Rota de Paulo de tarso atrai turistas religiosos

Peregrinação internacional percorre locais sagrados na Turquia, Grécia e Itália e revela a trajetória do apóstolo Paulo em suas missões pelo mundo antigo

A fé e a história se entrelaçaram em um dos roteiros mais simbólicos do turismo religioso internacional: a Rota de São Paulo . Inspirado nas viagens missionárias do apóstolo Paulo de Tarso, o percurso atrai peregrinos, estudiosos e turistas em busca das origens do cristianismo e da cultura mediterrânea. Entre paisagens arqueológicas e cidades modernas, o itinerário passa por três países-chave — Turquia, Grécia e Itália — e reconstitui o itinerário descrito no Novo Testamento.

Paulo, considerado um dos grandes divulgadores da fé cristã no mundo greco-romano, percorreu milhares de quilômetros em missões evangelizadoras durante o século I. Seu legado é celebrado por meio de igrejas, ruínas, sinagogas e centros culturais que contam sua história com profundidade e emoção.

Na Turquia , os visitantes podem conhecer Tarso , cidade natal de Paulo, além de importantes polos da Ásia Menor como Éfeso, Icônio, Listra, Derbe e Antioquia da Pisídia . Esses locais preservam ruínas romanas e memoriais cristãos que testemunharam os primórdios da fé no Oriente.

O roteiro segue para a Grécia , onde Paulo realizou sua primeira grande missão europeia. Em cidades como Filipos, Tessalônica, Berea, Atenas e Corinto , ele esconde debates filosóficos, exclusivos e perseguições. Hoje, igrejas ortodoxas, sítios destruídos e museus narram esses momentos cruciais da história cristã.

A jornada culmina na Itália , com destaque para Roma , onde, segundo a tradição, Paulo foi preso, escreveu cartas e acabou martirizado. A Basílica de São Paulo Extramuros , a Via Ápia e a prisão de Mamertino são paradas obrigatórias para quem deseja reviver seus últimos passos.

Mais do que uma simples viagem, a Rota de São Paulo é uma tradição espiritual e cultural. Ela oferece não apenas a chance de explorar lugares históricos, mas também de reflexão sobre fé, resistência e transformação — valores universais que ainda ecoam nos caminhos do apóstolo.

Turquia – As raízes e as primeiras missões

A atual Turquia, na Antiguidade conhecida como Ásia Menor, abriga o início da jornada paulina.

  • Tarso : cidade natal de Paulo. Visite a Igreja de São Paulo e o poço tradicionalmente ligado à sua infância.
  • Antioquia da Pisídia : onde Paulo teria pregado em uma das primeiras comunidades gentílicas. Ruínas da basílica e do teatro romano revelam a imponência do lugar.
  • Éfeso : uma das cidades mais importantes do mundo antigo. Paulo viveu ali por três anos. O grande teatro, a Biblioteca de Celso e a Igreja de São João compõem o roteiro.
  • Icônio, Listra e Derbe : cenário das primeiras perseguições e especificidades. Guias locais ajudam a localizar os pontos de relevância bíblica.

Experiência recomendada : Trilhas históricas e visitas reflexivas com guias especializados em cristianismo primitivo.

 Grécia – Debates filosóficos e as primeiras comunidades na Europa

Paulo desembarcou na Europa por Filipos e iniciou uma jornada que mescla fé e debates intelectuais.

  • Filipos : local do batismo de Lídia, a primeira convertida europeia. O rio Zygaktis permite vivenciar renovações simbólicas de fé.
  • Tessalônica : ruínas e roupas mostram a tensão entre a mensagem cristã e a vida urbana helenística.
  • Berea : onde os bereanos, elogiados por Paulo, investigavam cuidadosamente as Escrituras.
  • Atenas : palco do famoso discurso no Areópago, onde Paulo confronta os epicuristas e estoicos sobre o “Deus desconhecido”.
  • Corinto : centro comercial onde Paulo viveu por 18 meses. Visitas ao tribunal (bema) e à estrada romana de Cencréia marcam a viagem.

Experiência recomendada : Leitura pública de Atos 17 com vista para a Acrópole, em Atenas, ou estudos bíblicos guiados em Berea.

 Itália – Prisão e martírio

O roteiro culmina em Roma, onde Paulo teria sido prisioneiro e martirizado.

  • Basílica de São Paulo Extramuros : erguida sobre o local de seu suposto túmulo.
  • Prisão Mamertina : onde Paulo teria ficado preso com Pedro.
  • Via Ápia : estrada por onde entrou em Roma, hoje caminho de peregrinação.
  • Vaticano e igrejas paulinas : visitas às sete igrejas tradicionais incluem memórias das cartas paulinas.

Experiência recomendada : peregrinação guiada pelas sete igrejas de Roma com abordagem na missão de Paulo e sua influência no cristianismo ocidental.

Entre fé e história: uma viagem de transformação

Mais do que um trajeto turístico, a Rota de São Paulo propõe uma imersão espiritual, cultural e histórica. Em cada cidade, ruína ou paisagem, o visitante é convidado a revisitar os dilemas enfrentados por Paulo: fé e razão, tradição e inovação, confronto e conciliação.

Para muitos, essa peregrinação é também um reencontro pessoal — com a fé, com as origens e com um mundo que ainda carrega os ecos das palavras do apóstolo que disse: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) .

Roberto de Lucena destaca o potencial do turismo religioso em SP

O turismo tem se consolidado como uma das principais forças econômicas do Estado de São Paulo. À frente dessa transformação está o Secretário de Turismo, Roberto de Lucena, que, com uma trajetória marcada por três mandatos como deputado federal e vasta experiência no setor público, tem conduzido uma gestão visionária, especialmente na valorização do turismo religioso.

Em entrevista exclusiva, Lucena detalha os números expressivos do setor, os projetos inovadores e os planos para descentralizar e interiorizar o turismo paulista.


Ricardo Hida: Secretário, nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e França, o turismo representa uma parcela significativa do PIB. Qual é o panorama atual do turismo no Estado de São Paulo?

Roberto de Lucena: Hoje, o turismo representa 10% do PIB paulista, movimentando mais de R$ 320 bilhões. Se São Paulo fosse um país, estaria entre as 21 maiores economias do mundo. A cadeia turística envolve 52 setores e gera 950 mil empregos diretos, além de aproximadamente 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Em um cenário global de mecanização e avanço da inteligência artificial, o turismo se destaca como o setor com maior potencial de geração de empregos humanos e incentivo ao empreendedorismo. O governador Tarcísio de Freitas reconheceu essa importância e tem investido fortemente nessa agenda.


