culturais guiadas por estudiosos do Islã.

A bordo, o navio Aroya — com capacidade para 3.400 pessoas — oferece palestras espirituais, espaços de oração e gastronomia 100% halal, tornando a experiência completa em todos os sentidos.

O retorno, programado para janeiro de 2026, fará o mesmo trajeto em sentido inverso. Além disso, a empresa planeja minicruzeiros de 2 noites a partir de Langkawi, ampliando o acesso ao turismo religioso por via marítima.

Em um cenário global de expansão do turismo halal, que deve ultrapassar US$ 500 bilhões até 2035, a Aroya se consolida como pioneira ao transformar a peregrinação marítima em símbolo de fé moderna e conectada com o mundo.

Fórum de Turismo Religioso consolida o Brasil como referência no segmento

O turismo religioso deixou há muito tempo de ser apenas uma expressão de fé. Tornou-se também um fenômeno econômico, cultural e social que movimenta comunidades, preserva tradições e gera oportunidades. Em um mundo cada vez mais ávido por experiências transformadoras, o Brasil desponta como um dos principais polos globais desse tipo de turismo — e o Fórum Nacional de Turismo Religioso é a prova viva dessa vocação. Em 2025, o evento chega à sua sétima edição, entre 25 e 26 de novembro, no Cine Teatro do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), reafirmando o país como referência internacional no segmento.

A força do Fórum está na sua capacidade de unir dimensões distintas: fé, cultura, negócios e conhecimento. Trata-se de um espaço onde gestores públicos, lideranças religiosas, profissionais do turismo e pesquisadores dialogam sobre como transformar a espiritualidade em uma alavanca de desenvolvimento sustentável. A presença de instituições como EMBRATUR, Ministério do Turismo, SEBRAE Goiás, ABBTUR e CNTur confere legitimidade e amplitude a essa agenda, revelando que o turismo religioso já não é um nicho, mas uma vertente estratégica da economia criativa e do turismo cultural brasileiro.

De acordo com dados apresentados recentemente pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, e pela deputada federal Simone Marquetto, o turismo religioso movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano no Brasil, distribuídos entre as diversas celebrações e festividades que ocorrem de Norte a Sul do país.

Nesse contexto de crescimento recorde, o Fórum Nacional de Turismo Religioso assume papel central ao integrar fé, cultura e estratégia. O apoio do SEBRAE Goiás, com o Seminário de Turismo Religioso, reforça a importância do empreendedorismo local e das micro e pequenas empresas no fortalecimento desse ecossistema. Artesãos, guias, produtores culturais e empreendedores do entorno de santuários e destinos de fé encontram nesse movimento uma oportunidade concreta de prosperar de forma sustentável, transformando espiritualidade em desenvolvimento econômico.

Desde sua criação, em 2015, o Fórum diferencia-se pela continuidade e resiliência. Mesmo durante a pandemia, manteve suas atividades em formato digital, provando que a fé pode ser também motor de inovação. Agora, ao ocupar o espaço simbólico do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade — um dos maiores polos de peregrinação da América Latina —, o evento une tradição e modernidade, espiritualidade e estratégia, em torno de um propósito comum: consolidar o Brasil como protagonista global no turismo religioso.

Mais do que um evento, o Fórum Nacional de Turismo Religioso é um movimento que reafirma o valor da fé como patrimônio imaterial e motor de desenvolvimento. É também um espelho da vocação brasileira para acolher, celebrar e transformar — atributos que fazem do turismo religioso um dos pilares mais promissores da economia contemporânea e um símbolo da união entre cultura, devoção e prosperidade.

Os Caminhos Sefarditas: a rota judaica pela Espanha

Viajar pela Espanha é também redescobrir e valorizar a memória de diferentes povos e religiões que ajudaram a construir a história do país. Entre palácios mouriscos, catedrais góticas e vilas medievais, há um fio cultural que atravessa séculos e fronteiras: a herança judaica sefardita. Muito antes da expulsão decretada pelos Reis Católicos em 1492, comunidades judaicas floresciam em dezenas de cidades ibéricas, deixando marcas profundas na arte, na ciência, na filosofia e na vida urbana. Hoje, esse legado é celebrado e preservado através da Red de Juderías de España – Caminos de Sefarad, uma rede que conecta 21 cidades e propõe uma jornada turística e cultural única: seguir os passos dos judeus que moldaram parte essencial da identidade espanhola.

