Monte Athos: o sagrado inacessível às mulheres

Entre tradição, espiritualidade e exclusão, o coração da fé ortodoxa grega revela uma experiência única de turismo religioso. No norte da Grécia, o Monte Athos ergue-se sobre o Mar Egeu como um refúgio de espiritualidade e mistério. Conhecido como República Monástica do Monte Athos, esse enclave autônomo abriga vinte mosteiros e cerca de duas mil pessoas que vivem segundo regras milenares da Igreja Ortodoxa. Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade, o lugar preserva tradições bizantinas quase inalteradas desde o século X.

Mais do que um destino turístico, o Monte Athos é um território sagrado e, paradoxalmente, proibido às mulheres. A exclusão feminina, conhecida como avaton, é uma das leis mais antigas da península. Segundo a tradição ortodoxa, a Virgem Maria, ao visitar a região, teria abençoado o local e pedido que se tornasse seu “jardim”, um espaço exclusivamente masculino de devoção. Desde então, nenhuma mulher pode pisar ali, nem mesmo animais fêmeas, em alguns casos.

O território é considerado consagrado à Mãe de Deus, e os monges afirmam que permitir a entrada de mulheres seria quebrar um pacto espiritual que sustenta a vida contemplativa da comunidade.

O acesso é restrito e altamente controlado. Apenas homens com uma permissão especial chamada diamonitirion podem entrar. O documento é emitido pela administração monástica e limita a entrada diária a 100 peregrinos ortodoxos e 10 não ortodoxos. É preciso solicitar a autorização com várias semanas de antecedência.

A chegada ao Monte Athos se faz exclusivamente por mar, a partir das cidades de Ouranoupolis ou Ierissos, na região da Macedônia Central. O porto de Dafni é o principal ponto de entrada. De lá, os visitantes seguem em veículos oficiais ou trilhas até os mosteiros, onde são hospedados gratuitamente pelos monges.

Durante a estadia, o visitante compartilha refeições simples, participa de orações e vivencia o ritmo contemplativo do monacato ortodoxo. O uso de celulares, câmeras e dispositivos eletrônicos é desaconselhado; aqui, o tempo corre em outro compasso.

Os meses de abril a outubro são ideais, com clima ameno e mares mais calmos. No inverno, ventos e tempestades podem interromper as travessias. As grandes festas religiosas, como a Dormição da Virgem Maria (15 de agosto), atraem um número maior de peregrinos e exigem planejamento antecipado.

O Monte Athos é o centro espiritual do cristianismo ortodoxo, tradição seguida por cerca de 260 milhões de fiéis em países como Grécia, Rússia, Sérvia e Romênia. Diferente do catolicismo romano, a Ortodoxia não tem um papa, mas sim igrejas independentes, lideradas por patriarcas.

A espiritualidade ortodoxa valoriza o silêncio, a contemplação e o ícone, imagem sagrada que simboliza a presença divina. Nos mosteiros do Monte Athos, essa tradição se manifesta em liturgias longas, cânticos bizantinos e manuscritos preservados há séculos.

Apesar de sua beleza e profundidade espiritual, o Monte Athos também é símbolo de uma fé que resiste ao tempo e às mudanças sociais. A proibição de entrada de mulheres levanta debates sobre igualdade de gênero, direitos humanos e tradição religiosa.

Para os monges, abrir o Monte Athos significaria romper um pacto com o divino. Para outros, manter o avaton é perpetuar uma exclusão incompatível com o mundo contemporâneo.

Visitar o Monte Athos é mergulhar em um universo que parece suspenso entre o céu e o mar, entre o silêncio e a eternidade. Uma experiência espiritual rara e, para muitos, transformadora. Mas também um lembrete de que o sagrado, mesmo em sua beleza, carrega fronteiras que refletem o peso da história.

Roteiro neo-Esô no sudeste

Há viagens que descansam o corpo — e há aquelas que despertam a curiosidade e lados da alma. Entre o litoral paulista e as montanhas de Minas e do Rio, existe um percurso que une energia telúrica, paisagens exuberantes e mitos que desafiam a razão. Um roteiro místico , voltado para os neo-esotéricos, que atravessa Peruíbe, São Tomé das Letras, Sana e Visconde de Mauá, destinos ligados por uma mesma busca: a do reencontro entre natureza e transcendência.