Ricardo Hida: Um dos destaques da sua gestão é a criação de guias de turismo religioso. Como surgiu essa iniciativa?

Roberto de Lucena: Percebemos a necessidade de comunicar melhor a diversidade turística do estado, segmentando por nichos. Em feiras internacionais, São Paulo ainda é associado apenas à capital e ao turismo de negócios. Mas São Paulo é mais do que a capital. O estado tem 644 municípios, sendo 210 considerados turísticos: são 70 estâncias e 140 municípios de interesse turístico. Isso gera uma diversidade enorme de eixos turísticos. Temos turismo de saúde, bem-estar, turismo ecológico, turismo de aventura, de compras, de observação de vida silvestre. E, com a COPPE em expansão, o mundo chega ao Brasil por São Paulo. E há um eixo que vínhamos trabalhando pouco: o turismo religioso. Ele sempre existiu e sempre foi forte, mas não havia sido devidamente organizado. O turismo religioso movimenta mais de 300 milhões de viagens por ano no mundo, gerando bilhões de reais para a economia global. Aqui no estado, por exemplo, temos Aparecida, Guaratinguetá com Frei Galvão, Cachoeira Paulista com a Canção Nova, e Canas com a Renovação Carismática Católica. Esse conjunto, que chamamos de Vale da Fé, recebe 16 milhões de visitantes por ano — mais do que toda a população de Portugal. No turismo evangélico, o Templo de Salomão em São Paulo recebe mais visitantes que o próprio Cristo Redentor. Além disso, São Paulo abriga as sedes das maiores denominações evangélicas do país e a sede nacional da Igreja Católica. Foi então que entendemos: era preciso organizar tudo isso, catalogar, padronizar e oferecer como produto turístico. E assim nasceram os guias turísticos religiosos do Estado de São Paulo, começando com o guia do turismo católico.


Ricardo Hida: E o turismo evangélico surpreendeu pelo seu potencial. Como foi estruturar esse roteiro?

Roberto de Lucena: Segundo dados do Ministério do Turismo, o Brasil registra 32 milhões de viagens motivadas pela fé todos os anos. Destas, cerca de 7 milhões são feitas por turistas efetivos — ou seja, pessoas que se deslocam especificamente para vivenciar o turismo religioso.
No caso do turismo evangélico, o que encontramos em São Paulo foi surpreendente. Há aqui um patrimônio histórico e cultural riquíssimo, pouco divulgado e pouco estruturado até então. Por exemplo, em Santa Bárbara d’Oeste está o primeiro templo evangélico do Brasil. Um templo protestante que, na época, era compartilhado por três igrejas históricas: Presbiteriana, Batista e Metodista — cada uma usando o espaço em horários diferentes. Além disso, temos o primeiro cemitério protestante das Américas, em Iperó. Esse local está ligado à fundação da primeira siderúrgica das Américas — uma iniciativa do Império. Na época, existiam apenas outras duas no mundo: uma na Alemanha e outra na China. Dom Pedro II era frequentador da região. Como não havia mão de obra especializada no Brasil, foram trazidos técnicos da Inglaterra, Suécia e Alemanha — muitos deles protestantes. Com o tempo, essas pessoas começaram a morrer e surgiu um problema: seus corpos não podiam ser enterrados em solo consagrado católico. Os corpos chegaram a ser armazenados em caixotes, aguardando uma solução. Sensibilizado, Dom Pedro II interveio e conseguiu que um terreno fosse “excomungado” pela Igreja, para a criação de um cemitério protestante. Esse é o primeiro do continente americano — e existe até hoje. Além disso, São Paulo é sede da Sociedade Bíblica do Brasil, que possui o maior parque gráfico de publicações bíblicas do mundo. Temos também a famosa Rua Conde de Sarzedas, conhecida como a rua dos evangélicos, onde se concentram comércios voltados a esse público. O Templo de Salomão, símbolo da fé evangélica, é aberto à visitação com guias especializados. É uma experiência impressionante. Também temos o Museu da Bíblia, em Barueri — um dos mais completos do mundo. E o Museu de Arqueologia Bíblica, em Engenheiro Coelho, liderado pelo pastor Rodrigo Silva, da Igreja Adventista, em parceria com a Universidade Adventista. Tudo isso compõe um circuito evangélico autêntico, que passa por São Paulo e influencia o país inteiro. A Assembleia de Deus, por exemplo — mãe de todas as igrejas pentecostais no Brasil — foi fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém do Pará. E a primeira igreja fora de Belém foi criada justamente aqui, em Santos. Nos anos 1970 e 1980, São Paulo abrigou os maiores templos evangélicos do mundo: o templo da Igreja O Brasil para Cristo, na Pompeia, e a sede mundial da Igreja Deus é Amor, entre outros. Temos muitas curiosidades como essas. E quando organizadas, todas essas informações formam um circuito incrível para o turismo evangélico. Um circuito que faz frente até mesmo às rotas históricas da Reforma, na Alemanha, Suécia ou Inglaterra. São Paulo tem, sim, uma história religiosa fabulosa.


Ricardo Hida: Recentemente, a Secretaria lançou também o guia de turismo judaico. O que ele traz de novidade?

Roberto de Lucena: Esse guia, desenvolvido com o Museu Judaico e a Federação Israelita, organiza a rica presença cultural da comunidade judaica em São Paulo. Destacamos o Memorial do Holocausto, o Museu Judaico, além de restaurantes, centros culturais e ações sociais. É um convite para mergulhar na história e na contribuição dos judeus para o estado e o país.


Ricardo Hida: Quais são os próximos projetos da Secretaria, além do turismo religioso?

Roberto de Lucena: Nosso foco é interiorizar e descentralizar o turismo. O programa “Sabor de São Paulo” valoriza a gastronomia regional e já reconheceu 13 regiões gastronômicas. Lançamos também o Creditu SP, uma linha de crédito para fomentar projetos turísticos. Outro grande projeto é a Academia do Turismo, com a meta de oferecer 100 mil vagas de capacitação até 2026, combatendo a falta de mão de obra qualificada no setor.


Ricardo Hida: Para quem deseja acessar os guias e saber mais sobre esses projetos, como proceder?

Roberto de Lucena: Basta acessar o site da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Lá estão disponíveis gratuitamente mais de 30 guias, incluindo o recém-lançado Guia das Padarias, com mais de 300 estabelecimentos listados. E em breve teremos novidades.