Em cada destino, a viagem é um mergulho no tempo. Toledo, por exemplo, conserva sinagogas transformadas em museus, como a do Trânsito e a de Santa María la Blanca, testemunhas de uma convivência plural que fez da cidade um centro intelectual da Idade Média. Em Córdoba, a antiga judería se abre em ruelas estreitas e floridas que conduzem à sinagoga do século XIV e à estátua de Maimônides, o grande filósofo e médico judeu nascido ali. Já em Sevilha, é o bairro de Santa Cruz que resguarda a memória judaica entre pátios andaluzes e lendas imemoriais.

Mais ao norte, em Segóvia, é possível visitar o Centro de Educação Judaica, a Porta de San Andrés e um antigo cemitério hebraico com vista para a muralha medieval. Em Barcelona, o bairro do Call revela as origens da cidade judaica desde o século VII, com a Sinagoga Maior — considerada uma das mais antigas da Europa — reaberta ao público após cuidadosa restauração. Cidades como Girona, Besalú e Ribadavia também preservam traços singulares, seja em arquivos históricos, seja em festas que celebram a memória sefardita.

Percorrer essa rota é mais do que uma experiência cultural: é uma viagem sensorial. Em cada judería, o visitante é convidado a perder-se entre ruas de pedra, descobrir inscrições em hebraico gravadas discretamente nas paredes, ouvir histórias de famílias que viveram ali por séculos e provar sabores que atravessaram o tempo, como doces sefarditas ou receitas resgatadas da tradição. Os itinerários unem história e emoção, pois narram tanto o florescimento quanto a diáspora, oferecendo uma experiência de memória viva.

Além dos museus e sinagogas, a Red de Juderías organiza eventos, exposições e atividades que integram o viajante ao cotidiano local. Em cidades menores, como Estella ou Tudela, o turismo ganha o charme da descoberta inesperada, enquanto em centros maiores, como Madrid ou Granada, a herança judaica dialoga com a efervescência contemporânea. Empresas de turismo cultural já oferecem pacotes completos — de dez a quatorze dias — que percorrem diversas dessas cidades, mas também é possível criar um roteiro independente, conectando os pontos mais significativos de acordo com os interesses de cada viajante.

Ao longo do caminho, o que se revela não é apenas a história de uma comunidade, mas o mosaico da própria Espanha, feita de encontros, convivências e tensões que ajudaram a moldar o país moderno. Viajar pelos Caminhos de Sefarad é, em última instância, um convite a refletir sobre a riqueza da diversidade cultural e a importância da memória como patrimônio vivo. Para o turista, é uma oportunidade rara: caminhar pelas mesmas ruas que filósofos, médicos, artesãos e poetas percorreram, e sentir, em cada pedra e cada silêncio, que a viagem também é uma forma de reencontro.

Portugal esotérico com fernando pessoa

Portugal é terra de gastronomia, história, arte, poesia e espiritualidade. E nem estamos falando do Santuário de Fátima, destino obrigatório de católicos de todo o mundo. Mas de um turismo voltado para místicos, esotéricos e curiosos. Entre cafés históricos, bibliotecas ocultas, palácios iniciáticos e penhascos dramáticos, o país oferece ao viajante um roteiro singular: seguir as marcas de Fernando Pessoa, poeta que também foi astrólogo sob o heterônimo Raphael Baldaya, e sua insólita cumplicidade com o mago britânico Aleister Crowley.

Dia 1 — Lisboa esotérica e literária

A porta de entrada é a Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique (Rua Coelho da Rocha, 16–18), onde o poeta viveu seus últimos quinze anos. A biblioteca preservada reúne volumes de astrologia, esoterismo e filosofia que revelam sua faceta mística. Muitos de seus leitores ficam surpresos ao descobrir que Pessoa ganhava dinheiro como astrólogo.

Do bairro, siga para o Chiado. No Café A Brasileira (Rua Garrett, 120), ao lado da famosa estátua de Pessoa esculpida por Lagoa Henriques, é tradição tirar uma fotografia com o poeta de bronze. Registros mostram que o poeta lá se encontrava com muitos nomes importantes das sociedades secretas lisboetas.

