Os Caminhos Sefarditas: a rota judaica pela Espanha

Viajar pela Espanha é também redescobrir e valorizar a memória de diferentes povos e religiões que ajudaram a construir a história do país. Entre palácios mouriscos, catedrais góticas e vilas medievais, há um fio cultural que atravessa séculos e fronteiras: a herança judaica sefardita. Muito antes da expulsão decretada pelos Reis Católicos em 1492, comunidades judaicas floresciam em dezenas de cidades ibéricas, deixando marcas profundas na arte, na ciência, na filosofia e na vida urbana. Hoje, esse legado é celebrado e preservado através da Red de Juderías de España – Caminos de Sefarad, uma rede que conecta 21 cidades e propõe uma jornada turística e cultural única: seguir os passos dos judeus que moldaram parte essencial da identidade espanhola.

Em cada destino, a viagem é um mergulho no tempo. Toledo, por exemplo, conserva sinagogas transformadas em museus, como a do Trânsito e a de Santa María la Blanca, testemunhas de uma convivência plural que fez da cidade um centro intelectual da Idade Média. Em Córdoba, a antiga judería se abre em ruelas estreitas e floridas que conduzem à sinagoga do século XIV e à estátua de Maimônides, o grande filósofo e médico judeu nascido ali. Já em Sevilha, é o bairro de Santa Cruz que resguarda a memória judaica entre pátios andaluzes e lendas imemoriais.

Mais ao norte, em Segóvia, é possível visitar o Centro de Educação Judaica, a Porta de San Andrés e um antigo cemitério hebraico com vista para a muralha medieval. Em Barcelona, o bairro do Call revela as origens da cidade judaica desde o século VII, com a Sinagoga Maior — considerada uma das mais antigas da Europa — reaberta ao público após cuidadosa restauração. Cidades como Girona, Besalú e Ribadavia também preservam traços singulares, seja em arquivos históricos, seja em festas que celebram a memória sefardita.

Percorrer essa rota é mais do que uma experiência cultural: é uma viagem sensorial. Em cada judería, o visitante é convidado a perder-se entre ruas de pedra, descobrir inscrições em hebraico gravadas discretamente nas paredes, ouvir histórias de famílias que viveram ali por séculos e provar sabores que atravessaram o tempo, como doces sefarditas ou receitas resgatadas da tradição. Os itinerários unem história e emoção, pois narram tanto o florescimento quanto a diáspora, oferecendo uma experiência de memória viva.

Além dos museus e sinagogas, a Red de Juderías organiza eventos, exposições e atividades que integram o viajante ao cotidiano local. Em cidades menores, como Estella ou Tudela, o turismo ganha o charme da descoberta inesperada, enquanto em centros maiores, como Madrid ou Granada, a herança judaica dialoga com a efervescência contemporânea. Empresas de turismo cultural já oferecem pacotes completos — de dez a quatorze dias — que percorrem diversas dessas cidades, mas também é possível criar um roteiro independente, conectando os pontos mais significativos de acordo com os interesses de cada viajante.

Ao longo do caminho, o que se revela não é apenas a história de uma comunidade, mas o mosaico da própria Espanha, feita de encontros, convivências e tensões que ajudaram a moldar o país moderno. Viajar pelos Caminhos de Sefarad é, em última instância, um convite a refletir sobre a riqueza da diversidade cultural e a importância da memória como patrimônio vivo. Para o turista, é uma oportunidade rara: caminhar pelas mesmas ruas que filósofos, médicos, artesãos e poetas percorreram, e sentir, em cada pedra e cada silêncio, que a viagem também é uma forma de reencontro.

portugal esotérico com fernando pessoa

Portugal é terra de gastronomia, história, arte, poesia e espiritualidade. E nem estamos falando do Santuário de Fátima, destino obrigatório de católicos de todo o mundo. Mas de um turismo voltado para místicos, esotéricos e curiosos. Entre cafés históricos, bibliotecas ocultas, palácios iniciáticos e penhascos dramáticos, o país oferece ao viajante um roteiro singular: seguir as marcas de Fernando Pessoa, poeta que também foi astrólogo sob o heterônimo Raphael Baldaya, e sua insólita cumplicidade com o mago britânico Aleister Crowley.