Peruíbe: portais do mar e da ufologia

Localizada no litoral sul paulista, Peruíbe é um dos vértices do chamado Triângulo da Ufologia Brasileira, ao lado de São Tomé das Letras (MG) e Alto Paraíso (GO). Cercada pela Estação Ecológica da Jureia-Itatins, a cidade combina praias selvagens com mistérios cósmicos. Moradores e visitantes relatam avistamentos de luzes no céu e fenômenos que desafiam a ciência. Trata-se de uma dos municípios brasileiros com mais relatos de OVNIS. É preciso lembrar que um OVNI não indica necessariamente a existência de uma nave alienígena. Como o próprio nome diz, trata-se de um objeto voador não identificado. Mas o verdadeiro encanto está na energia densa da Mata Atlântica, onde se acredita que antigos povos guardaram segredos sobre portais dimensionais e civilizações perdidas.

São Tomé das Letras: a cidade das pedras e das estrelas

Nas montanhas do sul de Minas, São Tomé das Letras é o coração desse roteiro esotérico. A cidade, feita de quartzito e lendas, vibra com histórias de duendes, fadas e também discos voadores. Cada pedra parece conter um símbolo, e cada gruta um segredo. No alto da Casa da Pirâmide, visitantes observam o pôr do sol como um ritual de reconexão. Diz-se que a cidade está sobre uma das sete cidades subterrâneas de Agartha, e que suas águas e cristais canalizam uma das maiores energias telúricas do planeta. Dizem as boas e más línguas que existe um portal que conecta São Tomé a Machu Picchu. Vale passar um final de semana para conhecer uma atmosfera que não se encontra em nenhum outro lugar do mundo.
Mas para além dos mitos, São Tomé é um convite à contemplação e à convivência entre o humano e o sagrado natural.

Sana: o vilarejo do silêncio e da cura

Descendo a serra rumo ao norte fluminense, o pequeno Sana, distrito de Macaé, é refúgio de terapeutas, artistas e buscadores espirituais. Suas cachoeiras — especialmente a Sete Quedas — são templos naturais onde o banho é quase um batismo energético. O clima bucólico, o artesanato e as rodas de música ao entardecer criam um ambiente de espiritualidade simples e comunitária, herança dos hippies que ali chegaram nos anos 1970 e fundaram uma cultura de paz e reconexão com a terra. Não espere grandes luxos, mas muito acolhimento e sorrisos.

Visconde de Mauá: o sagrado nas montanhas

Encerrando o percurso, Visconde de Mauá, entre o Rio e Minas, une luxo, natureza e espiritualidade. Suas pousadas charmosas e alta gastronomia convivem com a força dos rios e o silêncio das montanhas. É destino para quem busca retiros, meditação, astrologia e terapias holísticas — mas também para quem entende que o verdadeiro luxo é a introspecção. O clima frio e a paisagem alpina transformam cada caminhada em contemplação, cada neblina em metáfora do invisível. Trata-se de um destino também muito voltado para casais e lua-de-mel.

Uma rota de autoconhecimento

Mais do que um roteiro turístico, esse percurso é, para muitos, uma rota iniciática, onde cada parada indica um portal de autoconsciência. Ligando o mar ao planalto e às montanhas, conecta símbolos — água, pedra, ar e fogo — e experiências que atravessam a fé, o mito e o mistério. De Peruíbe a Mauá, o viajante encontra não apenas destinos, mas espelhos: cada cidade revela um fragmento do sagrado que ainda habita em nós. Como acontece em todo o turismo religioso e espiritual no país, as atividades ainda são pouco sistematizadas, embora demanda não falte. Fique de olho!

Aroya Cruises inaugura nova era no turismo halal com cruzeiro religioso

O turismo religioso ganha um novo capítulo com a estreia do cruzeiro halal da Aroya Cruises, uma jornada de 13 noites entre a Malásia e Jidá (Arábia Saudita). Mais do que uma viagem, trata-se de uma experiência espiritual que une fé, cultura e hospitalidade.

Partindo de Port Klang, na Malásia, o itinerário contempla escalas em Indonésia, Maldivas e Omã, antes de chegar a Jidá, a porta de entrada para Meca e Medina. Em cada destino, os viajantes mergulham em tradições islâmicas milenares, visitam mesquitas históricas e participam de atividades culturais guiadas por estudiosos do Islã.