Na Praça do Comércio, o Martinho da Arcada mantém a “mesa do Pessoa”, espaço que o escritor frequentava com assiduidade. Hoje o café integra a Historic Cafés Route.

Descendo à Baixa, percorra a Rua dos Douradores, cenário do Livro do Desassossego, onde o semi-heterônimo Bernardo Soares “vive e trabalha”. Os críticos literários sabem. Para cada heterônimo, Pessoa criava um mapa astrológico com temperamentos muito próprios.

O percurso termina no Museu Maçónico Português, do Grande Oriente Lusitano (Rua do Grémio Lusitano, 25), cuja coleção de símbolos maçônicos ajuda a decifrar referências presentes tanto em Mensagem quanto em Sintra.

Curiosidade: Pessoa praticava astrologia com seriedade, escrevendo horóscopos datados e ensaios sob o pseudônimo Raphael Baldaya. Partes desses textos podem ser consultadas no Arquivo Pessoa, e estudos recentes discutem como sua poética dialogava com tradições iniciáticas

Dia 2 — Sintra iniciática: poços e silêncio

Em Sintra, o coração esotérico do país, está a Quinta da Regaleira. O Poço Iniciático, uma “torre invertida” subterrânea, conduz o visitante por um percurso em espiral que simboliza morte e renascimento espiritual, reunindo referências templárias, maçônicas e dantescas. Trata-se de um ponto importantíssimo para os esotéricos europeus.

Não longe dali, o Convento dos Capuchos, conhecido como “convento de cortiça”, oferece a experiência oposta: austeridade e recolhimento. O pórtico, marcado por caveira e ossos cruzados, recorda a morte simbólica do mundo profano e a entrada em outra dimensão. O local foi cenário de grandes obras literárias e também carrega muitas lendas.

Dia 3 — Cascais: a Boca do Inferno e o teatro de Crowley

À beira-mar, em Cascais, ergue-se a Boca do Inferno, falésia de formato dramático onde, em 1930, o mago britânico Aleister Crowley encenou o próprio desaparecimento. A farsa contou com a cumplicidade de Pessoa, que ajudou a organizar a “morte” simulada. Dias depois, Crowley reapareceu em Berlim, em uma das mais famosas jogadas de marketing e relações públicas.

Crowley (1875–1947), mestre de Paulo Coelho, Raul Seixas, Ozzy Osbourne e Beatles, foi um dos ocultistas mais célebres do século XX. Criador da filosofia Thelema (“Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”), misturava magia cerimonial, poesia e escândalo. Em Lisboa, encontrou em Pessoa um interlocutor intelectual inesperado. Documentos analisados por Marco Pasi revelam a correspondência, mapas astrais trocados e o papel ativo do poeta na encenação.

Dia 4 — Portugal templário

A jornada pode se expandir até Tomar, onde o Convento de Cristo, matriz templária e depois sede da Ordem de Cristo, revela símbolos que inspiraram o imaginário sebastianista e a utopia do Quinto Império, tema central em Mensagem.

Mais adiante, o Castelo de Almourol, fortim medieval numa ilhota do Tejo, encerra o percurso com um cenário mítico que ecoa as visões místicas de Portugal, em que o país voltará a ter as glórias do século XVI, quando foi a mais importante e rica nação do Ocidente.

Esse roteiro é mais do que turismo cultural. É uma experiência de iniciação para quem deseja explorar não apenas os lugares que moldaram Fernando Pessoa, mas também os símbolos que habitavam sua mente. Entre cafés históricos, poços iniciáticos e falésias de lenda, o viajante percorre um Portugal invisível — onde poesia, astrologia e magia se encontram.

Castelo do tarô na toscana

Imagine caminhar por um jardim encantado onde cada escultura conta uma história milenar. Assim é o Castelo do Tarô (Il Giardino dei Tarocchi), criado pela artista franco-americana Niki de Saint Phalle no sul da Toscana. Saint Phalle é bem conhecida dos paulistanos. Seus trabalhos fazem enorme sucesso na Pinacoteca de São Paulo.