Ricardo Hida: Secretário, agradeço imensamente pela entrevista e por compartilhar tantos projetos inspiradores. Nos vemos em breve para falar sobre essas novas iniciativas!

Roma em Luto: Peregrinação após a Morte do Papa Francisco

Roma, a Cidade Eterna, sempre foi palco da confluência entre história, fé e tradição. Mas, com a recente morte do Papa Francisco, o cenário ganha novos contornos de solenidade e reflexão. Milhares de fiéis, peregrinos e turistas se dirigem à capital italiana não apenas para prestar suas últimas homenagens ao pontífice argentino, mas também para vivenciar de forma intensa os símbolos mais sagrados da Igreja Católica.

Neste momento único, em que o Vaticano vive o período da Sede Vacante e o mundo observa atentamente a transição papal, a cidade se transforma em um verdadeiro roteiro espiritual — onde cada pedra, cada altar e cada basílica ecoam séculos de devoção e poder religioso.

O Vaticano: Centro das Homenagens e da Esperança

A primeira parada obrigatória é a Basílica de São Pedro, onde o corpo do Papa Francisco repousa para visitação pública. Sob a imponente cúpula desenhada por Michelangelo, fiéis enfrentam longas filas movidos por um misto de tristeza e gratidão, em busca de um último adeus àquele que ficou conhecido como o “Papa dos Pobres”.

A Praça de São Pedro torna-se palco de vigílias e orações coletivas, enquanto os sinos repicam em respeito e os olhares já se voltam para a chaminé da Capela Sistina, onde em breve será escolhido o novo sucessor de Pedro.

Santa Maria Maggiore: A Devoção Mariana do Papa Francisco

Entre as muitas igrejas de Roma, a Basílica de Santa Maria Maggiore ganha destaque especial neste momento. Conhecida por sua grandiosidade e por abrigar relíquias ligadas à Virgem Maria, este templo sempre foi um dos favoritos de Francisco, que frequentemente visitava o local antes e depois de suas viagens apostólicas.

Peregrinos têm lotado suas naves centenárias, não apenas para admirar os mosaicos paleocristãos e a arquitetura majestosa, mas para rezar àquela que o Papa tanto venerava. A Capela Paulina, com a imagem de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”, torna-se o centro das orações por uma Igreja em transição.

As Quatro Basílicas Papais: O Caminho da Tradição

Além de São Pedro e Santa Maria Maggiore, o roteiro espiritual se completa com visitas às outras duas basílicas papais: São João de Latrão, a catedral oficial do Papa, e São Paulo Extramuros, onde repousam os restos mortais do apóstolo dos gentios.

Em São João de Latrão, fiéis contemplam o altar exclusivo reservado ao pontífice, agora vazio, símbolo da vacância da Sé. Já em São Paulo Extramuros, o olhar recai sobre as imagens de todos os papas da história, uma linha contínua de sucessão que, em breve, ganhará um novo nome e rosto.

Memórias Jesuítas: O Legado Espiritual de Francisco

Não há como percorrer Roma neste contexto sem visitar a Igreja do Gesù e a Igreja de Santo Inácio de Loyola, centros nevrálgicos da Companhia de Jesus. Como primeiro Papa jesuíta da história, Francisco deixou um legado espiritual profundamente marcado pela simplicidade, pelo serviço e pela busca da justiça social — valores que ressoam entre os altares dedicados ao fundador da ordem.

Entre a Fé e a História: Turismo Religioso em Tempos de Luto

O falecimento de um Papa transforma Roma não apenas em um centro de decisões eclesiásticas, mas em um destino de peregrinação global. Agências de turismo já adaptam seus roteiros, oferecendo experiências que unem visitação aos principais pontos sagrados com a participação em missas especiais e cerimônias de homenagem.

Para além das basílicas, muitos fiéis sobem a Scala Santa, ajoelhando-se nos degraus que, segundo a tradição, foram pisados por Cristo em Jerusalém — um gesto de penitência e oração por dias de renovação para a Igreja.

O Futuro da Igreja Passa por Roma

Enquanto Roma reverbera o luto pela partida de Francisco, também se renova a expectativa pelo futuro do catolicismo. A fumaça branca ainda não subiu, mas a certeza é de que a Cidade Eterna continua a ser o epicentro da fé para milhões.

Neste cenário, percorrer os caminhos de Roma é mais do que turismo: é uma jornada de espiritualidade, memória e esperança.


Serviço

  • Quando ir: Durante o período de velório e cerimônias oficiais, atenção às restrições e horários especiais no Vaticano.
  • O que levar: Roupas discretas, adequadas para ambientes religiosos; preparo para longas caminhadas e filas.
  • Dica: Guias especializados em turismo religioso oferecem explicações detalhadas sobre o simbolismo de cada local, além de acesso facilitado a algumas áreas.

Governo de SP lança Guia Turístico Judaico

A Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), em parceria com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), o Memorial do Holocausto e o Museu Judaico de São Paulo, lançou oficialmente o Guia Turístico Judaico durante o mês dedicado à celebração da imigração judaica. O evento de lançamento ocorreu na quinta-feira, 20 de março, às 14h, na sede da Setur-SP.

A publicação reúne mais de 50 atrativos turísticos relacionados à cultura judaica no Estado de São Paulo, incluindo museus que preservam memórias de resistência e superação, sinagogas históricas, restaurantes kosher reconhecidos, lojas especializadas e uma agenda de festivais. O guia visa fortalecer a valorização do legado judaico na identidade cultural paulista. A iniciativa integra um conjunto de ações previstas em protocolo de intenções firmado entre a Setur-SP e a Fisesp.

O Guia Turístico Judaico está disponível gratuitamente em versão digital, nos idiomas português e hebraico, por meio do portal oficial da secretaria: www.turismo.sp.gov.br/guia-de-turismo-judaico.

Durante o evento, o vice-governador Felício Ramuth destacou o papel do Estado na promoção da inclusão e no respeito à diversidade cultural e religiosa. O secretário de Turismo, Roberto de Lucena, reforçou que a contribuição da comunidade judaica é parte fundamental da construção de São Paulo como um estado plural e democrático. “São Paulo é essencialmente inclusivo, e não tolera preconceito, discriminação ou antissemitismo”, afirmou.

São Paulo recebeu a primeira comunidade judaica das Américas e, atualmente, abriga a segunda maior comunidade judaica da América Latina, composta por cerca de 110 mil judeus.

