Final de ano, férias ou feriado, sempre foram convites para que nós fizéssemos nossas malas e aproveitássemos alguns dias “OFF” em algum novo destino. Entretanto, com a chegada do meu caçula há 15 anos, esse cenário precisou ser revisado e adaptado para nossa nova realidade.
Embora muitas famílias prefiram não arriscar, como mãe de um adolescente atípico que sou, decidi experimentar possibilidades para que ele pudesse aproveitar esse momento conosco e nós com ele.
quebra na rotina
Vale dizer que nem todas as quebras de rotina, foram boas. Tivemos situações difíceis e outras, maravilhosas que já contei aqui.
Com o objetivo de melhorar a experiência do viajante com autismo, ao longo desses 15 anos, criei uma espécie de cartilha como mãe, com conselhos de especialistas, vivenciais de outras famílias atípicas e claro, com a opinião do meu filho.
Ademais, é importante ressaltar que viajar pode ser uma experiência emocionante, mas que para viajante com autismo, pode trazer desafios únicos. Entretanto, com algumas adaptações e considerações especiais, é possível criar um ambiente mais confortável e inclusivo para tornar a viagem uma experiência positiva para todos.
planejamento
– Faça um planejamento detalhado da viagem, incluindo horários, itinerários e atividades planejadas. A previsibilidade pode reduzir a ansiedade.
– Informe, antecipadamente, ao viajante com autismo, sobre os detalhes da viagem. Comunique claramente os detalhes da logística. Tipo de transporte, os possíveis desafios, o tempo de permanência em cada estágio da jornada e informações acerca do destino em si. Mas atenção para não sobrecarregar o viajante com autismo com muita informação.
– Utilize recursos visuais. Cronogramas visuais, mapas ou listas de verificação, ajudam o viajante com autismo a compreender e seguir a sequência de eventos durante a viagem. Com nosso adolescente, repassamos a rotina do dia seguinte, na noite anterior. Funciona bem!
– Como responsável pelo viajante com autismo, pesquise as políticas e serviços específicos da companhia aérea, empresa de ônibus, ou outro meio de transporte. Algumas empresas oferecem assistência especial para passageiros com necessidades específicas. E mesmo que não ofereçam, muitos funcionários, quando solicitados, nos ajudam.
#partiu e agora?
– Escolha Assentos Estratégicos. Ao reservar assentos, escolha aqueles que proporcionem mais conforto e menos estímulos visuais ou sonoros. Além disso, alguns meios de transporte oferecem áreas designadas para passageiros com necessidades especiais.
– Tenha à disposição itens familiares e confortáveis, como travesseiros, cobertores ou brinquedos favoritos. A fim de criar um ambiente mais acolhedor.
– Fones de ouvido com cancelamento de ruído podem ser úteis para reduzir estímulos sonoros e proporcionar um ambiente mais tranquilo. Durante algum tempo meu filho fez uso. Hoje em dia, ele opta em usar fone tocando suas músicas preferidas. Portanto, sente-se confortável com o que ouve.
– Esteja atento às sensibilidades sensoriais do passageiro. Algumas pessoas com autismo são sensíveis a luzes fortes, cheiros ou texturas. Respeite essas necessidades ao planejar atividades e escolher locais. Mesmo que não consiga controlar o ambiente por todo, ter contigo alguns itens de uso frequente do viajante, podem ajudar. Meu filho por exemplo, gosta de contribuir na hora de organizar a mala de bordo. Inclusive em viagens de carro ou ônibus.
antecipe-se ao desconforto
– Tempo extra para check in e embarque. Costumo dizer que para o sucesso de uma viagem, precisamos ter uma jornada tranquila. De modo que quando falo “jornada”, me refiro á todas as etapas da viagem. Então, o dia “D”, precisa ser o mais tranquilo possível. Aeroportos são tumultuados, em especial durante a época de festas e férias. Sendo assim, se antecipe em tudo que puder.
– Complementando o item anterior: Esteja aberto à flexibilidade no itinerário. Se possível, reserve tempo para pausas e intervalos, permitindo que o passageiro relaxe e recarregue durante a viagem. Alguns aeroportos e rodoviárias têm espaços destinados para essas pausas.
– Há que não goste ou discorde, mas eu como mãe atípica, sempre preferi conversar com as pessoas que nos cercam sobre detalhes relevantes para o conforto do meu filho. Sabemos que muitas pessoas e empresas vem se educando sobre TEA e PCDs. Mas sabemos também, que esta realidade está aquém do “mundo ideal”. A viagem, é um momento que tem como premissa, construir boas lembranças. Nesse sentido, eu, Cacá Filippini, prefiro me antecipar á possíveis desconfortos. A compreensão e sensibilidade da equipe que nos atende, podem fazer toda a diferença na experiência do viajante com autismo.
Por fim, precisamos ter em mente que somos seres humanos. Respondemos ao ambiente em que estamos inseridos. Não temos um padrão engessado de comportamento. A pessoa com Transtorno do Espectro Autista também. Portanto, compreenda que o processamento de informações pode levar mais tempo. Dê espaço para que o viajante com autismo, processe as informações e evite pressionar para respostas rápidas.
Ao implementar essas dicas e se manter aberto á ouvir a pessoa com TEA, é possível criar uma experiência de viagem mais positiva e inclusiva. Como resultado: a oportunidade de explorar o mundo com mais conforto e confiança.