A bordo, o navio Aroya — com capacidade para 3.400 pessoas — oferece palestras espirituais, espaços de oração e gastronomia 100% halal, tornando a experiência completa em todos os sentidos.

O retorno, programado para janeiro de 2026, fará o mesmo trajeto em sentido inverso. Além disso, a empresa planeja minicruzeiros de 2 noites a partir de Langkawi, ampliando o acesso ao turismo religioso por via marítima.

Em um cenário global de expansão do turismo halal, que deve ultrapassar US$ 500 bilhões até 2035, a Aroya se consolida como pioneira ao transformar a peregrinação marítima em símbolo de fé moderna e conectada com o mundo.

Fórum de Turismo Religioso consolida o Brasil como referência no segmento

O turismo religioso deixou há muito tempo de ser apenas uma expressão de fé. Tornou-se também um fenômeno econômico, cultural e social que movimenta comunidades, preserva tradições e gera oportunidades. Em um mundo cada vez mais ávido por experiências transformadoras, o Brasil desponta como um dos principais polos globais desse tipo de turismo — e o Fórum Nacional de Turismo Religioso é a prova viva dessa vocação. Em 2025, o evento chega à sua sétima edição, entre 25 e 26 de novembro, no Cine Teatro do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), reafirmando o país como referência internacional no segmento.

A força do Fórum está na sua capacidade de unir dimensões distintas: fé, cultura, negócios e conhecimento. Trata-se de um espaço onde gestores públicos, lideranças religiosas, profissionais do turismo e pesquisadores dialogam sobre como transformar a espiritualidade em uma alavanca de desenvolvimento sustentável. A presença de instituições como EMBRATUR, Ministério do Turismo, SEBRAE Goiás, ABBTUR e CNTur confere legitimidade e amplitude a essa agenda, revelando que o turismo religioso já não é um nicho, mas uma vertente estratégica da economia criativa e do turismo cultural brasileiro.

De acordo com dados apresentados recentemente pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, e pela deputada federal Simone Marquetto, o turismo religioso movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano no Brasil, distribuídos entre as diversas celebrações e festividades que ocorrem de Norte a Sul do país.

Nesse contexto de crescimento recorde, o Fórum Nacional de Turismo Religioso assume papel central ao integrar fé, cultura e estratégia. O apoio do SEBRAE Goiás, com o Seminário de Turismo Religioso, reforça a importância do empreendedorismo local e das micro e pequenas empresas no fortalecimento desse ecossistema. Artesãos, guias, produtores culturais e empreendedores do entorno de santuários e destinos de fé encontram nesse movimento uma oportunidade concreta de prosperar de forma sustentável, transformando espiritualidade em desenvolvimento econômico.

Desde sua criação, em 2015, o Fórum diferencia-se pela continuidade e resiliência. Mesmo durante a pandemia, manteve suas atividades em formato digital, provando que a fé pode ser também motor de inovação. Agora, ao ocupar o espaço simbólico do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade — um dos maiores polos de peregrinação da América Latina —, o evento une tradição e modernidade, espiritualidade e estratégia, em torno de um propósito comum: consolidar o Brasil como protagonista global no turismo religioso.

Mais do que um evento, o Fórum Nacional de Turismo Religioso é um movimento que reafirma o valor da fé como patrimônio imaterial e motor de desenvolvimento. É também um espelho da vocação brasileira para acolher, celebrar e transformar — atributos que fazem do turismo religioso um dos pilares mais promissores da economia contemporânea e um símbolo da união entre cultura, devoção e prosperidade.

Os Caminhos Sefarditas: a rota judaica pela Espanha

Viajar pela Espanha é também redescobrir e valorizar a memória de diferentes povos e religiões que ajudaram a construir a história do país. Entre palácios mouriscos, catedrais góticas e vilas medievais, há um fio cultural que atravessa séculos e fronteiras: a herança judaica sefardita. Muito antes da expulsão decretada pelos Reis Católicos em 1492, comunidades judaicas floresciam em dezenas de cidades ibéricas, deixando marcas profundas na arte, na ciência, na filosofia e na vida urbana. Hoje, esse legado é celebrado e preservado através da Red de Juderías de España – Caminos de Sefarad, uma rede que conecta 21 cidades e propõe uma jornada turística e cultural única: seguir os passos dos judeus que moldaram parte essencial da identidade espanhola.