O guia integra o Programa de Turismo Religioso Paulista, que já lançou publicações voltadas a outras expressões de fé, como roteiros evangélicos, católicos e circuitos que destacam monumentos dedicados a Cristo no interior e litoral do Estado. O programa tem como objetivo promover a diversidade religiosa e valorizar as múltiplas manifestações de fé presentes na população paulista.

Marcos Knobel, representante da Fisesp, ressaltou o impacto cultural da iniciativa: “Este guia é um marco para o turismo cultural em nosso Estado. Ele contribui para tornar a herança judaica mais acessível, seja por meio da história, da gastronomia ou das vivências culturais. O turismo judaico é um segmento em expansão, e esta publicação será uma ferramenta valiosa para sua promoção”.

O Rabino Toive Weitman, diretor do Memorial do Holocausto, também celebrou o lançamento. “São Paulo foi o refúgio escolhido por inúmeros imigrantes judeus e sobreviventes do Holocausto, que aqui reconstruíram suas vidas e deixaram marcas profundas na cidade. Este roteiro representa uma oportunidade singular de imersão na memória coletiva, homenageando a resiliência e a contribuição dessa comunidade para o desenvolvimento da capital e do Estado”, concluiu.

SETUR-SP lança guia para Turista Evangélico

A Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP) lançou, no final de outubro, o Guia Turístico Evangélico, a publicação apresenta um panorama sobre a cultura evangélica, museus, eventos e demais atrativos religiosos no estado. O guia integra um conjunto de ações para o desenvolvimento do turismo religioso, um dos segmentos que mais crescem no Brasil, movimentando mais de R$ 15 bilhões anuais, segundo dados do Ministério do Turismo e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Com a inclusão a Setur-SP amplia a lista de roteiros religiosos, que já contava com guias dedicados ao turismo católico, halal e a monumentos ao Cristo, segundo a pasta, o objetivo é explorar as vocações religiosas do estado e promover a diversificação dos destinos turísticos, ampliando o suporte para iniciativas locais e implantando novas rotas de visitação.

São Paulo se destaca pela grande quantidade de templos religiosos, como apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e além disso, o estado é sede da Marcha para Jesus, evento que atrai anualmente cerca de dois milhões de participantes.

O novo guia traz informações sobre alguns dos principais pontos de interesse para o público evangélico, tanto na capital quanto no interior, entre eles estão grandes templos e marcos históricos, como a Igreja Batista de Santa Bárbara d’Oeste, considerada a mais antiga do Brasil, e um dos maiores templos evangélicos localizado no bairro da Pompéia.

Outras cidades do interior paulista, como Barueri, Engenheiro Coelho e Santana de Parnaíba, também ganharam destaque, o Museu de Arqueologia Bíblica de Engenheiro Coelho, por exemplo, abriga quase duas mil peças que ilustram cerca de 4.500 anos de história.

O guia também aponta atrações de cultura e entretenimento ligadas à fé, como o tradicional Auto de Páscoa da Igreja da Cidade, realizado há mais de duas décadas, que celebra a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e já contou com cerca de 584 mil pessoas, segundo a organização.

O Guia Turístico Evangélico está disponível para consulta no site da Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo: https://www.turismo.sp.gov.br/guia-turistico-evangelico-do-estado-de-sao-paulo

Existe Turismo LGBT RELIGIOSO?

Em um artigo de 2006 intitulado “Goodbye Pareto Principle, Hello Long Tail” ( Adeus princípio de Paretto, olá Cauda Longa, em tradução livre) Erik Brynjolfsson, Yu Hu e Duncan Simester trouxeram preciosa contribuição para a economia global nos anos seguintes. O princípio da cauda longa é a ideia de que a internet possibilita, através de uma revolução na comunicação e distribuição, explorar novos mercados e ganhar muito dinheiro, não apenas com nichos, mas nichos de nichos.

Trata-se de uma estratégia que busca atingir vários mercados de baixa procura, em vez de focar em um mercado único com muitos pedidos. No varejo, isso é bastante usado pelos novos empreendedores, que contam com os dados cada vez mais precisos de algoritmos e conseguem maior capilaridade e exatidão em suas promoções.

As políticas identitárias e a customização, decorrente de uma individualização cada vez maior da sociedade, fenômeno muito estudado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, permitiu que mesmo o turismo se torne cada vez mais segmentado. Hoje há agências de viagens especializadas em turismo de bicicleta, outras em experiências enogastronômicas, outras ainda em turismo enogastronômico em bicicleta.

Mas não apenas para a aviação, o céu é o limite.

Na última edição do LGBT Turismo Expo, organizada por Alex Bernardes e realizada no dia 25 de julho no Hotel Unique, contou com um painel sobre Turismo Espiritual para o público LGBTQIAP+. O que surpreendeu muita gente. E, é claro, por simples ignorância. Afinal, insiders sabem que esse mercado é muito grande.

Ao contrário do que alguns líderes religiosos pensam, esse público pode ser, e é, muito religioso. Obviamente há ateus, agnósticos e antirreligiosos no universo LGBTQIAP+ como existe no universo heteronormativo. Como cientista da religião, tenho observado com surpresa o quanto a população brasileira é religiosa e que tal comportamento se reflete em todos os segmentos da sociedade, de norte a sul, passando por diferentes estratificações sociais e grupos culturais. Basta lembrar que o país dispõe de muito mais instituições religiosas (igrejas, templos, centros espíritas, terreiros, mesquitas, sinagogas) do que instituições de ensino e hospitais.

Além disso, é importante mencionar que mudanças importantes em diferentes religiões têm se dado quando se trata de comportamentos sexuais. Grupos de católicos gays têm forçado mudanças dentro da Igreja, antes mesmo do Pontificado de Francisco. O atual Papa, que fora no passado persona non grata de grupos argentinos gays, hoje tem uma postura mais aberta ao diálogo. A igreja anglicana tomou a frente e defende abertamente uma série de direitos para essas diferentes comunidades. As igrejas evangélicas inclusivas têm surgido cada vez mais em diferentes bairros do Brasil e dos EUA em velocidade espantosa. Muitos terreiros de candomblé, inicialmente transfóbicos, vêm mudando a postura e promovendo maior integração das pessoas transexuais.

O painel do evento, embora inédito, não aprofundou discussões. Mas foi essencial para tirar do armário este mercado e provocar reflexões iniciais. Pensando bem, não tão iniciais. Afinal, atores importantes há tempos vem trabalhando nesse cenário. O escritório de turismo de Israel investe na promoção do destino junto a comunidade LGBTQIAP+ há mais de uma década, não apenas no Brasil, mas em todo o Ocidente.