Dia 1 — Lisboa esotérica e literária

A porta de entrada é a Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique (Rua Coelho da Rocha, 16–18), onde o poeta viveu seus últimos quinze anos. A biblioteca preservada reúne volumes de astrologia, esoterismo e filosofia que revelam sua faceta mística. Muitos de seus leitores ficam surpresos ao descobrir que Pessoa ganhava dinheiro como astrólogo.

Do bairro, siga para o Chiado. No Café A Brasileira (Rua Garrett, 120), ao lado da famosa estátua de Pessoa esculpida por Lagoa Henriques, é tradição tirar uma fotografia com o poeta de bronze. Registros mostram que o poeta lá se encontrava com muitos nomes importantes das sociedades secretas lisboetas.

Na Praça do Comércio, o Martinho da Arcada mantém a “mesa do Pessoa”, espaço que o escritor frequentava com assiduidade. Hoje o café integra a Historic Cafés Route.

Descendo à Baixa, percorra a Rua dos Douradores, cenário do Livro do Desassossego, onde o semi-heterônimo Bernardo Soares “vive e trabalha”. Os críticos literários sabem. Para cada heterônimo, Pessoa criava um mapa astrológico com temperamentos muito próprios.

O percurso termina no Museu Maçónico Português, do Grande Oriente Lusitano (Rua do Grémio Lusitano, 25), cuja coleção de símbolos maçônicos ajuda a decifrar referências presentes tanto em Mensagem quanto em Sintra.

Curiosidade: Pessoa praticava astrologia com seriedade, escrevendo horóscopos datados e ensaios sob o pseudônimo Raphael Baldaya. Partes desses textos podem ser consultadas no Arquivo Pessoa, e estudos recentes discutem como sua poética dialogava com tradições iniciáticas

Dia 2 — Sintra iniciática: poços e silêncio

Em Sintra, o coração esotérico do país, está a Quinta da Regaleira. O Poço Iniciático, uma “torre invertida” subterrânea, conduz o visitante por um percurso em espiral que simboliza morte e renascimento espiritual, reunindo referências templárias, maçônicas e dantescas. Trata-se de um ponto importantíssimo para os esotéricos europeus.

Não longe dali, o Convento dos Capuchos, conhecido como “convento de cortiça”, oferece a experiência oposta: austeridade e recolhimento. O pórtico, marcado por caveira e ossos cruzados, recorda a morte simbólica do mundo profano e a entrada em outra dimensão. O local foi cenário de grandes obras literárias e também carrega muitas lendas.

Dia 3 — Cascais: a Boca do Inferno e o teatro de Crowley

À beira-mar, em Cascais, ergue-se a Boca do Inferno, falésia de formato dramático onde, em 1930, o mago britânico Aleister Crowley encenou o próprio desaparecimento. A farsa contou com a cumplicidade de Pessoa, que ajudou a organizar a “morte” simulada. Dias depois, Crowley reapareceu em Berlim, em uma das mais famosas jogadas de marketing e relações públicas.

Crowley (1875–1947), mestre de Paulo Coelho, Raul Seixas, Ozzy Osbourne e Beatles, foi um dos ocultistas mais célebres do século XX. Criador da filosofia Thelema (“Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”), misturava magia cerimonial, poesia e escândalo. Em Lisboa, encontrou em Pessoa um interlocutor intelectual inesperado. Documentos analisados por Marco Pasi revelam a correspondência, mapas astrais trocados e o papel ativo do poeta na encenação.

Dia 4 — Portugal templário

A jornada pode se expandir até Tomar, onde o Convento de Cristo, matriz templária e depois sede da Ordem de Cristo, revela símbolos que inspiraram o imaginário sebastianista e a utopia do Quinto Império, tema central em Mensagem.

Mais adiante, o Castelo de Almourol, fortim medieval numa ilhota do Tejo, encerra o percurso com um cenário mítico que ecoa as visões místicas de Portugal, em que o país voltará a ter as glórias do século XVI, quando foi a mais importante e rica nação do Ocidente.

Esse roteiro é mais do que turismo cultural. É uma experiência de iniciação para quem deseja explorar não apenas os lugares que moldaram Fernando Pessoa, mas também os símbolos que habitavam sua mente. Entre cafés históricos, poços iniciáticos e falésias de lenda, o viajante percorre um Portugal invisível — onde poesia, astrologia e magia se encontram.