Em cada destino, a viagem é um mergulho no tempo. Toledo, por exemplo, conserva sinagogas transformadas em museus, como a do Trânsito e a de Santa María la Blanca, testemunhas de uma convivência plural que fez da cidade um centro intelectual da Idade Média. Em Córdoba, a antiga judería se abre em ruelas estreitas e floridas que conduzem à sinagoga do século XIV e à estátua de Maimônides, o grande filósofo e médico judeu nascido ali. Já em Sevilha, é o bairro de Santa Cruz que resguarda a memória judaica entre pátios andaluzes e lendas imemoriais.

Mais ao norte, em Segóvia, é possível visitar o Centro de Educação Judaica, a Porta de San Andrés e um antigo cemitério hebraico com vista para a muralha medieval. Em Barcelona, o bairro do Call revela as origens da cidade judaica desde o século VII, com a Sinagoga Maior — considerada uma das mais antigas da Europa — reaberta ao público após cuidadosa restauração. Cidades como Girona, Besalú e Ribadavia também preservam traços singulares, seja em arquivos históricos, seja em festas que celebram a memória sefardita.

Percorrer essa rota é mais do que uma experiência cultural: é uma viagem sensorial. Em cada judería, o visitante é convidado a perder-se entre ruas de pedra, descobrir inscrições em hebraico gravadas discretamente nas paredes, ouvir histórias de famílias que viveram ali por séculos e provar sabores que atravessaram o tempo, como doces sefarditas ou receitas resgatadas da tradição. Os itinerários unem história e emoção, pois narram tanto o florescimento quanto a diáspora, oferecendo uma experiência de memória viva.

Além dos museus e sinagogas, a Red de Juderías organiza eventos, exposições e atividades que integram o viajante ao cotidiano local. Em cidades menores, como Estella ou Tudela, o turismo ganha o charme da descoberta inesperada, enquanto em centros maiores, como Madrid ou Granada, a herança judaica dialoga com a efervescência contemporânea. Empresas de turismo cultural já oferecem pacotes completos — de dez a quatorze dias — que percorrem diversas dessas cidades, mas também é possível criar um roteiro independente, conectando os pontos mais significativos de acordo com os interesses de cada viajante.

Ao longo do caminho, o que se revela não é apenas a história de uma comunidade, mas o mosaico da própria Espanha, feita de encontros, convivências e tensões que ajudaram a moldar o país moderno. Viajar pelos Caminhos de Sefarad é, em última instância, um convite a refletir sobre a riqueza da diversidade cultural e a importância da memória como patrimônio vivo. Para o turista, é uma oportunidade rara: caminhar pelas mesmas ruas que filósofos, médicos, artesãos e poetas percorreram, e sentir, em cada pedra e cada silêncio, que a viagem também é uma forma de reencontro.

Portugal esotérico com fernando pessoa

Portugal é terra de gastronomia, história, arte, poesia e espiritualidade. E nem estamos falando do Santuário de Fátima, destino obrigatório de católicos de todo o mundo. Mas de um turismo voltado para místicos, esotéricos e curiosos. Entre cafés históricos, bibliotecas ocultas, palácios iniciáticos e penhascos dramáticos, o país oferece ao viajante um roteiro singular: seguir as marcas de Fernando Pessoa, poeta que também foi astrólogo sob o heterônimo Raphael Baldaya, e sua insólita cumplicidade com o mago britânico Aleister Crowley.

Dia 1 — Lisboa esotérica e literária

A porta de entrada é a Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique (Rua Coelho da Rocha, 16–18), onde o poeta viveu seus últimos quinze anos. A biblioteca preservada reúne volumes de astrologia, esoterismo e filosofia que revelam sua faceta mística. Muitos de seus leitores ficam surpresos ao descobrir que Pessoa ganhava dinheiro como astrólogo.

Do bairro, siga para o Chiado. No Café A Brasileira (Rua Garrett, 120), ao lado da famosa estátua de Pessoa esculpida por Lagoa Henriques, é tradição tirar uma fotografia com o poeta de bronze. Registros mostram que o poeta lá se encontrava com muitos nomes importantes das sociedades secretas lisboetas.