O Brasil tem amadurecido e se tornado referência quando se fala em turismo LGBTQIA+ . Temos nomes importantes atuando há anos como o próprio Alex, Clovis Casemiro, Franco Reinaudo, Antonieta Varlese, Marcelo Michieletto, Simon Mayle. Marcas como American Airlines, Accor e Panrotas têm sido fundamentais para organizar o mercado. Mas essa última edição do LGBT Turismo Expo permitiu pensar nos subsegmentos, apresentando mais oportunidades de negócios.

Mas, é claro, ganhos potenciais apenas para quem não tem preconceito e medo de arriscar. Mais do que isso, têm orgulho em inovar e empreender.

Jerusalém sob as estrelas

A Ciência da Religião é o ramo das Ciências Sociais que estuda a influência das diferentes tradições espirituais na sociedade. Seja na economia, na política, nas artes, na cultura e até na gastronomia. Uma das áreas de pesquisa que mais cresce é o turismo religioso. Em conversa com a teóloga, mestre em Ciência da Religião pela UMESP e doutoranda em Ciência da Religião pela PUC-SP, Marisa Furlan, exímia conhecedora da Bíblia, fiquei impressionado com suas impressões sobre a terra santa. Pedi então que ela registrasse suas impressões, que seguem abaixo em um texto redigido por ela.

” Israel, um país famoso por sua história rica e importância religiosa, revela-se como um destino luminoso ao cair da noite. Sua beleza noturna é uma combinação envolvente de luzes cintilantes, uma vibrante vida noturna e a serenidade sob o brilho das estrelas.

A cidade de Jerusalém alterna momentos de paz e de guerra em sua longa história. Venerada por três grandes religiões, revela um fascínio único quando a noite cai sobre suas antigas ruas. A Cidade Velha ganha nova vida, expondo uma atmosfera que transcende as fronteiras do religioso para abraçar a beleza natural e a agitação da vida noturna. Os monumentos históricos resplandecem sob uma nova luz, enquanto as ruas ganham um ar de mistério e encantamento. É uma jornada que convida os visitantes a explorar uma Jerusalém além das concepções tradicionais, revelando uma cidade que resplandece com graciosidade e simplicidade sob o céu estrelado.

A Cúpula da Rocha, com seu domo dourado, brilha sob a luz da lua, enquanto o Muro das Lamentações traz seu brilho iluminando o ambiente para uma reflexão tranquila. Passear pelas ruas estreitas de Jerusalém à noite é como caminhar através de páginas da história.

Tel Aviv, a cidade que nunca dorme, é famosa por sua vida noturna agitada. À medida que o sol se põe, os cafés ao ar livre se enchem de pessoas, nos bares. A música e as praias se transformam em locais de festas animadas. A cidade é um caldeirão de culturas, e isso é evidente na variedade de opções de entretenimento noturno, desde clubes de dança até bares de jazz e restaurantes gourmet. Comparando as luzes de Tel Aviv, com as luzes de Jerusalém, Aviva Sarna Segal escreveu: “Mas as luzes de Jerusalém, guiam-me em calmaria, para dentro dos braços da mãe que diz: chegaste, filha, descanse, descanse em nosso abrigo” (Revista Cultura Teológica, p.24 S/D).

Para além dos centros urbanos, a magnificência noturna de Israel também se desdobra em suas paisagens naturais. O Deserto de Negev proporciona uma visão espetacular do céu estrelado, distante do brilho das luzes citadinas. A serenidade do deserto à noite oferece uma experiência genuinamente singular, onde o silêncio é pontuado apenas pelo ocasional chamado de animais noturnos.

O Mar Morto, outro destaque natural de Israel, também é impressionante à noite no verão. A superfície calma da água reflete as estrelas, criando uma cena ímpar de calmaria e beleza.

O magnetismo entre as religiões se funde na cultura desse lugar encantador e impressionante. Nesse culturalismo religioso com diversas tradições, vale ressaltar a festa do Hanukkah ou Chanukáh (festa das luzes).

Hanukkah, conhecido como a Festa das Luzes, é uma celebração anual repleta de significados simbólicos para a comunidade judaica. Ano após ano, durante essa festividade, os lares judaicos são iluminados com a chama das velas do chanukiá, um candelabro de oito braços colocado perto de uma janela, voltado para a rua. A tradição é iniciar acendendo a vela da extrema direita na primeira noite e, a cada noite subsequente, acrescentar uma nova vela, até que, no oitavo dia, o candelabro esteja completamente aceso.

A história por trás do Hanukkah remonta ao século II AEC., durante a ocupação do Oriente Médio pelo Império Selêucida. Diante dessa ameaça à sua fé, o povo de Israel iniciou uma luta pela liberdade religiosa e política.

Na época, o então rei Antíoco IV proibiu a religião e as práticas judaicas e decretou que os judeus deveriam adorar os deuses gregos no Templo. O sacerdote judeu Mataias, seu filho Judas Macabeu e seu exército (os Macabeus) se revoltaram, forçando Antíoco IV a sair da Judeia. Macabeu e seus seguidores recuperaram o Templo e reconstruíram o altar judeu, possibilitando que eles pudessem voltar às suas práticas religiosas.

O hanukkiah é muito semelhante a menorá (candelabro de sete pontas e um conhecido símbolo do judaísmo), o que faz com que muitas vezes seus nomes se confundam. Quando o altar foi reconstruído por Macabeu e seu exército, parte do processo incluia reacender as chanukias que foram proibidas.

Ao reacenderem o candelabro do templo, encontraram apenas óleo suficiente para uma noite, mas, miraculosamente, a chama permaneceu acesa por oito dias, tempo necessário para preparar mais óleo. Esse evento é lembrado como o milagre das luzes e é por isso que o Hanukkah é também conhecido como a Festa das Luzes.

Para relembrar esse acontecimento histórico, a comunidade judaica realiza anualmente uma celebração cheia de simbolismo. As datas do Hanukkah variam de acordo com o calendário judaico, e as famílias judaicas acendem as velas do chanukiá, um candelabro de nove braços, seguindo a tradição de acender uma vela da direita para a esquerda a cada dia, até que, no oitavo dia, todas as velas estejam acesas, relembrando as luzes que guardaram e protegeram a comunidade judaica.