Castelo do tarô na toscana

Imagine caminhar por um jardim encantado onde cada escultura conta uma história milenar. Assim é o Castelo do Tarô (Il Giardino dei Tarocchi), criado pela artista franco-americana Niki de Saint Phalle no sul da Toscana. Saint Phalle é bem conhecida dos paulistanos. Seus trabalhos fazem enorme sucesso na Pinacoteca de São Paulo.

Seu castelo, na Itália, é um lugar único no mundo, a meca dos tarólogos de esotéricos de todo o planeta, que transforma o baralho do tarô em esculturas monumentais, cobertas de mosaicos coloridos e espelhos brilhantes que mudam de acordo com a luz do sol.

Localizado em Capalbio, a cerca de duas horas de carro de Roma, o Castelo do Tarô é um passeio perfeito para quem busca unir arte, espiritualidade e a atmosfera bucólica da Toscana. Cada escultura representa um dos 22 arcanos maiores do tarô e convida o visitante a viver uma experiência diferente: caminhar pela Imperatriz, uma esfinge habitável onde a própria artista chegou a morar; contemplar a Roda da Fortuna girando lentamente; ou se perder nos reflexos coloridos dos mosaicos que transformam o jardim em um verdadeiro labirinto de sonhos.

Além do impacto visual impressionante, o Castelo do Tarô é também uma experiência de introspecção e inspiração, ideal para viajantes que buscam algo além do turismo tradicional.

O tarô, embora hoje amplamente associado ao esoterismo, ganhou essa aura simbólica graças a um personagem inusitado: o pastor protestante suíço Antoine Court de Gébelin (1725–1784). Em 1781, ele publicou a obra Le Monde Primitif, na qual defendeu que as cartas do tarô não eram apenas um jogo, mas sim fragmentos de uma antiga sabedoria egípcia, carregados de significados filosóficos, morais e espirituais. Essa interpretação inovadora, vinda justamente de um pastor protestante em plena era do Iluminismo, foi responsável por transformar o tarô em objeto de estudo esotérico, inspirando gerações posteriores de ocultistas, sociedades iniciáticas e pensadores interessados em símbolos e arquétipos universais.

Por que indicar a seus clientes?

Pouca gente conhece. Soube do destino através de Nei Naiff, o tarólogo brasileiro mais respeitado no planeta, autor de inúmeros best sellers sobre as cartas. Indicar o Castelo do Tarô a seus clientes é oferecer uma experiência realmente única no mundo: um parque de esculturas monumental que mistura arte contemporânea, espiritualidade e fantasia, capaz de transportar o visitante para um universo simbólico inesquecível. Localizado de forma estratégica no sul da Toscana, em Capalbio, o jardim pode ser facilmente incluído em roteiros entre Roma e Florença, servindo como um complemento exclusivo às tradicionais visitas a vinhedos, cidades históricas e paisagens rurais da região. Mais do que um passeio estético, trata-se de uma verdadeira viagem sensorial e cultural, perfeita para viajantes que buscam experiências diferentes, autênticas e memoráveis, combinando contemplação artística, introspecção espiritual e a atmosfera bucólica da Toscana.

O Castelo do Tarô é aberto ao público apenas em determinados meses do ano (de abril a outubro), o que o torna ainda mais especial. Visitar esse espaço é entrar em um universo mágico, onde cada detalhe surpreende e desperta a imaginação.

E não é só para esotéricos. Há um aspecto de autoconhecimento, mesmo para cristãos. Sugere-se algumas leituras para quem quer visitar o castelo com maior proveito. Entre as obras que aproximam o tarô de uma leitura simbólica e espiritual destacam-se algumas de grande relevância. Do ponto de vista psicológico, embora Carl Gustav Jung nunca tenha escrito um livro exclusivamente sobre o tarô, seus estudos sobre arquétipos e inconsciente coletivo inspiraram autores como Sallie Nichols, em Jung and Tarot: An Archetypal Journey (1980), e chegaram ao Brasil por meio de títulos como Tarô e Psicologia: símbolos do inconsciente (Paulus, 1991), que exploram as cartas como metáforas de processos internos e caminhos de autoconhecimento. No âmbito católico, a obra mais emblemática é Meditações sobre o Tarô: Uma Viagem ao Hermetismo Cristão, publicada anonimamente em 1980 e atribuída a Valentin Tomberg, com posfácio do teólogo Hans Urs von Balthasar. Nesse livro, os 22 arcanos maiores são apresentados como pontos de partida para profundas reflexões espirituais em chave cristã, distanciando-se da adivinhação e aproximando-se da tradição contemplativa da Igreja, em que a simbologia serve como porta de acesso a mistérios universais da fé.