Na Praça do Comércio, o Martinho da Arcada mantém a “mesa do Pessoa”, espaço que o escritor frequentava com assiduidade. Hoje o café integra a Historic Cafés Route.

Descendo à Baixa, percorra a Rua dos Douradores, cenário do Livro do Desassossego, onde o semi-heterônimo Bernardo Soares “vive e trabalha”. Os críticos literários sabem. Para cada heterônimo, Pessoa criava um mapa astrológico com temperamentos muito próprios.

O percurso termina no Museu Maçónico Português, do Grande Oriente Lusitano (Rua do Grémio Lusitano, 25), cuja coleção de símbolos maçônicos ajuda a decifrar referências presentes tanto em Mensagem quanto em Sintra.

Curiosidade: Pessoa praticava astrologia com seriedade, escrevendo horóscopos datados e ensaios sob o pseudônimo Raphael Baldaya. Partes desses textos podem ser consultadas no Arquivo Pessoa, e estudos recentes discutem como sua poética dialogava com tradições iniciáticas

Dia 2 — Sintra iniciática: poços e silêncio

Em Sintra, o coração esotérico do país, está a Quinta da Regaleira. O Poço Iniciático, uma “torre invertida” subterrânea, conduz o visitante por um percurso em espiral que simboliza morte e renascimento espiritual, reunindo referências templárias, maçônicas e dantescas. Trata-se de um ponto importantíssimo para os esotéricos europeus.

Não longe dali, o Convento dos Capuchos, conhecido como “convento de cortiça”, oferece a experiência oposta: austeridade e recolhimento. O pórtico, marcado por caveira e ossos cruzados, recorda a morte simbólica do mundo profano e a entrada em outra dimensão. O local foi cenário de grandes obras literárias e também carrega muitas lendas.

Dia 3 — Cascais: a Boca do Inferno e o teatro de Crowley

À beira-mar, em Cascais, ergue-se a Boca do Inferno, falésia de formato dramático onde, em 1930, o mago britânico Aleister Crowley encenou o próprio desaparecimento. A farsa contou com a cumplicidade de Pessoa, que ajudou a organizar a “morte” simulada. Dias depois, Crowley reapareceu em Berlim, em uma das mais famosas jogadas de marketing e relações públicas.

Crowley (1875–1947), mestre de Paulo Coelho, Raul Seixas, Ozzy Osbourne e Beatles, foi um dos ocultistas mais célebres do século XX. Criador da filosofia Thelema (“Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”), misturava magia cerimonial, poesia e escândalo. Em Lisboa, encontrou em Pessoa um interlocutor intelectual inesperado. Documentos analisados por Marco Pasi revelam a correspondência, mapas astrais trocados e o papel ativo do poeta na encenação.

Dia 4 — Portugal templário

A jornada pode se expandir até Tomar, onde o Convento de Cristo, matriz templária e depois sede da Ordem de Cristo, revela símbolos que inspiraram o imaginário sebastianista e a utopia do Quinto Império, tema central em Mensagem.

Mais adiante, o Castelo de Almourol, fortim medieval numa ilhota do Tejo, encerra o percurso com um cenário mítico que ecoa as visões místicas de Portugal, em que o país voltará a ter as glórias do século XVI, quando foi a mais importante e rica nação do Ocidente.

Esse roteiro é mais do que turismo cultural. É uma experiência de iniciação para quem deseja explorar não apenas os lugares que moldaram Fernando Pessoa, mas também os símbolos que habitavam sua mente. Entre cafés históricos, poços iniciáticos e falésias de lenda, o viajante percorre um Portugal invisível — onde poesia, astrologia e magia se encontram.

Castelo do tarô na toscana

Imagine caminhar por um jardim encantado onde cada escultura conta uma história milenar. Assim é o Castelo do Tarô (Il Giardino dei Tarocchi), criado pela artista franco-americana Niki de Saint Phalle no sul da Toscana. Saint Phalle é bem conhecida dos paulistanos. Seus trabalhos fazem enorme sucesso na Pinacoteca de São Paulo.

Seu castelo, na Itália, é um lugar único no mundo, a meca dos tarólogos de esotéricos de todo o planeta, que transforma o baralho do tarô em esculturas monumentais, cobertas de mosaicos coloridos e espelhos brilhantes que mudam de acordo com a luz do sol.