Seu castelo, na Itália, é um lugar único no mundo, a meca dos tarólogos de esotéricos de todo o planeta, que transforma o baralho do tarô em esculturas monumentais, cobertas de mosaicos coloridos e espelhos brilhantes que mudam de acordo com a luz do sol.

Localizado em Capalbio, a cerca de duas horas de carro de Roma, o Castelo do Tarô é um passeio perfeito para quem busca unir arte, espiritualidade e a atmosfera bucólica da Toscana. Cada escultura representa um dos 22 arcanos maiores do tarô e convida o visitante a viver uma experiência diferente: caminhar pela Imperatriz, uma esfinge habitável onde a própria artista chegou a morar; contemplar a Roda da Fortuna girando lentamente; ou se perder nos reflexos coloridos dos mosaicos que transformam o jardim em um verdadeiro labirinto de sonhos.

Além do impacto visual impressionante, o Castelo do Tarô é também uma experiência de introspecção e inspiração, ideal para viajantes que buscam algo além do turismo tradicional.

O tarô, embora hoje amplamente associado ao esoterismo, ganhou essa aura simbólica graças a um personagem inusitado: o pastor protestante suíço Antoine Court de Gébelin (1725–1784). Em 1781, ele publicou a obra Le Monde Primitif, na qual defendeu que as cartas do tarô não eram apenas um jogo, mas sim fragmentos de uma antiga sabedoria egípcia, carregados de significados filosóficos, morais e espirituais. Essa interpretação inovadora, vinda justamente de um pastor protestante em plena era do Iluminismo, foi responsável por transformar o tarô em objeto de estudo esotérico, inspirando gerações posteriores de ocultistas, sociedades iniciáticas e pensadores interessados em símbolos e arquétipos universais.

Por que indicar a seus clientes?

Pouca gente conhece. Soube do destino através de Nei Naiff, o tarólogo brasileiro mais respeitado no planeta, autor de inúmeros best sellers sobre as cartas. Indicar o Castelo do Tarô a seus clientes é oferecer uma experiência realmente única no mundo: um parque de esculturas monumental que mistura arte contemporânea, espiritualidade e fantasia, capaz de transportar o visitante para um universo simbólico inesquecível. Localizado de forma estratégica no sul da Toscana, em Capalbio, o jardim pode ser facilmente incluído em roteiros entre Roma e Florença, servindo como um complemento exclusivo às tradicionais visitas a vinhedos, cidades históricas e paisagens rurais da região. Mais do que um passeio estético, trata-se de uma verdadeira viagem sensorial e cultural, perfeita para viajantes que buscam experiências diferentes, autênticas e memoráveis, combinando contemplação artística, introspecção espiritual e a atmosfera bucólica da Toscana.

O Castelo do Tarô é aberto ao público apenas em determinados meses do ano (de abril a outubro), o que o torna ainda mais especial. Visitar esse espaço é entrar em um universo mágico, onde cada detalhe surpreende e desperta a imaginação.

E não é só para esotéricos. Há um aspecto de autoconhecimento, mesmo para cristãos. Sugere-se algumas leituras para quem quer visitar o castelo com maior proveito. Entre as obras que aproximam o tarô de uma leitura simbólica e espiritual destacam-se algumas de grande relevância. Do ponto de vista psicológico, embora Carl Gustav Jung nunca tenha escrito um livro exclusivamente sobre o tarô, seus estudos sobre arquétipos e inconsciente coletivo inspiraram autores como Sallie Nichols, em Jung and Tarot: An Archetypal Journey (1980), e chegaram ao Brasil por meio de títulos como Tarô e Psicologia: símbolos do inconsciente (Paulus, 1991), que exploram as cartas como metáforas de processos internos e caminhos de autoconhecimento. No âmbito católico, a obra mais emblemática é Meditações sobre o Tarô: Uma Viagem ao Hermetismo Cristão, publicada anonimamente em 1980 e atribuída a Valentin Tomberg, com posfácio do teólogo Hans Urs von Balthasar. Nesse livro, os 22 arcanos maiores são apresentados como pontos de partida para profundas reflexões espirituais em chave cristã, distanciando-se da adivinhação e aproximando-se da tradição contemplativa da Igreja, em que a simbologia serve como porta de acesso a mistérios universais da fé.