Ligúria: fé e dolce vita à beira do Mediterrâneo

A Ligúria é uma dessas joias do mapa que, à primeira vista, conquista pela elegância natural da Riviera Italiana: um desfile de vilas coloridas aninhadas entre o azul do mar e o verde das colinas. Mas basta se demorar um pouco mais para perceber que, por trás da sua dolce vita, pulsa uma alma profundamente espiritual e, por vezes, surpreendentemente mística. Aqui, a fé se expressa na pedra, no tecido, na água e até nas lendas que atravessam séculos.

Em San Fruttuoso, entre Portofino e Camogli, repousa uma das imagens mais singulares do Mediterrâneo: o Cristo degli Abissi. Esta estátua de bronze, colocada a 17 metros de profundidade em 1954, foi idealizada pelo mergulhador italiano Duilio Marcante como homenagem a todos aqueles que perderam a vida no mar. De braços abertos, a figura parece acolher os que descem até ela, mergulhadores ou fiéis em busca de um momento de introspecção. A atmosfera é tão intensa que inspira cada vez mais até casamentos submarinos, nos quais os noivos, equipados com cilindros, dizem “sim” com um coro de bolhas ao redor.

O coração espiritual de Gênova pulsa na Catedral de San Lorenzo, cuja história começa no século IX, quando uma modesta igreja foi erguida sobre ruínas romanas. Entre os séculos XII e XIV, ganhou sua forma atual, um imponente edifício gótico com fachada românica em mármore branco e negro; as cores que se tornariam um símbolo da cidade. Essa fachada, com colunas esculpidas e leões guardiões, é mais que um ornamento: é uma afirmação do poder e da riqueza de Gênova durante a Idade Média.

Mas o que realmente fascina é a coleção de relíquias e tesouros guardados no interior. Entre eles, um prato que, segundo a tradição, teria servido na Última Ceia, e fragmentos de ossos atribuídos a São João Batista, padroeiro da cidade. E, em meio a relicários e pinturas, está uma joia rara e inesperada: a Paixão de Cristo pintada sobre tecido denim. Sim, jeans! Produzido em Gênova desde o século XV, esse tecido azul, chamado bleu de Gênes, era exportado para toda a Europa e, séculos depois, daria origem à palavra “jeans”. Usá-lo como base para arte sacra era ousado, mas o resultado é extraordinário: o azul profundo realça as cenas dramáticas, criando um diálogo entre o sagrado e a vida cotidiana dos marinheiros e mercadores que vestiam o mesmo material.

Terra de bruxas? No século XVI, este vilarejo aninhado nas montanhas foi palco de um dos processos de bruxaria mais famosos da Itália. Acusadas de provocar fomes, tempestades e doenças, dezenas de mulheres foram interrogadas, presas e, em alguns casos, executadas.

O Museo Etnografico e della Stregoneria preserva essa memória em uma narrativa que vai além da caça às bruxas. Dividido em alas, o museu mostra a vida rural da Ligúria de montanha (utensílios, trajes e ferramentas agrícolas) antes de mergulhar no universo do misticismo. Há reproduções de celas, cópias dos registros inquisitoriais, receitas de poções e objetos usados em rituais de cura com ervas. Finalmente, o visitante descobre que muitas das “bruxas” eram, na verdade, parteiras, enfermeiras, benzedeiras, curandeiras e guardiãs de saberes populares que incomodavam homens poderosos e religiosos da época.

Caminhar por Triora, com suas ruelas de pedra e portais medievais, é quase sentir o peso dessas histórias. Não à toa, o vilarejo cultiva uma atmosfera de mistério, celebrando festivais de bruxaria e atraindo curiosos do mundo todo.