Localizado em Capalbio, a cerca de duas horas de carro de Roma, o Castelo do Tarô é um passeio perfeito para quem busca unir arte, espiritualidade e a atmosfera bucólica da Toscana. Cada escultura representa um dos 22 arcanos maiores do tarô e convida o visitante a viver uma experiência diferente: caminhar pela Imperatriz, uma esfinge habitável onde a própria artista chegou a morar; contemplar a Roda da Fortuna girando lentamente; ou se perder nos reflexos coloridos dos mosaicos que transformam o jardim em um verdadeiro labirinto de sonhos.

Além do impacto visual impressionante, o Castelo do Tarô é também uma experiência de introspecção e inspiração, ideal para viajantes que buscam algo além do turismo tradicional.

O tarô, embora hoje amplamente associado ao esoterismo, ganhou essa aura simbólica graças a um personagem inusitado: o pastor protestante suíço Antoine Court de Gébelin (1725–1784). Em 1781, ele publicou a obra Le Monde Primitif, na qual defendeu que as cartas do tarô não eram apenas um jogo, mas sim fragmentos de uma antiga sabedoria egípcia, carregados de significados filosóficos, morais e espirituais. Essa interpretação inovadora, vinda justamente de um pastor protestante em plena era do Iluminismo, foi responsável por transformar o tarô em objeto de estudo esotérico, inspirando gerações posteriores de ocultistas, sociedades iniciáticas e pensadores interessados em símbolos e arquétipos universais.

Por que indicar a seus clientes?

Pouca gente conhece. Soube do destino através de Nei Naiff, o tarólogo brasileiro mais respeitado no planeta, autor de inúmeros best sellers sobre as cartas. Indicar o Castelo do Tarô a seus clientes é oferecer uma experiência realmente única no mundo: um parque de esculturas monumental que mistura arte contemporânea, espiritualidade e fantasia, capaz de transportar o visitante para um universo simbólico inesquecível. Localizado de forma estratégica no sul da Toscana, em Capalbio, o jardim pode ser facilmente incluído em roteiros entre Roma e Florença, servindo como um complemento exclusivo às tradicionais visitas a vinhedos, cidades históricas e paisagens rurais da região. Mais do que um passeio estético, trata-se de uma verdadeira viagem sensorial e cultural, perfeita para viajantes que buscam experiências diferentes, autênticas e memoráveis, combinando contemplação artística, introspecção espiritual e a atmosfera bucólica da Toscana.

O Castelo do Tarô é aberto ao público apenas em determinados meses do ano (de abril a outubro), o que o torna ainda mais especial. Visitar esse espaço é entrar em um universo mágico, onde cada detalhe surpreende e desperta a imaginação.

E não é só para esotéricos. Há um aspecto de autoconhecimento, mesmo para cristãos. Sugere-se algumas leituras para quem quer visitar o castelo com maior proveito. Entre as obras que aproximam o tarô de uma leitura simbólica e espiritual destacam-se algumas de grande relevância. Do ponto de vista psicológico, embora Carl Gustav Jung nunca tenha escrito um livro exclusivamente sobre o tarô, seus estudos sobre arquétipos e inconsciente coletivo inspiraram autores como Sallie Nichols, em Jung and Tarot: An Archetypal Journey (1980), e chegaram ao Brasil por meio de títulos como Tarô e Psicologia: símbolos do inconsciente (Paulus, 1991), que exploram as cartas como metáforas de processos internos e caminhos de autoconhecimento. No âmbito católico, a obra mais emblemática é Meditações sobre o Tarô: Uma Viagem ao Hermetismo Cristão, publicada anonimamente em 1980 e atribuída a Valentin Tomberg, com posfácio do teólogo Hans Urs von Balthasar. Nesse livro, os 22 arcanos maiores são apresentados como pontos de partida para profundas reflexões espirituais em chave cristã, distanciando-se da adivinhação e aproximando-se da tradição contemplativa da Igreja, em que a simbologia serve como porta de acesso a mistérios universais da fé.

Ligúria: fé e dolce vita à beira do Mediterrâneo

A Ligúria é uma dessas joias do mapa que, à primeira vista, conquista pela elegância natural da Riviera Italiana: um desfile de vilas coloridas aninhadas entre o azul do mar e o verde das colinas. Mas basta se demorar um pouco mais para perceber que, por trás da sua dolce vita, pulsa uma alma profundamente espiritual e, por vezes, surpreendentemente mística. Aqui, a fé se expressa na pedra, no tecido, na água e até nas lendas que atravessam séculos.