Rito e Celebração do Hanukkah

O maior símbolo do Hanukkah é o candelabro chanukiá, para nove velas, sendo que uma delas fica num lugar mais alto que as demais, chamada de shamásh. É costume colocar o objeto na janela das casas, de maneira que todos possam ver e se lembrar do milagre. Também é comum, nas noites de Hanukkah, o uso de jogos. Esse costume surgiu na Idade Média, quando os judeus eram proibidos de guardar as tradições e as festas. Eles, então, utilizavam de variados jogos, para que se alguém estranho os visse não desconfiasse de que se tratava de judeus realizando alguma cerimônia. Entre esses jogos, os mais usados eram dama e dreidel.

Este último acabou se tornando um dos símbolos da celebração. Ele se parece com um pião de quatro faces, com as seguintes letras do alfabeto hebraico: nun, guímel, hê e shin. Juntas, elas formam um acrônimo para “Nés gadól haiá shâm”, que significa “Um grande milagre ocorreu lá!”, expressando a alegria em ser judeu.

 A culinária também é um ponto forte da comemoração. São servidos sufganiots (um doce parecido com o sonho) e latkes (bolinhos de batata). Ambos são fritos em óleo – alusão ao milagre que manteve o candelabro de velas aceso.

Todas essas curiosidades tornam Israel um destino único e intrigante para quem deseja explorar sua história, cultura e paisagens diversificadas.

Em resumo, a beleza noturna de Israel é uma experiência que vale a pena viver. Seja explorando as cidades iluminadas, desfrutando da vida noturna vibrante ou admirando a tranquilidade do deserto sob as estrelas, Israel à noite é um espetáculo que você não vai querer perder. “

Marisa Furlan, Mestre em CRE pela UMESP

Espaço sagrado e turismo

O turismo religioso avança no Brasil. E se não se desenvolve mais rapidamente, não é por falta de números expressivos tampouco por falta de fé. Para o turismólogo Sidnesio Moura, é a falta de entendimento da indústria e do poder público que atrapalha o setor. Sobretudo o entendimento do que é um Espaço Sagrado e a infraestrutura que exige. E é por essa razão que o ele criou a Associação Brasileira de Turismo Religioso, juntamente com Amadeu Castanho e outras referências no Turismo Religioso do Brasil, entre os quais a Professora Dra. Marlene Huebes e o Professor Dr. Josimar Azevedo, responsável pelo Caminho Religioso da Estrada Real.

Sidnésio é especialista em turismo religioso, membro da Comissão de Diálogo Ecumênico e Inter-religioso da Arquidiocese de Natal, coordenador da Pastoral do Turismo na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, idealizador do Caminho dos Santos Mártires, roteiro que une 9 destinos no RN com aproximadamente 200km, e CEO da MS Consultoria em Turismo

Veja o diagnóstico do vice-presidente da Associação Brasileira de Turismo Religioso para o segmento em nosso país.

1. Há quanto tempo e por que você decidiu trabalhar com turismo religioso?

Eu prefiro falar de quando o meu foco se tornou total no turismo religioso. Isso se deu em 2014. A minha decisão em atuar no segmento se deu pelo amor ao turismo e, em segundo lugar, por ser católico atuante e ter visto, e continuar vendo, muitos erros referentes a definição do que é Turismo Religioso.

Entre 2014 e 2015, o Ministério do Turismo divulgou uma estatística referente às viagens religiosas, que alcançariam um público no Brasil de 17,7 milhões de pessoas, com um impacto econômico de 15 bilhões de reais, abrangendo 344 destinos e 96 atrações. Esses números já partiam de um equívoco: em 2005, quando o Mtur informava que o Brasil alcançava 8 milhões de pessoas no turismo religioso, apenas o Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida (SP), já recebia 8.005.000 peregrinos.

Na pesquisa de 2014, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (SP) registrava 12.112.583 peregrinos; o Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), atingia 4.000.000; o Círio de Nazaré em Belém (PA) atingia 2.400.000 e o Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento (SC), 840.000 peregrinos. É só fazer o cálculo e perceber que apenas quatro destinos do Turismo Religioso no Brasil ultrapassam as informações divulgadas pelo Mtur.  Essa pesquisa fora realizada na época por mim e o jornalista Amadeu Castanho, da revista eletrônica Viagens de Fé. Isso me preocupou e me fez ter uma atenção maior em buscar orientar as pessoas sobre o Turismo Religioso, e com as estatísticas, que muitas vezes podem ser falhas.

2. ⁠Qual o potencial segmento no Brasil?

O principal potencial do Turismo Religioso no Brasil e referência é a Basílica de Nossa Senhora Conceição Aparecida em Aparecidaque todos os anos recebe milhões de peregrinos vindos de toda a parte do Brasil.

3. ⁠Onde estão as maiores dificuldades do setor?

A maior dificuldade do Turismo Religioso é o foco, o Espaço Sagrado, enquanto estrutura física. O Turismo Religioso hoje está voltado na construção de grandes imagens, fugindo do ponto principal que é o Espaço Sagrado. Esse deve ser bem-preparado para acolher o turista, principalmente no treinamento de quem irá receber estas pessoas, iniciando pelo sacerdote, os religiosos, de maneira geral, e as diferentes lideranças, além dos demais agentes envolvidos. E quando falo de Espaços Sagrados não me refiro apenas ao Catolicismo, que ainda é o incentivador e motivador do Turismo Religioso, mas me refiro a todas as religiões que possuem potencial para o Turismo Religioso.

4. ⁠Que destinos nacionais são benchmarking?

No Brasil vale apena realizar uma visita técnica a Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida em Aparecida (SP), ao Santuário de Santa Paulina em Nova Trento (SC), ao Divino Pai Eterno em Trindade (GO), a Canção Nova (SP), e ao Santuário de Irmã Dulce em Salvador (BA). São espaços que estão preparados não apenas para um momento de devoção através do ato da fé, mas sobretudo criaram atrativos para que o peregrino fique mais tempo, visitando lojinhas onde podem ser comprados souvenires do santo de devoção no lugar visitado.

5. ⁠Que experiência religiosa vale a pena viver no Brasil?

Sem dúvida nenhuma, a Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida. É impressionante presenciar a fé das pessoas que vão ali. Muitos saem a pé de outras cidades ou Estados, pagando promessa. Presenciei idosos, jovens e adultos, caminhando de joelhos até a Basílica, em um ato de fé, que nos faz questionar e analisar a nossa própria vida e nossa fé diante de Deus. E através dos seus testemunhos, fazem com que cada um de nós possamos voltar a nossa intimidade e amor a Virgem Maria.