A Ligúria é, portanto, mais do que um destino para prosecco à beira-mar. É um território que convida a mergulhar — seja no azul profundo que esconde o Cristo degli Abissi, seja nos arquivos seculares da Catedral de San Lorenzo, seja nas lendas de Triora. Aqui, a Riviera Italiana não é apenas cenário: é personagem de uma história onde fé, arte, mistério e prazer convivem lado a lado.

Resort de R$ 500 milhões reforça turismo religioso

Localizada no coração do Vale do Paraíba, entre São Paulo e Rio de Janeiro, a cidade de Aparecida (SP) está prestes a consolidar ainda mais sua posição como um dos principais destinos de turismo religioso do Brasil e da América Latina. Conhecida por abrigar o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o maior templo católico do país e o segundo maior do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano; a cidade atrai, anualmente, cerca de 12 milhões de fiéis e visitantes em busca de fé, espiritualidade e renovação.

Em breve, Aparecida contará com um novo atrativo de grande porte: um resort no modelo de multipropriedade, com investimento previsto de R$ 500 milhões. O projeto, da Transamerica Collection, será realizado em parceria com a Atlantica Hospitality International e a empresa Simão&Simão. Com previsão de início das obras no segundo semestre de 2026 e conclusão em até 36 meses, o empreendimento ocupará uma área de mais de 110 mil m², com 700 apartamentos de 41 m² a 60 m², parque aquático de 8 mil m², capela integrada, restaurantes, academias, spas e espaços para lazer e contemplação.

A iniciativa também promete impulsionar a economia local, com a criação de aproximadamente 1.800 empregos diretos e indiretos ao longo da construção e operação do resort. Essa movimentação reforça a vocação turística de Aparecida, cuja economia gira em torno de 80% do turismo religioso, segundo dados do setor. O comércio, a hotelaria e os serviços da cidade são fortemente impactados pelas grandes romarias e pelos eventos religiosos, que garantem o sustento de milhares de famílias locais.

O investimento em Aparecida também reflete uma tendência global: o crescimento expressivo do turismo religioso. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), esse segmento movimenta mais de 330 milhões de viajantes por ano no mundo e gera receitas bilionárias. Santuários, peregrinações e experiências de fé vêm atraindo não apenas devotos tradicionais, mas também pessoas em busca de autoconhecimento, espiritualidade e bem-estar.

Nesse cenário, o Brasil desponta como um dos destinos mais promissores da América Latina, com roteiros como a Rota da Fé, Caminho da Luz, Caminho da Fé e, claro, Aparecida, considerada a “capital da fé brasileira”.

Com a chegada do novo resort, Aparecida amplia seu leque de opções para os viajantes, unindo conforto, hospitalidade e espiritualidade em um mesmo destino. A cidade mostra que é possível aliar tradição e inovação, fé e desenvolvimento econômico, em um modelo sustentável que beneficia toda a comunidade.

Festa de Santa Dulce dos Pobres 2025: fé, cultura e turismo em Salvador

Entre os dias 1º e 13 de agosto, a capital baiana será palco da Festa de Santa Dulce dos Pobres, um dos eventos mais emocionantes e significativos do turismo religioso no Brasil.

Com o tema “Com Santa Dulce dos Pobres, Somos Peregrinos de Esperança”, a festa de 2025 promete uma programação intensa e diversificada, que homenageia a vida e o legado da primeira santa brasileira, conhecida mundialmente como o Anjo Bom da Bahia.

A celebração acontecerá em locais icônicos da cidade, como o Santuário de Santa Dulce dos Pobres, na Avenida Dendezeiros, e a Praça Irmã Dulce, no Largo de Roma — ambos no tradicional bairro do Bonfim. Ali, turistas e fiéis poderão participar de:

  • Missas e trezenas
  • Procissões temáticas
  • Quermesse com comidas típicas
  • Shows de música religiosa e regional
  • Vila gastronômica com delícias baianas
  • Serviços de saúde gratuitos
  • Ações sociais para a comunidade

Entre os nomes confirmados na programação cultural estão Targino Gondim, Adelmário Coelho, Del Feliz, Banda Dominus, Anjos de Resgate e Padre Antônio Maria. Um momento especial será o tributo à Santa Dulce no dia 10 de agosto, que promete encantar moradores e visitantes.