Em San Fruttuoso, entre Portofino e Camogli, repousa uma das imagens mais singulares do Mediterrâneo: o Cristo degli Abissi. Esta estátua de bronze, colocada a 17 metros de profundidade em 1954, foi idealizada pelo mergulhador italiano Duilio Marcante como homenagem a todos aqueles que perderam a vida no mar. De braços abertos, a figura parece acolher os que descem até ela, mergulhadores ou fiéis em busca de um momento de introspecção. A atmosfera é tão intensa que inspira cada vez mais até casamentos submarinos, nos quais os noivos, equipados com cilindros, dizem “sim” com um coro de bolhas ao redor.

O coração espiritual de Gênova pulsa na Catedral de San Lorenzo, cuja história começa no século IX, quando uma modesta igreja foi erguida sobre ruínas romanas. Entre os séculos XII e XIV, ganhou sua forma atual, um imponente edifício gótico com fachada românica em mármore branco e negro; as cores que se tornariam um símbolo da cidade. Essa fachada, com colunas esculpidas e leões guardiões, é mais que um ornamento: é uma afirmação do poder e da riqueza de Gênova durante a Idade Média.

Mas o que realmente fascina é a coleção de relíquias e tesouros guardados no interior. Entre eles, um prato que, segundo a tradição, teria servido na Última Ceia, e fragmentos de ossos atribuídos a São João Batista, padroeiro da cidade. E, em meio a relicários e pinturas, está uma joia rara e inesperada: a Paixão de Cristo pintada sobre tecido denim. Sim, jeans! Produzido em Gênova desde o século XV, esse tecido azul, chamado bleu de Gênes, era exportado para toda a Europa e, séculos depois, daria origem à palavra “jeans”. Usá-lo como base para arte sacra era ousado, mas o resultado é extraordinário: o azul profundo realça as cenas dramáticas, criando um diálogo entre o sagrado e a vida cotidiana dos marinheiros e mercadores que vestiam o mesmo material.

Terra de bruxas? No século XVI, este vilarejo aninhado nas montanhas foi palco de um dos processos de bruxaria mais famosos da Itália. Acusadas de provocar fomes, tempestades e doenças, dezenas de mulheres foram interrogadas, presas e, em alguns casos, executadas.

O Museo Etnografico e della Stregoneria preserva essa memória em uma narrativa que vai além da caça às bruxas. Dividido em alas, o museu mostra a vida rural da Ligúria de montanha (utensílios, trajes e ferramentas agrícolas) antes de mergulhar no universo do misticismo. Há reproduções de celas, cópias dos registros inquisitoriais, receitas de poções e objetos usados em rituais de cura com ervas. Finalmente, o visitante descobre que muitas das “bruxas” eram, na verdade, parteiras, enfermeiras, benzedeiras, curandeiras e guardiãs de saberes populares que incomodavam homens poderosos e religiosos da época.

Caminhar por Triora, com suas ruelas de pedra e portais medievais, é quase sentir o peso dessas histórias. Não à toa, o vilarejo cultiva uma atmosfera de mistério, celebrando festivais de bruxaria e atraindo curiosos do mundo todo.

A Ligúria é, portanto, mais do que um destino para prosecco à beira-mar. É um território que convida a mergulhar — seja no azul profundo que esconde o Cristo degli Abissi, seja nos arquivos seculares da Catedral de San Lorenzo, seja nas lendas de Triora. Aqui, a Riviera Italiana não é apenas cenário: é personagem de uma história onde fé, arte, mistério e prazer convivem lado a lado.

Resort de R$ 500 milhões reforça turismo religioso

Localizada no coração do Vale do Paraíba, entre São Paulo e Rio de Janeiro, a cidade de Aparecida (SP) está prestes a consolidar ainda mais sua posição como um dos principais destinos de turismo religioso do Brasil e da América Latina. Conhecida por abrigar o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o maior templo católico do país e o segundo maior do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano; a cidade atrai, anualmente, cerca de 12 milhões de fiéis e visitantes em busca de fé, espiritualidade e renovação.