6. ⁠Quais destinos que você acredita que podem se desenvolver?

Não sei se posso dizer se desenvolver, mas que já estão em passos de desenvolvimento:

Santa Cruz (RN), com a Imagem de Santa Rita, que tem cada vez sendo referência em Turismo Religioso no Estado; as cidades de Juazeiro do Norte e Canindé no Ceará. Para mim o Nordeste hoje é o maior celeiro de devoção e romarias do Brasil, embora falte capacitação e um cuidado maior com a infraestrutura turística dos destinos espirituais. Estados como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte vêm despontando no Turismo Religioso, mas é necessárias mais capacitações, principalmente no que se refere as agências e Operadoras de Turismo que colocam em seus portfolios o turismo religioso, mas não entendem nada do assunto. Lembro de uma fala do Cardeal Vèglio, na Revista Povos em Movimentos nº 21: Para isso, pedimos uma sensibilidade especial por parte do mundo civilizado e de negócios, que reconhece e respeita a dimensão espiritual, a “viagem interior”

Com isto a maior dificuldade está o entendimento e o respeito por esta dimensão espiritual!

7. ⁠Como fazer o segmento crescer no Brasil?

Hoje o primeiro passo já foi dado, a criação da Associação!

Agora precisamos avançar para que os eventos, feiras, simpósios, congressos e seminários voltados ao turismo no Brasil possam dar um espaço para o Turismo Religioso. Principalmente no que se refere a orientação e palestras.

Eu sempre falo que quem faz turismo de sol e praia, ou turismo de aventura, não faz turismo religioso. Mas quem faz turismo religioso pode fazer sol e praia, aventura, lazer, ecológico… O turismo religioso tem a possibilidade de se unir a variedade de segmentos do turismo gerando um forte impacto econômico no destino.

8. ⁠Qual seu trabalho em nível associativo?

Atualmente, eu estou vice-presidente da Associação Brasileira de Turismo Religioso – ABTUR. A Associação teve como iniciativa um grupo que eu e o jornalista Amadeu Castanhos criamos no WhatsApp no ano de 2014. Em 2022 nós a tiramos do papel e demos início a fundação da Associação, onde temos por Presidente o Eluisio Antônio Voltoline. A sede da Associação está em Nova Trento, em uma sala cedida para nós no Complexo Religioso do Santuário de Santa Paulina, mas também em nosso estatuto reza que a sede da Associação acompanha o local de residência do Presidente.

o arauto do turismo religioso

Quando iniciei minha carreira, em uma pequena publicação de moda, eu tinha como referência profissional o jornalista português, radicado no Brasil, Fernando de Barros. Ele fora editor de moda de grandes publicações, como a revista Playboy e VIP, embora o que mais chamasse a atenção naquele mundo de egos inflados, tendências e – paradoxalmente- pouca elegância era seu visual impecável e o comportamento que esbanjava gentileza, discrição e erudição.

Fernando era unanimidade. Do escritor Ignácio Loyola Brandão a Costanza Pascolato, passando por Gloria Kalil, todos reconheciam nele a personificação do adjetivo gentleman. Curiosamente, sempre que encontro Amadeo Castanho nos eventos de turismo, Fernando me vem à memória. Talvez pela serenidade na fala, o respeito irrestrito às normas de etiqueta, assim como a generosidade em compartilhar conhecimentos que ambos sempre externaram.

Amadeo é hoje editor da revista eletrônica Viagens de Fé e tem cursos de especialização em Hotelaria, Marketing e Publicidade, entre outros, atuando como consultor nesses três segmentos.

O jornalista Amadeo Castanho passou por algumas das mais importantes instituições católicas do país.

Foi gerente de Marketing na Fundação João Paulo II (Canção Nova), consultor da Associação do Senhor Jesus (TV Século XXI) e trabalhou na Pastoral da Comunicação (PASCOM) da Arquidiocese de São Paulo e no Ministério de Comunicação da Renovação Carismática Católica de São Paulo.

Nesta conversa, ele apresenta um pouco sua visão dessa indústria, sempre em crescimento.


Como você começou a trabalhar com turismo religioso?

Cheguei ao turismo religioso em função da minha atuação na área de Comunicação de movimentos religiosos, do meu trabalho no segmento de Marketing e do meu grande interesse pelo turismo. Observei que havia uma oportunidade de mercado, já que que ninguém escrevia sobre turismo religioso e passei a estudar o assunto. A publicação das matérias e os convites para inúmeras palestras foram só consequência.

Como você enxerga o turismo religioso hoje no mundo? E no Brasil?

Esse segmento é considerado – merecidamente – um dos que mais crescem no mundo todo por diversas razões. Com a vida moderna e suas pressões e efeitos negativos, o homem acabou valorizando a importância do sagrado, ainda que, paradoxalmente, tenha se distanciado das práticas religiosas regulares. A prática do turismo religioso é uma maneira de se aproximar de Deus e de compensar de alguma forma esse afastamento. A isso se somam outros fatores, como, por exemplo, a maior divulgação dos atrativos do turismo religioso, a universalização do acesso à informação graças aos meios de comunicação e à Internet; o aumento da disponibilidade de renda discricionária para viagens, e o crescimento do interesse em viajar e conhecer novos destinos. Ao mesmo tempo, muitos templos e destinos turisticos passaram a entender, se capacitar e aproveitar os benefícios gerados pelos visitantes interessados em visitar igrejas, capelas, museus e outros atrativos de turismo religioso. Esses e outros fatores tem feito o turismo religioso crescer no mundo inteiro e no Brasil não é diferente. Aqui, no entanto, uma visão distorcida afasta muitas operadoras e agências desse segmento: acreditam que turismo religioso é levar grupos para Aparecida, enfrentando a concorrência de organizadores de excursões e , paroquias e até motoristas de ônibus legais ou ilegais. Só que, embora Aparecida seja o nosso destino de turismo religioso mais conhecido e procurado, temos uma vasta oferta de outros destinos para explorar. E mesmo Aparecida ainda oferece muitas oportunidades, como, por exemplo, a inclusão de outros destinos de turismo religioso proximos (Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista) ou a extensão a destinos como Campos do Jordão e as praias do Litoral Norte Paulista, que são muito procurados por peregrinos de outros estados.

Que destino serve de referência?

No Brasil, com certeza é Aparecida, graças à estrutura montada pelo Santuário Nacional para receber e reter os visitantes. No Exterior, os grandes santuários marianos são referência como foco na espiritualidade, deixando infraestrutura e exploração comercial essencialmente a cargo do poder publico e da iniciativa privada.