Um dos grandes atrativos do evento é a tradicional Rota da Fé, que convida os devotos a percorrer locais marcantes da trajetória da santa. As procissões também são momentos marcantes da programação:

  • Procissão da Memória – 3 de agosto
  • Procissão dos Arcos – 8 de agosto
  • Procissão dos Nós – 12 de agosto
  • Procissão Luminosa até a Colina Sagrada – 13 de agosto, após a Missa Campal celebrada pelo Cardeal Dom Sérgio da Rocha

Segundo a Prefeitura de Salvador, a festa já faz parte do calendário oficial da cidade e representa um importante impulso para o turismo e a economia local. Em 2024, o evento movimentou mais de 2,7 mil empregos diretos e indiretos, contou com 171 artistas e 125 expositores.

Além disso, Salvador registrou em 2023 a visita de mais de 3,5 milhões de turistas, sendo cerca de 70% de outros estados. O turismo religioso na Bahia tem se destacado como um dos pilares do setor, ao lado das belas praias, do patrimônio histórico e da culinária vibrante.

Camboriú aposta no turismo religioso e integra rota nacional de peregrinação

Camboriú, cidade localizada no litoral norte de Santa Catarina, anunciou recentemente sua integração ao Caminho Peregrino do Sul, uma das maiores iniciativas voltadas ao turismo religioso no Brasil. Com 1.924 quilômetros de extensão, a rota passará por 62 municípios nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, conectando alguns dos principais santuários do país, como o Santuário de Santa Paulina (SC), o Santuário Nacional de Aparecida (SP) e o Memorial Padre Léo (SC).

A adesão de Camboriú ao projeto, como ente apoiador, representa uma aposta estratégica no segmento de turismo de fé e espiritualidade, que movimenta anualmente mais de 20 milhões de viajantes no Brasil, segundo dados do Ministério do Turismo. Só o Santuário Nacional de Aparecida, por exemplo, recebe cerca de 12 milhões de visitantes por ano.

Inspirado na iniciativa federal Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (Rede Trilhas), o Caminho Peregrino do Sul será autoguiado e sinalizado, promovendo o turismo de base comunitária (TBC), a preservação ambiental e a valorização do patrimônio religioso e cultural. A proposta integra espiritualidade e mobilidade ativa, incluindo trechos para caminhada, ciclismo e experiências rurais.

Além de promover a fé, o projeto pretende gerar impactos positivos em diversas frentes da economia local, incluindo hospedagem, alimentação, transporte e comércio de produtos artesanais. Camboriú, que já se beneficia da proximidade com destinos turísticos consolidados como Balneário Camboriú, agora vê no turismo religioso uma oportunidade de diversificação e interiorização da atividade turística.

A cidade também está próxima de ramais religiosos importantes, como o Caminho do Louvor e o Caminho Amabilíssimo, este último passando pela Comunidade Bethânia, referência nacional em acolhimento espiritual e recuperação humana.

O lançamento oficial do Caminho Peregrino do Sul está previsto para 12 de outubro de 2025, Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O cronograma do projeto envolve quatro etapas: planejamento (encerrado em junho), expedição de confirmação da rota (julho a agosto), homologação (agosto a setembro) e início das operações ainda neste ano.

Durante a fase atual, uma equipe especializada está percorrendo os trechos do caminho, promovendo encontros com comunidades locais, mapeando atrativos e validando os pontos de acolhimento.

Segundo o prefeito Leonel Pavan, o investimento vai além dos retornos financeiros:

“O turismo religioso é mais do que uma alternativa de renda. Ele toca a alma das pessoas. Quando um peregrino passa por Camboriú, ele não leva só lembranças: ele carrega paz, acolhimento e fé. Esse tipo de turismo traz retorno real, não apenas financeiro, mas humano, espiritual e cultural.”

A iniciativa também prevê oficinas comunitárias, capacitação de guias, criação de acolhidas rurais e a elaboração de um calendário de eventos de mobilidade ativa, incluindo caminhadas temáticas e cicloturismo.

Com essa estratégia, Camboriú se posiciona como um novo polo no mapa do turismo religioso brasileiro, unindo tradição, espiritualidade e desenvolvimento sustentável.