Em breve, Aparecida contará com um novo atrativo de grande porte: um resort no modelo de multipropriedade, com investimento previsto de R$ 500 milhões. O projeto, da Transamerica Collection, será realizado em parceria com a Atlantica Hospitality International e a empresa Simão&Simão. Com previsão de início das obras no segundo semestre de 2026 e conclusão em até 36 meses, o empreendimento ocupará uma área de mais de 110 mil m², com 700 apartamentos de 41 m² a 60 m², parque aquático de 8 mil m², capela integrada, restaurantes, academias, spas e espaços para lazer e contemplação.

A iniciativa também promete impulsionar a economia local, com a criação de aproximadamente 1.800 empregos diretos e indiretos ao longo da construção e operação do resort. Essa movimentação reforça a vocação turística de Aparecida, cuja economia gira em torno de 80% do turismo religioso, segundo dados do setor. O comércio, a hotelaria e os serviços da cidade são fortemente impactados pelas grandes romarias e pelos eventos religiosos, que garantem o sustento de milhares de famílias locais.

O investimento em Aparecida também reflete uma tendência global: o crescimento expressivo do turismo religioso. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), esse segmento movimenta mais de 330 milhões de viajantes por ano no mundo e gera receitas bilionárias. Santuários, peregrinações e experiências de fé vêm atraindo não apenas devotos tradicionais, mas também pessoas em busca de autoconhecimento, espiritualidade e bem-estar.

Nesse cenário, o Brasil desponta como um dos destinos mais promissores da América Latina, com roteiros como a Rota da Fé, Caminho da Luz, Caminho da Fé e, claro, Aparecida, considerada a “capital da fé brasileira”.

Com a chegada do novo resort, Aparecida amplia seu leque de opções para os viajantes, unindo conforto, hospitalidade e espiritualidade em um mesmo destino. A cidade mostra que é possível aliar tradição e inovação, fé e desenvolvimento econômico, em um modelo sustentável que beneficia toda a comunidade.

Festa de Santa Dulce dos Pobres 2025: fé, cultura e turismo em Salvador

Entre os dias 1º e 13 de agosto, a capital baiana será palco da Festa de Santa Dulce dos Pobres, um dos eventos mais emocionantes e significativos do turismo religioso no Brasil.

Com o tema “Com Santa Dulce dos Pobres, Somos Peregrinos de Esperança”, a festa de 2025 promete uma programação intensa e diversificada, que homenageia a vida e o legado da primeira santa brasileira, conhecida mundialmente como o Anjo Bom da Bahia.

A celebração acontecerá em locais icônicos da cidade, como o Santuário de Santa Dulce dos Pobres, na Avenida Dendezeiros, e a Praça Irmã Dulce, no Largo de Roma — ambos no tradicional bairro do Bonfim. Ali, turistas e fiéis poderão participar de:

  • Missas e trezenas
  • Procissões temáticas
  • Quermesse com comidas típicas
  • Shows de música religiosa e regional
  • Vila gastronômica com delícias baianas
  • Serviços de saúde gratuitos
  • Ações sociais para a comunidade

Entre os nomes confirmados na programação cultural estão Targino Gondim, Adelmário Coelho, Del Feliz, Banda Dominus, Anjos de Resgate e Padre Antônio Maria. Um momento especial será o tributo à Santa Dulce no dia 10 de agosto, que promete encantar moradores e visitantes.

Um dos grandes atrativos do evento é a tradicional Rota da Fé, que convida os devotos a percorrer locais marcantes da trajetória da santa. As procissões também são momentos marcantes da programação:

  • Procissão da Memória – 3 de agosto
  • Procissão dos Arcos – 8 de agosto
  • Procissão dos Nós – 12 de agosto
  • Procissão Luminosa até a Colina Sagrada – 13 de agosto, após a Missa Campal celebrada pelo Cardeal Dom Sérgio da Rocha

Segundo a Prefeitura de Salvador, a festa já faz parte do calendário oficial da cidade e representa um importante impulso para o turismo e a economia local. Em 2024, o evento movimentou mais de 2,7 mil empregos diretos e indiretos, contou com 171 artistas e 125 expositores.

Além disso, Salvador registrou em 2023 a visita de mais de 3,5 milhões de turistas, sendo cerca de 70% de outros estados. O turismo religioso na Bahia tem se destacado como um dos pilares do setor, ao lado das belas praias, do patrimônio histórico e da culinária vibrante.