Em quais destinos você mais aposta?

Gosto muito de destinos de grandes festas religiosas, como Belém e Trindade; de destinos muito estruturados para acolher e explorar o turismo religioso, como Salvador, nas cidades históricas de Minas Gerais (apesar de o turismo religioso ainda ser praticamente ignorado por lá) e em destinos ainda pouco explorados no segmento, como o interior do Paraná ou a Serra Gaúcha, onde está sendo estruturada a interessantíssima Rota dos Capitéis. No Exterior, em cidades ainda pouco exploradas como Chartres, na França; na incrível oferta da Itália e nos grandes Santuários Marianos.

Qual destino marcou sua trajetória?

Em termos de trabalho, sem dúvidas, Aparecida e a Canção Nova, em Cachoeira Paulista. Em termos espirituais, com certeza o Santuário de Lourdes, na França. Visitar Lourdes não é fazer turismo, é ter uma conexão espiritual. É uma pena que um destino tão impactante mereça tão pouco tempo nos roteiros oferecidos pelas operadoras.

Ator em Nova Jerusalém

Pernambuco: alta estação para religiosos

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é atração para o público de todas as idades com a presença em cena de artistas globais, um visual deslumbrante, recheado de efeitos especiais. O espetáculo conta parte da história de Jesus em uma cidade-teatro com nove palcos-plateia localizada no município do Brejo da Madre de Deus, agreste de Pernambuco, a 180 km do Recife.

Realizada desde 1968, o maior teatro a céu aberto do mundo, atrai, durante a Semana Santa, cerca de 70 mil pessoas do mundo todo .

A apresentação tem início com a cena do sermão da Montanha e termina com a ascensão do Cristo aos céus.

Dezenas de personagens alternam cerca 2 mil figurinos produzidos pelas mãos das costureiras da localidade conhecida como Fazenda Nova, distrito do Brejo da Madre de Deus, sob o olhar meticuloso da arquiteta e figurinista Marina Pacheco, que coordena o desenvolvimento das peças que é produzido com base em extensa pesquisa sobre os trajes usados nos tempos de Jesus.

Nos palcos, a história é vivida por 50 artistas pernambucanos de grande talento, além de cerca de 400 figurantes e também por atores e atrizes da cena nacional que são convidados para participar do espetáculo todos os anos. Nos últimos 25 anos, cerca de 120 artistas renomados do teatro, cinema e TV do Brasil emprestaram seus talentos para abrilhantar a Paixão de Cristo.

Em 2024, a Paixão de Cristo contará com a participação especial dos artistas convidados Allan Souza Lima, no papel de Jesus; Mayana Neiva, fazendo Maria e Dalton Vigh, interpretando o governador romano Pôncio Pilatos. A direção artística é de Lúcio Lombardi e do assistente especial de direção Alberto Brigadeiro. Nos bastidores, a Paixão agrega cerca de 600 profissionais incluindo técnicos, eletricistas, sonoplastas, contrarregras, maquiadores, cabeleireiros, camareiras, entre outros. A coordenação geral de toda essa equipe é de Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova.

A temporada 2024 da Paixão de Cristo será realizada de 23 à 30 de março. Os ingressos já po- dem ser adquiridos antecipadamente com desconto no site oficial www.novajerusalem.com.br.

A cidade teatro de Nova Jerusalém, que tem título de patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco e do Brasil, é uma verdadeira obra prima inspirada na arquitetura judaica e romana da época de Jesus, que levou 40 anos para ficar pronta.

Inaugurado em 1968, esse monumento foi idealizado e construído por Plínio Pacheco numa área de 100 mil metros quadrados. A magnífica cidade-teatro é cercada por muralhas de pedra granítica de três metros de altura e conta em seu perímetro com 70 torres de sete metros. Em seu interior, nove palcos-plateia reproduzem cenários naturais, arruados, lagos, jardins e palácios, além do Templo de Jerusalém.

Já na sua inauguração, essa obra fascinou os seus contemporâneos graças à riqueza, ecletismo e ou- sadia de seu plano arquitetônico e decorativo. Para realizá-la, Plínio cercou-se dos melhores artesãos e escultores de sua época. Essa obra prima logo se tornou o mais grandioso dos teatros à céu aberto do mundo e, de tão magnífica, conquista, até hoje, o coração de todos os amantes da arte que a conhecem e vivem em seus espetáculos inigualáveis emoções.

No interior da Nova Jerusalém, funciona o ano todo a Pousada da Paixão. Trata- se de um local diferenciado que tem como pontos de destaque sua programação temática e cultural, além de uma arquitetura diferenciada que remete a antiga Jerusalém de 2 mil anos atrás.

Na semana do espetáculo são oferecidos os jantares temáticos realizados no cenário da Santa Ceia. Trajando figurinos da Roma antiga em um ambiente realista, os hóspedes experimentam uma viajem no tempo e sentem-se como se fossem habitantes da Jerusalém do passado.

Outra atração que turistas não devem deixar de visitar é o Espaço Cultural Plínio e Diva Pacheco, que apresenta um rico acervo de fotos históricas, documentos e objetos pessoais dos idealizadores e construtores da Nova Jerusalém. A mostra conta a surpreendente história da saga das famílias Mendonça e Pacheco que teve início em 1951 quando as apresentações da Paixão de Cristo começaram a ser encenadas nas ruas da pequena vila de Fazenda Nova, distrito do município do Brejo da Madre de Deus (PE).

O Brejo da Madre Deus, município onde está localizada a Nova Jerusalém, também oferece atrações imperdíveis para o visitante, a começar pelo impressionante Parque das Esculturas Monumentais Nilo Coelho, que fica a apenas 2 km da cidade-teatro. Nele, esculturas gigantes em monobloco graníticos- de figuras folclóricas da história e da cultura do homem nordestino estão espalhadas por uma área deslumbrante circundada pela exuberante vegetação da caatinga e impactantes formações rochosas.

Também não se deve hesitar em dar uma esticada até a sede no município para conhecer a autenticidade do Brejo da Madre de Deus marcada pelos centenários casarios de azulejos portugueses. Também não se deve perder a oportunidade de um passeio a pé pelas trilhas da Fazenda Encantado- para conhecer a maior reserva da mata atlântica do interior do Estado e experimentar o conforto de um microclima no qual a temperatura máxima não passa dos 22 graus.