Roca Sales aposta na Arca de Noé para se firmar como destino religioso no RS

Com tantas mudanças climáticas e profetas anunciando o fim do mundo, não seria de estranhar se alguém resolvesse, em pleno século XXI, construir uma nova Arca de Noé. Mas, em vez de fugir da fúria divina, a proposta aqui é navegar por um mar de fé, história e desenvolvimento turístico. E é exatamente isso que está acontecendo em Roca Sales, no Vale do Taquari (RS).

O município se prepara para dar um grande salto no turismo religioso. Nesta semana, serão revelados os primeiros desenhos de um ambicioso projeto arquitetônico: uma réplica em escala real da Arca de Noé, inspirada nas dimensões bíblicas. A iniciativa é liderada pela Associação Amigos Reconstruindo Roca Sales e promete transformar a paisagem local — e a economia da região.

Idealizada por um arquiteto da cidade, a estrutura será erguida no alto de uma colina, em posição estratégica com vista para o Cristo Protetor de Encantado, um dos principais ícones religiosos do estado. A Arca terá 150 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de altura, seguindo fielmente as proporções descritas nas Escrituras. A previsão é de que o espaço esteja aberto ao público até o ano de 2030.

De acordo com Eduardo Salgado, presidente da associação responsável pelo projeto, a apresentação dos esboços marca o início de uma nova fase: a de captação de recursos e parcerias. O vice-presidente, Pascoal Bertoldi, destaca que o objetivo é valorizar o município, atrair visitantes e aquecer a economia local, especialmente com o fluxo de turistas vindos da Serra Gaúcha.

O plano vai muito além da construção simbólica da Arca. Está prevista a criação de um complexo turístico completo, que incluirá um museu sobre as enchentes na região, restaurante, cafeteria, vinícola e um auditório ao ar livre com vista panorâmica do vale. A ideia é oferecer experiências imersivas que combinem fé, história e lazer.

O projeto também deverá impulsionar melhorias na infraestrutura da cidade e nas vias de acesso, como a ERS-129 e a estrada que liga Roca Sales a Coronel Pilar. A expectativa é de que, com a mobilização de investidores e apoio da comunidade, Roca Sales se torne referência nacional no segmento de turismo religioso.

A iniciativa mostra , seguindo o exemplo do Templo de Salomão em São Paulo, como fé, criatividade e visão estratégica podem transformar uma cidade em um destino de viagens.

Guia inédito sobre turismo de tradições africanas e indígenas

A diversidade religiosa e cultural do Estado de São Paulo acaba de ganhar um novo destaque. Nesta segunda-feira (30), a Secretaria de Turismo e Viagens (Setur-SP) lançou um guia turístico totalmente dedicado às religiões de matrizes africanas e indígenas. A iniciativa busca reconhecer e valorizar espaços sagrados que são verdadeiros centros de fé, resistência e ancestralidade espalhados pelo estado.

A publicação é resultado de uma parceria com a Secretaria da Justiça e Cidadania (SJC) e conta com o apoio do Fórum Inter-religioso do Estado de São Paulo.

Clique aqui para acessar o guia completo.

O guia traz um mapeamento inédito de 35 locais – entre casas religiosas, centros culturais e institutos – que mantêm vivas as tradições afro-brasileiras e indígenas em 17 cidades paulistas. Cada espaço guarda histórias, rituais e saberes que resistem ao tempo e continuam a transformar vidas.

Entre os destaques, estão a Axé Ogodô, em Guarulhos – a primeira casa de matriz africana reconhecida como patrimônio histórico da cidade –, e a Escola de Curimba de Ogum, em São Paulo, voltada ao ensino musical dentro da tradição da Umbanda.

“O turismo religioso é uma forma de valorizar o que temos de mais profundo: nossa identidade cultural. E, ao abrir espaço para essas manifestações, trazemos novos olhares e mais inclusão ao setor”, afirma o secretário de Turismo, Roberto de Lucena. Segundo dados do Ministério do Turismo, o segmento movimenta cerca de 20 milhões de viagens por ano e gera R$ 15 bilhões na economia.

Além de impulsionar o turismo, iniciativas como essa fortalecem comunidades tradicionais, promovem o desenvolvimento local e ajudam a combater preconceitos ainda presentes na sociedade.

Para Fabio Prieto, secretário da Justiça e Cidadania, o guia também representa um importante avanço na promoção da diversidade religiosa. “Facilitar o acesso a esses espaços sagrados é essencial para fortalecer o diálogo inter-religioso e enriquecer a experiência dos visitantes”, destaca.

Essa não é a primeira vez que as secretarias trabalham juntas. Em fevereiro, o guia foi apresentado ao público e agora chega oficialmente para ser usado por cidadãos, estudantes, pesquisadores, agentes de viagem e qualquer pessoa que deseje se aproximar da riqueza espiritual presente nos terreiros e centros culturais de São Paulo.

Mais do que um material de consulta, o Guia Turístico de Religiões de Matrizes Africanas e Indígenas é um convite à escuta, ao respeito e à descoberta. Ele abre caminhos para vivências profundas, intercâmbio cultural e turismo com propósito – inclusive na baixa temporada.

É hora de viajar com o coração aberto e reconhecer que os saberes ancestrais também fazem parte do nosso patrimônio.

Turismo religioso apresenta crescimento global

Em audiência na Câmara dos Deputados no dia 11 de junho de 2025, o Ministro do Turismo, Celso Sabino, destacou o momento promissor do setor. Segundo ele, o Brasil registrou um aumento de 49% no número de turistas estrangeiros nos cinco primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Estamos a caminho de alcançar a marca de 10 milhões de turistas internacionais neste ano, o que pode consolidar o turismo como a principal matriz econômica do país”, afirmou o ministro.

Durante a mesma audiência, o deputado Bibo Nunes chamou atenção especial para o turismo religioso, ressaltando sua importância econômica e social. Para ele, o Brasil tem potencial para se tornar um polo de peregrinação e fé, tanto para turistas nacionais quanto internacionais.

O apelo de destinos espirituais transcende fronteiras. Segundo dados da Coherent Market Insights, o mercado global de turismo religioso foi estimado em US$ 1,38 trilhão em 2025, com projeção de atingir US$ 2,17 trilhões até 2032, impulsionado por uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,7%. Já outras análises apontam para um mercado mais conservador, mas ainda robusto: US$ 174 bilhões em 2024, com expectativa de alcançar US$ 263 bilhões até 2029.

Entre os principais destinos religiosos globais, além de Israel e Roma, destacam-se o Caminho de Santiago de Compostela ,com mais de 440 mil peregrinos em 2024, com crescimento médio superior a 10% ao ano; o Santuário de Fátima registrando mais de 6 milhões de visitantes por ano e Meca (Arábia Saudita), já que o Hajj e a Umrah atraem milhões de fiéis muçulmanos, movimentando bilhões de dólares na economia saudita.

O Brasil reúne todos os ingredientes para transformar o turismo religioso em um motor econômico: diversidade de expressões religiosas, festas populares com raízes espirituais profundas, além de santuários já consolidados como o de Aparecida (SP), o Santuário do Pai Eterno (GO) e o Juazeiro do Norte (CE), terra de Padre Cícero.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Artigos Religiosos, o turismo de fé movimenta cerca de 18 milhões de viagens ao ano no Brasil e gera um impacto econômico superior a R$ 15 bilhões, entre hospedagem, transporte, alimentação e comércio de artigos religiosos.

Além da alta resiliência econômica, o turismo de fé oferece estabilidade de demanda já que peregrinações e festas religiosas ocorrem ao longo de todo o ano e forte engajamento emocional, uma vez que experiências religiosas geram vínculos duradouros com os destinos.

As declarações do Ministro Celso Sabino mostram que o Brasil está atento à vocação econômica do turismo. Ao mesmo tempo, o alerta de Bibo Nunes sobre o potencial do turismo religioso reforça a necessidade de políticas públicas e iniciativas privadas focadas neste nicho de alto valor agregado.

Num mundo em que o viajante busca mais do que belas paisagens — busca sentido, conexão e experiências autênticas — o turismo religioso surge como um caminho viável, lucrativo e profundamente transformador. Para o Brasil, é mais do que uma oportunidade: é uma vocação pronta para ser lapidada. A fé move negócios.